Índice de Capítulo

    — Ela é…

    Agora que pensava nisso, havia outra pessoa. Quando Seol Jihu e Maria entraram na sala pela primeira vez, já havia duas pessoas lá. A primeira era a de Corte Chanel, Lara Wolff, e a outra era essa garota com a faixa branca na cabeça. Como ela não havia dito uma única palavra durante todo esse tempo, ele acabou esquecendo de sua existência.

    Seus cabelos prateados como a neve combinavam com suas roupas brancas. Ela estava tão absorta em algo que nem notou o olhar fixo de Seol Jihu.

    Logo, os olhos da garota se curvaram em forma de lua crescente, e ela cobriu a boca com a mão.

    “Ela está rindo?”

    Do que ela estaria rindo? Seol Jihu estreitou os olhos enquanto olhava na direção em que a garota fitava. Lá, ele viu Sophie Chalet recebendo tratamento enquanto soltava gemidos abafados, Lara Wolff mergulhada no desespero, Rosto Inexpressivo de braços cruzados e Olhos de Cobra rindo baixinho.

    Uma sofria, outra zombava e outra se divertia assistindo.

    De repente, Seol Jihu se lembrou do homem de meia-idade que havia sofrido de culpa após abandonar a esposa e a filha para fugir. Também se lembrou de Kang Seok, que rira descontroladamente diante dele.

    “Ela é diferente do que aparenta…”

    A garota pareceu perceber o olhar do jovem e ergueu o rosto esguio. Seus olhos curvados piscaram algumas vezes antes que ela baixasse a mão. Julgando pelo leve tremor em seus lábios pálidos e finos, ela claramente estava rindo em segredo.

    A garota não desviou o olhar de Seol Jihu. Inclinou levemente a cabeça antes de endireitá-la e, com a mão frágil, acenou para que ele se aproximasse.

    “Ela quer que eu chegue mais perto?”

    Seol Jihu não hesitou. Não parecia uma má ideia tentar conversar com ela, então caminhou imediatamente. Como a garota estava afastada do restante do grupo, precisou percorrer uma boa distância. Mas ainda estavam na mesma sala.

    Quando chegou perto, a garota lhe lançou um olhar vazio enquanto dizia:

    — Acho que você está me interpretando mal.

    Sua voz era baixa e suave como uma melodia, mas também soava vazia e oca.

    — Eu ri, mas não foi porque estava zombando delas ou achando a cena engraçada.

    A garota admitiu que havia rido, mas defendeu sua posição com habilidade. Seol Jihu percebeu como ela era boa em ler os pensamentos das pessoas e sentiu um pouco de pena.

    Mesmo que tivesse rido, Seol Jihu não tinha motivo para repreendê-la. Podia pensar mal dela em sua cabeça, mas, no momento em que dissesse algo em voz alta, estaria apenas se intrometendo.

    Pelo menos, essa era a visão de Seol Jihu sobre a situação.

    — Tudo bem. Não pretendo me intrometer nos seus assuntos.

    Ao ouvir isso, a garota sorriu e assentiu com a cabeça.

    — É que você estava me encarando tanto…

    Seol Jihu observou o sorriso vazio da garota. De perto, notou como suas bochechas eram brancas, ou melhor, pálidas. Sua cintura também era extremamente fina e delicada, como se pudesse quebrá-la com um pouco de força. Claramente, ela sofria de alguma enfermidade.

    — Se não se importar… — Seol Jihu perguntou diretamente — pode me dizer por que estava rindo?

    Ele não a julgou. Estava mais curioso do que qualquer outra coisa.

    A garota olhou para ele e murmurou suavemente:

    — Porque parecia uma peça de teatro.

    “Então ela também sentiu isso?” Seol Jihu riu amargamente.

    — Não é?

    — É — Seol Jihu concordou, pois também achava que Rosto Inexpressivo estava apenas se divertindo com um passatempo.

    — Estava me perguntando por que a maioria das pessoas foi separada… Não esperava estar interpretando papéis na minha idade.

    — …Como é?

    — Nem mesmo fiz isso quando era pequena.

    A garota sorriu brilhantemente. Seol Jihu refletiu sobre o que ela havia dito. Parecia que estavam falando de coisas diferentes.

    — Interpretar papéis…? — Seol Jihu inclinou a cabeça. — Tipo um teatro de fantoches?

    — Não, eu não diria fantoches, já que todos estão agindo como normalmente agiriam…

    — ?

    — Mm… Certo, todos estão sendo fiéis às suas naturezas… Como ninguém está representando um personagem designado ou um papel fictício, isso não é um teatro comum.

    Num instante, a garota se perdeu em seu próprio mundo. Observando-a, Seol Jihu se perguntou se deveria continuar conversando ou se afastar. Não sabia se era ele o idiota por não entender, ou se ela que falava de forma enigmática.

    A garota lançou-lhe um olhar lânguido. Pelo que havia trocado com ele antes, percebeu que o jovem ainda não havia entendido.

    — Veja bem, acho que há uma boa chance de esse grupo ter sido montado de propósito.

    O que isso queria dizer?

    — Acho que se pode dizer que esse conflito era inevitável.

    — Por quê? — Seol Jihu perguntou imediatamente.

    A garota abriu a boca, mas logo fez uma expressão confusa.

    — Mm… Eu sei a razão em minha cabeça, mas é difícil explicar em palavras. É como extremos opostos… ou como contrapontos.

    Ela gentilmente coçou os lábios com o dedo indicador, como se tentasse pensar em uma boa maneira de explicar sua teoria. Logo, apontou para si mesma e começou:

    — Por exemplo, se eu sou a pessoa altruísta…

    Seol Jihu a encarou fixamente. A garota sorriu timidamente.

    — O quê? Eu sou mesmo muito gentil.

    — …

    — Enfim, se eu sou a pessoa altruísta, então aquela pessoa é a egoísta.

    A pessoa que a garota apontava não era outra senão Maria Yeriel.

    — Como assim? — Seol Jihu perguntou, mas imediatamente ficou sem palavras. Ele percebeu que o termo ‘pessoa egoísta’ descrevia Maria perfeitamente.

    “Como ela sabia? Ela ouviu a Maria falando comigo sobre seguirmos nosso próprio caminho? Ou foi porque ela se recusou a lançar barreiras?”

    — Então, veja…

    Enquanto várias teorias passavam pela mente de Seol Jihu, a garota fechou as mãos em punhos e as bateu uma contra a outra.

    — Aquela pessoa e eu somos contrapontos.

    Seol Jihu a encarou com uma expressão complicada. Finalmente entendeu o que a garota queria dizer, mas aceitar era outra história.

    — Além disso… — A garota então apontou para Lara Wolff. — Se ela é o tipo de pessoa que valoriza a cooperação e a ajuda mútua… — Ela então apontou para Rosto Inexpressivo. — …Então ela é a individualista egocêntrica.

    Seol Jihu parecia apenas meio convencido. O que a garota dizia fazia sentido, mas a dúvida constante de não ter como confirmar o atormentava.

    O dedo da garota então se moveu para Sophie Chalet.

    — Se ela é a pessoa gentil… — E então apontou para Olhos de Cobra. — …Então ela é a pessoa cruel.

    — Cruel?

    — Sim. — A garota assentiu antes de dizer — Ela fede a podridão.

    Ela tapou o nariz e acrescentou algo ainda mais enigmático:

    — Vai morrer cedo por causa disso…

    Quanto mais a garota falava, mais misteriosa parecia.

    “Vamos ver.”

    Seol Jihu riu internamente e ativou seus Nove Olhos. Quando conferiu a Janela de Status de Olhos de Cobra sob a cor verde da “Observação Geral”…

    — !

    Ele engasgou.

    Seus olhos tremeram ao confirmar o traço ‘Cruel (Deliberadamente cruel e sem coração)’.

    E não era só isso. Lara Wolff, Rosto Inexpressivo e Sophie Chalet também não estavam tão distantes das descrições da garota. Quanto a Maria, era óbvio que estava certíssima.

    “Im… impossível…”

    — Pense bem.

    Seol Jihu se virou de volta para a garota com os olhos arregalados.

    — Com quatro pares de pessoas tão incompatíveis quanto água e óleo, como é que um conflito não surgiria?

    Seol Jihu concordou inconscientemente.

    — Não foi aleatório… Então era isso que você queria dizer com grupo montado deliberadamente.

    — Se encaixa bem demais para ser coincidência.

    — Então… — Seol Jihu hesitou antes de continuar — …qual seria a motivação?

    A garota falava sem parar até então, mas essa pergunta a fez calar. Obviamente, não era como se ela fosse onisciente.

    — Não sei — ela admitiu em voz baixa. — Mas por alguma razão… suas palavras sobre um teatro de marionetes não saem da minha cabeça.

    Seol Jihu havia usado o termo de maneira leviana, mas a garota parecia ter levado a sério.

    — Para ter certeza, precisamos da peça final do quebra-cabeça… — Ela deixou a frase inacabada e olhou para o jovem.

    Seol Jihu apontou para si mesmo, confuso.

    — Eu?

    Imediatamente, soltou um — Ah! — Ele se lembrou do homem que morreu assim que entrou. Se a teoria da garota estivesse correta, aquele homem tinha que ser seu contraponto.

    — Oppa, você já ouviu aquele ditado? — A garota mudou sutilmente a forma como o chamava, mas Seol Jihu nem notou. Sem perceber, já estava completamente absorvido na conversa com ela.

    — Que, quando cinco pessoas se juntam, uma delas sempre é lixo?

    — Acho que já li isso na internet… Espera, está dizendo que eu sou…

    — Claro que não. — A garota negou sem hesitar. — Espero que Oppa seja um tesouro.

    — Esse seria o contraponto de lixo?

    — Sim. Porque então uma situação interessante se desenrolaria.

    Seol Jihu inclinou a cabeça, curioso.

    — Os três pares que conhecemos até agora são todos desequilibrados em termos de utilidade em combate e alinhamento de personalidade.

    Ela tinha razão. Em termos de habilidade, Rosto Inexpressivo, Olhos de Cobra e Maria eram elites, enquanto os outros três eram o oposto. E os três primeiros também apresentavam traços negativos de personalidade, enquanto os outros três tinham traços positivos.

    — Seria terrível se Oppa estivesse do lado deles… mas se não estiver, você seria a única exceção deste grupo.

    — …

    — Talvez consigamos descobrir mais sobre a existência que criou este cenário. — A garota uniu as mãos e continuou — Por isso estou tão curiosa.

    Que tipo de pessoa Seol Jihu era.

    — Se você é alguém que inflamaria os relacionamentos já feridos, agravaria a divisão com intrigas e buscaria tirar proveito do conflito.

    Ou.

    — Se é alguém que remendaria os relacionamentos quebrados, reconciliaria a divisão com palavras e reuniria todos como um verdadeiro líder.

    Nesse instante, Seol sentiu como se tivesse sido atingido por um martelo na cabeça.

    — Sua Janela de Status… Pode me mostrar, por favor?

    A garota pediu, mas Seol Jihu já não a ouvia mais. A frase que ele havia esquecido por tanto tempo, mas que estava gravada em sua consciência…

    Executor. Aquele que Lidera.

    “Ah…”

    De repente, uma estranha sensação de déjà vu o envolveu. Era o mesmo sentimento que tivera quando flutuava no lago da Montanha Rochosa da Pedra Imensa, aquela sensação melancólica parecida com ter uma palavra presa na ponta da língua.

    Antes, ele havia perdido contato com essa sensação de maneira estúpida. Recusando-se a cometer o mesmo erro, Seol Jihu buscou desesperadamente em sua memória.

    As palavras que a garota mencionou: interpretar papéis, contrapontos, deliberado, aquele que lidera…

    Finalmente, ao se lembrar do Mandamento Dourado que vira no começo…

    “AH!”

    As cinco palavras se conectaram, e um raio de luz pareceu atravessar as nuvens escuras em sua mente. Ele estava progredindo sem um plano claro, mas agora sentia que havia encontrado o fio do caminho para a solução.

    Claro, não podia ter certeza de que era a resposta correta. Afinal, era apenas uma possibilidade.

    Mas ele se convenceu de uma coisa. E era o seu papel dentro daquele grupo.

    Uma pessoa altruísta sem habilidade.

    Uma pessoa calculista com habilidade.

    Uma pessoa cooperativa sem habilidade.

    Uma pessoa egoista com habilidade.

    Uma pessoa gentil sem habilidade.

    Uma pessoa cruel com habilidade.

    E… uma pessoa com habilidade, que ainda não havia decidido.

    “Então querem que eu tome uma decisão.”

    Ele tinha dois caminhos a escolher. A resposta já estava diante dele. Seus Nove Olhos lhe diziam qual direção seguir.

    Quando pensou nisso…

    “Será que… eu consigo?”

    Ele finalmente percebeu a gravidade da situação. Ao mesmo tempo, entendeu o quão difícil seria sua tarefa.

    Deixando de lado o fato de que eram completos estranhos, liderar Rosto Inexpressivo e Olhos de Cobra, duas pessoas imprevisíveis e voláteis, parecia extremamente difícil.

    Seol Jihu fechou os olhos para acalmar seu coração acelerado. De repente, as palavras do chefe da vila passaram por sua mente.

    — Estamos vivendo tempos assim.

    — Não existe certo ou errado quando se trata de sobrevivência.

    — Seja você um homem justo ou de índole perversa, precisa reunir todos sob a mesma bandeira e unir forças para sobreviver. Ainda hoje, é assim.

    Com isso, ele finalmente tomou uma decisão. Agora não era hora de se preocupar se conseguiria ou não. Ele tinha que conseguir.

    Logo, seus olhos se abriram num lampejo.

    “Vamos fazer isso.”

    Enquanto Seol Jihu olhava para as seis pessoas do grupo, seus olhos brilhavam como estrelas no céu noturno.


    Mesmo momento.

    — ?

    A ‘existência’ sentada no Trono Corrompido estremeceu. Com uma mão apoiando a cabeça, suas sobrancelhas se ergueram lentamente. A existência olhou ao redor com os olhos semicerrados.

    O que se espalhava diante dela era um vasto espaço. Ao redor de Paraíso, o planeta que habitava, incontáveis estrelas formavam uma galáxia.

    A visão de uma divindade era, tanto física quanto mentalmente, de um nível dimensional diferente da visão de um humano.

    Usando seus olhos divinos, a existência leu informações sobre os movimentos e mudanças das constelações.

    — Eu…

    “…Senti uma sensação formigante.” A existência, que havia devorado a Divindade Suprema, detectou isso. Não havia chance de ser algo trivial.

    Contudo, mesmo ao examinar as estrelas, ela não encontrou nada fora do lugar. Bem, parecia que algumas estrelas estavam se agrupando mais próximas…

    Mas a estrela no centro desse agrupamento não brilhava.

    Agrupar-se em torno de uma estrela morta não representaria ameaça para ela.

    — Hm…

    Será que tinha se enganado quanto à sensação? Ela soltou um leve murmúrio antes de fechar os olhos mais uma vez.

    Assim, a existência sentada no Trono Corrompido, a Rainha Parasita, caiu em um sono profundo.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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