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    A facção minoritária representava cerca de 30% dos participantes restantes, e era composta por dois tipos de pessoas, aquelas que haviam entrado no Banquete sozinhas e aquelas que haviam entrado em equipe e agora estavam sozinhas.

    Embora fossem tratados como fracos no Banquete, sob um ponto de vista objetivo, eles não eram tão fracos a ponto de serem considerados lixo. Só o fato de terem conseguido entrar já era prova de suas habilidades. Afinal, precisaram enfrentar dezenas e dezenas de concorrentes.

    Na realidade, não seria estranho se algumas equipes fortes tivessem tentado recrutar alguns deles para o Estágio.

    Mas o problema foi que os primeiros alvos de recrutamento se tornaram cordeiros sacrificiais. E, quando o mesmo incidente ocorreu algumas horas depois, o Rubicão já havia sido cruzado.1

    Em vez de se juntarem a uma equipe forte e temerem por suas vidas, escolheram permanecer entre pessoas que estavam na mesma situação. Claro, o problema era que lugar nenhum era verdadeiramente seguro.

    Depois de chegar ao acampamento da facção minoritária, Seol Jihu sentiu vários olhares penetrantes cravando-se nele como balas. Estavam tão carregados de hostilidade e desconfiança que descrevê-los apenas como ‘pouco acolhedores’ seria insuficiente.

    “Seria mais fácil se eu pudesse falar com alguém que conheço…”

    Seol Jihu olhou lentamente ao redor do acampamento até avistar a garota da faixa branca e seu irmão mais velho à distância. O gigante ainda parecia intimidador, mas parecia que seus ferimentos haviam sido curados, pois sua expressão estava melhor.

    Quando a garota acenou, Seol Jihu retribuiu o cumprimento. Enquanto isso, o gigante o encarava sem qualquer reação. Devia se lembrar de ter sido ajudado, pois não demonstrava hostilidade. No entanto, seu olhar também não era exatamente amigável.

    — Ah. — Nesse momento, alguém murmurou, como se reconhecesse Seol Jihu.

    Seol Jihu virou-se na direção da voz e avistou instantaneamente uma garota de corte chanel. Era Lara Wolff, a Arqueira que ele conhecera durante o Estágio 1.

    — Você é…

    — Olá. — Seol Jihu se curvou e a cumprimentou. — Não sabia que você estava aqui.

    — Ah, é que… não encontrei meus companheiros quando entrei no Estágio 2. — Lara falou enquanto coçava o cabelo curto. Então, ao ver Seol Jihu fazer um ‘Ah’, ela rapidamente esboçou um sorriso. — Está tudo bem. Talvez eles tenham sido eliminados… Enfim, por que você veio?

    Agradecido pela mudança de assunto, Seol Jihu foi direto ao ponto. — Há algo que preciso dizer.

    — Ah, então eu vou com você…

    Lara tentou se aproximar. Depois de pensar por um momento, Seol Jihu balançou a cabeça.

    Depois da morte dos traidores, a facção minoritária não tinha mais ninguém que pudesse ser chamado de representante. E claramente, Lara não poderia ser a porta-voz do grupo.

    — Não.

    — Hã?

    — Eu… direi aqui mesmo.

    Lara parou, e seus músculos faciais ficaram rígidos. Declarar que falaria ali, diante de todos, significava que ele viera para falar com todos, não apenas com ela.

    — …Tudo bem. Pode falar.

    Embora não tivesse autoridade para decidir nada, ela consentiu mesmo assim. Apesar de toda a situação, ainda se lembrava da gentileza que ele demonstrara no Estágio 1.

    Para ser completamente honesta, uma parte dela esperava que ele viesse salvá-la novamente, como fizera antes. Pode parecer um desejo egoísta, mas ela não era a única a esperar por isso.

    As pessoas da facção minoritária não estavam antagonizando Seol Jihu. Parte disso era porque ele havia salvado os irmãos recentemente, mas também porque, no fundo, esperavam que alguém viesse salvá-los.

    Sentindo aquele clima no ar, o coração de Seol Jihu pesou. Jamais imaginara que carregar as expectativas dos outros seria algo tão esmagador.

    — …

    Como deveria se expressar? Seol Jihu hesitou por um bom tempo antes de perceber que seria inútil.

    Eles conheciam a situação em que estavam melhor do que ninguém.

    Por isso…

    — Não vou enrolar. — Ele foi direto ao ponto. — Preciso da cooperação de todos.

    — …

    — Sei que será difícil… mas gostaria que participassem da conquista da Praça do Sacrifício.

    Assim que ele revelou seu verdadeiro propósito, suspiros ecoaram ao redor.

    — …Eu sei.

    Lara Wolff sorriu amargamente. Nem ela, nem ninguém ali, era tolo. Sabiam que esse era o único caminho.

    — Eu sei, mas…

    Lara levantou as duas mãos, como se quisesse dizer algo, e começou a brincar com os dedos. Contudo, incapaz de encontrar as palavras certas, abaixou as mãos novamente.

    — …Sabe…

    Kazuki os havia chamado de ‘pessoas sem escolha’. Assim como ele dissera, seu destino era entrar na Praça do Sacrifício e se tornarem escudos de carne, ou serem sacrificados sem que ninguém soubesse.

    Não importava qual caminho escolhessem, a morte era a única coisa que os aguardava. Estavam verdadeiramente encurralados, sem saída.

    No início, eram forçados pelas pessoas. Agora, eram forçados pelas circunstâncias.

    — Eu serei o escudo de vocês.

    — ?

    Lara inclinou a cabeça. Ele não estava pedindo para que se tornassem escudos, mas estava dizendo que ele próprio se tornaria um?

    Em seguida, Seol Jihu explicou seus pensamentos em voz alta e clara para que todos ouvissem.

    — Eu entendo o que você está dizendo, mas…

    Mesmo após a explicação, Lara não parecia muito convencida.

    — Digo, você está certo, mas…

    Ela continuava a arrastar o final de suas frases. Como se não quisesse irritar o jovem à sua frente, escolhia cada palavra com o máximo cuidado.

    Seol Jihu esperou pacientemente.

    — …Podemos confiar em você?

    No fim, eles voltaram à questão de princípio.

    Era algo que precisava ser enfrentado. No entanto, confiança não era algo visível, e o abismo de desconfiança havia se tornado profundo demais para que palavras sozinhas surtissem efeito.

    Mas era da natureza humana querer ouvir, mesmo que as palavras fossem vazias. Lara Wolff provavelmente havia perguntado justamente por esse motivo.

    Seol Jihu respondeu calmamente:

    — Não vou pedir que confiem em mim aqui e agora.

    — …Hã?

    Lara piscou, surpresa. Por ter feito uma pergunta de princípio, esperava receber uma resposta de princípio. Ou, no pior dos casos, uma tentativa de persuasão adornada de grandiosidade.

    — Gostaria apenas que me dessem uma chance. — Contudo, as palavras do jovem eram tão limpas e diretas que pareciam um prato de carne de onde todo o excesso de óleo havia sido extraído.

    Além disso, o homem à sua frente pertencia a uma equipe poderosa, que disputava as posições mais altas entre as equipes da facção majoritária. Seu rosto desesperado e grave estranhamente tocava seu coração.

    A tal ponto que…

    — Eu apostarei meu nome nisso.

    Ela quis… apostar também.

    — Gostaria que me dessem uma chance de fazer com que confiem em mim.

    E confiar nele apenas uma vez.

    1. Rubicão, referencia ao Rio Rubicão. Quando Júlio César atravessou este rio em 49 a.C. em perseguição a Pompeu, violou a lei e tornou um conflito armado inevitável. Foi então que ele proclamou a famosa frase Alea jacta est(A sorte está lançada); Ou seja, a ideia de ‘atravessar o Rubicão’ representa a uma pessoa que toma uma decisão arriscada de maneira irrevogável, sem volta.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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