Índice de Capítulo


    Com a chave em minha mão, abri a cela após muito esforço. Todo o sono, fome e sede atrapalharam bastante meu desempenho nessa hora.

    Fora de minha cela, um grande corredor iluminado apenas por tochas se estendia. Era gigante, talvez com a intenção de me isolar ainda mais de outras coisas. 

    A falta de gente era visível naquele setor, como se apenas os escolhidos a dedo fossem permitidos entrar em minha cela. Mas não era só isso que me indicava esse fato. O setor onde estava era isolado de tudo.

    Andei e andei, tentando chegar a alguma coisa. Um labirinto infinito de corredores, era isso que sentia.

    Em meio a todos esses corredores interligados, eu escutei passos, vários passos cadenciados. Tentei identificar de onde vinha toda aquela comoção, apenas para encontrar uma nova área na prisão.

    Olhei do recanto da parede e vi vários soldados se arrumando em batalhões; alguns tinham poucos selecionados e outros tinham vários. 

    Me escondi atrás da parede em que estava, afinal, não conseguiria lutar com todos aqueles soldados. Tudo que queria era fugir, mas era possível em meio a toda essa segurança?

    Não sabia…

    Todos eram mascarados, escondendo apenas a parte superior de seu rosto. Fazia parte do uniforme daquela unidade de prisão, percebi isso após longos tempos.

    Mas tinha apenas uma coisa diferente de tudo que já tinha visto. Esse uniforme deles continha metal, o mais puro ferro que desejava.

    Era algo que poderia controlar, mas era o necessário para batalhar? Juntar o ferro de vários soldados iria requerer muito de minha concentração.

    Tinha escolha? 

    Nessa área, a luz do sol não chegava, como nas outras. Percebi nesse momento que a prisão era totalmente coberta, não adiantando o lugar que fosse. 

    Então, como ia encontrar a saída dela? 

    Várias perguntas se juntaram na minha mente. Talvez não fosse a escolha certa fugir agora, iria ter oportunidades melhores. Mas, não ia consertar a morte que causei.

    — Tivemos problemas desde sempre aqui, mas esse não será o que abalará nossa força de vontade! — vociferou um comandante, repousando-se em um palco. — É uma das grandes! Teremos que nos alegrar por essa oportunidade… Batalhar para defender nosso estado é digno de grande honra! 

    Todos gritaram em aprovação. O pequeno discurso foi o suficiente para motivar todas aquelas tropas, que se viraram para o lado contrário do capitão; começando a marchar em direção ao infinito logo após.

    Evitando os soldados, andei até um corredor para mais longe.

    Sentia como se fosse cair a cada passo, toda a dor se estendia por todos os meus músculos, da qual uma hora iria romper de exaustão. Sabia que isso ia acontecer, então, andar o máximo antes que o cansaço me dominasse era meu objetivo.

    Meus pés estavam doloridos. Todo aquele chão era totalmente desconfortável de andar sem qualquer tipo de proteção. Era para eu ter pego as roupas daquele guarda, mas minha mente não deixou raciocinar direito.

    Andei até escutar mais passos em um corredor próximo, só que dessa vez, esperei para ver quem iria passar. Sentindo o metal, pude dizer que a aproximação era de apenas uma única pessoa. 

    Faca na cintura e pingentes de ferro, era isso que ele tinha.

    Estava longe o suficiente para os guardas já começarem a utilizar armas normais. Definitivamente, a sorte olhava para mim.

    Logo, esse pequeno detalhe vai ser o que levará eles à ruína.

    Os passos estavam cada vez mais perto, e assim que passou do meu lado, ele… não me notou. Fiquei aliviada por um segundo, antes que eu controlasse a faca que estava em seu bolso.

    Movimentei o objeto metálico para seu pescoço em um piscar de olhos, tomando total precaução. O guarda soltou um leve som de surpresa após perceber a situação em que estava.

    Ele tremia, uma reação inesperada.

    — Venha para cá — sussurrei, enquanto pressionava ainda mais a faca em seu pescoço. — Ou conhecerá a morte em segundos.

    Se moveu de forma lenta para trás. A cada passo seu, um meu era dado em resposta. 

    Não sentia ninguém perto, pelo menos com meu detector de metais.

    — V-você… Quem é-é você…? — perguntou, lacrimejando.

    — Não vai precisar saber — respondi em meio a tosses. — Apenas siga-me.

    — Por favor… Tenho família, então não me mate! — Sua voz grossa falhou. — Faço de tudo, por favor! 

    Espera… é uma mulher?

    — Não ligo!

    Pressionei ainda mais a faca em seu pescoço.

    Não tinha sofrido agressões de mulheres, logo a única coisa que pude presumir foi que ela não tinha culpa de meu estado.

    Mas… é tudo pela minha fuga.

    Trisquei na maçaneta de uma porta, girando-a. A mulher, até então, apenas seguiu minhas ordens sem questionar.

    Era uma sala de depósitos, tendo caixas trancafiadas em todos os cantos. Mas uma caixa aberta me mostrou o conteúdo, eram apenas documentos. Com raciocínio, supus que todas as outras continham as mesmas coisas.

    Mesa, cadeira e uma foto. Além dos documentos, era isso que se podia encontrar naquela sala.

    Peguei a foto.

    Uma família… por que sempre é uma família?

    — Me diga a quem pertence essa sala agora — bradei.

    — É m-minha! — respondeu.

    — Por que você trabalha aqui?

    — E… — Ela hesitou.

    — Responda.

    Pressionei mais a faca.

    — Pagar a academia dos meus filhos! Como você pode ver na foto — disse. 

    O medo a dominava, podia sentir isso.

    Me sentia mal por estar fazendo esse tipo de coisa… era como se eu não me reconhecesse. Eu ao menos sei como realmente sou? Não sei…

    Nesse ponto, me sinto só uma pessoa fragmentada.

    — Onde estamos?

    — Meu protocolo me diz para eu não passar informações para desconhecidos! Ainda mais para prisioneiros. Posso pressupor que, se for um Soldado Real esse tipo de brincadeira não aconteceria, então pare logo! — Ela arfava.

    Não tinha se virado uma única vez para mim, então sua reação de tudo ser apenas uma brincadeira era bastante normal.

    — Isso não é uma piada…! — Minha barriga roncava.

    Ela virou-se, como se tudo não passasse de uma leve e boba brincadeira. Mas ao me ver, seus olhos se arregalaram.

    Gaguejava, sem ao menos dizer uma única coisa.

    Antes que ela fugisse do local, transformei o pouco metal que tinha na faca e em sua roupa, prendendo de imediato suas mãos e pés contra a parede. O impacto fez barulho alto, entretanto, podia supor que estava tudo bem.

    Eu… não queria matá-la.

    Era humana demais, totalmente diferente dos outros.

    Meu corpo falhou por um momento, soltando ela. Estava quase no meu limite.

    Ela se moveu para cima de mim assim que os pregos metálicos caíram no chão. Mesmo debilitada, eu consegui tirar mais um pouco de força para me defender de seus ataques.

    Logo, a melhor forma que encontrei de mantê-la longe foi transformar o que tinha no local em espetos flutuantes.

    Apontei para ela, enquanto pegava um papel na mesa. Era um jornal, pelo visto, bem novo.

    “Herói da Fantasia encontrado! A igreja de Lótus afirma que um novo sucessor da paz vai brilhar na luta pela humanidade.”

    Que?

    Como assim…? 

    Informações confusas demais para entender naquele momento.

    “Zachery, mais novo herói do quinteto, foi descrito como uma pessoa boa e que se importa com o próximo. Seu olhar sereno e calmo conquistou corações de todo o público.”

    Que droga!

    “Diz Santa Samira, numa entrevista feita hoje […]”

    A informação seguinte me chocou. Uma surpresa que gelou toda a minha alma, como se um pedaço dela tivesse sido arrancado naquele momento.

    — Se passaram… cinco anos? 


    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota