Capítulo 18 - Alice
A equipe III caminhava em silêncio pelas ruas da base de inteligência, seguindo rumo à saída. Todos estavam tensos, imaginando o que poderia estar acontecendo com Jaro.
— S-será que vão… torturar ele? — murmurou Peter, apreensivo.
— Virá essa boca pra lá, Peter. Ele provavelmente só vai ser punido. — Vitória, tentou amenizar o clima.
— É, a Vitória tá certa. Esses “professores” não iriam torturar a mercadoria de um mercador sem antes consultá-lo — comentou Taylor.
— E-eu espero que vocês estejam certos…
De repente, o grupo ouviu passos parando. Era Alice. Ela estacou no meio do caminho e soltou alto:
— Que piada… só precisa enviar um torpedo para o mercador. Ainda mais depois que inventaram o telefone — ela riu com desdém. — Seria até bom se ele fosse torturado. Assim aprenderia como esse lugar é perigoso.
Vitória parou também, de costas para Alice. Seu rosto fechou.
Já tô de saco cheio dessa garota.
Sem dizer uma palavra, ela se virou e marchou até Alice com olhar firme. Alice recuou, assustada.
— E-eu só falei a verdade…
Vitória não hesitou. Deu um tapa seco no rosto de Alice, que levou a mão à bochecha vermelha, em choque.
— Você devia sentir vergonha. Como pode desejar isso pra alguém que é seu aliado aqui dentro?!
Alice abaixou o rosto, cerrando os punhos, irritada.
— Vai se foder. Eu falo o que quiser — cuspiu ela, antes de sair correndo, se afastando do grupo.
Se eu pelo menos tivesse caído na equipe I ou II Pensava Vitória, irritada.
— Vitória… não que eu ache que você errou — disse Taylor com um meio sorriso. — Na real, adorei o tapa. Mas talvez seja melhor a gente ir atrás dela. Ainda não conhecemos direito esse lugar.
— Você tem razão. Vamos atrás dela…
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Jaro descia no elevador, imerso em seus próprios pensamentos.
Como esse lunático espera que uma criança sobreviva sozinha numa floresta? E ainda quer que eu mate um monstro? Isso é suicídio…
Logo, as portas se abriram com um leve som metálico. Ele atravessou o saguão e encontrou Elise, sentada casualmente numa poltrona. Ela observava algo no telefone, mas ao ver Jaro, ergueu os olhos.
— Você tá com cara azeda… Então, qual foi a punição?
Acho que falar demais só vai me trazer problemas…
— Nada demais.
— Pffftt. “nada demais”? Moleque… talvez essa seja a última vez que eu te veja. Mas quer saber? Eu gostei de você.
Ela esticou a mão, entregando a ele algo embrulhado em um pano velho. Jaro abriu e encontrou várias Gomas de Ouro.
Por que ela tá fazendo isso por mim? Ela mal me conhece… Ninguém ajuda alguém assim, sem querer algo em troca.
— E-eu… não sei o que dizer. Obrigado, senhorita Elise.
— Relaxa. Só não se esqueça: essas gomas são potentes, sugam sua energia física e mental. Comer mais de três de uma vez pode te apagar e, numa batalha pode levar a morte.
— Entendido…
— Que os deuses estejam do seu lado, garoto.
Já longe do prédio, Jaro avistou alguns membros da equipe Fantasma correndo em sua direção. Estavam ofegantes, com o suor escorrendo pelo rosto.
— O que houve? — perguntou Jaro, franzindo o cenho.
— Quando a gente tava indo pro ponto de teleporte, eu discuti com a Alice… Ela saiu correndo, e depois disso, sumiu. — Vitória explicou, entrecortando as palavras pela respiração.
— Essa menina… é um imã de problema. E agora, o que a gente faz? — perguntou Taylor, tenso.
Mais um problema… Refletiu Jaro.
O garoto baixinho respirou fundo e olhou diretamente para Peter.
— Peter, certo? Corre pro prédio dos professores. Pede ajuda.
Peter pareceu surpreso por ter seu nome lembrado. Seus olhos brilharam por um breve instante, mas logo assentiu com a cabeça e saiu em disparada.
— Alguém precisa voltar e ver se ela voltou pro mesmo lugar.
— Eu vou — falou Vitória, sem hesitar.
— Certo, então Taylor, nós dois vamos nos dividir para procurá-la.
— Fechado.
Vitória, Taylor e Jaro vasculharam a base por vários minutos, mas nem sinal de Alice.
Onde essa mimada se enfiou? Eu nem bati tão forte assim… Pensava Vitória, irritada, enquanto procurava na parte oeste.
Ao sul, Taylor perguntava a todos que cruzavam seu caminho:
— Ei, viu uma garota baixinha, cabelo roxo, cara de riquinha?
As respostas eram sempre negativas. Ninguém tinha visto Alice.
No nordeste, Jaro se sentou na quina de uma calçada, exausto.
Será que já encontraram ela?
Suspirou fundo.
Procurei por tudo quanto e canto… nada.
Ele olhou ao redor, frustrado.
Se eu tivesse um telefone…
Ele se levantou devagar.
Acho que vou voltar.
Mas, antes que desse o primeiro passo, uma voz ecoou dentro da sua mente:
A humana que procura está a 300 metros.
Jaro congelou. Aquela voz era da mulher de cabelos brancos do sonho. Ele olhou em volta, confuso.
Trezentos metros? Mas tem um monte de casas e prédios por aqui. Como eu vou saber exatamen—
Seus pensamentos foram cortados por um redemoinho de poeira brilhante que surgiu bem à sua frente. Um brilho branco, suave, e mágico, dançava no ar como se o chamasse.
Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sentia no fundo que era ela a mulher dos cabelos brancos o guiando.
Valeu de novo…
Silêncio.
— É… já imaginava. — O garoto, esticou as pernas.
— Preciso me apressar.
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A secretária Elise aproveitava seu horário de almoço quando um garoto de estatura média, pele clara e cabelo em formato de tigela entrou na recepção, ofegante.
— C-com licença… tem algum professor por aqui ainda? — perguntou Peter, sério, encarando Elise.
Ela estava com a boca cheia. Assustada, cuspiu parte da comida pro lado.
Ele é gago? Quase me engasgo. Pensou, segurando o riso. Achou engraçada a maneira como o garoto falou, mas tentou manter a compostura. Bebeu um gole de suco antes de responder:
— Tem sim, mas—
— Obrigado! — cortou Peter, saindo às pressas. Indo pela as escadas em vez do elevador.
— Droga, garoto… o único professor nesse prédio é o Jason… — murmurou ela, voltando à comida com prazer.
— Que delícia! Preciso comprar de novo nesse restaurante.
E então pensou, preocupada: Espero que ele fique bem… Jason odeia ser interrompido durante a meditação.
Peter chegou ao último andar, onde havia rolado a apresentação. Porém, a sala estava vazia.
— M-merda… esqueci de perguntar qual sala era.
Olhou o corredor. Portas. Abriu todas. Vazio.
Desceu pro segundo andar, seguiu abrindo uma por uma, até que finalmente…
Encontrou um professor.
Jason estava sentado em um sofá preto, cabeça inclinada, aparentemente dormindo.
— S-senhor! Por favor, acorde! — disse Peter, nervoso.
Jason abriu os olhos, irritado, encarando o garoto franzino à sua frente. A simples presença dele bastava para deixar Peter trêmulo.
Se eu falar mais, será que ele me mata? Não… não posso continuar sendo um covarde.
— Senhor Jason, minha companheira de equipe desapareceu. Será que o senhor poderia me ajud—
Um clarão negro cortou o ar, passando rente à cabeça de Peter e abrindo um buraco na parede atrás dele.
— Que sorte você tem, seu gaguinho de merda. Da próxima, eu não erro — disse Jason, frio.
No dedo indicador dele, uma esfera negra do tamanho de um caroço de feijão se formava, apontada diretamente para Peter.
Ele quer me matar! Pensou Peter, em pânico.
A esfera disparou. Era tão rápida que mal se podia ver. Peter se jogou pro lado, desengonçado, e conseguiu desviar.
Jason franziu a testa. Como ele conseguiu escapar disso?
Peter olhou em volta. A parede estava arrombada com trinta centímetros de diâmetro.
Se isso me acertar, eu tô morto!
— P-p-por favor! Me desculpa! — implorava Peter, tremendo.
Que moleque irritante… Pensou Jason, enquanto lançava mais esferas. Peter, com movimentos estranhos, mas ágeis, conseguia escapar de todas.
Jason então parou, observando-o.
Interessante…
— Vamos ver se você consegue desviar disso — disse Jason com um leve sorriso no canto da boca.
Peter o encarava, apavorado. O que ele vai fazer agora?
Jason sumiu do campo de visão dele. A dor veio no instante seguinte: um soco certeiro no abdômen.
— Então é esse o seu limite? — murmurou Jason.
Peter caiu de joelhos, tossindo sangue. Jason voltou calmamente ao sofá, cruzou as pernas e fechou os olhos.
— Vou poupar sua vida por um motivo: você tem talento. Mas quanto à sua companheira… isso não é problema meu. Aqui, o mais forte manda. Simples assim.
O professor, fechou os olhos para meditar novamente.
— Fecha a porta quando sair — completou.
Peter, cambaleando, se ajoelhou. Depois se curvou, encostando a testa no chão com força.
— S-s-senhor… eu nasci gago, e nunca fui bom com palavras. Mal conheço essa garota da minha equipe, mas meu tio, antes de morrer, me ensinou que não devo abandonar meus amigos. Por favor… me ajude. Eu faço qualquer coisa.
Jason soltou um suspiro impaciente.
— Você é irritante pra caralho… tá me atrapalhando de novo.
Jason, abriu os olhos mais uma vez. Viu o garoto ainda curvado, com a testa no chão. Ele também, observou uma aura negra em volta do menino.
— Qualquer coisa em…
Peter, engoliu em seco. O menino gago não parava de imaginar como o professor Jason o iria torturar.
Nunca tive um pupilo antes… talvez… esteja na hora.
— Você será meu discípulo.
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