Capítulo 157: Árvore de Ebonthorn

O silêncio era absoluto.  

“…..”  

Eu não ouvia nada, nem mesmo um sussurro de vento.  

O mundo estava escuro.  

Eu não conseguia ver nada.  

O mundo era silencioso e escuro.  

Não, eu ouvi algo.  

Tum… Tum! Tum… Tum!  

Era o som do meu próprio coração batendo.  

…..Ecoava em meus ouvidos, mais alto que nunca.  

Assim como o som da minha respiração.  

“Haa… Haa…”  

Cada respiração parecia amplificada, quase intrusiva.  

A quietude me envolvia como um cobertor pesado.  

Eu me sentia desconectado de tudo.  

‘O que está acontecendo…?’  

Meus sentidos se esforçavam, buscando qualquer indício de som.  

O silêncio pressionava, tornando-me hiperconsciente da minha própria existência.  

Desde a batida do meu coração até meus próprios pensamentos.  

Era incrivelmente assustador.  

“Haaa… Haa…”  

Minha respiração continuava a ecoar na escuridão.  

Eu não conseguia mover meu corpo de forma alguma.  

…..Estava simplesmente preso na escuridão.  

Mas a escuridão não durou muito.  

Aos poucos, percebi.  

Estava escuro porque minhas pálpebras estavam fechadas.  

A luz entrou em meus olhos no momento em que minhas pálpebras se abriram. Tudo aconteceu sem meu consentimento.  

No momento, eu não tinha controle sobre meu corpo.  

Eu era apenas um espectador.  

“Haa… Haa…”  

Eu ainda sentia tudo o que meu corpo sentia.  

Como a dor ardente que veio com a abertura dos olhos, levou um momento para me ajustar. Quando me ajustei, senti minha expressão congelar.  

“H-haa.. Haaa.. Haa….”  

Minha respiração ficou mais pesada e rápida.  

Assim como as batidas do meu coração.  

“Haaa…!”  

Meu corpo se debateu, mas se recusou a se mover.  

Estava preso.  

….Paralisado.  

“Huiiik!”  

E minha voz também.  

Ela simplesmente se recusava a sair. Tudo o que saía eram sons sufocantes.  

Mas não importava.  

‘Isso…’  

Olhando para a cena à minha frente, eu não sabia como reagir.  

Era como se o ar tivesse sido sugado de mim.  

Eu conseguia ver a cidade.  

…..Estava abaixo de mim.  

Abaixo de mim.  

Olhando ao redor, folhas vermelhas como sangue pareciam cercar toda a cidade.  

‘Isso…’  

Foi quando cheguei a uma conclusão.  

Eu estava em uma árvore.  

Uma árvore gigantesca que parecia cobrir a cidade inteira.  

‘Quando isso…?’  

“Huik!”  

Eu estava colado a ela em forma de ‘T’.  

…..Eu não era o único preso nela. Olhando ao redor, via milhares de pessoas presas à casca da árvore.  

No entanto, ao contrário de mim, elas pareciam ter se fundido com ela.  

Seus corpos já haviam adquirido o mesmo tom de ébano da árvore, com os braços estendidos em desespero.  

Suas pernas não eram mais visíveis, engolidas pelo tronco, enquanto seus torsos emergiam da madeira, contorcidos e torcidos.  

Eu conseguia ver o terror e o desespero em seus rostos mumificados.  

Um, dois, três…  

Eram muitos para contar.  

E…  

“Huiiik!”  

A razão por trás da minha situação ficou clara.  

“Huiiik!”  

Eu também estava passando pela mesma situação que eles.  

“Huiiik!”  

Meu corpo se debateu violentamente.  

Mas se recusou a se mover.  

“Huiiik!”  

Ele gritou.  

Mas nenhuma voz saiu.  

“Haaa…! Haa…! Huiiik!”  

O desespero era claro para mim.  

Meu corpo continuou a lutar desesperadamente. Isso continuou pelos próximos minutos até que, finalmente, ele ficou sem energia.  

“Ukh…!”  

Minha cabeça caiu, e um som estranho e úmido ecoou em meus ouvidos.  

Silêncio~  

Uma sensação estranha e formigante percorreu cada canto do meu corpo, subindo até minhas bochechas.  

Senti minha pele arrepiar com aquela sensação.  

Era como se uma aranha estivesse andando sobre meu rosto.  

“Huii…”  

Soltei um gemido baixo, mas não adiantou.  

Silêncio, silêncio—  

O som continuou, e meu corpo começou a ficar rígido a ponto de não conseguir mais se mover.  

Eu estava indefeso.  

“H-hu.”  

O desespero surgiu das partes mais profundas de mim.  

A sensação formigante alcançou meus ouvidos, formigando por dentro.  

Pelo canto dos olhos, consegui ver vários tentáculos de madeira subindo em direção às minhas bochechas.  

Silêncio, silêncio.  

Formigava.  

…..E meu corpo ficou tenso.  

Silêncio, silêncio.  

“….!”  

Enrolando-se em meu rosto, eles cobriram minha boca e meus olhos, puxando-os para trás.  

Começou a doer.  

“Huiiik!”  

A ponto de eu recuperar minha voz.  

Naquele momento, perdi todo o controle do meu corpo.  

Com os olhos arregalados, a última coisa que vi foi a cidade abaixo e as milhares de pessoas presas na árvore gigantesca.  

“Huuuiiiimmm!!”  

O mundo ficou escuro logo depois.  

“Cadete?”  

Quando voltei a mim, fui recebido por vários olhares direcionados a mim.  

Eu estremeci ao vê-los.  

“Haa… Haa…”  

Sem perceber, minha respiração ficou pesada e minhas costas estavam encharcadas.  

Mal conseguia sentir minhas pernas.  

Era como se fossem feitas de gelatina.  

Olhando ao redor, o mundo não parecia real.  

O barulho estava abafado, e tudo parecia embaçado.  

“Cadete!”  

Foi uma voz alta que me tirou daquele estado.  

“…..Tem algo errado com você?”  

Piscando, vi o homem de antes diante de mim.  

Ele provavelmente era o responsável pelo nosso grupo.  

“Estou bem.”  

Tentei me controlar, mas mal conseguia me concentrar.  

Ainda estava tremendo por causa da experiência, e um medo que só havia sentido quando encontrei o homem sem rosto tomou conta do meu corpo.  

“Está bem? Você não parece bem.”  

“Está tudo bem.”  

“…..Hm.”  

O homem me olhou com seus olhos verdes, e eu levantei o olhar para encarar o dele.  

Ficamos assim por vários segundos até que ele finalmente cedeu.  

“Tudo bem.”  

Ele foi o primeiro a desistir.  

Virando-se, ele encarou os outros cadetes que estavam todos me olhando. Especialmente Evelyn. Seu olhar parecia um pouco intenso.  

Encontrei seu olhar por um momento antes que algo brilhasse diante dos meus olhos.  

Uma janela familiar que eu não via há algum tempo.  

“H-haa, isso…”  

A missão finalmente chegara.  

Olhando para os números, engoli em seco.  

‘Progressão de Personagem 401%.’  

Eu estava atualmente no nível 26.  

….Se completasse essa missão, finalmente alcançaria o Tier 3.  

A ideia era emocionante.  

Mas, ao mesmo tempo, ao me lembrar da visão, a emoção desapareceu. Tudo o que senti foi um profundo sentimento de desesperança.  

‘Como eu vou impedir isso…?’  

A única coisa que sabia sobre a situação era que uma árvore iria brotar no meio da cidade, prendendo todos em sua casca.  

Pela visão, também parecia que esse seria o meu destino.  

“H-ho.”  

Soltei um suspiro para me acalmar, mas meu peito tremia.  

Os resquícios das emoções que senti na visão começaram a desaparecer, e a clareza voltou ao meu corpo.  

Mas, mesmo assim, o sentimento de desespero não me deixou.  

Fechando os olhos por um momento, olhei para a janela da missão novamente.  

‘Árvore de Ebonthorn’  

Essa era minha pista.  

…..Eu precisava descobrir o que era a árvore.  

Mas antes disso,  

“Por favor, sigam-me. Vou explicar como a Guilda funciona.”  

Eu precisava lidar com isso primeiro.  

***  

“Seu papel na missão de resgate é apenas carregar suprimentos. Vocês ainda não são fortes o suficiente para realmente nos ajudar. O motivo de termos escolhido trazê-los conosco é para que vejam como as Guildas operam.”  

Leon ficou em silêncio enquanto ouvia o delegado da Guilda falar.  

‘Ordem do Véu Místico’  

Classificada entre as 8 melhores Guildas, Leon foi escolhido por eles.  

Por causa de seu desempenho ruim, seu valor caiu até a 8ª posição. Isso não fazia muita diferença para ele.  

…..Afinal, ele já era um cavaleiro servindo a Casa Evenus.  

Não havia necessidade de ele entrar em uma Guilda.  

Na verdade, se ele fosse entrar em uma, seria a mesma que Julien entrasse.  

“Nos próximos dias, serei responsável por treiná-los para a missão de resgate. Há muitas coisas que cadetes precisam aprender antes de saírem da zona de suprimentos. A Dimensão Espelhada é um mundo muito mais cruel do que pensam.”  

Andando, o delegado os levou até uma sala grande.  

Dentro dela, havia mais de cem trajes justos ao corpo com uma pequena abertura no meio.  

“Vocês estão seguros agora porque estamos no Posto de Suprimentos, e toda a radiação foi tratada na área próxima. No entanto…”  

O delegado olhou ao redor com uma expressão séria.  

“…..O mesmo não pode ser dito sobre outras áreas da Dimensão Espelhada, onde a radiação é extremamente alta. Esses trajes aqui são para protegê-los da radiação. Antes de sairmos para a missão de resgate, todos vocês terão que usá-los.”  

Franzindo ligeiramente a testa, Leon olhou para os trajes.  

Estendendo a mão, tocou em um deles. Era macio ao toque, e o tecido parecia extremamente fino.  

‘Não parece confortável.’  

Na verdade, parecia extremamente apertado.  

Ele estava prestes a soltá-lo quando todo o seu corpo formigou.  

“Hm?”  

Era uma sensação que ele já conhecia bem.  

Seus instintos.  

Estavam ativos.  

….E.  

“Haa.”  

Os pelos em sua nuca se arrepiaram.  

Sua expressão se desfez enquanto ele baixava a cabeça para olhar para sua mão.  

Mais uma vez, ela tremia.  

‘Isso de novo.’  

Quanto tempo levaria para o medo finalmente desaparecer?  

Já fazia quase uma semana desde a luta com Julien, e ainda assim ele sofria com os efeitos colaterais de suas habilidades emotivas.  

Isso o deixava impotente.  

Apertando o colar que usava, ele suspirou.  

‘…..Parece que preciso de uma versão melhor disso.’  

Se ao menos soubesse onde conseguir.  

“Hm?”  

A parte de trás de sua mente formigou novamente.  

Franzindo a testa, Leon percebeu que suas mãos não paravam de tremer.  

“Mas o que…”  

Por um momento, parecia que os efeitos colaterais da habilidade de Julien haviam piorado.  

Mas foi também nesse momento que Leon notou algo.  

O medo…  

Não vinha da habilidade emotiva de Julien.  

….Havia algo mais desencadeando isso.  

Mas o quê, exatamente?  

O que exatamente poderia estar ativando seus instintos assim?  

“…..”  

A cabeça de Leon virou pelo recinto.  

Ignorando o delegado, que ainda falava, seu olhar se fixou em uma área específica da sala.  

O formigamento em sua nuca se intensificou.  

‘Ali, está vindo daí.’  

Tomando cuidado para ser discreto, Leon caminhou até a área onde sentia a sensação. À primeira vista, era apenas um armário cheio de trajes. No entanto, ao se aproximar, Leon parou.  

“…..”  

Em silêncio, baixou a cabeça e afastou os trajes para o lado.  

Foi então que ele viu.  

Uma raiz.  

…..Uma raiz negra brotando do chão.