Índice de Capítulo

    Que dia era aquele afinal?

    Se checasse a data no DA, ele certamente descobriria. Mas havia alguma coisa naquele lugar que danificou os aparelhos eletrônicos e os dispositivos sequer davam sinais de funcionamento. 

    Já faz duas semanas…

    Contando os dias que passaram desde que atracaram na Antártida, esse era o período correto. 

    Mayck seguiu vagando pela cidade cheia, onde multidões cobriam as ruas como formigas, todas vestidas em trajes cerimoniais. As luzes azuladas que pareciam chamas congeladas crepitavam nas paredes mesmo sendo dia. 

    Perto de uma fonte de água, havia crianças vestidas em trajes brancos padronizados, com adornos azuis. Elas eram orquestradas em uma espécie de coral religioso. 

    Mayck as observou por um momento. 

    Após um suspiro, ele partiu. 

    Passou por dezenas — ou centenas — de bandeiras com o brasão da família real de Nevéria: uma coroa branca e um coração de gelo no centro. Quem quer que tenha projetado aquele design, provavelmente sabia o que estava fazendo. 

    Além disso, as janelas das portas e casas estavam cobertas por tecidos brancos, grossos, permitindo uma passagem mínima de luz.  

    O clima de festa está em alta aqui…

    Poderia dizer que era até contagiante. 

    Mas não era tão positivo de outra perspectiva. 

    O garoto tinha presenciado a verdadeira natureza do ser que o povo daquele reino adorava como uma divindade. E agora, era bizarra a forma com que se alegravam em cultuar aquilo. Era quase como um conto de terror disfarçado de fábula. 

    Os pés de Mayck o levaram até a praça do reino, onde todas as ruas principais se encontravam. Olhando para a maior delas, na direção norte, dava para ver o enorme castelo que se erguia como as montanhas.

    Havia uma fonte no centro e uma estátua de gelo erguida no meio dela. Era a mesma daquelas que estavam nas janelas das casas, mas em uma escala bem maior. 

    Olhando para ela por um tempo, tudo o que o garoto conseguia sentir eram arrepios. Aquela forma era irreconhecível, assustadora, e tinha uma construção grotesca.

    Não era muito detalhada, mas as peças que pareciam tentáculos se erguiam de forma perturbadora, assim como as macabras protuberâncias que se contorciam em feições de agonia, como se almas presas tentassem escapar da prisão de gelo. 

    Parecia piada. Era como se apenas ele enxergasse aquela perturbação. 

    “Isso não faz sentido. Que coisa horrorosa”, cuspiu. “Se a estátua é assim, imagine a coisa real.”

    A mente humana era um local difícil de acessar. Não era simples dizer o que eles pensavam no âmago de seus seres. Ela tinha a incrível — e assustadora — habilidade de considerar algo tão terrível como uma divindade. Até onde iria o estado de loucura? Talvez estivessem todos corrompidos por ideias distorcidas e nebulosas. 

    Mayck cansou-se de olhar, então saiu. Ele vagou para além do castelo e acabou chegando em uma área aberta, coberta por neve. 

    O vento gélido, sussurrante, pairou sobre ele, fazendo-o estremecer um pouco. 

    Talvez eu acabe ficando resfriado, refletiu ao perceber que a ponta do seu nariz estava congelando. 

    Ele subiu uma pequena colina, virou-se e levantou os olhos.

    A cidade estendia-se como uma maquete gigante feita inteiramente de gelo. Ela era realmente bela. Uma paisagem saída direto de um livro de fantasia. A luz refletida em seus cristais pareciam brilhar como luzes mágicas. 

    Mas assim como os insetos mais bonitos tinham seus perigos, aquele belo lugar tinha sua escuridão. 

    Era claramente um lugar amaldiçoado. Não por seres ou entidades sobrenaturais, mas pelas próprias pessoas que decidiram se alojar ali, acreditando cegamente em algo que poderia estar os consumindo lentamente. 

    “E mesmo assim, eles querem ajudar”, suspirou, enquanto ajeitava o cachecol para se proteger do frio avassalador. “É difícil entender… ou não.”

    O sol estava se pondo lentamente, sua luz alaranjada pintando o céu. 

    Uma onda de sentimentos complexos invadiram o garoto, que sequer poderia descrevê-los. A fumacinha branca saia de sua boca e se dispersava naquele silêncio, onde apenas o vento tinha sua voz. 

    Ele ergueu os braços. A mão direita segurava um arco invisível, enquanto a esquerda se preparava para dedilhar as cordas imaginárias. 

    “Fuu…”

    Respirou fundo. Moveu os braços. Ele tocou a primeira música que lhe veio à mente, e a harmonia suave de Canon in D envolveu-o, como uma onda serena de aconchego e nostalgia, levando-o para um mundo tranquilo de reflexões. 

    Quanto tempo faz…? Eu quase me esqueci da sensação. 

    A música foi reproduzida em sua cabeça, enquanto ele fazia aquela performance para todo o reino. O vento serviu de acompanhamento e ele ditou o andamento da melodia. 

    Não havia mais nada. Sem preocupações. Sem dificuldades. As cordas do instrumento imaginário vibraravam, como se estivessem sussurrando que não tinha porque recuar. 

    Tudo parecia brilhar ao seu redor. 

    Acabando sua apresentação, ele largou o violino imaginário e levantou os olhos. 

    “Eu espero que tudo corra bem.”

    Não era tarde para ele fazer alguma coisa. Mas mesmo tendo relaxado e pensado sobre suas atitudes até ali, ele não mudou de ideia. 

    “Eu não estou errado.”

    Ele prometeu ajudar os outros do grupo. Disse à Sora que a protegeria. Mas isso valia para casos como esse? Onde eles mesmos estavam se atirando de cabeça no perigo?

    Difícil dizer.

    De uma forma ou de outra, já que não podia mais fazê-los mudar de ideia, a única coisa que poderia fazer era garantir que eles não morressem. 

    É o mínimo que eu tenho que fazer como membro da equipe… Se é que vamos sair vivos. 

    ****

    De volta ao castelo, Mayck foi para o quarto silenciosamente, onde não havia ninguém além dele, e passaram-se algumas horas tediosas. 

    O quarto era amplo, disposto com três camas no lado oposto às janelas, uma ao lado da outra. Era um local para hospedagem de visitantes, mas tinha um luxo bem alto. Os móveis rústicos feitos com madeira de boa qualidade, as decorações reais e tudo mais davam um ar requintado ao local. 

    O mais curioso, porém, eram aquelas lâmpadas estranhas. Tinham formas octaédricas e estavam penduradas no teto por fios. Elas pareciam estar queimando com um chama azul dentro. 

    Como essa coisa funciona? Não parece ser uma habilidade ativa de alguém.

    Existiam várias outras espalhadas pelo reino, afinal. Manter tantas acesas todas as noites com uma habilidade deveria ser algo bem impossível, por isso ele descartou a ideia. 

    “Bom… deve ter um pouco de ciência e química aqui.”

    “Vice-capitão!”

    Uma voz interrompeu seus pensamentos. 

    A porta foi aberta com um baque, então Masaki entrou. Ele não parecia estar com pressa nem nada do tipo, mas fez uma entrada e tanto. 

    Qual o teu problema?

    “Pra que isso?”

    “Eu só queria fazer barulho”, respondeu.

    “Então foi de propósito…” 

    Mayck jogou-lhe um travesseiro ao ver que não foi um acidente. 

    “Tô brincando, tô brincando. Eu tropecei numa bainha lá fora. Quem coloca um negócio desses no caminho? Droga.” Masaki segurou o travesseiro lembrando-se do ocorrido de segundos atrás. 

    “Quem poderia ser, né…” 

    Talvez fosse apenas um pequeno garoto empolgado com sua arma de brinquedo. 

    “E o que você quer?”

    “Ah, é. Parece que a princesa Eirlys quer reunir todo mundo pra fazer um jantar especial ou coisa do tipo. Pediram para vir te chamar.”

    Não sei se eu tô muito interessado, pensou consigo. 

    Mas embora quisesse rejeitar fortemente, ele precisava manter o disfarce sem levantar suspeitas. E também não faria mal comparecer. 

    “Tá. Eu já vou.” Ele cedeu. 

    Masaki saiu após a confirmação, enquanto Mayck enrolou um pouco antes de ir realmente. 

    Mas ele foi. Seguiu pelos corredores até a enorme sala de jantar. Então entrou após um único guarda abrir as portas. 

    Seus olhos imediatamente recaíram sobre Eirlys que estava sentada na direção oposta às portas. Logo ao seu lado, estava Arden, que o encarava assim como os demais, sentado na ponta da mesa. 

    Que pressão é essa?

    Ter aqueles olhares em si era desconfortável. Ele se sentiu obrigado a dizer alguma coisa… Mas então, alguém entrou atrás dele. Um príncipe entrou. Kaeelen sorriu gentilmente, olhando para todos presentes. 

    “Ah, já estão todos aqui. Que bom. Por que não se senta, caro M? Vamos começar o jantar em breve.”

    “Mm… claro, sim.”

    Mayck assentiu para a pessoa que o salvou. E foi para uma das cadeiras vazias, localizada ao lado de Masaki, em frente às outras duas garotas da Strike Down. 

    Ele cumprimentou seus companheiros, mas uma dúvida surgiu em sua cabeça. 

    “Sora não chegou ainda?” 

    Notando a ausência dela, ele não pôde evitar perguntar. 

    Todos na mesa olharam para ele sem exceção. Ele não pôde deixar de perceber as reações complicadas dos irmãos Coldheart. 

    “Hum?”

    “Ela estava se sentindo mal, então não pode vir”, quem respondeu foi uma das garotas, seu nome era Rina. 

    Desde que se falaram pela última vez, no dia que tiveram uma pequena discussão, eles mal se viam. Até o momento em que pararam de se encontrar completamente. 

    “É mesmo?”

    Era bem inconveniente isso acontecer nesse tempo. E apesar de terem várias justificativas para isso, o garoto não conseguia afastar a ideia de que havia algo mais.

    “Ela estava quieta durante a manhã toda e nem saiu do quarto. Nós deixamos ela descansar”, completou a outra garota, Kaori. 

    Mayck se deu por vencido ali mesmo. Poderia deixar as dúvidas para depois. 

    Talvez eu deva visitá-la depois disso. Mas o que foi isso?

    As expressões tanto de Eirlys quanto de Kaeelen foram suspeitas. 

    A porta se abriu mais uma vez e cerca de cinco pessoas entraram. Todos bem vestidos, com adornos caros. Eram claramente da realeza. 

    “Ah, vocês chegaram. Vamos. Sentem-se”, Kaeelen os cumprimentou com um sorriso. 

    A garota que se sentou mais perto de Mayck o saudou gentilmente. O garoto retribuiu. 

    Logo, eles foram apresentados como os cavaleiros do esquadrão do príncipe. 

    Não era à toa que aquela mesa era tão grande. E, novamente, ele pensou na inconveniência de Sora não estar presente; algo muito importante estava para ser dito ali. 

    Quando todos estavam comportados, Arden levantou e começou a falar. 

    “Estimados convidados, antes de mais nada, agradeço a presença de todos nesta noite tão especial.” 

    Seus olhos passaram por todos, sem exceção.

    “Como todos sabem, hoje celebramos a véspera do Dia do Escolhido, e cada um de vocês teve um papel fundamental na preparação deste momento tão honrado. Os reuni aqui por um motivo: para honrar-lhes e mostrar minha profunda gratidão.”

    O rei olhou para um dos servos próximo e ele assentiu. Segundos depois, três mulheres usando roupas de empregadas entraram no salão, empurrando três carrinhos carregados com a melhor refeição que o país poderia oferecer. 

    Havia carne e verduras, frutas e bebidas, numa variedade que eles nunca tinham visto. E mesmo já tendo provado isso antes, ainda deu pra perceber o entusiasmo dos convidados de Kaeelen. 

    A comida na mesa, dessa vez quem se levantou foi a princesa Eirlys.

    “Antes de tudo, digo que é um prazer imenso recebê-los aqui. Também agradeço do fundo do meu coração por terem se feito presente nesses dias tão importantes.” 

    Ele tinha um sorriso sutil nos lábios e um olhar sereno, enquanto se dirigia a Mayck e os outros. 

    “Aos meus convidados, quero que saibam que estou muito feliz por terem aceitado o meu convite. Não tenho palavras para mostrar o quanto estou grata e feliz por hoje. Fizemos isso para dizer a vocês que foram merecedores e que contamos com vocês nos próximos três dias. Nesta noite, eu faço um voto: que esta noite seja apenas o começo de uma nova e gloriosa jornada para todos nós.”

    A jovem princesa terminou sua fala levantando levemente a barra de seu vestido gracioso e requintado, e abaixando levemente a cabeça. 

    Um aplauso respeitoso e prolongado ecoou pelo salão, junto a palavras de admiração e carinho. 

    Logo em seguida, o príncipe se pôs de pé. Ele olhou para todos com um sorriso, e começou a falar. 

    “Meus amigos, eu não sou tão bom com palavras quanto meu pai ou minha irmã, mas, assim como eles, quero mostrar minha gratidão pela participação de todos nessa etapa tão importante. Os próximos dias serão tão incríveis quanto, e tenho certeza de que farão um papel cheio de honra e bravura. Por favor, aceitem isso como meus próprios sentimentos.”

    Mais aplausos no salão. Então o jantar seguiu. Os convidados se serviram, conversaram e se animaram juntos. Entre os amigos do príncipe, dava para ver que eles eram tão próximos que nem pareciam estar em partes diferentes da hierarquia. 

    Do outro lado, as garotas falavam com a princesa com ânimo, enquanto se deliciavam também dos doces e chás servidos. 

    Masaki e Koji pareciam ter se enturmado bem com os outros. 

    Por outro lado, havia Mayck. Ele tentou comer, mas se viu com os olhos presos naquela carne que ele não sabia a origem. Não tinha nada errado com ela, nem com nada em cima da mesa, então isso não era importante. 

    É só que…

    Seus olhos levemente cerrados investigaram os arredores. 

    Por que tem tanta pouca segurança? Não só aqui, como também nos corredores. Eu mal vi os guardas quando passei. 

    Normalmente, haveria dois guardas do lado de fora da sala de jantar, mas só havia um lá. Talvez fosse só impressão, mas parecia ter um silêncio descomunal pairando no ar, mesmo que as vozes animadas dos outros presentes estivesse enchendo o local. 

    Depois de olhar para todos os rostos, Mayck olhou para Arden. Estava o encarando. Por um momento, tudo pareceu desacelerar. Kaeelen também parecia mais rígido comparado a como era normalmente.

    A atmosfera pesou sobre o garoto. Principalmente quando encontrou os olhos de Eirlys. Ela sorriu para ele, mas havia algo mais em sua expressão, como se ela estivesse nervosa. 

    Os três agindo de forma estranha… Sora não ficaria de fora disso. O que tá acontecendo aqui? Tá muito quieto lá fora pra uma véspera que deveria ser animada. 

    Esses pensamentos estranhos se infiltraram em sua mente e ele não conseguia se livrar deles. 

    Se o que o que Kaelric disse sobre Arden estar tramando algo, então um movimento estava sendo feito naquela noite. 

    Talvez agradecer não fosse o único objetivo daquele jantar. 

    Naquele momento, Mayck não fazia ideia do que estava acontecendo nos bastidores fora de sua visão, e que o controle estava tão distante de suas mãos quanto ele pensou. 

    <—Da·Si—>

    O plano estava em andamento. Não era perfeito, mas era um bom plano de ação. 

    “Estão me ouvindo?” Uma voz saiu de uma pedra brilhante e pequena, de um tamanho que dava para esconder facilmente nas mãos. 

    “Claramente”, respondeu Takeda. 

    “Muito bem. Nós vamos nos mover em quatro grupos principais, como o planejado. As tarefas são simples: as duas primeiras equipes vão na frente e abrem caminho para a terceira equipe, que, por sua vez, vai procurar pela garota, Sora. Só então a quarta equipe vai como apoio”, concluiu. 

    “Entendido”, foi Rider quem respondeu. 

    Eles deram início a essa operação há alguns minutos. Duas equipes já tinham partido, então só restava esperar a ordem para eles avançarem. 

    Estavam ao norte da cidade. Dava para ver a parte de trás do castelo claramente, bem como seu belo jardim de flores brancas, que se desdobrava como um enorme campo de neve florido. 

    Sky estava perto deles, sentada sobre uma pequena elevação de neve, enquanto chacoalhava seus pés e cantarolava. Ela pensou que aquele seria um lugar incrível se não fosse por todos esses problemas. 

    Quer dizer, é um lugar realmente lindo apesar de tudo. 

    Um suspiro saiu de sua boca em forma de fumacinha e se dispersou no ar. Seus olhos brilhavam, ela estava feliz. Finalmente reencontraria sua amiga depois de tantos dias.

    Seu coração palpitava de uma forma que ela não conseguia descrever. 

    “E como é que esse negócio funciona? Não parece ter nada além de… pedra.”, Yoshiro franziu o cenho, enquanto olhava para todos os lados da pedrinha brilhante. 

    “Verdade. Até gravamos uma mensagem pra Sora com isso. Uma civilização que evoluiu de forma diferente da nossa é impressionante.”

    “Mas isso só prova que eles sabem mais sobre as pedras da lua. Eles evoluíram usando algo diferente de nós. Enquanto nós seguimos a linha da eletricidade, eles usaram Nheria… assim que chamam, né?”

    A energia que eles usavam era a mesma, mas por questões culturais eram, de certa forma, diferentes. 

    “Parece que criaram esse termo com base na divindade”, afirmou Takeda. “Nós não damos um nome por ainda não termos informações suficientes para determinar precisamente.”

    Afinal, já fora chamada de mana, éter e outros termos que pareciam corretos. Porém, no fim, foi decidido que era diferente de tais conceitos, portanto, ficou sem nome. Mas a principal forma de medir e identificá-la era tratando-a como uma forma de radiação, embora não pudessem descrevê-la como as formas de radiação já conhecidas. 

    “Isso é louco. Só de pensar nisso minha cabeça fica girando.” Gunner pôs a mão sobre o rosto e devolveu a pedrinha a Takeda.

    “Nós podemos tentar conseguir mais informações depois. Se tivermos acesso aos arquivos reais, talvez Kaelric nos retribua como um favor. Por ora, fiquem atentos e lembrem-se do objetivo.”

    “Certo”, responderam os quatro jovens. 

    E então, quase que instantaneamente, uma voz saiu da pedrinha, dizendo que era hora deles avançarem. 

    Sem hesitar, deixaram o local em que estavam num instante. Podiam ver o muro imenso que cercava a parte de trás do castelo, mas isso não foi problema. 

    Eles correram, e logo conseguiram alcançar a primeira equipe. Havia dezenas de guardas caídos no caminho, sinal de que um bom trabalho havia sido feito. 

    Alguém gritou quando os viu.

    “Está tudo certo. Podem ir em frente”, disse.

    Eles assentiram. 

    Por mais que avançassem até onde Sora deveria estar, eles ainda foram pegos por uma estranha dúvida. 

    “Vocês não acham que isso aqui tá muito fácil?” Gunner colocou em palavras. Ele olhou de um lado para o outro e acabou parando. 

    “Apesar de termos visto tantos guardas caídos, não tem muitos deles. Sim. Isso definitivamente é estranho.”

    Não tinha vigilância na parte de trás do castelo e nem muito intervenção dos guardas com as outras equipes. Era de se questionar se tanta cautela era mesmo necessária. 

    “Todas as equipes. Estão ouvindo?”

    A pedrinha brilhou e deu pra ouvir a voz de Kaelric. Depois, ela brilhou num tom levemente diferente e deu pra ouvir a voz de Lyara. 

    “O que aconteceu?”

    “As primeiras equipes avançaram com facilidade. Creio que possamos dar prosseguimento até o final.”

    “Isso é bom, não é?”, perguntou Gunner com um olhar confuso. 

    Na teoria, sim. Se pudessem completar o objetivo sem interferências, então era perfeito.

    Mas era aí que estava o problema.

    “Está fácil demais. Os relatórios que recebi até agora foram como se os inimigos estivessem atuando uma resistência. Não pareciam querer lutar de verdade.”

    “O que isso quer dizer?”

    Embora houvessem vários significados, o verdadeiro motivo para isso se mostrava um mistério. Mas Kaelric tinha a resposta. 

    Ele não respondeu imediatamente, deixando um silêncio perturbador. 

    Lyara o chamou, a voz levemente hesitante. 

    “Kaelric?”

    “O que eu estou dizendo… é que Arden já sabe dos nossos movimentos.”

    O pânico se instaurou entre todos que estavam ouvindo a transmissão quase instantaneamente. Seus rostos se converteram em expressões de choque. Até o vento pareceu hesitar. 

    Takeda foi o primeiro a reagir, ele franziu o cenho.

    “Como ele saberia?” 

    “Você está dizendo que… ele usou o tal conhecimento absoluto?” A voz de Rider tinha um tom entre descrença e receio.

    O poder capaz de conectar todos os eventos e dar-lhe direções. 

    “É bem provável.” A resposta veio seca. “Nós verificamos tudo antes. Havia cerca de cem guardas aqui, mas agora…”

    O número tinha sido drasticamente reduzido. Era quase como um convite para ser invadido. 

    “Isso não pode ser só uma coincidência?”, insistiu a espiã do grupo. 

    Mas ela era a que melhor sabia que não era isso o que estava acontecendo.

    Melhor — Todos sabiam. Rider, Yoshiro, Sky, Gunner e Takeda. A essa altura, não havia como não pensar na única possibilidade que restava. 

    O vento frio uivou em seus ouvidos e um arrepio percorreu seus corpos. O ar gelado ressecava suas narinas e congelava seus pulmões. 

    Kaelric concluiu:

    “É uma armadilha.”

    Então se concretizou, aquela ideia que passou vagamente pela cabeça de todos eles. Arden já sabia o que estavam fazendo e o que planejavam e tinha preparado uma investida misteriosa. 

    O clima pesou ainda mais. E já não era apenas o frio que os fazia estremecer. 

    Não havia mais o que fazer. Se prosseguissem, cairiam ainda mais fundo naquela armadilha.

    Então Eldar ordenou que todos se juntassem para recuar, mas…

    “Não. Continuem. Chegamos muito longe pra darmos para trás agora.”

    “Mas, Kaelric—”

    “Mesmo que seja realmente uma armadilha, essa é nossa melhor chance.” Sua voz soava como uma lâmina, sem espaço para objeções. “Se a garota abriu caminho, então essa é a nossa chance. Se não seguirmos em frente agora, estaremos mortos amanhã.”

    “Mas se isso for um caminho sem volta?”, insistiu Eldar.

    “Ele tem razão, Kaelric. Pode ser que Arden tenha preparado algo para quando chegarmos ao subsolo.”  

    Eldar e Takeda tentaram fazê-lo recuar, mas o líder da oposição estava firmemente decidido. 

    “Basta avançarmos com todas as forças”, disse ele. “Se Arden estiver nos esperando, então vamos mostrar para o que viemos. Avancem!”

    Não havia mais escolha. Nem volta. Kaelric estava pronto para arriscar tudo naquela noite, fazendo uma jogada final. 

    Então todos se juntaram. Se aquela era a decisão do líder, não podiam desobedecer. 

    “Vamos”, disse Eldar assim que chegou. 

    A equipe agora continha cerca de vinte membros altamente capacitados para realizar a missão. 

    Eles se prepararam para seguir. Mas aconteceu o que ninguém esperava. 

    Uma lâmina brilhante rasgou o caminho na direção de Takeda, deixando enormes cristais de gelo para trás. 

    O líder da equipe de busca estava prestes a reagir, quando Eldar saltou em sua frente e interceptou o ataque com sua própria arma. 

    CLANG~

    Houve um estrondo que ressoou por toda a área.

    “Ataque inimigo!”

    A equipe se dispersou instintivamente, assumindo posições defensivas. 

    Então outra lâmina de gelo cortou o chão, levantando uma cortina branca e mais cristais.

    “Estão tentando nos separar!”, gritou Eldar, os olhos varrendo o breu. 

    Takeda logo assumiu uma posição defensiva e sacou uma lâmina fina, uma rapieira, que surgiu magicamente em suas mãos. Os músculos levemente tensos. 

    Foi quando uma silhueta branca surgiu entre a névoa congelante. 

    Clang!

    Takeda se lançou para frente no último segundo, cruzando sua lâmina com a do inimigo — a ponta dela. O impacto fez o chão tremer. Faíscas e lascas de gelo voaram pelo ar, iluminados pela tênue luz da noite. 

    O atacante, envolto em um manto pesado, deu um passo atrás. Sua arma, uma espécie de alabarda cravada de cristais, vibrava em energia. 

    “Apenas um? O que está acontecendo?” Eldar resmungou, enquanto se juntava à Takeda. 

    “Talvez ele seja mais do que só um inimigo”, falou. Quando olhou para a ponta do seu indicador direito, percebeu um filete de sangue. 

    “Era isso o que estava nos esperando? Você foi enviado pelo rei?” Eldar deu um passo à frente, sua lâmina estava preparada. 

    No entanto, o atacante não disse nada. Ficou em silêncio, enquanto mais silhuetas surgiam atrás dele. Eram cerca de dez inimigos armados, todos cobertos com mantos brancos. 

    “Eles são…?!”

    “Os assassinos da Comissão da Lâmina Fria”, disse Kaelric pelo dispositivo de comunicação. “Eu devia saber.”

    Estava tudo apontando para essa direção, mesmo o líder da oposição pensou que havia uma chance de aplicar um golpe fácil. 

    Mas estava errado. Arden não daria o braço a torcer. 

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