Capítulo 82 - Quando o sangue derrama
Os gritos da multidão eufórica ecoam pelo acampamento enquanto acompanham a luta entre os dois líderes. Parte deles torce avidamente por Estoratora, enquanto o resto vaia e ofende Brok com fúria.
Estoratora, confiante, corre e ataca Brok balançando uma de suas machadinhas pela horizontal, aproveitando-se da maior cobertura e velocidade de seus longos braços fortes.
Brok bloqueia a arma, repelindo-a com seu machado maior e pesado. Faíscas das lâminas resvalam junto do tilintar agudo. Brok pensa em contra-atacar, mas já se vê em uma situação ruim, pois Estoratora logo executa um segundo ataque com a arma da outra mão pela horizontal.
Brok tenta se esquivar, porém, aquele braço longo se move muito rápido e sua coxa esquerda é alvejada. A machadinha rasga a coxa de Brok, tingindo a lâmina de vermelho. Estoratora sorri e a puxa bruscamente para fora, fazendo o sangue jorrar ainda mais.
A plateia ao redor vai à loucura vendo o sangue de Brok escorrendo por sua perna em direção ao chão.
Porém, mesmo com aquela ferida, Brok ainda usa de sua proximidade com Estoratora para atacar. Ele leva o seu machado em direção ao peito de seu inimigo.
Mas, quando o acerto parece definitivo, linhas verdes luminosas surgem na pele do orc de braços longos, e ele se move em um surto de agilidade e força para impedir o ataque de Brok, colocando uma de suas armas na frente e empurrando-o para longe.
A força daquele empurrão é tamanha que o orc desliza forçadamente e vai às margens da plateia.
Ele é forte…, pensa Brok, firmando os pés para recuperar o equilíbrio. Mas antes que consiga se recompor completamente, um impacto repentino atinge suas costas. Um orc da plateia o empurra com o pé, forçando-o de volta ao centro da arena.
Brok rosna furioso, contendo os passos para não acabar em uma posição desvantajosa diante de Estoratora.
Enquanto isso, no meio da multidão eufórica, uma figura se destaca. Ursúla observa a luta com um semblante sério e preocupado, destoando do entusiasmo dos demais.
O que é isso?, ela se pergunta, incrédula.
Um orc próximo percebe sua expressão e a cutuca no ombro. “Tem alguma coisa errada?”
“Aquele guerreiro… já levou vários golpes e ainda consegue se manter de pé”, ela murmura, sem tirar os olhos da luta.
“Ele é forte mesmo”, diz o orc, assentindo. “Nunca vi um duelo durar tanto.”
“Sim…”
Estoratora… você nunca usou tanto da força do dragão assim antes, ela reflete, inquieta. O que está acontecendo com você?
Um pouco adiante, Brok para por um momento. Ele recupera um pouco de fôlego, enquanto encara Estoratora que sorri debochadamente, erguendo uma das mãos, animando sua tribo, quase como se já declarasse sua vitória.
Ele é forte… Não consigo criar uma brecha. Ele não… me vê como ameaça, o guerreiro pensa. Ele sente a dor de suas feridas arderem e o calor de seu próprio sangue se dispersando na pele, mas, por mais feios que os cortes em seu corpo sejam, ele ainda não dá sinais de fraqueza.
As doces promessas de Rubi e os conselhos severos de Byron ecoam em sua mente. Eu… acredito, ele pensa. Seus dedos se apertam ao redor do cabo da arma, o aço frio parecendo mais firme em sua mão.
Brok corre em direção ao orc, o machado abaixado, voltado para Estoratora e pronto para se erguer em um corte poderoso. Um berro vindo das profundezas de seu ser sai por sua boca, misturando saliva e ar quente.
Estoratoa se apronta para reagir, seus braços erguidos agarrando suas machadinhas com firmeza.
Quando Brok se aproxima, Estoratora começa a brilhar novamente. “Descuidado!”, ele grita, com orgulho. Seus braços se movem juntos em alta velocidade em direção à lateral do tórax de Brok.
O guerreiro vê a lâmina se aproximar com força, mas não reage, nem interrompe seu movimento. É só eu não perder a cabeça, certo?, ele pensa.
As lâminas rasgam sua armadura e carne como se fosse papel. Dor explode em sua mente enquanto o impacto atravessa ossos e músculos, abrindo seu peito em uma fenda grotesca. Entre o sangue que jorra, fragmentos de osso lascado brilham sob a luz, e um vislumbre dos órgãos retorcidos fica exposto à plateia enlouquecida.
Mas o ataque de Brok não para, e logo toda a tribo se cala, pois não é apenas o sangue de um dos líderes que escorre ali. Estoratora observa com orgulho seu inimigo brutalmente ferido, mas em seguida arregala os olhos, surpreso ao sentir o machado do guerreiro cravando-se com força em sua cintura.
Como?, ele se pergunta, sentindo o metal frio dentro de si.
De um instante para o outro, o clima eufórico da tribo desaparece. Apesar de a armadura grossa ainda conseguir conter boa parte do estrago, a carne do líder se abre perante o golpe. Os trajes verdes se tingem com vermelho fresco.
Conforme a ferida vaza, um cheiro ácido e forte se espalha pelo ambiente, como se agora houvesse um incenso aceso naquele lugar. Brok encara Estoratora nos olhos, impassível, enquanto puxa sua arma de dentro da carne do inimigo, liberando mais daquele odor pútrido no processo.
O som da lâmina deslizando contra os músculos e ossos ecoa pelo silêncio súbito da tribo. Ele dá um passo para trás, e o único som que se ouve é o ruído molhado de seus pés sobre o sangue fresco.
Os guerreiros ao redor ficam incrédulos. A ferida no peito de Brok é muito pior que a de Estoratora, mas ele se mantém firme, enquanto seu líder, mesmo menos ferido, demonstra incômodo e dor.
Alguns dos orcs se assustam ao ver a imagem de Brok, pois, juntando com as outras feridas que já possui, a esse ponto, ele se assemelha mais a um morto-vivo do que a um orc.
“Como?”, questiona-se Estoratora, rompendo o silêncio da luta. “Como você ainda está vivo? Seu sangue… está por todo lado e eu parti o seu peito.”
“Eu… tive fé de que sua força não seria o bastante”, Brok responde firmemente, deixando todos que acompanham aquilo ainda mais confusos.
Estoratora, por um momento, desvia o olhar para o chão e vê seu próprio sangue jogado ali, misturado ao de Brok. Furioso, começa a rosnar, ao mesmo tempo em que cerra os dentes ao ponto de range-los. Não vou deixar ele fazer o que quer na minha floresta, ele pensa, apertando suas armas com força.
As veias dilatadas nos olhos do líder furioso começam a mudar de cor, assumindo o mesmo aspecto verde luminoso de quando ele recebe o impulso de poder.
Na plateia, o semblante de preocupação de Ursúla se intensifica drasticamente. Isso não é um bom sinal, ela conclui.
Habilidade de Raça: [Resistência Demoníaca](Demonic Resilience)
Requerimentos: Demônio, Nível 1
Por ser uma criatura mágica, seu corpo, sustentado por mana, reage de forma diferente aos efeitos físicos que normalmente causariam dano a outras criaturas vivas, fazendo com que ferimentos leves se fechem quase instantaneamente.
Desde que sua reserva de mana não esteja esgotada, ao sofrer dano físico que não seja oriundo de uma fonte mágica, você reduz esse dano em um valor igual ao seu nível somado a 15% do seu atributo de Magia.
Mesmo que o dano seja reduzido a zero, você ainda sofre os efeitos de contato associados ao golpe, exceto sangramentos.
Tempo de Recarga: Passivo
Alguns usuários conhecidos: Rubi, Byron, Camélia, Nariz-torto.
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