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    “Hieeeek—”  

    Uma corrente gelada percorreu minha espinha no momento em que ouvi o grito. Sentindo vários olhares em mim, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram e meu coração parou de bater por uma fração de segundo.  

    Mas foi apenas momentâneo.  

    Antes que eu tivesse chance de reagir, os outros abriram a boca e gritaram.  

    “Hieeeeek—”  

    Um, dois, três…  

    O quarto inteiro foi mergulhado em um mar de gritos.  

    Squench. Squench.  

    Raízes brotaram do chão, agarrando meu corpo inteiro, parando apenas no meu rosto, onde senti uma sensação familiar de formigamento.  

    “Haa.. Haa…”  


    ∎| Nvl 1. [Surpresa] EXP + 0.3% 
    ∎| Nvl 1. [Surpresa] EXP + 0.6% 
    ∎| Nvl 2. [Medo] EXP + 0.04% 
    ∎| Nvl 2. [Medo] EXP + 0.08% 
    ∎| Nvl 2. [Medo] EXP + 0.12%  


    Notificações piscaram em minha visão.  

    Senti suor grudar na minha nuca, molhando meus cabelos. Mais uma vez, o medo começou a se infiltrar nos recantos da minha mente.  

    ‘…Por quê?’  

    Olhando para as notificações, eu tinha dificuldade em entender minha situação.  

    A situação não fazia sentido.  

    “E-eu… haa… deveria ser capaz de aguentar isso…”  

    Eu pensei que tinha me acostumado com o medo, considerando o quanto comecei a entendê-lo.  

    E ainda assim, tudo o que sentia era medo.  

    Ele continuava a se infiltrar em minha mente, dificultando meus pensamentos. Havia algo claramente errado na situação.  

    O mesmo valia para as raízes.  

    Por que elas continuavam aparecendo…?  

    Cada vez, elas cobriam mais e mais do meu corpo, me lembrando do pouco tempo que me restava.  

    Isso nunca acontecia com as visões.  

    “Hieeeeek—”  

    Os gritos continuaram a ecoar ao fundo, dominando o quarto inteiro.  

    Cobri meus ouvidos enquanto sentia os olhares de todos presentes no quarto. Seus olhos brancos estavam fixos em mim enquanto veias saltavam em seus pescoços e saliva escorria de suas bocas.  

    Eu estremeci diante da cena.  

    “Haa.”  

    Lutei para respirar.  

    Piscando, as raízes desapareceram e pude me mover novamente.  

    Não hesitei em aproveitar a chance para me afastar de onde estava.  

    “F-fracassei…”  

    Mais uma vez, meu plano falhara.  

    Como se estivesse sendo lido a todo momento, nada estava saindo do meu jeito. Mas não deixei que isso me afetasse. Não podia deixar.  

    Dando uma última olhada na direção de Leon, cerrei meus dentes e saí do quarto.  

    ‘O quarto deve ser à prova de som o suficiente para ninguém notar nada.’  

    Assim que cheguei à porta, esperei alguns segundos.  

    Baque! Baque! Baque!  

    Um após o outro, os corpos caíram atrás de mim. Junto com isso, os gritos também pararam. Só então agarrei a porta e a abri.  

    Clank—  

    Como esperado, não havia ninguém.  

    Respirei aliviado.  

    Sem hesitar, recolhi os fios que usei para manter o guarda em pé e fechei a porta atrás de mim.  

    Baque!  

    O guarda na porta caiu no chão.  

    Engolindo minha saliva, olhei para trás. Então, encarando o guarda, um pensamento surgiu e respirei fundo.  

    ‘Sim, isso pode funcionar.’  

    ***  

    Área externa do bunker.  

    “Para onde foi aquela vadia?”  

    Kiera olhou ao redor em busca de qualquer sinal de Aoife. Em um momento ela estava com eles, e no seguinte, desaparecera.  

    Ela dissera algo como ‘Tenho que fazer algo’, mas foi só antes de desaparecer.  

    “Ela provavelmente está com os líderes dos postos tentando descobrir algo.”  

    “Bah.”  

    Kiera acenou com a mão com desdém.  

    “…Tanto faz. Essa situação é assustadora demais para eu ficar brava com ela.”  

    Se a situação não fosse essa, Kiera duvidava que conseguiria trabalhar com Aoife. Talvez ela também sentisse o mesmo.  

    Aquela vadia…  

    O pensamento a irritou.  

    “Porra, estou com arrepios.”  

    Esfregando os braços, Kiera olhou ao redor. A área externa do bunker estava extremamente quieta. Quase ninguém falava.  

    Uma atmosfera estranha pairava no local.  

    Embora ninguém falasse, Kiera podia ver a inquietação nos rostos de muitos.  

    Agora, havia uma linha tênue entre o silêncio e o caos total. Com um pequeno empurrão, o caos surgiria.  

    Kiera entendia os sentimentos de todos muito bem.  

    Ela também estava assustada com a situação. Principalmente depois que Leon também sucumbira ao que quer que estivesse acontecendo.  

    Isso deixou claro para ela que ninguém estava seguro no momento.  

    Ninguém.  

    “Hm?”  

    Kiera estava prestes a se sentar quando notou uma mudança nos guardas patrulhando a área e nas estações das Guildas.  

    Todos pareciam estar correndo para a área interna.  

    Antes que pudesse dizer algo, alguém da multidão falou primeiro.  

    “O que está acontecendo?”  

    Apesar dos guardas e membros das Guildas tentarem ser discretos, a multidão notou e começou a ficar agitada.  

    “Tem algo errado?”  

    “Por que estão todos indo para a área interna do bunker? Estão nos deixando para trás?”  

    “…Estão nos abandonando?”  

    A linha tênue que separava a calma se rompeu, e o caos começou a dominar a área externa.  

    “Todos, por favor, acalmem-se! Não há nada sério! Nenhum problema. Estamos apenas movendo os membros das Guildas por ordem dos líderes dos postos, que estão pensando em como resolver a situação!”  

    “Merda…!”  

    “Estão nos deixando!”  

    Apesar das tentativas do membro da Guilda, isso só piorou a situação, e mais pessoas começaram a se levantar.  

    Os cadetes também protestaram.  

    “O que exatamente está acontecendo?”  

    “…Vocês têm alguma resposta? Estão indo embora?”  

    “Sabem quem é meu pai?”  

    Alguns até começaram a jogar nomes de suas famílias. Kiera torceu o nariz. Quem diabos se importaria com suas famílias nessa situação?  

    Ainda assim, surtiu efeito.  

    Evelyn parecia pensar o mesmo, balançando a cabeça.  

    “Exibindo seus status familiares assim. Não é uma boa imagem.”  

    “Pois é.”  

    Kiera colocou o mindinho no ouvido.  

    Evelyn inclinou a cabeça ao notar a calma de Kiera. Ela não parecia muito incomodada.  

    “Você parece bem calma. Tem um plano?”  

    “Um plano?”  

    Kiera lambeu os lábios.  

    Virando-se, seu olhar caiu sobre a multidão protestando contra os guardas na porta que levava à área interna.  

    Coçando o pescoço, olhou para Evelyn.  

    “Sabe, eu meio que concordo com eles.”  

    “Hm?”  

    “Bem, pense bem. Há algo claramente errado. Parece que Leon e Julien foram alvos porque descobriram algo sobre a árvore. Aoife também desapareceu.”  

    “E…?”  

    “…Não sei você, mas sinto que estamos sendo detidos de propósito.”  

    “Ah?”  

    Evelyn pareceu confusa, olhando para as janelas. O mundo ainda estava vermelho, um claro sinal da Sombra Carmesim.  

    Por isso, ela não entendia as palavras de Kiera.  

    “Por que acha que estamos sendo detidos? Não é como se pudéssemos criar uma Sombra Carmesim artificialmente.”  

    “É, você tem razão. Ainda não gosto disso.”  

    “O que você propõe?”  

    “Algo simples.”  

    Kiera limpou a garganta. Então, indo na direção da multidão, correu gritando.  

    “Você sabe quem é meu pai?!”  

    “…”  

    “…Porra, meu pai à parte, você sabe quem eu sou? Me deixem entrar!”  

    “Sim!”  

    “Nos deixem entrar!”  

    Antes que Evelyn percebesse, Kiera estava liderando o protesto.  

    “…”  

    Sem palavras, Evelyn não sabia o que dizer.  

    Mas era claro que, com a interferência de Kiera, a situação estava ficando fora de controle.  

    E não era como se ela discordasse.  

    Assim,  

    “Haaa…”  

    Com um longo suspiro, levantou a mão fracamente e disse:  

    “V-você sabe quem é meu pai?”  

    ***  

    “Ainda não encontramos nada?”  

    “Nada. Vamos para essa área.”  

    Dois guardas corriam pelos corredores do bunker interno. Com poucos homens e a área sendo um labirinto, os guardas estavam em grupos de dois ou três.  

    Mexendo em sua arma, um deles olhou para frente.  

    “Se formos em frente, chegaremos à enfermaria. Quer dar uma olhada?”  

    “Duvido que tenha alguém lá. Acho que o alvo está indo para a saída principal.”  

    “…Boa sorte com isso. O Sir Rogers está lá. Ele não vai escapar.”  

    “Verdade.”  

    Enquanto conversavam, os guardas correram.  

    Os túneis eram longos, mas em sua velocidade, levaram apenas alguns minutos para chegar perto do destino.  

    “Espera.”  

    Chegando mais perto, pararam.  

    Suas expressões mudaram ao olharem para frente.  

    “Alguém esteve aqui!”  

    Na entrada da enfermaria, um guarda estava caído no chão, encostado na parede. Imediatamente, os dois correram.  

    “Você cuida dele, eu entro na enfermaria!”  

    “Sim!”  

    Sacando sua arma, um deles chutou a porta da enfermaria e entrou.  

    Clank!  

    Ao mesmo tempo, o outro guarda se abaixou para checar o pulso do colega caído.  

    Colocando os dedos no pescoço, fechou os olhos para sentir o pulso.  

    Ba… Baque! Ba… Baque!  

    Seus olhos se abriram ao sentir algo. Mas, no mesmo instante, seu coração parou.  

    Dois olhos avelã encaravam-no diretamente.  

    Ao mesmo tempo, algo pressionou sua têmpora.  

    Uma voz fria seguiu.  

    “Me desculpe.”  

    Baque!  

    O guarda caiu logo em seguida.  

    No mesmo instante, Julien virou-se para a porta.  

    “…”  

    Silêncio tomou o local até que uma figura finalmente saiu.  

    “Você não vai acreditar no que—”  

    Uma mão agarrou seu tornozelo assim que ele saiu. Antes que pudesse reagir, sentiu sua cabeça girar e começou a cambalear.  

    Julien aproveitou para apontar seu dedo para a testa do guarda.  

    Baque!  

    Como o primeiro, seu corpo caiu no chão.  

    “Hooo.”  

    Respirando fundo, Julien fechou os olhos e levantou-se.  

    Esfregando os ombros, olhou para suas mãos.  

    “Recuperei mana o suficiente.”  

    Arrastando um dos guardas de volta para a enfermaria, caminhou até o outro e fios saíram de sua mão, entrando nas roupas do guarda caído.  

    A expressão de Julien mudou levemente com o esforço, mas era suportável.  

    Logo, o guarda levantou-se.  

    Pinga. Pinga…!  

    Sangue escorria de sua testa. Felizmente, não era um problema. Pegando um ungüento da enfermaria, selou o ferimento.  

    Depois, limpou o sangue no chão. Foi rápido, terminando em minutos.  

    “…”  

    Silêncio tomou o local enquanto ele encarava o guarda.  

    Estendendo a mão, abaixou o chapéu do guarda.  

    Então, virando-se para o corredor, deu um passo.  

    Tak—  

    Com a ajuda dos fios, o guarda também deu um passo. Um pouco instável, mas funcionou.  

    Julien acenou com a cabeça e deu outro passo. Um de seus dedos se moveu, e o guarda andou.  

    Novamente, o passo foi instável.  

    Julien franziu a testa.  

    Movendo os dedos, o guarda deu mais passos.  

    Como um marionetista, Julien controlava o guarda. A cada passo, os movimentos ficavam mais firmes, e logo o guarda se movia perfeitamente.  

    Observando de trás, Julien colocou as mãos nos bolsos e alcançou o guarda.  

    “…”  

    Relembrando, um mapa da área interna surgiu em sua mente, e ele deu um passo.  

    O guarda também.  

    “Não posso falhar desta vez.”  

    Ele tinha os meios para escapar.

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