Índice de Capítulo

    “Você não quer mexer com o meu maldito pai! Quando eu sair, vou contar tudo pra ele! Aí você vai ver!”  

    “É…!”  

    “Você sabe quem é o pai dela?!”  

    “Ei, o pai dela é tão poderoso quanto o meu.”  

    “Ah, isso…”  

    Evelyn corou.  

    “Eu… só…”  

    “Tanto faz, porra. Você sabe quem é o pai dela?!”  

    Uma multidão se formou na porta que levava à área interna. Kiera, liderando o grupo, gritava todo tipo de impropério enquanto usava o status do pai para intimidar.  

    Kiera achava suas próprias ações vergonhosas, mas, vendo o desespero dos guardas, sabia que estava funcionando.  

    Por isso, intensificou.  

    “Se não nos derem uma explicação, meu pai não vai deixar vocês em paz! Suas vidas acabaram!”  

    Evelyn, por outro lado, estava tendo muito mais dificuldade em ajudar.  

    “É-é… Meu pai também!”  

    Seu senso de vergonha era muito maior que o de Kiera.  

    Aliás, Kiera sequer tinha vergonha? Não parecia.  

    Mordendo os lábios, Evelyn sentiu o rosto queimar.  

    “P-pai…!”  

    “Todos, por favor, acalmem-se!”  

    Os membros das guildas tentaram acalmar a situação, alguns até miraram em Kiera, claramente a fonte do caos.  

    Mas ela não deu brecha.  

    “Ei, filho da puta! Onde você está encostando?”  

    “Uh? Foi só no seu ombro!”  

    “Porra, ele me tocou!! Tá ferrado! Meu pai vai te pegar!”  

    “Não, isso foi…”  

    Independentemente de Kiera ter vergonha ou não, Evelyn teve que admitir: ela era profissional. O caos só piorava com cada uma de suas palhaçadas.  

    “Fui assediada!”  

    A situação ficou tão fora de controle que vários guardas tiveram que correr para a área interna pedir reforços.  

    Evelyn achou que um líder do posto viria, mas, de repente, ouviu um estrondo distante.  

    Booom—  

    O som foi acompanhado por uma explosão abafada.  

    Imediatamente, o barulho cessou.  

    Embora o som não fosse tão forte, a maioria das pessoas presentes eram super-humanos. Seus sentidos eram muito mais apurados. Quase todos ouviram, e Kiera nem precisou mais fazer nada para semear o caos.  

    Até os que não estavam participando começaram a entrar na onda.  

    “O que está acontecendo?!”  

    “Foi uma explosão?”  

    “Estamos sendo atacados? O que é isso?!”  

    “O que houve?”  

    Kiera, que liderava até então, aproveitou para sair de fininho e voltar para Evelyn.  

    “Ufa… acho que meu trabalho acabou.”  

    “V-ocê foi ótima.”  

    “Hã, é, claro. Valeu, acho.”  

    Kiera coçou a nuca enquanto olhava para a área interna com preocupação.  

    “Você ouviu, né?”  

    “…..Sim. Acho que todos ouvimos.”  

    “O que você acha que foi?”  

    “Eu… não sei. Parecia uma explosão.”  

    “…..”  

    Kiera ficou quieta por um momento. Brincando com os dedos, olhou para Evelyn e estava prestes a dizer algo quando parou, os olhos arregalando levemente.  

    “O quê…?”  

    Notando a expressão de Kiera, Evelyn inclinou a cabeça.  

    “Por que está me olhando assim? Tem alguma cois—”  

    Pinga…!  

    E então ela ouviu.  

    Um som quase inaudível de algo pingando, mascarado pelo caos ao redor.  

    Baixando a cabeça, Evelyn viu uma gota vermelha no chão. De repente, sentiu a cabeça leve enquanto olhava de volta para Kiera, que colocou as mãos em seus ombros.  

    “Ei, cara! Você está bem?”  

    Cara…?  

    Mesmo naquele estado, Evelyn tinha dificuldade em se acostumar com as palavras de Kiera.  

    Normalmente, ficaria incomodada.  

    Mas não tinha energia para isso agora. Olhando ao redor, o mundo parecia girar. Sentindo uma coceira no rosto, tentou respirar, mas algo apertou seu peito, impedindo-a.  

    “Ei! Ei!”  

    Seu mundo escureceu pouco depois.  

    Tapa—  

    Kiera deu um tapa nela.  

    Mesmo naquele estado, Evelyn ficou chocada.  

    Tapa, tapa—!  

    Mas Kiera continuou a esbofeteá-la.  

    “Ei!”  

    ‘Eu vou me lembrar disso.’  

    Evelyn pensou consigo mesma enquanto ouvia a voz de Kiera.  

    A última coisa que lembrava foi o som que saiu de sua própria boca.  

    “Hieeeeeeek—”  

    Era um grito.  

    ….E não foi só um.  

    “Hieeeeeeek—”  

    Ao fundo, ouviu vários gritos.  

    ***  

    ‘….Estou quase lá.’  

    Tak, tak—  

    Andando pelo corredor, meu rosto se contorceu de cansaço. Estava exausto, e a pouca mana que recuperei já estava acabando de novo.  

    ‘Preciso de um manual melhor.’  

    Com um melhor, recuperaria mana mais rápido e teria mais facilidade.  

    Ainda assim, a situação estava sob controle.  

    Com a segunda bomba, consegui distrair os guardas. O caminho para a saída estava livre.  

    ‘Eles estão onde a segunda bomba explodiu, ou estão me esperando na entrada.’  

    O fato de eu ter detonado uma bomba de mana os assustou.  

    Com o corredor estreito, estariam em desvantagem.  

    Por isso, o ideal para eles era esperar na saída. Fazia sentido, e era o que eu esperava.  

    Estava muito cansado para lutar.  

    “Haaa… Haaa…”  

    Andando, ouvia minha própria respiração.  

    Era ofegante, mostrando o quão exausto estava.  

    Não só fisicamente, mas mentalmente. Do medo às possíveis consequências depois de tudo isso.  

    …..Matei várias pessoas para escapar.  

    Talvez não sofresse consequências, já que Haven me protegia e minhas ações foram para escapar, mas as Guildas certamente guardariam rancor.  

    Na verdade, poderia significar que várias Guildas agora estariam contra mim.  

    A ideia fez minha cabeça latejar.  

    Mas não era só isso. Sentia algo estranho no ar. Algo que corroía minha mente e entorpecia minhas emoções.  

    Também sentia que as Guildas estavam agindo estranho.  

    …..E tinha a sensação de que tudo tinha a ver com a árvore. Por algum motivo, parecia que tudo tentava me impedir de descobrir sobre ela.  

    Da Sombra Carmesim à armadilha.  

    ‘Preciso sair daqui.’  

    Teria respostas assim que escapasse.  

    Antes de virar a esquina, parei.  

    “….”  

    Espiando, vi mais de uma dúzia de guardas diante de uma enorme porta metálica em uma abertura ampla.  

    Apertando as têmporas, respirei fundo e olhei para o guarda ao meu lado.  

    Dando um tapinha em seu ombro, meu dedo se moveu, e ele virou a esquina por mim.  

    “Quem está aí…!?”  

    “É ele!”  

    Ouvi os gritos de alerta dos guardas.  

    “Afastem-se! Ele tem bombas de mana!”  

    “Saiam dos corredores!”  

    Como esperado, sabiam que eu tinha bombas. Por isso evitavam os corredores.  

    Em espaços estreitos, confrontar alguém com explosivos era suicídio.  

    “Esperem um pouco, não se mexam!”  

    Uma voz rouca ecoou.  

    O barulho cessou, e ouvi passos pesados.  

    “Saia.”  

    “….”  

    Minha pele formigou com a voz. Soava opressiva, e meu peito ficou pesado.  

    “Sei que é uma isca. Diferente deles, vejo claramente que você o controla. Saia antes que eu vá até você.”  

    “….”  

    Tak—  

    Saí do corredor e olhei para a abertura que levava à saída. De onde estava, via a última porta. Vários guardas a protegiam, e na frente havia um homem forte, com sobrancelhas grossas e cabeça careca. A pressão que emanava era aterrorizante, quase como a do Professor Hollowe.  

    Não, não tanto…  

    Um pouco menos, mas próximo.  

    Tier 4 ou Tier 5.  

    Era impossível lutar contra ele.  

    Estava tão perto, e ainda tão longe.  

    No momento, ele segurava a cabeça do guarda que eu usara como isca.  

    Era uma visão intimidadora. Sua mão era enorme, levantando a cabeça do guarda com facilidade.  

    Enquanto isso, ele me encarou com cautela.  

    “Não sei como conseguiu essas bombas, mas não estamos mais nos corredores. Será muito mais difícil acertar alguém aqui.”  

    Ele estava certo.  

    Olhando ao redor, o espaço era amplo.  

    O raio das bombas era pequeno. Diferente dos corredores estreitos, aqui os guardas poderiam desviar.  

    …..Realmente, seria impossível usá-las aqui.  

    Dei um passo para trás.  

    “Pare.”  

    A voz do homem ecoou novamente, e uma pressão tremenda me atingiu.  

    “Os líderes dos postos estão a caminho. É do seu interesse parar agora.”  

    Olhando para o corpo em sua mão, ele franziu a testa.  

    “Você já matou vários guardas. Não aumente seus crimes.”  

    Talvez porque também estivesse preocupado com as bombas, ele não se aproximou, preferindo esperar os líderes.  

    “…..”  

    Fiquei em silêncio, segurando a respiração enquanto suor escorria pelo meu rosto.  

    O silêncio era sufocante.  

    Diante dos guardas, a situação parecia sem esperança.  

    Mal mexi a mão para pegar algo no bolso quando o guarda gritou.  

    “Pare!”  

    Meus movimentos pararam.  

    “…..Se mexer um músculo, sua cabeça voa. Entendeu?”  

    Não pude responder, lutando para me mover.  

    Levantando a cabeça, encontrei o olhar do homem. Ele não segurava mais o corpo do guarda, e sim um machado grande, pronto para atacar.  

    Diante disso, fechei os olhos e acenei.  

    “Entendido.”  

    “Bom…”  

    Ele acenou satisfeito.  

    Naquele breve momento, meu dedo se moveu.  

    “Uh…?”  

    Confuso, o guarda me olhou.  

    Mas já era tarde.  

    Eu já estava correndo de volta.  

    “O que voc—”  

    Ele olhou para o corpo ao lado. A compreensão veio, mas tarde demais.  

    BOOOM—  

    Uma enorme explosão soou.  

    Sacudiu tudo ao redor.  

    “Ahhhhh!”  

    E vários gritos seguiram.  

    ‘Ele provavelmente não morreu, mas várias bombas de mana devem ter dado algum dano. É tempo suficiente.’  

    Assim que as bombas explodiram, virei e corri para a porta.  

    Era difícil ver com a poeira no ar, mas encontrei a maçaneta.  

    Com a chave pronta, a coloquei no buraco e girei.  

    Clank—  

    Pouco depois, girei o volante, e a porta tremeu.  

    Estrondo…! Estrondo!  

    Usando toda minha força, continuei a girar. Minhas costas estavam encharcadas, e meus músculos, rígidos.  

    “P-parem ele!”  

    “Alguém o pare…!”  

    Ouvi os guardas atrás de mim, correndo em minha direção.  

    Meu peito formigou enquanto eu girava o volante.  

    Estrondo!  

    ‘Vamos! Vamos! Vamos!’  

    Assim que uma abertura apareceu, uma onda de calor invadiu a sala, e a cor vermelha começou a dominar o ambiente.  

    “P-parem ele!”  

    “….!”  

    Uma mão agarrou meu ombro.  

    Virando, meus olhos encontraram os de um guarda, e eu soltei a porta antes de me jogar na abertura.  

    “Pare-m!”  

    O tempo pareceu desacelerar.  

    Pelo canto do olho, vi várias mãos tentando me alcançar na poeira.  

    Olhando brevemente, me abaixei e torci o corpo para passar pelo vão estreito.  

    Meu coração acelerou quando metade do meu corpo já estava fora.  

    Mas, nesse momento, algo agarrou minha perna.  

    Virando, vi o homem forte me encarando com olhos injetados de sangue.  

    “Huaak…!”  

    Meu estômago embrulhou.  

    Por mais que tentasse me soltar, ele não largava.  

    “Volte aqui…!”  

    Quase perdi o equilíbrio quando ele me puxou de volta.  

    “Você…! Não vai escapa—”  

    Joguei algo no vão antes que ele terminasse.  

    Sua expressão mudou drasticamente, e o aperto no meu tornozelo afrouxou.  

    Aproveitei para puxar minha perna e fugir.  

    Booom—  

    Uma explosão seguiu.  

    “Haaa… Haaa…”  

    Correndo, não olhei para trás. Ofegante, corri e corri e corri.  

    Mana cobriu meu corpo enquanto eu fugia.  

    Apesar do calor e do ar sufocante, olhando ao redor, senti minha respiração ficar mais leve.  

    Finalmente,  

    Eu havia escapado.

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