Capítulo 177: Silêncio [2]
—— Alguns momentos após a fuga de Julien.
Área externa do bunker.
“Hieeeeek—”
Gritos ecoaram na área externa do bunker. Afastando-se de Evelyn, que gritava no topo dos pulmões, Kiera resmungou baixinho.
“De novo não…”
“Hieeeeek—”
Embora fosse um pouco resistente a esse tipo de coisa, Kiera sentiu os pelos da nuca se arrepiarem.
Era assustador.
Puta que pariu, assustador.
Olhando ao redor, viu mais de uma dúzia de figuras encarando uma direção com olhos brancos. Reconheceu algumas delas. Na verdade, uma das pessoas gritando era Josephine.
…Por algum motivo, foi estranhamente satisfatório vê-la assim.
‘Devo estar maluca por pensar isso.’
Kiera deu um tapa na própria bochecha.
“Hieeeeek—”
Seus gritos perfuraram o ambiente, e os protestos se acalmaram por alguns segundos.
Baque! Baque!
Até que os corpos começaram a cair no chão.
Kiera encarou a cena com os lábios apertados. Virando a cabeça, viu o corpo de Evelyn cair em sua direção.
Assim como os outros, ela iria bater no chão.
Iria doer muito.
“…..”
Kiera lambeu os lábios.
…E então deu um passo para o lado, deixando-a cair de cara.
Baque!
Evelyn caiu de cara no chão.
Kiera fez uma careta, mas, ao mesmo tempo, achou a situação hilária.
‘Droga, se eu pudesse gravar isso…’
Claramente, não era a hora, mas seus impulsos falaram mais alto.
“Nos deixem sair!”
“Saiam da frente!”
“Vou usar a força! Não me importo! Nos deixem sair!”
Seus pensamentos foram interrompidos pelos gritos da multidão. Todos pareciam estar tentando forçar a entrada para a área interna, pressionando os guardas, que pareciam perdidos.
“Esperem…! Por favor, acalmem-se! Não podemos deixá-los entrar! Ainda estamos investigando! Por favor, acalmem-se!”
Apesar das tentativas dos guardas, isso só piorou a situação, e algumas pessoas tentaram passar à força.
“Saiam da frente!”
“…..Não quero saber! Vocês dizem a mesma coisa há horas! Cansei de esperar! Há algo errado, e todos vamos ficar assim se ficarmos aqui!”
“É isso! Nos deixem sair!”
“Prefiro ser atingido pela Sombra Carmesim do que por isso!”
“A saída está logo ali! Nos deixem sair!”
Ouvindo de lado, Kiera franziu a testa. Era verdade que a saída da Dimensão Espelhada estava logo fora da estação.
Em retrospecto, evacuar todos teria sido a melhor opção.
‘Bem, ninguém poderia prever algo assim.’
O bunker deveria ser seguro, e todos deveriam poder voltar à estação após a Sombra Carmesim acabar.
Ninguém poderia prever o que estava acontecendo.
E não era só isso.
…A saída atraía muitos monstros. Sem segurança adequada, eles invadiriam o mundo principal.
Sair provavelmente não era a melhor opção, já que os guardas da entrada provavelmente já haviam partido para conter as hordas de monstros do outro lado.
Isso basicamente eliminava essa opção.
‘Então, o que fazer…?’
Kiera tentou pensar. Quanto mais refletia, mais desesperadora a situação parecia.
Cr Crack…!
Foi no meio de seus pensamentos que ouviu um leve estalo.
Erguendo a cabeça, olhou ao redor.
“Nos deixem sair!”
“Vou usar a força…!”
Todos ainda pareciam ocupados tentando sair. Parecia que só ela tinha notado.
Não, havia mais alguém.
Olhando à distância, viu algumas figuras encarando as janelas que mostravam o mundo lá fora.
Franzindo os olhos, Kiera caminhou em direção às janelas.
“Não estou ficando louca, né?”
Por algum motivo, ao se aproximar das janelas, Kiera sentiu um frio na barriga.
Seu corpo ficou tenso a cada segundo, e o barulho ao redor pareceu sumir.
Chegando às janelas, colocou as mãos nelas e espiou para fora.
Cr Crack…!
O som surgiu novamente.
Parecia vir das muralhas da cidade.
Franzindo os olhos, olhou fixamente.
“Ah.”
Foi quando viu.
Rachaduras.
Rachaduras começaram a se formar nas muralhas. Sua mente ficou em branco, e, no tempo que levou para piscar, uma mão surgiu por trás da parede, agarrando-a firmemente.
Um arrepio percorreu seu corpo.
“I-isso…”
Gaguejando, deu um passo para trás.
Pelas janelas, viu seu próprio reflexo. Seu rosto estava pálido, e seu corpo tremia.
Sem hesitar, virou-se e correu em direção à multidão.
E então,
Hieeeeeeeeek—
Um lamento ecoou à distância.
***
A situação não estava mais calma na área interna do bunker.
A notícia da fuga de Julien chegou aos líderes dos postos.
“O quê? Como isso é possível? Um cadete mais fraco que qualquer um de vocês conseguiu escapar? Não só isso, mas matou vários de vocês. Como isso faz sentido?”
O mais irritado foi o líder do posto da Guilda do Cão Negro, que começou a repreender os guardas.
“Incompetentes! Droga! Se aquela garota não tivesse me impedido…!”
Sua raiva era visível a todos.
Os outros líderes ficaram atrás dele em silêncio. Eles não se importavam. Embora trabalhassem juntos, não significava que se gostassem.
Afinal, eram guildas concorrentes.
“Conte-me o que aconteceu.”
A voz profunda de Lennon alcançou um dos guardas.
Olhando para sua figura alta, a guarda engoliu em seco antes de responder.
“Senhor, não tenho certeza. Pelo que ouvi, o cadete tem poderes estranhos, como fios, e…”
Ela parou, franzindo a testa.
Lennon também franziu a testa.
“Continue.”
“Bem…”
Engolindo em seco, reuniu coragem para dizer:
“Parece que ele sabia tudo sobre a área interna. Do layout geral até onde precisava ir.”
Ela não disse mais nada.
Mas sua mensagem era clara.
‘Há um traidor.’
Entendendo, o rosto de Lennon ficou mais sério.
‘….Um traidor?’
Quem seria? E, se fosse o caso, eram também responsáveis pela situação? Estava ficando claro para Lennon que Julien estava envolvido.
Antes, ele não parecia o culpado, mas agora…?
‘Ele está em conluio com alguém. Provavelmente o mandante.’
Mas quem…? Quem seria?
Infelizmente, ele não teve tempo para refletir. De repente, um guarda entrou correndo, com o rosto pálido.
Estava começando a ficar familiar.
“Emergência!”
O guarda gritou, chamando a atenção de todos.
“As muralhas foram violadas!”
***
“Huek…! Huek!”
As veias do meu pescoço pulsavam enquanto eu lutava para respirar. Segurando no corrimão para não cair, consegui chegar ao quarto andar.
…..Onde ficava o depósito.
Uma grande porta me recebeu. Sem hesitar, inseri as chaves que peguei na recepção e a abri.
Clank—
Fui recebido por uma grande sala branca com várias prateleiras e outra porta.
Aquela porta levava ao depósito interno, onde os tesouros mais importantes ficavam.
Infelizmente, eu não tinha a chave.
Só o líder do posto tinha. Mas não importava. A área externa tinha o que eu precisava.
Colide!
Tropeçando nas prateleiras, joguei tudo que era inútil e procurei freneticamente por algo que restaurasse minha mana.
Ao mesmo tempo, bebi outra garrafa d’água para aliviar a sede, que voltava a cada minutos.
Colide…!
Tropecei de novo, caindo no chão desta vez.
“Huep.”
Respirando fundo, minha visão ficou turva. Sentia meus pensamentos escaparem.
“Huep.”
Estranhamente, porém, ainda conseguia me impedir de desistir.
A sensação…
Era familiar.
Já havia sentido antes. Onde mesmo?
Ah.
Foi quando me lembrei.
‘O exame mental.’
Sim, não era a primeira vez que passava por algo assim. Pensando em como havia superado aquilo, de repente, a situação não parecia tão desesperadora.
“Huep.”
Respirando fundo novamente, tentei me concentrar.
Deitado no chão, olhei ao redor e eventualmente avistei uma seção.
“….Ali.”
Várias dúzias de frascos de vidro estavam em uma das prateleiras.
Dentro deles, havia pílulas. Não sabia qual era qual, mas sabia que uma delas me ajudaria.
“Uk…!”
Minhas pernas falharam quando tentei me levantar, me derrubando novamente.
‘Não, ainda não.’
Rangendo os dentes, rastejei até as prateleiras. Usei toda minha energia para chegar lá, e, ao tentar me levantar com a ajuda da prateleira, caí novamente.
…..Não tinha mais energia.
“Huep. Huep.”
Não desisti.
Estava tão perto.
Não podia desistir.
Virando o corpo, chutei a prateleira.
Estrondo—
A prateleira tremeu.
Estrondo—
Chutei de novo.
A prateleira tremeu mais uma vez.
Estrondo—
Continuei.
Estrondo, Estrondo, Estrondo—
A cada chute, a prateleira balançava mais. Assim como os frascos em cima dela.
“Kh.”
Minha consciência falhava a cada chute.
O calor estava me afetando.
…..Enquanto perdia a consciência, senti uma sensação estranha no rosto. Meu peito ficou sufocado, e meus olhos pareciam puxados.
Colide!
O que me acordou foi um barulho alto.
“….”
Virando a cabeça, várias pílulas estavam espalhadas pelo chão.
Abrindo a boca, aproximei minha cabeça da mais próxima e a engoli.
Uma corrente quente percorreu meu corpo.
E,
∎| EXP + 1.3%
Uma notificação apareceu em minha visão.
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