Capítulo 190: Véu do Engano [4]

Apesar de saber que não era real e que seu corpo verdadeiro estava longe, sob seu olhar, me senti completamente impotente. O topo da minha cabeça doía e minha visão ficou levemente embaçada.

Felizmente, a sensação não durou muito tempo e pude me recuperar pouco depois.

“Haa… haaa…”

Sem perceber, minha respiração estava pesada e meus lábios estavam secos.

Lambendo os lábios, olhei de volta para a coruja que repousava calmamente sobre a mesa enquanto me observava. Seus olhos brilhavam com uma serena, quase impassível curiosidade.

Ela não disse nada, mas já havia dito tudo que precisava dizer.

‘Como esperado, outro relacionamento distorcido.’

Leon, Delilah, Atlas e agora a árvore… Eu realmente tinha um talento para esse tipo de coisa.

Ri amargamente para mim mesmo, enquanto me sentava.

“Entendi. Você não precisa me lembrar.”

Desde o início, eu sabia do risco de propor algo assim. Em certo ponto, pensei que a árvore havia rejeitado minha proposta e que eu iria morrer, mas no final, ela aceitou minha proposta.

Mas ainda havia algumas coisas que eu queria saber.

“Não vou perguntar sobre onde está seu corpo principal, mas e sobre sua forma atual? Os outros serão capazes de te ver assim?”

“….Sim, serão.”

“Então…”

“Posso me esconder dentro do seu corpo sem problemas. E não deve ser um problema mesmo se me virem. Sou apenas um animal inofensivo.”

“Isso é verdade…”

Mas uma coruja? Isso seria bastante estranho de se ver. Certamente atrairia muitos olhares.

Por outro lado, isso não mudaria nada em relação a como as coisas estão agora, então não importa muito.

Em outra nota,

“Como devo te chamar? Já que você é uma coruja, chamá-la de árvore não parece certo. Também não posso te chamar de coruja. É mais adequado se eu te der um nome.”

“Um nome…?”

A coruja inclinou a cabeça, aparentemente em profunda reflexão. Por fim, balançou a cabeça.

“Faça como quiser. Não me importo.”

“Seria o melhor.”

Foi minha vez de cair em pensamento.

Pensei nisso por um bom tempo, para ser honesto. Não porque achasse a tarefa difícil, mas porque eu era geralmente ruim com nomes.

‘Cão’

‘Gato’

‘Rato’

Havia muitos nomes que provavelmente me renderiam olhares estranhos e desgostosos das pessoas.

…Bem, pelo menos eu sabia que meu senso de nomeação era bem ruim.

“Uh.”

Esfreguei a cabeça.

“Ah…!”

Foi quando finalmente me veio à mente. Comprimindo toda minha sabedoria e experiência, consegui pensar em um ótimo nome.

“É isso, consegui.”

Bati minha mão na mesa e olhei para a coruja.

“Corujão-Poderoso!”

Comecei a rir sozinho.

Não só soava ótimo, como também era hilário.

“Hahahah.”

Como não havia ninguém, não importava se eu risse. Tinha certeza de que ficariam chocados se me vissem assim, mas bem… Também tinha certeza de que entenderiam se soubessem o nome da coruja.

“…..”

Estranhamente, Corujão-Poderoso não disse nada enquanto me encarava.

Não conseguia adivinhar o que estava pensando, mas como não sabia sobre emoções, não estava preocupado com ela ficar brava.

“…..Faça como quiser.”

No final, obtive o selo de aprovação e secretamente me regozijei.

Mas a empolgação rapidamente passou. Logo me lembrei da minha situação atual e limpei a garganta.

“E aqueles que estavam na ilusão? As coisas não ficarão complicadas? Já que muitos sabem sobre—”

“Além de você, ninguém se lembrará.”

Corujão-Poderoso respondeu em um tom plano. Estranhamente, seu tom estava mais monótono que o normal.

Tão estranho…

Não poderia ser que estava insatisfeito com seu nome, certo…?

‘Não, impossível. Ela tem apenas um conhecimento rudimentar de emoções. Provavelmente sou só eu.’

Além do mais, era um ótimo nome.

Mas isso era irrelevante.

“Você está dizendo que apagou as memórias de todos que estavam dentro da visão…?”

“Correto.”

Corujão-Poderoso respondeu.

“….Haverá alguns vestígios meus pela cidade, mas levará algum tempo para vocês humanos descobrirem. Você pode usar o tempo para voltar para onde pertence sem levantar suspeitas.”

“Oh.”

Isso fazia sentido, e deixei o assunto por isso mesmo.

Mas havia algo mais que despertou minha curiosidade.

“Há outra coisa que estou curioso, se você não se importa que eu pergunte.”

“O quê…?”

“Como você conseguiu colocar todos sob uma ilusão? E as memórias que você apagou de mim?”

Não era só isso.

Pelo que eu sabia, a árvore era mais fraca que os pós-líderes. Ou melhor, estava em pé de igualdade com eles.

Embora a árvore prosperasse em fraqueza mental, os pós-líderes não eram quaisquer um.

Como ela pôde afetá-los profundamente e, ao mesmo tempo, toda a estação de suprimentos tão rapidamente?

Certamente, não havia como pessoas fortes não detectarem se algo estivesse errado.

Nesse caso, como era possível…?

“Dez anos.”

A coruja respondeu, seu olhar perfurante em mim.

“Levei dez anos para corroer suas mentes ao ponto onde pude trazê-los para o mundo ilusório. Lentamente, pouco a pouco, invadi suas mentes, rastejando para dentro deles enquanto esperava o momento certo para lançar a ilusão. Trazer um não é difícil, mas trazer muitos é complicado. Sua chegada veio exatamente quando suas mentes estavam mais fracas. Você foi uma variável imprevista. Tive que gastar bastante poder apenas para prendê-lo na ilusão.”

“Entendo…”

Isso fazia sentido, mas ainda não era exatamente a resposta que eu procurava.

Pensei que seria só isso quando sua voz alcançou meus ouvidos.

“…..Mas não fiz isso sozinho. Tive ajuda.”

“Uh…?”

Foi quando ergui a cabeça rapidamente e olhei atentamente para ela.

“Você teve ajuda?”

“Correto.”

Sua aprovação não me surpreendeu tanto.

Eu esperava que Corujão-Poderoso tivesse recebido alguma ajuda. Embora fosse verdade que ela havia esperado bastante tempo, ainda não fazia sentido ter sido tão bem-sucedida. Certamente havia fatores externos que desempenharam um papel nesse cenário todo.

‘Considerando que recebi uma missão, pode ter a ver com eles…’

O Céu Invertido.

…Ou pelo menos, foi o que pensei no início.

Então, lembrei.

Atlas.

Certamente, ele me teria contado se algo estivesse acontecendo.

‘Seria possível que não esteja relacionado a eles…?’

O pensamento me fez estremecer.

Eu não precisava lidar com outra organização.

“Você sabe como eles se parecem? O que te deram, ou algo assim?”

“Não.”

Corujão-Poderoso balançou a cabeça.

“…..Eles se comunicaram comigo por telepatia e nunca mostraram seus rostos. Como seus objetivos alinhavam com os meus, não me importei em procurar seus rostos.”

“Entendo…”

Fechei os olhos e respirei fundo.

Isso fazia sentido.

Bem, mais ou menos. Nem tudo fazia sentido.

“Quando eles decidiram te ajudar?”

“Ano passado.”

“Eles te deram algo, ou…?”

“Não me deram nada. Apenas ajudaram a enfraquecer as mentes daqueles que viviam aqui. O mesmo vale para seu grupo. Se não fosse por eles, não teria conseguido.”

“Uh…?”

Fiquei pasmo no lugar.

Piscando lentamente para ter certeza de que havia ouvido corretamente, perguntei cuidadosamente,

“Incluindo meu grupo?”

O que isso significava…? Poderia estar sugerindo que o culpado estava na estação e nos submeteu a algum tipo de ritual de enfraquecimento, ou… Engoli minha saliva.

Poderia haver alguém do Céu Invertido, ou qualquer organização responsável, escondido entre os calouros?

O pensamento gelou meu coração por um breve momento.

‘Isso não deveria me surpreender.’

Houve um incidente no passado onde fui chamado por outro membro da organização. Foi na caverna durante uma das primeiras incursões na Dimensão Espelho.

O fato de haver mais não deveria me surpreender.

Mas o único problema que eu tinha era, como…? Como eles foram capazes de fazer isso com todos os calouros?

…E se fosse realmente o caso, como eu poderia expor sua identidade?

Considerando que até me envolveram nesse incidente, se fossem realmente do Céu Invertido, então não havia necessidade de permanecerem aqui.

Eu precisava me livrar deles.

“Certo.”

Relaxei minha mente.

Não adiantava pensar nisso agora. Eu descobriria de um jeito ou de outro. Pelo menos, agora sabia que havia potencialmente alguém escondido entre os calouros.

Não sabia quem, mas tinha tempo para descobrir.

Havia algo mais empolgante que eu queria descobrir.

Minha nova habilidade.

Lambi os lábios só de pensar.

‘Véu do Engano… Como será que funciona.’

Não havia instruções para a habilidade, mas isso não importava particularmente enquanto me virava para Corujão-Poderoso.

“Última pergunta. O que você pode me contar sobre a habilidade que me concedeu? Véu do Engano. Como eu a uso?”

“Não é difícil.”

Virando-se para a cama, Corujão-Poderoso ergueu a asa para apontar para ela.

Fiquei confuso com suas ações, mas antes que pudesse dizer algo, meus olhos se arregalaram quando a cama subitamente mudou, virando uma grande mesa de madeira.

“Ah…?”

Pisquei várias vezes para ter certeza de que não estava vendo errado.

Então, quando tive certeza de que estava vendo corretamente, me levantei e estiquei a mão para a mesa. Queria verificar se era real, mas no momento em que minha mão alcançou a mesa, passou direto por ela.

Foi quando Corujão-Poderoso falou.

“…..O que você vê é falso. Véu do Engano é uma habilidade que permite lançar ilusões. Desde que você concentre sua atenção no que deseja mudar, poderá alterar a realidade diante de seus olhos.”

Acenando suas asas novamente, o quarto subitamente começou a mudar.

De repente, raízes começaram a aparecer de todos os lados, enrolando-se em cada pedaço de mobília do quarto. Elas subiram pelas paredes, enrolaram-se nos lustres e rastejaram pelo chão como videiras vivas.

Olhando para a cena diante de mim, me vi respirando mais pesado.

Não por medo, mas por empolgação.

Tudo… parecia tão real.

A ponto de me fazer estremecer levemente.

‘E se eu combinar essa habilidade com minha magia emotiva?’

O que aconteceria então?

“Ah.”

Essa habilidade…

Era perfeita.