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    O carro parou.

    Para a surpresa de Lu Zhou, ele havia presumido que a Sra. Yang os levaria a algum lugar que, à primeira vista, já transparecesse um nível de sofisticação incomum. No entanto, o destino acabou sendo uma ruazinha afastada da agitação urbana.

    A fachada decorada em mármore, situada no fundo de uma rua de aparência medíocre, não se deixou ofuscar pela fileira de lojinhas decadentes. Pelo contrário, era como se destacasse com a graça de uma garça entre galinhas.

    Talvez, esse fosse o tal senso de elegância das pessoas ricas?

    Lu Zhou não compreendia muito bem.

    Após descer do carro, a Sra. Yang seguiu na frente, conduzindo o grupo para dentro do restaurante.

    A decoração interior do restaurante contrastava completamente com a discrição de sua fachada. Sob a escultura de mármore logo na entrada, um filete de água corria suavemente. Diversos vasos de plantas harmonizavam com paisagens de estilo ocidental, compondo uma estética de beleza que fundia oriente e ocidente.

    Lu Zhou agora estava certo, abrir um restaurante ocidental com tamanha sofisticação em um beco tão recôndito, ou o dono era extremamente rico, ou tinha tanto dinheiro que não sabia mais onde gastá-lo…

    “Quatro pessoas.”

    “Por aqui, por favor.” O garçom fez um gesto cortês com a mão, guiando o grupo até uma cabine 1no segundo andar.

    Han Mengqi ainda se recusava a sentar-se ao lado da mãe, e tomou posição com insistência ao lado de Lu Zhou.

    Chen Yushan, como ocorrera no carro, sentou-se ao lado da tia.

    Após todos se acomodarem na cabine, o garçom trouxe para cada um deles um copo de água com limão, e colocou dois cardápios sobre a mesa.

    Ao abrir o cardápio, a Sra. Yang sorriu levemente e disse: “Este restaurante oferece uma experiência muito agradável, especialmente pela tranquilidade, não há aquele alvoroço típico da cidade. Em um lugar como a cidade de Jinling, encontrar um restaurante assim não é tarefa fácil. Eu recomendo o bife; se não agradar ao paladar, o arroz de frutos-do-mar também é uma ótima opção. Hoje sou eu quem convida, então, por favor, não sejam formais.”

    “Então, aceitarei a gentileza…” Lu Zhou forçou um sorriso constrangido, olhou para o cardápio, mas sua sobrancelha se contorceu bruscamente.

    Porra, mas que absurdo de caro!

    Que diabos é esse bife por 888? Melhor pedir um prato de arroz frito… Que desgraça é essa? Até o arroz frito custa mais de cem?

    Estão tentando assaltar a gente aqui?!

    No entanto, ao observar a expressão da Sra. Yang, parecia que ela não via nada de anormal naquilo.

    Lu Zhou não pôde deixar de refletir internamente.

    De fato, ela era uma verdadeira ricaça, parecia que a forma como ela via o consumo estava em um plano completamente diferente do seu.

    Han Mengqi, por outro lado, não teve cerimônias com a própria mãe. Rapidamente tomou das mãos de Lu Zhou o cardápio, folheou algumas páginas e apontou para a foto: “Quero um filé mignon defumado com lenha de macieira! E também este sorvete…”

    Chen Yushan também fez seu pedido de maneira bastante natural.

    Então chegou a vez de Lu Zhou.

    Ele pensou por um instante e, por fim, escolheu o arroz de frutos-do-mar espanhol.

    Primeiro, porque de qualquer maneira nunca tinha comido mesmo, então não valia a pena ficar enrolando. Segundo, porque usar faca e garfo ainda era um pouco refinado demais para ele, era alguém acostumado ao jeito simples, e preferia não passar vergonha.

    Quanto à Sra. Yang, pediu apenas uma salada.

    Ao ver a porção da foto, Lu Zhou não pôde evitar de se perguntar se aquilo matava realmente a fome.

    Talvez por haver poucos clientes no restaurante, os pratos foram servidos rapidamente.

    Ao olhar para o arroz de frutos-do-mar ainda soltando vapor, o dedo indicador de Lu zhou se moveu involuntariamente.2

    Especialmente aquelas conchas de mexilhão e vieiras espalhadas sobre o alho picado, só de olhar já davam água na boca.

    Sentada ao seu lado, Han Mengqi aproveitou-se de que ele ainda não havia mexido no prato e, num movimento ágil, furtou um mexilhão.

    A sobrancelha de Lu Zhou tremeu discretamente, mas ele preferiu não descer ao nível dela, fingiu que não viu nada.

    Contudo, esse pequeno gesto de Han Mengqi obviamente não passou despercebido aos olhos atentos da mãe.

    “Mengqi”, chamou, como esperado, a Sra. Yang, em tom de repreensão.

    O sorriso no rosto de Han Mengqi desapareceu num instante. Ela resmungou e desviou o olhar para o lado.

    “Sra… Yang, sinceramente acho que não há necessidade de ser tão severa. A Han Mengqi só estivava brincando”, disse Lu Zhou com um sorriso cordial, tentando aliviar a situação.

    “Isso é uma questão de educação”, a Sra. Yang com respondeu seriedade, sem ceder nem um centímetro.

    Lu Zhou deu um sorriso sem jeito e preferiu não dizer mais nada.

    Afinal, educar o filho dos outros não era algo em que ele tivesse qualquer direito de se meter.

    No máximo, sentia certa pena da garota…

    Após isso, o jantar começou, mas o ambiente ficou visivelmente mais silencioso.

    Sentindo que mãe e filha estavam numa espécie de guerra fria, Lu Zhou e Chen Yushan trocaram um olhar, e ambos enxergaram no outro um mesmo tipo de desamparo.

    Chen Yushan: Desculpa, eu também não sabia que ia acabar desse jeito.

    Lu Zhou: Sem problemas. Na verdade, eu meio que já esperava por isso…

    Hã?

    De repente, Lu Zhou teve a estranha sensação de que acabara de desbloquear uma habilidade extraordinária.

    Ele podia se comunicar com as pessoas apenas olhando em seus olhos?

    O que é isso?

    Seria a cumplicidade cultivada ao longo de tantos dias trocando enigmas silenciosos com os olhos na biblioteca?

    Ou seria o sistema…

    Para tirar essa dúvida, Lu Zhou olhou diretamente para Han Mengqi.

    Emmm…

    Parece que não funcionou.

    Sentindo-se meio desconfortável com o olhar fixo de Lu Zhou, Han Mengqi ficou com as bochechas levemente coradas e devolveu um olhar fulminante: “Tá… tá olhando o quê?”

    “Hã? Nada não. Só achei que você parecia estar comendo com gosto”, percebendo a própria indiscrição, Lu Zhou desviou o olhar rapidamente e inventou uma desculpa qualquer.

    Felizmente, justo nesse momento, a Sra. Yang se levantou para atender o telefone, e não percebeu o que se passava entre os dois.

    Do contrário, ele tinha a estranha sensação de que a coisa não ia acabar bem se aquela mulher severa flagrasse a cena…

    De qualquer forma, Han Mengqi acabou aceitando a desculpa de Lu Zhou, colocou um pedaço pequeno de filé na boca e, enquanto mastigava, murmurou com a boca ainda cheia: “Hm, até que está bom, mas ainda não é tão gostoso quanto o que você faz.”

    Lu Zhou ficou um pouco sem graça com o elogio e respondeu com um sorriso modesto: “Olha, mesmo me elogiando assim, você não vai ganhar nada com isso.”

    “Eu nunca minto, tá bem? Se você não acredita, aí já não é problema meu.” Han Mengqi respondeu revirando os olhos.

    “Você sabe cozinhar?”, perguntou Chen Yushan, espantada, olhando para Lu Zhou do outro lado da mesa e falando num tom quase sussurrado. “Jamais imaginaria isso…”

    “Claro, ele é muito bom! Aquele… Aquele mapo tofu estava super delicioso.” Antes que Lu Zhou pudesse responder, Han Mengqi já tinha se antecipado, com um brilho de orgulho no rosto.

    Parecia até que estava se gabando.

    “Só pelo nome já dá para ver que é super apimentado”, disse Chen Yushan, encolhendo os ombros com um arrepio.

    Ela ainda estava sentindo o sabor picante daquela vez que Lu Zhou a levou para comer malatang.

    Nesse momento, a Sra. Yang voltou para a cabine, acompanhada por um homem de aparência refinada e bastante elegante.

    “Mengqi, não vai cumprimentar o tio?” O homem sorriu.

    “Oi, tio. Tchau, tio.” Han Mengqi respondeu sem cerimônias, sem nem erguer a cabeça.

    “Esta menina…” a Sra. Yang suspirou, olhando com certa desculpa para o homem. “Desculpe-me, Mengqi… ela age assim com qualquer pessoa”.

    “Sem problemas.” O homem sorriu timidamente, fez um aceno para Chen Yushan e então virou-se para Lu Zhou, com os olhos brilhando subitamente: “Você é o Lu Zhou, certo?”

    Lu Zhou ficou surpreso. Não fazia ideia de que seu nome já circulava a ponto de alguém reconhecê-lo instantaneamente.

    Mesmo andando pelo campus, poucos o identificavam.

    Apesar de intrigado sobre como aquele homem soubera seu nome, Lu Zhou levantou-se instintivamente e apertou educadamente a mão estendida: “Olá… com quem tenho o prazer?”

    “Eu sou o gerente deste restaurante e também amigo da Sra. Yang.” O homem sorriu, apertou a mão de Lu Zhou e a soltou. “Você é um bom rapaz. Recusar a oferta do Presidente Wang não é algo que se vê todo dia.”

    “É apenas que estou muito atarefado com os estudos e me sinto sem condições de me comprometer no momento.” Lu Zhou respondeu com modéstia, mas por dentro já estava resmungando.

    Afinal, era só mais uma oferta de emprego recusada. Quantas já haviam sido?

    “Chamo-me Du Haifeng, prazer em conhecê-lo. Guarde meu contato, podemos conversar em outra ocasião.” Entregando um cartão de visitas a Lu Zhou, Du Haifeng concluiu com um sorriso: “Aproveitem a refeição, não quero incomodar.”

    Talvez a frieza de Han Mengqi o deixasse um pouco desconfortável, ou talvez ele realmente tivesse outros afazeres. De qualquer forma, não permaneceu por muito tempo e afastou-se.

    De volta à cabine, Lu Zhou pegou o cartão e leu: Acionista da Haifeng Capital?

    Decidiu guardá-lo de imediato.

    Mais uma conexão não faz mal a ninguém.

    Se um dia resolvesse empreender, precisaria certamente de contatos como aquele.

    Ao ver Lu Zhou guardar o cartão, Han Mengqi pareceu ligeiramente contrafeita.

    Percebendo essa mudança na expressão dela, Lu Zhou passou a especular mentalmente:

    Será que o senhor Du tem algum vínculo especial com a Sra. Yang?

    Afinal, todos ali eram adultos. De um lado, uma mulher forte, que apesar das tragédias familiares ainda conservava um certo charme maduro. Do outro, um homem maduro, de boa aparência e postura elegante. Mesmo que rolasse algo digno daqueles clichês adorados pelos dramas da televisão chinesa, não seria assim tão surpreendente.

    Emmm…

    Difícil opinar.

    Questões amorosas, uma vez que envolvem família, sempre acabam se tornando complicadas.

    Lu Zhou não queria intervir na vida de outras pessoas e ele tinha certeza disso.

    Han Mengqi lançou um olhar na direção da mãe, depois se inclinou discretamente para o lado de Lu Zhou e cochichou: “Aquele cara não presta. Toma cuidado.”

    “Tudo bem.” Por conta do mal-entendido que já estava se formando sozinho em sua cabeça, Lu Zhou olhou para ela com um olhar quase afetuoso, talvez até com um toque de pena.

    Embora ela tenha dito que não se importa em ter um padrasto, se os pais realmente se casarem novamente, no fundo, as crianças sempre vão resistir um pouco, não?

    Mas quando viu que Lu Zhou claramente não estava levando a sério o que ela dizia, Han Mengqi ficou impaciente: “Estou falando sério!”

    Lu Zhou olhou para ela com uma expressão estranha: “E eu falei que estou acreditando.”

    “Seu!” Ela mordeu os lábios, como se tivesse tomado uma decisão ousada. Os olhos se moveram discretamente de um lado para o outro, e ela falou num tom ainda mais baixo, desviando o olhar de leve: “Eu vi com meus próprios olhos… o Tio Du… ele gosta de homens.”

    Lu Zhou: ???

    Essa última frase foi pesada demais para ser digerida de uma vez só.

    E aí, lembrando do jeito como ele tinha dito “Você é um bom rapaz”…

    Lu Zhou quase jogou o cartão de visita pela janela de tão assustado.

    1. O termo original usado é 卡座, que eu vi que pode ser traduzido como cabine. Ela é assim.[]
    2. É uma metáfora clássica que expressa desejo intenso por comida.[]

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