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    Essa era uma péssima hora para receber uma ligação. Adam pensou que fosse o exército da resistência ou a casa de penhores, e ficou bastante contrariado por ser interrompido justo quando havia encontrado uma missão perfeita.

    Se pedissem que ele fizesse outra coisa e a missão fosse aceita por alguém durante sua ausência, isso seria extremamente frustrante.

    Felizmente, a ligação era de Wang Shuai.

    — A purificação não foi completa? — Adam ficou surpreso ao ver Wang Shuai projetado pelo comunicador. — Fique tranquilo, de acordo com o contrato, temos a obrigação de completar a purificação do seu mundo psíquico.

    — Não, não, estou ligando porque queria agradecer vocês.

    Apesar de Wang Shuai ainda parecer fisicamente exausto, seu estado mental havia claramente melhorado bastante em comparação com o dia anterior, e as olheiras e bolsas sob os olhos estavam bem menos visíveis.

    — Eu sei o quanto vocês fizeram por mim, e sei que cobraram muito pouco considerando que tiveram que erradicar uma anomalia emocional.

    — Tudo bem, você também nos deu uma compensação extra além do contrato.

    — Não, não, não… Eu deveria ter dado muito mais, mas aquilo era todo o dinheiro que eu tinha na hora — disse Wang Shuai com muita sinceridade. — Para retribuir, vou recomendar os serviços de vocês a qualquer colega meu que precise de tratamento.

    — Seria ótimo, mas decidimos recentemente focar apenas em casos mais graves daqui pra frente, então leve isso em conta na hora de recomendar a gente.

    — Pode deixar.

    Depois de mais um pouco de conversa fiada, a ligação terminou, e Adam ficou de muito melhor humor após a chamada.

    — Que cara incrível! — comentou.

    Shae, no entanto, parecia um pouco confusa.

    — Depois de tudo o que você fez por ele, o mínimo era ele te compensar a mais e ligar pra agradecer. Suas expectativas não são baixas demais?

    — Você não entende. Depois de tudo o que se enfrenta na vida, é admirável que alguém da idade dele ainda mantenha essas qualidades. — Adam não conseguiu evitar pensar em Peter enquanto falava. — Algumas pessoas são muito piores do que isso. Você vai entender do que estou falando quando a gente encontrar alguém assim no futuro. Chega de papo, vamos contatar o cliente.

    Adam colocou o capacete do Metaverso enquanto falava e apareceu dentro da loja.

    Kim Hee-cho também estava lá, sentado no sofá.

    Adam entregou a descrição da missão para Kim Hee-cho, que obviamente não ia reclamar da disposição de Adam em aceitar novos trabalhos.

    — Nem vai tirar um dia de descanso antes de pegar essa missão? Isso sim é ética de trabalho! Deixa eu ver aqui… Hmm…

    — O que foi?

    — Essa missão é do Fundo Arca Educacional Infantil! — Kim Hee-cho não gostou nada disso. — Eles pagam muito mal. Na maioria das vezes, não pagam nem um terço do valor de mercado. Se pagarem metade, já é lucro!

    — Como você sabe?

    — É uma organização sem fins lucrativos e com receita instável. Naturalmente, vão ser mais pão-duros.

    — Então por que aquela outra clínica aceitou a missão antes da gente?

    — Tem gente que quer melhorar a própria reputação. Alguns ricos, organizações ou empresas entram em contato com esses fundos infantis quando querem fazer caridade, e eles ajudam crianças com distúrbios mentais cobrando preços muito baixos… às vezes, até de graça — explicou Kim Hee-cho. — Por isso, as missões desses fundos geralmente pagam mal.

    — Tudo bem.

    — Como assim, tudo bem?! A gente não é organização de caridade! — Kim Hee-cho, sendo da classe média alta, não precisava se preocupar com reputação como os magnatas, e além disso nunca foi fã de trabalho filantrópico. — Só pra lembrar: a gente literalmente teve prejuízo em todos os trabalhos até agora. Eu não vou continuar aceitando isso.

    — Essa missão é muito importante pra mim — insistiu Adam.

    — Ainda assim, minha resposta é não.

    — Por que você não pergunta quanto eles estão oferecendo primeiro?

    — Tá bom. — Kim Hee-cho contatou o intermediário usando as informações na descrição da missão e logo recebeu uma resposta: — 500 mil e uma declaração oficial de agradecimento do Fundo Arca Educacional Infantil.

    — Isso não é nem um terço da tarifa de mercado. — Kim Hee-cho abriu o vídeo anexo depois de encerrar a chamada. — Eu não entendo muito de adaptadores e anomalias, mas aquela anomalia de freira parece um verdadeiro inferno de lidar. 500 mil é uma piada! Se essa missão não viesse de um fundo infantil, acho que ninguém aceitaria nem por 1 milhão e meio!

    — 500 mil é suficiente. — Adam viu que Kim Hee-cho queria retrucar, então continuou: — Quanto a gente normalmente ganha por trabalho? A missão mais barata, aquela do Peter, foi só 120 mil, não foi? Em termos de valor por serviço, essa é a maior até agora.

    — Você não tem medo de morrer? — suspirou Kim Hee-cho. — Eu sou alguém que valoriza o dinheiro acima de tudo, mas a gente já trabalha junto há um tempo, e eu não quero te ver morrer. Essa missão é perigosa demais. Se continuar aceitando esse tipo de coisa, vai acabar morto. Como agente, já vi isso acontecer muitas vezes. Vamos pensar em termos de probabilidade: mesmo que só haja 10% de chance de você morrer nessa missão, se você continuar desafiando a sorte, uma hora vai pagar o preço! Pra ser direto: você é minha galinha dos ovos de ouro. Seja por lucro ou por afeto, eu não quero que nada aconteça com você.

    — Não se preocupa, eu tenho confiança de que posso lidar com essa missão. Além disso, eu tenho você, não tenho? Enquanto você reagir rápido se eu estiver em perigo, tudo vai dar certo — disse Adam, aproximando-se de Kim Hee-cho e dando um tapinha em seu ombro.

    — Tá bom, faz o que quiser. Nem adianta discutir. Se eu não concordar, ainda vou acabar ouvindo sermão daquela pentelha — Kim Hee-cho suspirou, então aceitou a missão.


    Com a batalha pelo direito à sucessão e a caçada aos mutantes psíquicos se aproximando no horizonte, Adam estava sob enorme pressão, então não se atreveu a perder tempo e partiu imediatamente para o local da missão.

    O Fundo Arca Educacional Infantil possuía muitas filiais, e a que Adam estava indo ficava fora da Cidade Sandrise.

    A Cidade Sandrise tinha uma população total de 350 milhões de pessoas e era dividida em 100 zonas. No mundo inteiro, metrópoles como Sandrise abrigavam mais de 70% da população global, mas ainda havia pessoas vivendo em outros lugares, como cidades menores e vilarejos.

    Adam e Shae pegaram o trilho do vazio até a periferia da cidade, depois seguiram de carro por mais de duas horas rumo ao exterior da zona urbana.

    A cidade inteira era cercada por terras áridas e desoladas. Dizia-se que Sandrise já tivera ao seu redor um cinturão de indústrias que causavam poluição pesada, o que contaminou o solo e o transformou no deserto sombrio que era hoje.

    — Foi mais ou menos por aqui que eu estava quando fui resgatado pela primeira vez pelo pessoal da Casa de Penhores — Adam contou a Shae.

    Após cruzarem o deserto, depararam-se com vastas extensões de terras agrícolas.

    Enquanto atravessavam as plantações, viram algumas fazendas e uma cidade chamada Cinzas, localizada bem no centro de várias grandes propriedades rurais.

    Ao chegar à cidade, Adam teve a sensação de ter sido transportado de volta um século no tempo.

    As ruas tinham um ar extremamente arcaico, sem luzes de néon e com quase nenhum autômato à vista. Todos os transeuntes usavam roupas muito simples e rústicas, e praticamente ninguém ali tinha próteses instaladas.

    — Ouvi dizer que só pessoas que detestam a vida nas cidades escolhem viver em lugares assim — comentou Shae enquanto observava os arredores. — Nem todo mundo gosta da agitação e dos estímulos das cidades, nem todo mundo curte o Metaverso ou o estilo de vida urbano. Talvez até seja bom que essas pessoas estejam reunidas aqui.

    — Talvez.

    Observando as expressões nos rostos dos moradores, Adam notou que, em geral, eles pareciam ter muito menos pressa do que os habitantes da Cidade Sandrise. Era como se o ritmo da vida ali fosse mais lento.

    As pessoas não estavam correndo para trabalhar e ganhar dinheiro, e, tendo se acostumado a um estilo de vida urgente e acelerado, Adam achou essa mudança um tanto desconcertante.

    “Talvez seja assim que as pessoas deveriam viver.”

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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