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    Adam não sabia como as pessoas deveriam viver suas vidas. Talvez as pessoas nunca tivessem tido escolha para começo de conversa. Talvez, em vez de escolher um estilo de vida, fosse o estilo de vida que escolhesse a pessoa. Pelo menos, esse era o caso de Adam.

    Ele invejava profundamente o ritmo desacelerado da vida das pessoas ao redor, mas era incapaz de parar e se juntar a elas.

    Ele queria conhecer a verdade, e já havia sido arrastado pela correnteza, não tinha mais escolha quanto ao caminho que seguiria no futuro.

    — Precisamos seguir em frente.

    Shae parecia estar sentindo o mesmo que Adam, e balançou a cabeça com um suspiro melancólico enquanto olhava para um homem sentado casualmente em um longo corredor de madeira, em frente à entrada de um pub antigo.

    — A gente pode tomar um drink aqui depois que o trabalho acabar.

    — Pode ser.

    Laços emocionais costumam surgir entre pessoas que passam por experiências parecidas, e por algum motivo, naquele instante, Adam sentiu que havia se aproximado muito mais de sua recém-descoberta irmã.

    Ele voltou o olhar para Shae enquanto caminhava, e ela também estava olhando para ele. Seus olhares se encontraram, e Shae imediatamente corou, retrucando com um estalo na voz:

    — Tá olhando o quê, hein?

    — Nada.

    Os dois seguiram caminhando pela cidade em silêncio, tentando dissipar o constrangimento.

    A cidade inteira tinha apenas algumas ruas, então não demorou muito até que chegassem ao destino: uma escola ao lado de uma igreja cristã, com uma placa na entrada que dizia ‘Escola Educacional Arca’.

    Ao chegar à escola, Adam usou seu comunicador para ligar para o número fornecido na descrição da missão e, pouco depois, uma mulher de meia-idade, corpulenta e bem-disposta, saiu do prédio da escola.

    — Oi, meu nome é Emma, sou professora aqui no campus.

    — Eu sou Adam, psicoterapeuta. Essa é minha assistente, Shae.

    Adam também se apresentou, apertando a mão da mulher.

    — Venham comigo. O agente de vocês já chegou, e é um rapaz muito simpático.

    Emma conduziu Adam e Shae para dentro da escola enquanto falava.

    Como a cidade de Cinzas parecia ter uma população bem pequena, Adam imaginava que a escola não teria muitos alunos, mas, ao entrarem no pátio, encontraram crianças correndo por todo lado, nos campos, nas caixas de areia.

    As mais velhas já eram adolescentes, enquanto as mais novas pareciam ter apenas três ou quatro anos, recém-entrando na fase de brincar com os mais velhos.

    — Como essa escola tem tantos alunos?

    — Vieram todos das cidades. O uso de drogas eletrônicas é desenfreado nas metrópoles, e há muitas crianças que são abandonadas por uma série de motivos.

    Emma não deu mais detalhes, mas também não era necessário.

    Depois de atravessarem o pátio, chegaram à ala administrativa da escola, onde Adam foi recebido pelo diretor, um homem negro simpático e benevolente que aparentava ter cerca de 60 anos.

    Quando Adam entrou na sala, Kim Hee-cho estava discutindo os termos do contrato com o diretor.

    — Olá.

    Adam bateu na porta para chamar a atenção dos dois homens enquanto entrava na sala.

    — Olá. — O diretor era gentil, mas também sério e econômico nas palavras. — Ele já finalizou os termos do contrato por você. Deseja dar uma olhada?

    — Não é necessário — respondeu Adam com um sorriso, e então se virou para Kim Hee-cho. — Como você chegou tão rápido?

    — Eu não fui rápido, você é que foi devagar. Como profissionais, é importante economizar o máximo de tempo possível durante o trabalho. — Kim Hee-cho entregou um documento a Adam enquanto falava. — Reuni essas informações enquanto você ainda estava a caminho. Talvez isso te ajude.

    Adam pegou o documento e viu que ele continha dados sobre o alvo da missão.

    O alvo era um garotinho chamado Li Qi, que morava anteriormente na Cidade Sandrise. Seu pai o abandonou ainda muito novo, deixando-o aos cuidados apenas da mãe.

    Infelizmente, a mãe dele estava longe de ser uma boa mãe. Na verdade, nem chegava a ser uma mãe razoável.

    Mesmo sendo tudo, menos exemplar, ela exigia excelência do filho. Desde pequeno, Li Qi foi colocado em diversos cursos extracurriculares, e a mãe também exigia que ele ficasse em primeiro lugar em todas as provas. Se ele não atingisse os objetivos impostos por ela, era colocado de castigo em confinamento.

    O quarto de confinamento era escuro, e não havia nada ali além de uma pintura a óleo de uma freira.

    Foi esse tipo de punição que criou, em sua mente, a ligação entre freiras, escuridão e medo.

    “Colocar uma criança em confinamento solitário é ainda mais doloroso do que abuso físico.”

    Adam conseguia se identificar com o sofrimento de Li Qi, pois a Academia Layton defendia o conceito de treinamento por meio da dor auto imposta, o que tornava lugares como câmaras de confinamento solitário ideais para treinamento. Em um cômodo completamente escuro, sem noção de tempo, até mesmo um adulto teria dificuldade em suportar o sofrimento psicológico, quanto mais uma criança. E, ainda assim, Li Qi foi forçado a suportar isso por sete anos.

    Dos cinco aos doze anos, ele foi colocado em confinamento mais de cem vezes, com a sessão mais longa durando sete dias.

    No fim, foi ele quem colocou um ponto final no próprio pesadelo. Depois de sair da última sessão de isolamento, ele matou a própria mãe.

    Depois disso, foi levado a julgamento pela Guarda Mecânica, e após uma série de exames, concluiu-se que ele sofria de graves transtornos mentais devido aos abusos extremos que sofrera desde muito jovem. Além disso, ficou claro que ele não estava em pleno uso de suas faculdades mentais no momento do crime. E, ainda por cima, era muito novo e não havia ferido ninguém além de sua abusadora. Assim, o tribunal o absolveu de todas as acusações e o libertou.

    Na época, esse foi um caso muito polêmico, que saiu nas notícias por um tempo.

    O Fundo Arca Educacional Infantil conseguiu entrar em contato com o garoto através das reportagens, e o levou para a escola. Ali, ele não apenas receberia educação, mas também alimentação e abrigo, sendo salvo do destino de se tornar uma criança em situação de rua.

    Depois de ler o relatório, Adam se virou para o diretor e perguntou:

    — Há quanto tempo ele está aqui?

    — Seis meses.

    — Ele feriu mais alguém durante esse tempo?

    — Não, mas demonstra tendências constantes de automutilação e suicídio. Ele se machuca de todas as formas quase todos os dias, e nesses seis meses, já tentou se suicidar sete vezes. Já buscamos terapia para ele duas vezes. Na primeira, procuramos um terapeuta comum. O estado dele melhorou um pouco com sessões de terapia e uso de medicamentos. Depois que achamos que ele havia melhorado, contratamos três psicoterapeutas adaptadores, mas não deu certo. — O diretor balançou a cabeça com pesar. — Um dos psicoterapeutas já está em estado vegetativo. Então, se você não tiver confiança suficiente nas suas habilidades, recomendo que aja com cautela.

    As sobrancelhas de Adam se franziram ao ouvir isso.

    “O estado dele ainda é tão grave mesmo após medicação?”

    De modo geral, havia certos componentes nos remédios que conseguiam aliviar o estresse e a ansiedade, o que tinha um efeito de enfraquecimento sobre a anomalia emocional. Além disso, as sessões de terapia deveriam ter enfraquecido ainda mais a anomalia, mas, apesar de tudo isso, a entidade no vídeo continuava sendo uma ameaça de nível três.

    — Esse caso definitivamente não vai ser fácil, mas estamos dispostos a tentar.

    Adam nunca havia enfrentado uma anomalia de nível três antes, então estava um pouco nervoso.

    Embora já tivesse batalhado contra uma anomalia ainda mais poderosa no passado, naquela ocasião ele não era a espinha dorsal do grupo. Quem havia liderado o confronto fora o super-humano Porco Desvairado, com Nie Yiyi como segunda na linha de frente e Adam, basicamente, só acompanhava.

    Além disso, não haveria zonas seguras no mundo psíquico de Li Qi. Afinal, sua anomalia vinha da própria família, e ele também não possuía aliados poderosos.

    Os únicos em quem poderia confiar eram ele próprio e Shae.

    — Leve-nos até ele primeiro. Vamos saber se conseguiremos completar o trabalho depois de tentar. Se falharmos, não cobraremos nada.

    Após uma breve conversa com Shae, Adam estava pronto para agir.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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