Capítulo 152 — O Céu de Prometeu (1)
Jeanne e Selina chegaram às 06:46 da noite e encontraram Theo dormindo com a cara em cima de um caderno. A princesa de Alsu notou que, em pouco mais de uma hora, Theo resumiu suas 120 páginas traduzidas para cerca de dez folhas; isso com ilustrações.
Como Theo já conhecia a maioria dos termos, ele separou um tópico em seu caderno apenas para resumi-los em uma linha. Para os demais efeitos e práticas, ele ilustrou e pontuou tudo o que era mais importante.
Assim ele obteve o conhecimento que iria demorar um ano para conseguir em Wispells.
Selina o enrolou em um lençol e partiu para dormir em seus aposentos. Jeanne, no entanto, arrumou a mesa de Theo e voltou para traduzir as outras páginas, já que notou ser pouco conteúdo para ele.
A noite passou em um piscar de olhos e, mesmo dormindo numa posição desconfortável, Theo teve a melhor noite de sono desde que entrou no domínio.
Palácio dos Sete Condes
De manhã cedo, os Titãs reuniram todos os membros da Trupe de Ataque para uma reunião no Palácio dos Sete Condes — onde o exército de Kiescrone se concentrava e realizava seus treinamentos.
O motivo da reunião, acima de tudo, foi analisar a condição física, mental e espiritual de cada membro. Quem estava pronto para treinar com os Titãs, ou quem ainda sofria com algum dano das lutas intensas e ainda precisavam de cuidados médicos.
Exceto por Theo e Aidna, todos estavam presentes.
De todos, Bastien era o mais destruído; ainda que tivesse se recuperado muito após o pacto com Thanatos, o arauto de Hades estava com dificuldades na liberação de energia graças ao corte que executou Zethíer.
Os outros estava com suas energias e dedicação no máximo, capazes de treinar por meses caso necessário.
— Primeiramente: força — declarou Moris.
Todos os agentes da Trupe de Ataque estavam sentados no gramado em frente ao Palacio dos Sete Condes, enquanto os dois Titãs, Nihaya e Zemynder palestravam numa calçada.
— O primeiro requisito para um desviante forte é um corpo forte. De nada adianta poder dizimar uma cidade se pode ser apagado com um soco. Eu, Moris Ziziel, montarei uma rotina perfeita de dieta e treinamento para cada membro. Contudo, para isso devo conhecer vocês e seus objetivos dentro de nossa Legião. Inicialmente vocês irão seguir uma única rotina, e nós adaptaremos com o tempo.
Os agentes estavam satisfeitos, exceto por Sara que odiava esforço físico.
— Na primeira semana, serei apenas eu quem os guiarei. Na segunda semana, o Titã Javier irá os guiar nos fundamentos do controle de energia, seguido pelo general Niestz que, na terceira semana, vai os ensinar os fundamentos da energia deste mundo. Embora se pareçam, nos últimos dias escutei coisas interessantes sobre como as regras foram alteradas, e ontem à noite descobri que o general Nietsz é a pessoa certa para ensinar isso.
Todos, tirando Zemynder, já estavam cientes do disfarce de Nihaya naquele campo. Por isso Moris insistiu em chamá-lo de Nietsz invés de revelar a identidade do djinn.
— Por fim, na quarta semana, o carrasco Zemynder irá nos ensinar as técnicas para matar eficientemente os Emissários, tendo em vista que ele já lutou contra um pessoalmente. Faltou algo?
— Poderia voltar do início? Acabei perdendo a explicação.
Na calçada que ligava o castelo Zal até o Palácio dos Sete Condes, Theo e Aidna finalmente apareceram. Porém, o que surpreendeu a todos foi o novo visual do novo General de Alsu.
Seus cabelos, que antes podiam cobrir a orelha, estava tão curto que a franja não passava das sobrancelhas. As laterais estavam devidamente e, perfeitamente, aparadas, o que dava um destaque para o volume de cima. Os cabelos antes cor de trigo, agora estavam totalmente pretos.
Os olhos cor de âmbar-mel estavam agora para o outro lado da tonalidade; próximo de um esmeralda. A cicatriz em seu rosto estava disfarçada, mas longe de curada.
Theo estava trajado com seu [Véu da Casualidade], com a ombreira de prata e os braceletes cobrindo os antebraços. Sua roupa militar pode se resumir a um grande roupão preto e de botões dourados, travado na cintura por um cinto branco e inclinado. Ainda assim, a roupa se estendia na altura da coxa.
Ele caminhou sorrindo até os Titãs, que o cumprimentaram como um igual.
— Caralho… — comentou Jack. — Tá bonitão, hein.
— Eu queria por um cabelo branco, mas ele preferiu o preto… — disse Aidna, bagunçando a nuca de Theo.
— Deixo para outra ocasião. E aí, já passaram tudo para eles? — Theo perguntou aos Titãs.
— Sim — retrucou Javier. — Falta apenas pôr em prática.
— Ótimo.
Theo olhou para seu grupo enquanto ajustava o bracelete.
— Como hoje ainda é o quarto dia da última semana do mês, iremos deixá-los descansar até o primeiro dia do próximo mês para começar a rotina de treinamento.
— Quê? — Sara discordou. — E se a guerra começar até lá?
— Não vai. As possibilidades são nulas — disse Nihaya.
— E se, nós não iremos entrar em campo de guerra no início. Serach… — Theo pediu para que Selina apresentasse a tática.
Selina levantou-se e sacudiu suas roupas, então se virou para os colegas.
— Debati com a rainha Marelia ontem à noite sobre isso. Existem vinte legiões em Kiescrone, e eles serão os primeiros a serem enviados caso a guerra de fato aconteça. Atualmente, existem cinco legiões de Alsuhindr no território real, esses serão enviados por ordem somente após um mês. Nós somos a quinta legião de Alsuhindr, então, mesmo que a guerra venha a acontecer, seremos os últimos a entrar em campo de batalha.
— Somente de última instância é que nós poderemos entrar no campo antes. É um código moral do reino, devemos respeitar, mesmo que não tenhamos vontade — explicou Theo.
— Sinto que você queria ir logo… — comentou Jess.
Theo deu de ombros e suspirou.
— Com esses dois do nosso lado? — Apontou para os Titãs. — Venceríamos a guerra contra Pendaculos sem problemas. Palavras do próprio Ni… Nietsz.
Por pouco Theo não falou Nihaya, mas ao lembrar de Zemynder, ele forçou um engasgo e completou o nome do disfarce.
— Alguma dúvida? — perguntou massageando a garganta, para tornar o engasgo ainda mais real.
Kris levantou a mão.
— Ele está no nosso grupo? — perguntou a conjuradora.
— Estou. Concordamos que, por eu ser do mundo de vocês, eu estar nessa legião faz sentido. — Zemynder tomou a explicação para si.
— Então, seja bem-vindo — disse Jack.
Zemynder assentiu para o agente Glaciel.
— É… — resmungou Theo, logo depois suspirando de estresse. — Queria pedir para ficarem atentos e não saiam pela capital. Se possível, descansem por esses próximos quatro dias. Retornaremos as ações na próxima semana.
Jess ergueu o braço.
— Não iremos ser condecorados como uma nova Legião? Algum tipo de festa ou jantar politico?
— Não — respondeu Selina.
— Conversei com Jeanne e a rainha Marelia, ambas concordaram com a minha personalidade e a de Seelie. Não queremos nada destacante, mas claro que haverá uma festa para quem quiser ir.
— Quando? — perguntou Jess, com um brilho nos olhos.
— Fale com a Jeanne, eu não sei informar. Não mais que isso, dispensados. Vão descansar.
— Zemynder. — Nihaya chamou, cochichando baixinho. — Prepare uma câmara de âmbar.
— Vamos usar?! — O carrasco ficou contente.
— Iremos utilizar a partir da segunda semana.
Zemynder comemorou silenciosamente antes de partir.
Território da família Kov’s Nerai, Centro Comercial
Devido a enorme influência da família Nerai, eles possuem tantas terras no território kiescroniano que o complexo de Kov’s pode ser chamado de “Pequeno reino”.
Metcroy estava de olho nessa influência.
Para ele realizar a ordem de Pendaculos; destruir o clã Kov’s Nerai, seria fácil. Mas o Emissário quer emoção. Ele deseja construir um laço com aquela família para destruir em um único dia.
Se tinha algo em comum entre os Emissários, era a personalidade sádica que herdaram de Bvoyna.
Somente Metzerai se distanciava um pouco da psicopatia, mas também não reprimia com seus subordinados — principalmente quando os nefilins realizam canibalismo diante de Metz, o Emissário simplesmente não se importa.
Entretanto, ainda que ame o caos, Metcroy também prezava por um ambiente favorável e calmo. Andar ao lado de Amira lhe tirou isso.
Ela estava sempre coberta por uma energia pesada e negativa, que fazia as próprias flores do jardim murcharem em alguns minutos.
Alguns soldados inferiores passavam mal apenas pela passagem da Jovem Dama. Metcroy, por outro lado, alimentava-se dessa negatividade.
Pelos próximos dois dias, Metcroy passou as trintas horas do dia ao lado de Amira — tanto no domínio quanto no mundo “real”, um dia tem 30 horas neste mundo; 15 horas de sol e 15 horas de lua.
O Emissário passou a estudar o comportamento da herdeira dos Nerai, mas notou que ela não era nada interessante. Além da força, Amira não era uma pessoa chamativa; passa metade do tempo sentada no quarto e sai raramente, principalmente quando seu pai ordenava que ela fosse assistir aos treinamentos.
Ainda assim, Amira sempre se recusou a treinar.
Seu poder não precisava de treinamento, era o que sempre alegava. Metcroy se interessou naquele momento.
Ele estava curioso, já que sabia dos poderes do pai de Amira. Croy havia presenciado a força de Amaitryra e a sua capacidade de limpar as estrelas do céu com um único corte. Mas… Sua filha não tinha sequer um físico digno de força, então, seu poder deveria ser algo mágico.
Quando menos esperava, ele entendeu o por quê.
— Não acha que deveria sair para respirar? — sugeriu Metcroy, escorado na parede do quarto de Amira.
A jovem, sentada em sua cama desgastada, respondeu:
— Cale a boca, não quero que fale comigo.
— Perdão. Mas não irei me calar. É que eu prefiro um ambiente aberto do que esse quarto cheio de mofo e… energia negativa.
— Cale a boca, vampiro imundo.
Metcroy arregalou os olhos.
Ela descobriu? Quando e como?
Vampiros não se alimentam de sangue.
Muito próximo disso; se alimentam da vida.
A energia que todos emanam, Metcroy se alimentava disso por toda sua vida. Pessoas puras tinham uma energia limpa e maravilhosa, mas, pessoas facínoras tinham a energia perfeita: densa, poderosa e, embora não fosse saudável, cheias de vida.
Ainda assim é importante manter um equilíbrio, até para vampiros. Metcroy estava prezando por ele; enquanto se alimentava da energia negativa de Amira, o Emissário de Bvoyna estava se alimentando da energia dos outros membros do complexo de Kov’s Nerai.
Amira com certeza havia percebido.
— Você é um idiota.
Ela segurou e pressionou os punhos.
— Não é o primeiro a querer me matar…
— Mas eu não quero — disse genuinamente. — Se eu quisesse, já teria feito. Acredite, eu não teria dificuldade.
Amira riu descrente e desconfortavelmente.
— Aham. Até parece…
O orgulho de Metcroy, obviamente, não iria deixar aquele insulto passar.
Certificando-se de que não tinha ninguém nos corredores, Metcroy esbanjou toda sua intenção assassina e aura pelo comodo.
Uma mancha negra e vermelha despencou nas costas de Amira, cobertos por raios azuis e distorcidos.
A única reação da Jovem Dama foi…
“O céu está despencando sobre mim?”
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