Capítulo 153 — O Céu de Prometeu (2)
Na manhã do dia seguinte, Amira ficou distante e nervosa ao entrar em contato com Metcroy. Ele era um verdadeiro monstro, e podia matá-la a qualquer hora.
Sinceramente, talvez nem sua feitiçaria antiga pudesse o afetar devido a imensa discrepância de poder entre eles.
Graças ao respeito que Metcroy ganhou através do medo, agora conseguia fazer a Jovem Dama frequentar qualquer lugar que ele desejasse. Inicialmente, eles assistiram a uma sessão de treinamento dos Lovkei.
Croy achou a sessão entediante; do tanto que escutou e presenciou das antigas gerações dos Lovkei’s, ele achou que seria algo espantoso. Mas não era. A elite do clã Nerai treinava como crianças aprendendo artes-marciais.
Por volta das oito da manhã, Croy convenceu Amira a se vestir formalmente e caminhar um pouco pelo complexo Kov’s Nerai. A garota atendeu sem sequer contrariar.
Após vestir um tradicional qipao preto com entalhes de rosas-vermelhas, eles saíram vagando pelas ruas comerciais.
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“A virtude é mais intensa que os pecados…”
Theo estava sentado no chão em posição de meditação. De olhos fechados, ele concentrou todos os pensamentos naquela única conclusão: O vazio pode ser forte, mas a paz é absoluta.
Ele conseguia, graças a uma ampla consciência de si próprio, limpar sua mente dos pensamentos intrusivos e “sombrios” de Liam.
Por agora entender de fato como ele pensava na vida passada, Theo conseguiu achar seu defeito, o motivo do incomodo, e estava trabalhando para limpar isso.
Theo mentiu para si com um pensamento benigno, enquanto seu próprio espirito era maligno. Ele entendeu o próprio erro, os próprios pecados, e deles trouxe sua virtude.
Sua essência estava gradualmente expondo-se ao mundo, sobrepondo todos os pensamentos humanos e se pondo além do que realmente era. Theo parou de pensar como se ele devesse existir para o mundo; o contrário deveria ser feito.
Assim como uma engrenagem que comanda seu sistema…
Theo deveria ser esse sistema. Ele já havia concluído isso com Luka, mas só agora percebeu que estava pronto para agir e viver desta forma.
Unicamente, sendo apenas ele, apenas um.
Durante os últimos dias ele esteve nesse estado e estava quase chegando a sua conclusão. Theo sentiu sua força e mente amadurecer, mas a complexidade de cada conceito o fazia descer dois degraus quando subia um.
— Theo. — Jeanne o acordou. — Está ocupado?
Ele abriu os olhos e bocejou — foi sua primeira reação.
— Nada que eu não possa fazer depois. Por quê?
— Quer dar uma saída?
Com a forma e postura que Jeanne o convidou, com sua guarda totalmente aberta e deixar as orelhas ficarem vermelhas, além de ofegar com o pedido, Theo não podia rejeitar.
Ele se levantou e vestiu seu sobretudo, que ganhara de Marelia como recompensa de ser general. Logo eles pegaram uma carona única de Kiescrone: o “Corta-Céu”.
Ligado a uma torre que somente a nobreza tinha acesso, cabos de força se conectavam com outras estações. Dezenas de bondes funcionavam simultaneamente pelos ares da capital.
Embora o mundo de Theo estivesse se adequando com o uso da eletricidade, aquela tecnologia era revolucionária; ainda mais pelo fato de não usar cristais arcanos.
Enquanto se locomoviam pelo ar, Theo parou para apreciar o reino de Kiescrone. Era belo, ainda que poluído.
A cidade era tão enorme que o horizonte parecia pertencer ao reino.
Theo se admirou à medida que o bonde seguia o trilho. Eles estavam lentamente saindo do topo daquele reino, onde ficava o castelo Zal, e se locomovendo para o fundo de uma enorme cratera, onde estava o complexo de Kov’s Nerai.
Kiescrone era composto por morros e imperfeições geológicas que, com o decorrer do desenvolvimento social, foram jogados de lado pelos humanos.
Eles transformaram todas as falhas em motivos para construir, então, a atual segunda maior capital daquele domínio, foi erguida por um aglomerado de subúrbios.
O complexo Kov’s Nerai poderia ser facilmente dito como uma cidade em um vale graças a cratera no centro de Kiescrone.
Theo notou o quão ingrime era o local, e até pensou que os trilhos iriam despencar a qualquer instante, mas não aconteceu.
Após Jeanne e seu novo general descerem do bonde, Javier e Selina os acompanharam.
Em um enorme pátio de piso branco e pilares ornamentais, onde apenas a nobreza tinha o direito de pisar, eles se encontraram.
— Nós iremos resolver um assunto importante — disse Jeanne.
— Ficaremos em duplas, então. — Javier analisou Selina dos pés à cabeça. — Eu irei obter informações sobre os Kov’s Nerai, e saber sua posição nesse conflito.
Theo assentiu e verificou se não havia ninguém pelas proximidades antes de cochichar:
— Seelie, verifique aquela pendencia com o Bispo.
Na reunião interna entre Selina e Marelia, a rainha de Kiescrone alegou que o Bispo da catedral, Jósia IV, podia estar ligado diretamente com os Emissários. Caso isso fosse verdade, o motivo do conflito iria se iniciar com a igreja.
— Sim, general Mason — concordou em tom de deboche.
— Vou te arrastar pelo chão. — Theo estreitou os olhos e uma veia quase saiu de sua testa.
— Talvez noutra vida.
O manto e mascara da lua banharam o corpo de Selina.
— Até breve.
Com um vulto preto desaparecendo sem deixar rastros, Javier, Theo e Jeanne caminharam normalmente até se separarem numa das principais ruas da zona comercial.
Inicialmente, Theo ficou feliz por que Jeanne estava interagindo bastante. Eles conversaram muito e puderam se aproximar, entretanto, assim que chegaram à zona de artefatos da região comercial dos Kov’s Nerai, a deusa Vanir se afundou em luxúria.
Theo passou o restante do dia emburrado enquanto era forçado a carregar as sacolas de Jeanne.
Quando estava em coma, Ivan e Antony viviam sussurrando para ele o quão exaustivo foi lidar com Aryna e Rebecca enquanto elas tentavam fazer compras.
Agora Theo estava lidando com isso, porém, diferente de Aryna e Beca que são camponesas, Jeanne tinha condições de comprar o mundo se desejasse.
Ele caminhou com uma cara de tacho durante mais de uma hora, até que Jeanne se irritou com o comportamento do acompanhante.
— Quer dizer algo? — Jeanne analisava uma pulseira na bancada.
— Você comprou um item para cada semana do ano…
— Quantas semanas tem no calendário de vocês?
— Entre sessenta e sete e sessenta e oito.
— Quantos itens eu comprei?
— Setenta. Olha só, ainda sobra.
Jeanne estalou a língua.
— Sabe para que servem, ingrato?
Theo parou quando Jeanne avançou para si, ele estendeu as sacolas e deixou que a princesa analisasse.
— Pois bem, esse possibilita aumentar os atributos exponencialmente. — Mostrou uma luva de pano. — Este aqui aumenta a liberação de energia, este os atributos elementares no geral e este a concentração.
Ela mostrou um anel, uma pulseira e, por fim, um colar.
— São para as legiões, não estou fazendo compras para mim.
— Ah, é? — disse num tom debochado.
Jeanne o encarou momentaneamente. Com Theo voltando seus braços para baixo, Jeanne o abraçou cruzando os braços na nuca do general.
— Quer que eu compre o que para ti?
Voluntariamente, eles aproximaram seus rostos. Ambos encararam os lábios um do outro e permaneceram em silêncio até Theo se manifestar.
— Nada.
— Está mentindo.
— Se quiser me pagar um lanche…
— Gosta de café gelado?
Theo arregalou os olhos.
Ela queria o ofender?
Jeanne o encarou de sobrancelhas arqueadas e um sorriso bobo no rosto.
— Ta me zoando? — Ele retrucou.
— Jeanne? — Amira chamou, parada na rua de pedras ao lado.
Theo e Jane estavam numa barraca que, embora de alta qualidade, tinha alguns itens expostos fora do prédio principal — aqueles itens eram os melhores.
Dois metros ao lado, quase subindo a calçada, Amira reconheceu Jeanne. Elas não se encontravam há três anos.
“Quem é esse cara?” Amira podia suar frio noutras ocasiões, mas a presença de Metcroy estava quase anulando a existência de Theo naquele momento.
Entretanto, os resquícios da aura de Theo cobriam o ambiente num lençol dourado que, com seu brilho reluzente, tornava toda atmosfera pesada e escura fora de seu alcance.
— Amira! — exclamou Jeanne, surpresa ao ver sua antiga amiga.
A princesa de Alsuhindr soltou Theo e caminhou pacificamente até a princesa do clã Nerai, enquanto Amira e Metcroy subiam a calçada.
— Há quanto tempo — disse Amira.
— Faz muitos anos, né?
Croy ficou em silêncio.
“Jeanne?”
A presença dela era de fato semelhante com a do imperador de Alsuhindr, embora fosse embaralhada com uma sensação estranha — Metcroy não sabia distinguir, mas era a força Vanir atuando em Jane. Ele não tinha certeza, mas achava que aquela era a princesa de Alsu.
— Seu novo namorado? Quem é?
Jane se virou para Theo.
— Este é meu novo General, Liam Mason.
— Um prazer em conhecê-la. — Theo curvou-se, entendendo as vestimentas nobres mestiça entre Hardian e a Zona Sul do Gran-Empire.
— Ah… Este é meu novo guarda pessoal, Metcroy.
Theo se espantou silenciosamente, mas tentou disfarçar. Ainda assim, Croy percebeu a ação do General.
— Cara, se o Metcroy souber o quão foda você é, cê tá lascado. — Disse Nik’Hael, enquanto eles vagavam perdidos pelo tempo.
— Metcroy? — indagou Theo.
— Um de meus irmãos mais velhos. O Emissário da Força… O segundo mais forte entre nós.
Theo engoliu em seco.
Tantas pessoas vagando pelas ruas ao lado daquele homem e não sabem quem ele é? O fato dos Emissários serem figuras públicas, porém secretas, incomodava Theo.
Ninguém jamais descobriu a identidade de um Emissário e saiu vivo — exceto Zemynder, mas que não adiantou por Noxis tem o poder de mudar de aparência.
“Não… Definitivamente não é um homem.” ponderou Theo, descendo a calçada.
— Como a princesa já disse, sou Metcroy, mas, sou o guarda pessoal do rei Pendaculos.
Croy estendeu a mão para Theo, e o General retribuiu o gesto.
“É…”
Theo suou frio, assim como Croy tomou distância com uma postura defensiva.
Suas auras colidiram numa realidade caótica e espiritual.
Por instinto, a alma de Liam substituiu a pintura dourada de Theo, apodrecendo a luz ofuscante com um vazio interminável, cujo podia competir com um céu caído.
“Ele é um monstro.” Theo afirmou.
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