Capítulo 10: Inútil
O coaxar do sapo ecoou nos ouvidos de Kenji como um anúncio surreal. Ao encarar a criatura — um sapo bípede, de olhos vivos e vestes improvisadas —, um sentimento de incredulidade se instalou em sua mente.
Ele piscou algumas vezes, tentando decidir se aquilo era real ou fruto de sua exaustão.
— Isso é um tipo de piada? — Indagou Kenji.
— Croac!
— Traga o melhor que você tiver, é uma ocasião especial! Obrigada!
O sapo se afastou soltando um longo CROAC — que, pela entonação, parecia mais uma reclamação mal-humorada do que uma resposta.
Kenji não fazia ideia do que aquilo significava, mas tinha quase certeza de que foi xingado.
— Aqueles outros portões que você viu, futuramente vão servir pra dividir a cidade em pequenas regiões para cada espécie — disse Isha.
— Vocês têm um trabalho e tanto por aqui. Não quero incomodar muito, já vi que não sou bem vindo.
— Você tem algum lugar pra onde ir?
— Por enquanto não, mas não se preocupe, eu gosto de viver viajando, sou acostumado a isso.
— Tem certeza?… você me parece perdido… Se você nos ajudar pode ficar o tempo que quiser, ninguém vai questionar sua estádia aqui.
“Se eu não precisar pegar mais nenhum item, talvez eu fique.”
— Você pode ajudar nas construções com os minotauros, coletar materiais com os lagartos ou me ajudar com recrutamento. Você pode escolher um deles ou todos, fica a seu critério.
Depois de uma pequena conversa, um cheiro inebriante exala no local, era o atendente sapo retornando com a comida em uma bandeja.
Devido a grande fome que Kenji estava sentindo, aquele cheiro o deixava extasiado.
Na bandeja tinha um prato com sopa e em outro prato um generoso pedaço de carne, o sapo põe ambos na mesa onde Isha e Kenji se encontravam e se retira coaxando mais uma vez.
— Obrigado pela comida! Engraçado que vocês estão começando a se erguer como cidade e já tem uma taverna. — disse Kenji.
Isha ri.
— Me diga Kenji, de onde você vem e como veio parar aqui?
Kenji se deliciava com o pedaço de carne diante dele. A fome era tamanha que ele dispensou os talheres, levando a comida à boca com as próprias mãos, sem se importar com etiquetas.
Estava tão concentrado em saciar seu estômago vazio que mal prestava atenção no que Isha dizia ao seu lado.
— Hã? De onde eu vim? Eu moro em Embercliff… meus pais moram lá. — respondeu Kenji.
— Você veio de longe, mas tenho certeza que não foi só pra comer numa taverna. Qual o seu objetivo?
— E-eu estou explorando, sem um rumo definido.
Kenji não queria voltar para todo aquele drama familiar, muito menos reviver as lembranças dolorosas sobre seu irmão.
Mesmo com um leve aperto no peito, preferiu mentir — era mais fácil esconder a dor do que encará-la de frente.
“Que estranho.” Pensou Isha.
— Sobre trabalhar aqui, não tem como, pois eu estou com minha perna machucada, eu tive uma luta muito intensa, então não dá pra ajudar nas construções.
Isha ri novamente, era como se Kenji tivesse contando uma piada.
— Meu pó de fada tinha te curado, não acredito que você andou até aqui sem perceber isso. — ela continua rindo. — Humanos são realmente divertidos!
Kenji engole seco, ele parou e pensou um pouco.
“A gente se conheceu… Pó mágico saiu dela… Andamos até aqui… E eu nem senti minha perna doer de novo.”
Kenji olha para a perna recém curada e não percebe nada estranho, ele ficou levemente confuso e acho aquilo muito instantâneo, tinha muita coisa sobre magia que ele não entendia.
Com isso, Kenji voltou a comer. Terminou a carne e passou para a sopa, que não parecia nada convidativa aos olhos — sua cor turva e o cheiro forte causariam desconfiança em qualquer um.
Mas a fome ainda apertava, então ele a tomou de uma vez, sem pensar muito.
— Estou satisfeito! Muito obrigado mesmo, eu nem sei como te agradecer!
O sapo retorna, recolhe os pratos e fica parado encarando Kenji como se esperasse algo.
— Croac!
— Eu continuo não entendendo o que ele quer dizer.
— Pague a comida seu imbecil, não pense que vai comer de graça! — o sapo exclamou, ele não só coaxava, como falava a língua humana também. Ele disse bem sério, parecia irritado.
Kenji se surpreende, mesmo o sapo tendo todas as características humanóides até aquele momento, ele só tinha falado coaxando, então ele não esperava ouvir o sapo falar algo além disso.
— Não se preocupe, ele vai pagar! — diz Isha sorrindo.
Na manhã seguinte.
— Agora que você está bem, você vai trabalhar com os minotauros, não é só porque você é meu convidado que vai ficar parado. Quando terminar hoje, amanhã tenho outra coisa pra você fazer. — diz Isha deixando Kenji ao lado dos minotauros, no meio de uma casa inacabada.
A tensão naquele ambiente era esmagadora para Kenji, todos os olhares estavam sobre ele, o garoto não sabia o que fazer, a não ser que alguém dissesse algo, aquele clima constrangedor não iria acabar.
“Cacete! Trabalho braçal, eu odeio trabalho braçal, se eu soubesse que ia fazer isso preferia voltar pra casa!”
— Vamos lá frutinhas, ao trabalho, hoje vai ser um dia cheio! — exclama um dos minotauros, ele parecia ser o chefe entre eles.
Mesmo não sabendo exatamente o que fazer, Kenji começa a observar os movimentos dos minotauros ali presentes e começa a imitá-los, não sabia se estava certo, mas aquilo pareceu melhor do que ficar parado.
De início tentou ajudar carregando algumas vigas de madeira, alguns blocos e o restante dos materiais necessários para construção.
Com um tempo ele lembrou de seu pai, o via constantemente fazer trabalho braçal como um hobby, agora ele estava sentindo na pele o que era aquele tipo de serviço, algo que ele não tinha tanta prática. Então seus movimentos eram desajeitados.
Um pequeno grupo de minotauros percebeu os movimentos do garoto e começaram a rir entre si.
— Um humano que não sabe trabalhar! Essa é nova. — o minotauro ri. — Espero que não nos atrapalhe, precisamos concluir isso pra ontem, e não vai ser um otário que irá nos atrasar.
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