No Calabouço

    — Quem é você? — indagou Yzael, encarando a face de Loky, que não se rebaixou a maioridade do caçador. 

    — Pensei que me conhecesse, sou Loky. Um caçador da Trupe de Elite do reino — respondeu.

    Yzael franziu suas sobrancelhas irritado e ergueu Loky pelo pescoço o sufocando. A tocha na mão do caçador caiu e se apagou, restando apenas escuridão e o brilho dos olhos do caçador furioso.

    — Porra… precisamos da sua ajuda cara — Tentou se soltar, mas Yzael era muito forte. Ele indagou para o caçador de elite:

    — Vocês me trouxeram pra cá, e agora estão vindo querer minha ajuda, que hipocrisia — respondeu.

    — Não… sou eu seu inimigo… eu vim te tirar daqui — falou salivando, quase sem ar.

    Yzael o soltou, o rapaz tossiu e respirou fundo várias vezes tentando recuperar o fôlego. — Você é ingênuo, porque então me vendo como um heroi só agora que o perigo bateu na bunda? 

    — Heroi? — falou Loky se levantando, massageando seu pescoço. — Eu não te vejo como um heroi, apenas como um justiceiro que sabe sujar as mãos com sangue. Qual foi cara, quer ficar aqui pra sempre? Tudo bem, mas depois não diga que eu não lhe dei chances de sair desse inferno.

    Loky caminhou em direção a saída, mas logo foi surpreendido. — Espere…

    Ele parou e olhou para trás. — O quê foi agora? — indagou impaciente.

    — Eu… ajudo vocês, mas em troca quero um favor.

    Curioso, ele perguntou:

    — Humm… qual?

    No Castelo do Reino

    Nyck estava repousando em um quarto médico, numa cama branca, coberto por uma coberta de lã marrom. Ele foi acordado pela luz do sol que passava pela fresta da cortina e ia em direção ao seu rosto.

    Ele abriu os olhos, olhando para os lados. Ele percebeu Mayane sentada em uma cadeira ao seu lado, lendo um livro. A mulher logo percebeu que Nyck despertou.

    — O-oi? Você está melhor? — indagou preocupada.

    Sua visão estava ainda turva, complicado discernir quem era. — Quem… é você? Não reconheço essa voz — falou.

    — Ah… — respondeu meio sem jeito. — Meu nome é Mayane, sou a irmã de Loky, conhece ele  né? 

    — Ah, Loky… sim eu conheço. Rapaz complicado — debochou com um sorriso.

    — É, ele é um pouco sim — riu.

    — A quanto tempo estou dormindo? — perguntou.

    — Não faz muito tempo, acho que uns vinte e cinco minutos — respondeu fechando seu livro e colocando por cima de um armário pequeno ao lado da cama.

    — Ah sim… nossa, eu to com uma dor de cabeça desgraçada — reclamou, colocando sua mão em sua testa. Ele relembrou dos momentos de trauma na batalha da vila do Sul.

    Sangue, morte e desespero junto às vozes dos seus aliados que morreram ao seu lado naquela terrível chacina, lembrando principalmente do olhar do dragão, perturbador.

    Ele tentou levantar seu tronco, mas foi surpreendido com uma dor forte em seu abdômen. — Porra! — gritou.

    Mayane logo foi socorrê-lo, colocando devagar ele de volta no travesseiro. — Você tem que descansar, eles já chamaram um especialista em cura para dar um jeito em seus ferimentos.

    — Eu… me lembro que eles estavam piores, quem curou o corte em minha barriga? — indagou.

    — Fui eu, desculpe se não ajudei muito, mas fiz o que pude.

    — Entendo, sua voz é tão doce, combina com uma curandeira. Obrigado, Mayane — falou.

    A mulher ficou sem entender, seu rosto ficou corado. Um bater de portas foi escutado do lado de fora do quarto, TUM TUM TUM TUM!!

    Era Alfred, ele entrou no quarto, vendo Mayane sentada ao lado de Nyck. — Quem é você? — perguntou curioso.

    — Ah, eu sou a irmã de Loky, eu trouxe ele pra cá, foi o que me ordenaram — respondeu.

    — Hum. Consegue dar licença por um momento? — ordenou.

    Mayane assentiu. — Claro, com licença — Caminhou para fora do quarto, fechando a porta.

    Alfred sentou na cadeira ao lado do caçador ferido. — Nyck, como está se sentindo?

    — Um pouco cego, Sr. Alfred.

    Os dois riram brevemente. — Entendo seu senso de humor mesmo neste instante delicado. Nyck, quero que me perdoe, fiquei sabendo sobre Aldyr e Finch, eu falhei em mandar apenas vocês quatro, deveria ter enviado uma tropa completa para ajudá-los.

    O peso da culpa estava sob as costas de Alfred, ele parecia estar segurando as lágrimas, mesmo que Nyck não pudesse enxergar completamente, ele percebeu a mudança brusca no tom de voz de seu General.

    — Eu… entendo sua culpa, Sr. Alfred. Mas mesmo uma tropa de ataque forte, o Dragão era muito poderoso, precisamos de artilharia de fogo pesada e ainda uma boa estratégia para conseguir ter alguma chance com ele.

    Alfred socou seus joelhos, se sentindo culpado. — Perdemos Aldyr, o melhor combatente da linha de frente do reino por desleixo, a missão foi um fracasso total. Me diz, você conseguiu notar alguma fraqueza no dragão no meio da batalha? Mesmo que seja mínima.

    — Não, não perce… — Tossiu. — Não percebi nada. Quando eu usei meu triunfo “Espada do Deus Thor”, achei que minhas esperanças tinham voltado à tona, mas parece que só usei em vão. 

    — Entendo… acho que precisamos nos prevenir logo contra esse monstro. Yorr já foi avisado sobre preparar a linha de ataque, ele comandará a primeira faixa de tropas. Aliás, onde está o Loky?

    — Ah, eu não sei, eu só me lembro dele quando ele me resgatou no meio da neve.

    Alfred respirou fundo, aparentemente estava meio irritado com o mago, mas manteve a calma. — Aquele cara sabe como nos atrasar…

    Enquanto isso no Calabouço…

    — Tá falando sério, quer libertar aquele velho também? — indagou Loky.

    — Aquele homem sabe muitas verdades sobre a elite do reino. Eu já falei, só lutarei ao lado do General se libertarem o velho. 

    — E quem é ele afinal? — perguntou.

    — Sou Edran Kathuryn — respondeu emergindo das sombras. — Tio de Yorr, o futuro general desse reino.

    O semblante mostrava o ser velho, mas com um olhar cerrado, querendo dizer muitas coisas naquele momento.

    Loky não demonstrou reação alguma. — Ok, o quê significa isso?

    — O velho Edran sabe de muitas coisas que, talvez muitos de vocês não saibam sobre Yorr.

    — Sabe que estamos falando neste momento de um assunto político muito sensível, não é? Se vocês soltarem nos ares os podres do Yorr, uma guerra civil muito provavelmente pode acontecer. E eu com certeza não irei defender ninguém nesse meio tempo.

    — Acho que você não entendeu, Loky — interrompeu Edran. — Não iremos divulgar ao povo de Reitz os males que Yorr possui sobre sua família e moradores. Iremos falar diretamente ao general.

    — Ok, e como farão isso? — perguntou Loky olhando para os dois.

    — Você será o mensageiro, Loky — respondeu Yzael.

    Seu rosto ficou pálido. — Ta zoando com a minha cara? 

    — O quê tem demais, está com medo das consequências? 

    — I-isso é loucura — engoliu seco. — Minha imagem… seria afetada.

    Yzael agarrou com força a gola dele. — Foda-se a sua imagem, você é só mais um dentre todos esses vermes da elite.

    — Droga… — ofegou. — Pra que lado estou indo não é mesmo? — Ele ergueu os dois braços, algo como “rendição”, de uma forma meio engraçada.

    40 minutos depois…

    Nyck já estava melhorando, um dos mordomos lhe entregou um chá para a dor se cabeça, que já era impossível senti-la após alguns goles. Ele estava de pé sem camisa, mas enfaixado na região do abdômen para melhor cura de seus ossos e órgãos. 

    Olhando para a janela de seu quarto, observando o sol desaparecer em meio às nuvens escuras. “Parece que irá chover. Já estamos no inverno?”, pensou.

    Ele olhou para a cama e encarou a roupa deixada pelo mordomo. Um sobretudo longo de veludo escuro junto a detalhes dourados nas mangas e na gola que é aberta até a linha do peitoral acompanhado com uma camisa cinza de tecido fino.

    “Quanta nobreza para um caçador como eu”, pensou sorrindo.

    Ele colocou aquela camisa e o sobretudo. Já tendo vestido a calça afivelada pelo cinto ornamentado com o símbolo R do reino de Reitz.

    Percebeu também uma carta no balcão deixada por Alfred. O rapaz pegou e abriu:

    “Nyck, ordenei que após descansar você usasse estas roupas devidamente formais para a batalha e estratégia de guerra. Ao se recuperar, se dirija ao saguão de Concílio. Ass: General Alfred”, — leu.

    O Concílio já estava acontecendo, mesmo com a ausência de Nyck. Yorr estava lá, inquieto, batendo os dedos sobre a mesa.

    Alfred estava apoiado com as mãos na testa, aguardando o guerreiro. A porta então se abriu devagar, Nyck havia chegado.

    — Já era hora — falou Yorr, já dormindo.

    — Me desculpem a demora. General, obrigado pela vestimenta, ficou muito boa — agradeceu, sentando-se à mesa.

    — Não precisa agradecer, Nyck. Mudando de assunto, trouxe vocês dois aqui para falarmos sobre a preparação das defesas da linha de ataque e defesa.

    Yorr contestou. — Não necessitamos disso, a minha frota já está preparada e armada para qualquer ataque.

    — Mesmo que isso seja um ponto positivo, não é como se enfrentaremos um dragão qualquer. Precisamos de força mágica de todos os Caçadores em atividade para combatê-los. Nyck, sabe onde anda Arthur?

    — Está no norte resolvendo problemas familiares, sua mãe faleceu e pelo que parece ele descobriu que foi traído pelo seu irmão, a briga tá feia por lá — respondeu.

    — Jesus, quando precisamos de um experiente a mais na nossa linha de frente, todos tiram tempos de férias — debochou Yorr.

    Alfred impaciente retrucou. — Yorr, você não sabe falar mais nada além de reclamações? Não se dirija-se a palavra em nenhum momento até não terminar essa reunião. 

    — Tsk…

    A feição de Yorr mudou, a raiva genuína em seu olhar mostrava sua indignidade com Alfred.

    — General, se me permite, pela força que eu pude perceber em meio a minha missão, o Dragão possui uma habilidade extremamente poderosa em criar barreiras de gelo.

    — Bom… já é um começo. Yorr, quero você na linha de frente, de olho a todo momento, e qualquer invasão ou mudança repentina do clima ou dos pássaros, seja lá qual for, notifique-nos imediatamente, entendeu?

    Yorr assentiu como um sim, sem prestar muita atenção nas palavras de Alfred. O general percebendo estreitou os olhos, não admitindo tal atitude.

    — Ok — falou. — A reunião está encerrada, podem ir aos seus aposentos.

    Nyck se levantou e logo se levantou e se retirou da sala, mas quando Yorr ia passar ao lado de Alfred, ele o segurou pelo braço. — Não tolerarei mais nenhum desrespeito aqui dentro de meu castelo, está entendendo? Que seja a última vez! — declarou com seriedade.

    Yorr com os olhos cerrados no general tirou seu braço com força  e continuou caminhando até a porta. — Foi o senhor quem disse para me manter calado.

    A porta se fechou, restando apenas Alfred no saguão. 

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