Capítulo 211: Cúpula dos Quatro Impérios [3]

“Hahahaha.”  

Risadas ecoavam pelo refeitório de Haven enquanto os membros do Império Aurora desfrutavam do banquete diante deles.  

Com diversas iguarias espalhadas pelas enormes mesas do refeitório, os cadetes estavam de bom humor.  

Era uma ocasião bastante animada, com muitos cadetes socializando entre si.  

“…..”  

Kaelion encarou a comida à sua frente.  

Era uma refeição suntuosa, e tudo parecia delicioso.  

E, no entanto,  

“…..Eu não gosto disso.”  

“Você não? Eu achei bastante bom.”  

À sua direita, um cadete de cabelos curtos pretos e olhos verdes falou enquanto apontava para a comida com um garfo.  

“Achei bem gostoso. Especialmente este prato. Já experimentou? Pensei que a comida seria ruim, mas está ótima. Por que não prova?”  

“…..Não é isso.”  

“Então…”  

O cadete pensou por um momento antes de murmurar:  

“Está pensando no intercâmbio anterior?”  

O rosto de Kaelion ficou tenso por um breve instante.  

Foi breve, mas o suficiente para Aiden perceber. Assim como Kaelion, ele era um dos poucos selecionados do Império Aurora para participar da Cúpula dos Quatro Impérios.  

Eles eram de Academias diferentes, mas se conheciam bem.  

“O que acha? Apesar de fracos, eles agiram com arrogância. Acha que é porque a Cúpula será em seu próprio Império?”  

“…..Sim.”  

Kaelion respondeu com um breve aceno.  

“Presidente, não precisa se preocupar tanto. A arrogância deles é compreensível. Como todos ao redor são inferiores, é natural que fiquem arrogantes. O que importa no final é a força.”  

“Exato.”  

“Então não deveria importar. Podem parecer confiantes por fora, mas não estão em um nível que deva nos preocupar. Se algo, devemos nos preocu—”  

“Não.”  

A voz de Kaelion saiu mais alta que o esperado, fazendo parte do barulho ao redor silenciar.  

“….Não é isso que me desagrada.”  

Naquele momento, todo o barulho cessou, e a atenção de todos estava em Kaelion, que se levantou de seu assento.  

“Eu odeio que, a cada Cúpula, tenhamos que perder tempo socializando com um Império que negligência tanto seus talentos. A ponto de até nossos delegados mais fracos poderem enfrentar seus melhores. Odeio que um Império assim seja o mais forte. Mas não é isso que realmente me irrita.”  

Kaelion olhou ao redor do refeitório, encontrando os olhares de todos os cadetes que comiam juntos.  

“O que me deixa furioso são vocês!”  

Sua voz ecoou alto por todo o refeitório.  

“Eu não lhes falei antes sobre o que aconteceu naquele ano na Cúpula dos Quatro Impérios?!”  

Alguns cadetes se encolheram sob seu grito enquanto seu olhar continuava a percorrer a sala.  

“Não estamos aqui para mostrar que nosso Império é superior ao deles? Para provar que somos muito mais fortes que eles!?”  

As costas de alguns cadetes se endireitaram.  

Havia algo em sua voz que trazia adrenalidade à mente de muitos presentes.  

“…..O fato de estarem aqui se divertindo é o que mais me irrita! Não estamos de férias. Estamos aqui para dominar completamente os representantes deste Império! Então se recomponham!!”  

Kaelion cerrou o punho.  

“Comam rápido e comecem a condicionar seus corpos! Não estamos aqui de férias! Vocês não foram escolhidos para isso! Entendem…?!”  

“Sim!”  

“Sim!”  

“Sim…!”  

Os cadetes gritaram em uníssono, voltando sua atenção para a comida e devorando-a rapidamente, a atitude descontraída e relaxada anterior desaparecendo completamente de seus rostos.  

‘Isso deve bastar.’  

Kaelion ficou satisfeito com a cena.  

“Nada mal.”  

E uma voz familiar logo chegou aos seus ouvidos.  

Virando-se em uma certa direção, o Professor Thornwhisper se aproximou com um sorriso no rosto.  

“Você disse tudo o que eu queria dizer. Talvez deva pensar em substituir meu cargo.”  

“…..Olá, Professor.”  

Kaelion cumprimentou o professor.  

“Mhm.”  

Acariciando a barba, o professor olhou ao redor, atraindo a atenção de todos os cadetes.  

Ele só começou a falar quando todos estavam atentos.  

“Kaelion está correto. Vocês não deveriam estar aqui achando que isso são férias. Estamos longe disso. Vocês estão aqui para representar sua nação na próxima Cúpula. É importante que estejam totalmente focados na tarefa em mãos.”  

“Sim, senhor!”  

O professor acenou ao ver que todos estavam na mesma página.  

“Eu teria que agir se não fosse o Kaelion fazendo isso por mim. Só porque é raro eles terem grandes talentos, não significa que seja impossível. Todos ouvimos o que aconteceu alguns anos atrás. Não quero repetir tal situação.”  

O professor balançou a cabeça, e os cadetes se levantaram ao mesmo tempo.  

“Pedimos desculpas, Professor!”  

“Pedimos desculpas, Professor!”  

“Pedimos desculpas, Professor!”  

Kaelion deu um passo à frente.  

“Eu também peço desculpas, professor. Não deveria ter esperado até todos estarem comendo para dizer isso.”  

“Não, você fez ótimo.”  

Com a voz mais suave, o professor olhou para Kaelion.  

“O fato de você ter identificado o cerne do problema mostra que amadureceu muito. Como esperado do representante principal da Cúpula deste ano.”  

Colocando a mão no ombro de Kaelion, o professor deu um tapinha.  

“…..Continue assim. Temos grandes expectativas para você e todos aqui.”  

“Assim o farei.”  

“Mhm.”  

O professor removeu a mão do ombro de Kaelion.  

“Fico feliz que entenda. De qualquer forma, o motivo de eu estar aqui é que consegui convencer seus representantes a fazer uma pequena exibição. Infelizmente, você não participará.”  

“Eu não…?”  

“Sim. Estamos guardando você para a Cúpula de verdade. Isso é só uma exibição. Não queremos exagerar.”  

“….Ah.”  

Kealion abaixou a cabeça e sorriu.  

“Farei como o professor planejou.”  

“Haha, isso é bom.”  

Slurp~  

Foi um certo som de alguém comendo que chamou a atenção de todos na sala.  

“Quem é…!?”  

Virando a cabeça rapidamente, Aiden, que estava ao lado de Kaelion e do professor, estava prestes a repreender o responsável pelo barulho quando parou.  

“Uh?”  

Ele não foi o único surpreso.  

No canto mais afastado do refeitório, uma pessoa desconhecida estava sentada, comendo sua tigela sem se importar com ninguém ao redor.  

Pelo uniforme que vestia, parecia ser de Haven.  

“O que está acontecendo?”  

Aiden estava confuso com a situação. O refeitório deveria ser seu espaço. Por que havia alguém de Haven ali?  

“Ei, você.”  

Chamando por ele, não obteve resposta. O cadete parecia absorto na comida de sua tigela.  

Pela forma como agia, era como se não tivesse comido em meses.  

Kaelion ficou ao lado, observando sem dizer uma palavra. Era difícil ler o que ele estava pensando.  

Apertando os dentes, Aiden olhou para o professor e depois para Kaelion antes de se aproximar do visitante inesperado.  

‘Como ele chegou aqui…?’  

Havia muitas perguntas que queria fazer, mas se conteve.  

Chegando atrás do cadete, colocou a mão em seu ombro e o puxou para trás.  

“Ei, estou falando com você. Está ouvindo?”  

“Slurp—uh?”  

Surpreso, o cadete virou o rosto, revelando seu rosto coberto pelos cabelos.  

Mas, mesmo assim, dava para ver que era alguém bonito.  

Foi então que ele notou Aiden.  

“Você é…?”  

A voz do cadete saiu rouca.  

“Quem sou eu? ….Heh.”  

Aiden riu um pouco e apontou para trás com a cabeça.  

“Que tal olhar ao redor? Está vendo algo?”  

Foi só então que o cadete percebeu o que estava acontecendo e soltou um pequeno som.  

“Oh.”  

Por trás da franja, ele piscou os olhos e se levantou.  

“Entendo. Parece que me intrometi em algo importante. Vou me retirar.”  

Pela forma como agia, parecia bastante submisso.  

Aiden o impediu antes que pudesse sair.  

“Espere um pouco. Quero saber quem você é primeiro. Eu—”  

Pinga…!  

Foi um certo som de líquido caindo que o interrompeu no meio da frase. Piscando os olhos, Aiden olhou para o cadete à sua frente com um pouco de choque antes de baixar os olhos para o chão, manchado por uma única gota.  

“Isso…”  

Aiden encarou o pequeno traço que escorria pelo rosto do cadete.  

“….Você não pode estar”  

Seus ombros começaram a tremer enquanto encarava o cadete.  

“Você está chorando?”  

O ambiente ficou um pouco barulhento quando os outros cadetes ouviram suas palavras. Eles também pareciam surpresos.  

Por outro lado, o professor ignorou a cena.  

Como não havia mal sendo feito, não havia necessidade de interferir. Ele também estava um pouco curioso sobre o cadete.  

Como ninguém percebeu sua presença até agora?  

Não era como se seu uniforme fosse remotamente parecido com o deles.  

“Ah…!”  

Como se percebesse o que acontecera, o cadete limpou as lágrimas.  

“Desculpe, isso tem acontecido muito ultimamente.”  

Ele coçou a lateral do rosto.  

“…..Acontece sem meu controle. Tenho sido uma bagunça recentemente.”  

“Uh, claro.”  

Aiden acenou e deixou pra lá.  

‘Quem você acha que está enganando…?’  

Mas, é claro, ele não comprou a desculpa.  

O mesmo valia para todos na sala. Kaelion incluso, que encarou o cadete por alguns segundos antes de balançar a cabeça.  

‘Decepcionante.’  

…..Quanto mais tempo passava nessa Academia, mais decepcionado ele ficava.  

O que aconteceu foi que o cadete veio parar ali por acidente e começou a chorar ao perceber que estava no lugar errado.  

Assim, ele se sentou e falou:  

“Deixe-o ir.”  

Aiden cutucou o cadete.  

“….Você ouviu.”  

“Ah, obrigado.”  

Coçando a nuca, o cadete abaixou a cabeça antes de sair do refeitório.  

O tempo todo, ele parecia um coelho assustado.  

Kaelion nem sequer olhou para ele quando saiu.  

Por outro lado, Aiden riu ao voltar para Kaelion.  

“Viu aquilo? É difícil levar suas palavras a sério quando vemos algo assim. É—”  

Pinga. Pinga…!  

Suas palavras foram abruptamente interrompidas por um certo som de líquido caindo.  

Era um som que ouvira minutos atrás, e ele congelou no lugar.  

Kaelion, que parara de prestar atenção, também pareceu notar algo estranho e virou-se para olhar Aiden.  

Seus olhos se abriram levemente diante da cena.  

Pinga. Pinga! Pinga…!  

“Uh, o que está acontecendo?”  

Segurando o próprio rosto, Aiden olhou ao redor, em pânico.  

“Por que, eu estou…? O-o que…!”  

Não importava o quanto tentasse, não conseguia parar.  

As lágrimas.  

Elas…  

Simplesmente continuavam a escorrer de seus olhos como um fluxo interminável.  

Encarnado a cena, Kaelion olhou para a entrada do refeitório.  

Ba… Baque! Ba… Baque!  

Por algum motivo, seu coração começou a bater mais rápido, enquanto uma sensação desconhecida apertava seu peito.  

….O quê?  

O que diabos estava acontecendo?