Capítulo 11 – Tumba do Imperador da Meia-Noite.
O céu estava limpo naquele dia, mas uma tensão invisível pairava sobre os campos de treino do Clã Baek. Os discípulos se reuniam ao redor da arena de terra batida, onde uma nova tempestade de talento estava prestes a se manifestar.
Yoo Tae-Min, agora com os cabelos brancos presos em um laço simples, seus olhos escarlates ardendo como brasa viva, subia lentamente até o centro do campo. Seu corpo, embora jovem, exalava uma aura afiada como uma lâmina, e os mais atentos notaram que havia algo diferente nele.
O jovem havia aberto três dos seus oito portões internos — algo que normalmente levaria anos para ser conquistado. Havia alcançado esse feito em apenas dois meses de treinamento com Baek Jin.
— “Yoo Tae-Min! Você vai lutar contra três discípulos do Ancião Wu Ren! Prepare-se!” — gritou um dos juízes da arena.
Os murmúrios aumentaram. Os discípulos do Ancião Wu Ren eram todos mais velhos, com pelo menos dois anos a mais que Tae-Min. Um deles já havia aberto dois portões internos.
Tae-Min apenas respirou fundo. Quando abriu os olhos, o vermelho escarlate brilhou como fogo líquido. Em sua mente, as lembranças voltavam com força: o sangue da sua mãe nos campos de arroz, os gritos da irmã sendo arrastada por homens rindo…
“Eu não sou mais aquele garoto indefeso.”
Ele assumiu uma postura baixa, firme, como se fundido ao chão. O primeiro oponente avançou como uma besta. Tae-Min girou o corpo, desviando, e desferiu um golpe direto ao abdômen. O impacto jogou o inimigo a cinco metros de distância, onde caiu inconsciente.
— “Isso… Isso foi o ‘Passo Sombrio’!?” — murmurou um dos observadores.
O segundo oponente hesitou, mas tentou uma investida lateral. Tae-Min fechou os olhos por uma fração de segundo. Quando os abriu, sua aura explodiu — um manto flamejante e vermelho dançava ao redor de seu corpo.
— “Você está cortejando a morte.” — disse ele com frieza, antes de desaparecer e reaparecer atrás do inimigo.
Um chute seco na nuca foi o suficiente para apagar o segundo adversário.
O terceiro discípulo tremia. Mesmo assim, avançou com um rugido desesperado. Tae-Min ergueu a palma da mão.
— “Mil Lâminas da Tempestade, Versão Incompleta.”
Da palma de sua mão, dezenas de lâminas espirituais feitas de Qi cortante dispararam como pétalas vermelhas. O adversário caiu ajoelhado antes mesmo de ser atingido.
— “Eu… Eu vi o Monte Tai mas não o reconheci… Eu estava errado…” — sussurrou ele, antes de desmaiar de medo.
Os gritos começaram.
— “Quem é esse garoto?”
— “Três discípulos em menos de um minuto!?”
— “Isso… Isso é impossível!”
Mas os olhos mais atentos não estavam voltados para Tae-Min. Estavam fixos no homem que o observava em silêncio, de braços cruzados à sombra de uma árvore de folhas douradas.
Baek Jin.
O silêncio ao redor dele era quase sagrado. Seus cabelos longos, antes totalmente cinzas, agora tinham um tom mais escuro, quase negro, como se a vitalidade estivesse retornando ao seu corpo. Sua aparência física havia mudado. O homem que parecia ter sessenta anos agora aparentava ter quarenta e cinco, talvez menos.
A barba longa estava mais aparada, seu rosto mais firme. O olhar, porém, mantinha a mesma profundidade de mil vidas vividas.
— “Aquele… é o Ancião Baek Jin?” — perguntou um discípulo, pasmo.
— “Ele… rejuveneceu de novo?!”
— “Que tipo de cultivo ele está praticando?! Isso é contra as leis do mundo!”
Os anciãos nas arquibancadas trocavam olhares silenciosos. Alguns suavam. Um deles, o Ancião Mo Yuan, um Guerreiro Marcial de nível avançado, limpou discretamente a testa.
— “Essa… Essa aura… Está ainda mais profunda do que há algumas semanas…”
— “Dragões Escondidos e Tigres Agachados…” — sussurrou outro. — “O verdadeiro talento nunca se mostra até ser tarde demais.”
O Patriarca Baek Mu-Hwan observava de longe, com um sorriso gentil e olhos serenos. Como se dissesse ao mundo sem palavras: Eu sabia desde o começo.
Baek Jin permaneceu em silêncio, sem sorrir ou demonstrar arrogância. Apenas observava. Internamente, seus pensamentos eram como facas afiadas.
“Ele ainda é instável… o poder dele é cru, e falta precisão. Mas o instinto assassino está no lugar certo. Yoo Tae-Min… você será útil.”
Tae-Min caminhou em sua direção após a vitória. Parou a três passos e se ajoelhou, o punho direito fechado contra o peito.
— “Mestre. Venci.”
Baek Jin assentiu levemente.
— “Levante-se. A batalha de hoje não foi o fim. Foi o começo.”
Enquanto o sol se punha no horizonte, banhando o campo de treino em tons de dourado e escarlate, todos os olhares estavam voltados para a dupla que, mesmo em silêncio, dominava o clã Baek com sua presença.
Naquele momento, os céus pareciam sussurrar:
“A chama de Yoo Tae-Min e a sombra de Baek Jin incendiarão este mundo.”
…
Pátio de Missões do Clã Baek
A névoa da manhã rastejava lentamente pelos corredores de pedra do Clã Baek. Era um daqueles dias em que o silêncio parecia mais denso do que o habitual, como se o próprio ar aguardasse algo. O pátio das missões, onde dezenas de discípulos se reuniam para buscar tarefas rotineiras, permanecia tranquilo — até que os passos de Baek Jin ecoaram pela madeira envernizada do piso, fazendo todos ali se calarem.
Vestido com seus mantos negros de ancião, o homem de expressão serena e olhos afiados como o fio de uma lâmina andava calmamente entre os murais. Seus cabelos, agora mais escuros e densos do que semanas atrás, balançavam suavemente sob a brisa da manhã. Os olhos de muitos discípulos o seguiam com reverência e medo.
— “O Ancião Baek Jin… ele está pegando uma missão?” — murmurou um jovem discípulo, espantado.
— “Anciãos não são obrigados a isso…”
— “Talvez ele esteja testando o discípulo que o acompanha…”
E de fato, atrás dele, em silêncio absoluto, vinha Yoo Tae-Min.
Seus cabelos brancos estavam amarrados com um laço de couro simples, e seus olhos escarlates eram inabaláveis, frios, como se pudessem perfurar o próprio tempo. Os três portões internos abertos em tão pouco tempo deixavam claro que aquele garoto não era um talento comum — ele era uma tempestade aguardando para acontecer.
Baek Jin parou diante de uma das missões de nível médio, escrita em uma placa de jade polida.
Perigo: Presença suspeita de bandidos armados ou bestas espirituais de baixo nível.
Recompensa: 200 pontos de contribuição.
O ancião leu em silêncio, seus olhos se estreitando por um breve instante. Em termos de poder, era algo que ele poderia resolver com um aceno de mão. Mas ele não estava ali por si mesmo.
Ele estava ali por Tae-Min.
— “Vamos.” — disse com a voz baixa, recolhendo a placa com um gesto leve da mão.
Os dois partiram sem alarde, deixando para trás discípulos em choque e anciãos com olhos semicerrados, tentando decifrar os propósitos de Baek Jin. Mas ninguém ousou impedi-lo.
A estrada que levava ao desfiladeiro era cercada por árvores antigas, de troncos retorcidos e galhos cobertos de líquen. As folhas dançavam ao vento como se fossem segredos sussurrando em línguas mortas. Tae-Min andava um passo atrás de seu mestre, mas após algum tempo, quebrou o silêncio.
— “Mestre.” — sua voz era baixa, porém firme. — “Por que me aceitou como discípulo?”
Baek Jin não respondeu imediatamente. Continuou andando, os olhos fixos na trilha.
— “Porque você carrega uma fúria que não queima apenas o inimigo, mas também a si mesmo.” — disse enfim. — “Quero ver até onde você irá antes de ser consumido.”
Tae-Min ficou em silêncio. O vento soprou, frio e cortante. Ele apertou os punhos, os olhos voltados para o horizonte. Então falou, com um tom mais pesado, como quem arranca a carne para mostrar os ossos.
— “Minha aldeia era pequena. Camponeses. Não tínhamos muito… mas vivíamos em paz. Um dia, bandidos chegaram. Eles sorriram enquanto matavam. Sorriram enquanto estupravam.”
Baek Jin parou de andar.
— “Vi minha irmã sendo levada, com apenas doze anos. Vi minha mãe implorar… e depois ser jogada como um animal morto.”
As palavras vieram cruas, afiadas como navalhas.
— “Eu me escondi. Ajoelhado na lama. Ouvindo os gritos. Sentindo o cheiro de sangue, de fumaça, de fezes. Quando saí do esconderijo, não havia mais ninguém. Apenas pedaços.”
Baek Jin se virou. Olhou nos olhos escarlates do garoto. Neles não havia lágrimas — havia um vazio do qual o próprio céu teria medo.
O ancião deu um passo à frente, e então colocou a mão no ombro do jovem. Sua voz veio baixa, mas carregada com a firmeza de um juramento:
— “Se é poder que você deseja, Tae-Min… Eu te darei poder.”
O garoto arregalou levemente os olhos. O toque do mestre não era gentil. Era como se uma espada tocasse sua pele, cortando o destino em novas linhas.
— “E quando este mundo terminar de cuspir sua podridão, e os corpos dos malditos forem enterrados…” — continuou Baek Jin — “Estarei com você.”
A brisa parou. O som da floresta cessou. Apenas aqueles dois pareciam existir naquele momento, presos em um laço que transcendia mestre e discípulo.
Tae-Min fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. Quando os abriu, algo dentro dele parecia mais sólido, mais decidido.
— “Eu não serei um cão que apenas late pela justiça.” — disse. — “Serei a lâmina que corta a garganta da injustiça.”
Baek Jin sorriu, por dentro. Não externou.
— “Então afie sua lâmina, Tae-Min. Pois a próxima batalha será real. E nela… sangue manchará a terra.”
E com essas palavras, os dois seguiram adiante, caminhando lado a lado como sombras vivas. Atrás deles, as folhas da floresta tremiam, como se até mesmo a natureza reconhecesse o nascimento de algo inevitável:
Um mestre e seu discípulo.
Forjados em ódio.
E o mundo…
…jamais seria o mesmo.
…
A neve adensava-se nas margens do caminho, comprimida pelas pegadas geladas deixadas por décadas de caravanas. Mas hoje, o caminho estava quieto. Silencioso demais. O Desfiladeiro das Neves Cortantes não fazia jus ao nome apenas por sua paisagem — o frio aqui cortava até os ossos da alma.
Baek Jin se ajoelhou lentamente, os dedos finos tocando o solo.
Pegadas.
Mas não de animais espirituais. Eram marcas de botas. Passos erráticos, pressionados. Algumas mais profundas. Outras disfarçadas por galhos partidos e neve espalhada com descuido.
— “Essas pegadas…” — murmurou o ancião, seus olhos estreitando-se. — “Não são de viajantes. São de emboscadores.”
Atrás dele, Yoo Tae-Min observava em silêncio. Os olhos escarlates varriam o terreno como lâminas. Suas mãos já estavam próximas ao cabo de sua espada curta.
— “Bandidos?” — perguntou com voz baixa, como se temesse que o próprio vento escutasse.
Baek Jin assentiu lentamente, mas seus olhos estavam fixos em algo mais. Um círculo de pegadas afundava no solo mais à frente — como se dezenas de homens tivessem se reunido naquele ponto.
— “Sim… mas não são meros bandidos. Há planejamento aqui.” — murmurou.
Quando avançaram alguns passos, o solo cedeu com um estalo seco.
— “Tae-Min, recu—!”
Antes que a ordem se completasse, ambos foram engolidos pela terra. A neve e o solo desabaram em um vórtice silencioso e mortal.
O impacto foi surdo, abafado pela estrutura abaixo.
Um silêncio de morte dominou o ambiente… até que o som da neve sendo removida revelou uma câmara antiga, envolta em energia espiritual densa e opressora.
— “Você está bem?” — perguntou Baek Jin, retirando detritos de seu ombro.
— “Sim…” — respondeu Tae-Min, de pé já com a espada em mãos. — “Mestre… onde estamos?”
Baek Jin olhou ao redor, os olhos se arregalando levemente. Seu coração, por um segundo, acelerou. A arquitetura antiga, os pilares gravados com runas, os brasões empoeirados… tudo aquilo não era estranho.
— “Uma Tumba de Legado…” — murmurou ele. — “Mas essa… essa é diferente.”
A câmara era vasta, com centenas de metros de largura. As tochas acesas por alguma formação espiritual desconhecida lançavam uma luz azulada que projetava sombras dançantes nas paredes. E então, diante deles, havia algo que até mesmo Baek Jin não esperava.
Tesouros.
Caixas inteiras de moedas de ferro negro, metal raro que servia como moeda antiga de cultivadores do Reino Estelar. Centenas de espadas, lanças, sabres, armaduras e mantos espirituais, empilhados com cuidado. Artefatos que possuíam formações místicas em seus núcleos ainda pulsavam fracos com energia residual.
— “Tudo isso estava… escondido aqui o tempo todo?” — Tae-Min avançou lentamente, os olhos arregalados.
— “Esses itens são antigos… muito antigos.” — Baek Jin tocou uma armadura com inscrições em espiral. — “Esse tipo de forja foi perdido há centenas de anos.”
O garoto caiu de joelhos diante de um baú cheio de moedas, passando os dedos entre o ferro negro.
— “É uma fortuna.”
Baek Jin, no entanto, não parecia focado nos artefatos.
Seus olhos estavam voltados para um altar de pedra negra no centro da tumba. Em cima dele, envolto por uma formação que se desfazia lentamente, havia um pergaminho negro, coberto de poeira, mas emanando uma energia tão poderosa que o ar ao redor parecia distorcido.
Ele caminhou até lá.
Ao tocar o pergaminho, a energia se agitou violentamente, como se tentasse julgá-lo — como se fosse uma entidade viva testando o invasor.
Mas Baek Jin não recuou. Seus olhos se estreitaram.
— “Uma… Técnica Suprema?” — murmurou. — “Não… é mais que isso. Isso é…”
Ele desdobrou lentamente o pergaminho, e as runas dançaram na superfície do papel antigo. Mesmo sem ativar o Qi, a energia espiritual em torno de Baek Jin se agitou, formando um vórtice tênue ao seu redor.
O título resplandeceu.
Tae-Min se aproximou, sentindo sua pele arrepiar.
— “O que é isso… mestre?”
Baek Jin leu os caracteres com uma lentidão quase reverente. Sua voz era baixa, mas firme:
— “Uma técnica proibida… criada por um cultivador do Reino Celestial há mil anos. O Imperador da Meia-Noite. Dizem que ele selou nove céus com as mãos nuas e destruiu três seitas com uma única técnica.”
Os olhos de Tae-Min brilharam com espanto. Ele se ajoelhou sem pensar, encarando o pergaminho.
Baek Jin continuou, com olhos vidrados:
— “Essa técnica possui três níveis principais. Mas o mais assustador… são suas habilidades ocultas. Três delas. Seladas. Uma técnica que nem mesmo a alma pode compreender sem estar pronta.”
Ele tocou o pergaminho com ambas as mãos. Uma sensação de queimadura atravessou seus dedos. Mas ele não se importava.
— “Essa… é a primeira Técnica Suprema que encontrei. E será o alicerce para nos elevar… além dos céus.”
Tae-Min permaneceu ajoelhado.
— “Eu vou dominar essa técnica, mestre?”
Baek Jin não respondeu imediatamente. Ele observou o garoto em silêncio, medindo suas palavras. Então, falou com solenidade:
— “Você a herdará. Mas não agora. Uma Técnica Suprema exige uma alma forjada. Se tentar cultivá-la cedo demais, o próprio céu pode te rejeitar.”
— “Mas…” — Tae-Min apertou os punhos. — “Um dia, ela será minha?”
Baek Jin assentiu lentamente.
— “Quando seus oito portões estiverem abertos. Quando sua alma não tremer diante de nenhum inimigo. Quando o mundo reconhecer sua sede por justiça… e vingança.”
Tae-Min abaixou a cabeça.
— “Então eu farei o mundo me reconhecer.”
Baek Jin sorriu discretamente.
As engrenagens haviam começado a girar.
A tumba não era um fim — era o começo.
Na escuridão profunda do Desfiladeiro das Neves Cortantes, duas presenças deixaram o subsolo mais pesadas do que entraram.
O mestre segurando uma técnica capaz de desafiar os próprios céus.
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