Índice de Capítulo

    Colin viu a mudança nos olhos de Morwyna.

    “A aura dela… é completamente diferente agora, até a mana mudou.”

    Woosh!

    Ela se afastou com um movimento ágil, quase dançante, e ele percebeu que ela estava adotando um estilo de luta completamente diferente.

    As placas de terra foram substituídas por um brilho incandescente que envolveu suas mãos e pés.

    Morwyna agora canalizava o fogo, e fez movimentos estranhos, movimentos fluidos e imprevisíveis como os de um macaco.

    Colin não teve tempo de ponderar a mudança.

    Morwyna se lançou à frente, suas pernas movendo-se em arcos amplos e rápidos. Ela desferiu um chute circular que foi como uma chicotada de fogo, e Colin teve que saltar para trás para evitar o impacto.

    Morwyna sorriu.

    — Esperava mais de você, Colin de Runyra! — provocou. — Tem tanto medo assim de mulher para ficar fugindo como um ratinho?

    “Ela está diferente. Não apenas seus movimentos, sua personalidade também mudaram.”

    — Você ainda não viu nada — respondeu ele, concentrando mais mana elétrica em seus punhos.

    Morwyna avançou novamente, desta vez girando no ar, suas pernas traçando padrões complexos enquanto lançava chutes e golpes com uma precisão assustadora.

    Colin bloqueava e desviava, mas cada impacto deixava marcas de queimadura em sua pele, o que era impressionante.

    “As chamas dela… elas queimam como as chamas de Safira! Melhor tomar cuidado!”

    Com um salto acrobático, Morwyna girou no ar e desferiu um chute descendente. Colin ergueu os braços para bloquear, mas a força do impacto o fez recuar alguns passos.

    Baaam!

    “Que chute pesado!”

    Antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio, ela estava sobre ele novamente, suas mãos envoltas em chamas enquanto desferia socos rápidos.

    Colin desviou para o lado, agarrando o pulso dela em um movimento rápido e torcendo-o. Ele a puxou para perto e desferiu um soco direto em seu estômago, a eletricidade crepitando com o impacto.

    — Merda!

    “Forte como sempre, grandão.”

    Morwyna gemeu de dor, mas não recuou. Com um movimento rápido, ela girou o corpo e desferiu um chute giratório que acertou a lateral da cabeça de Colin, fazendo-o cambalear.

    Bam!

    — É assim que você quer lutar? — ela riu. — Vamos lá, querido, não precisa pegar leve comigo!

    Ele limpou o sangue do canto dos lábios.

    “Mesmo estando diferente, ela ainda é a Morwyna, certo? Essa… entidade que a possuiu não é como aquela que a possuiu quando enfrentou o tio. Na verdade, acho que ela parece estar sob total controle, só não percebeu ainda. Seus golpes estão bem mais pesados também. Muito bem, hora de elevar o nível!”

    Colin avançou novamente, ignorando a dor e o calor.

    Woosh! Bam! Bam!

    Ele desferiu uma série de socos e chutes. Morwyna se movia com a graça de uma dançarina, esquivando-se e contra-atacando com chutes e golpes acrobáticos.

    Ela usava o fogo para aumentar a intensidade de seus ataques, fusão de poder e elegância.

    Woosh!

    Ela girou no ar mais uma vez, suas pernas movendo-se em um arco gracioso enquanto desferia um chute que lembrava a capoeira.

    Bam!

    Colin bloqueou com dificuldade, sentindo o calor queimando sua pele. Antes que ele pudesse reagir, ela seguiu com uma série de golpes rápidos, seus punhos envoltos em chamas acertando seu corpo como marteladas.

    Punch! Punch! Punch!

    Colin sentiu os impactos, mas cada golpe parecia alimentar sua sede.

    — Esse sorriso na sua cara — disse ele em meio a rajada de golpes. — Está mesmo se divertindo, né?

    — Você não está, querido? — Ela avançou, seus punhos queimando.

    Cada soco que ele desferia era uma explosão de raios, cada chute um trovão. Morwyna bloqueava e desviava, mas ele estava começando a ganhar terreno.

    Ela sentiu a pressão aumentar e girou para trás, ofegante, e lançou uma torrente de fogo que envolveu Colin.

    Ele atravessou as chamas, sua pele queimando, mas sua determinação intacta e desferiu um soco poderoso que acertou o peito de Morwyna, quebrando sua defesa e lançando-a para trás.

    Cabrum!

    Morwyna capotou alguns metros e ergueu-se, derrapando.

    — É assim que eu quero que meu marido seja — ela murmurou, limpando sangue dos lábios. — Forte e determinado, mas ainda tenho impressão de que está pegando leve comigo.

    — Pegando leve?

    Morwyna se preparou e avançou, suas mãos envoltas em fogo. Ela desferiu um soco direto, mas Colin desviou e agarrou seu braço, torcendo-o.

    Com um movimento fluido, ele a puxou para perto e desferiu uma joelhada em seu estômago, a eletricidade crepitando com o impacto.

    Cabrum!

    — Merda! — Ela gritou de dor, mas não cedeu.

    Eles estavam cara a cara, ofegantes.  

    — Anda logo, querido, você ainda não venceu.

    Colin segurou seu punho com força.

    Morwyna o olhou nos olhos, uma mistura de dor e determinação em seu olhar.

    — Prefere mais agressivo, né? — ela murmurou, seu pulso escapou e seus dedos se entrelaçaram com os dele enquanto disputavam força. — Eu também!

    — Você ficou bem tagarela.

    — Que foi, vai dizer que não faço seu tipo agora?

    Eles ficaram assim por um momento, mas Colin resolveu levar um pouco mais a sério e empurrou Morwyna para trás, lançando-a no chão.

    Ela abriu um sorriso sedutor, encarando ele que estava em cima dela.

    — Eu desisto, grandão, pode pegar o seu prêmio — disse num tom sedutor.

    Sorrindo de canto, ele ergueu, estendendo a mão a ela, ajudando-a a se levantar também.

    — Como se sente? — ele perguntou.

    — Bem, eu acho, mas com um pouco de calor. — Ela deu um tapa na bunda dele. — Mandou bem, eu nunca tive dúvidas sobre você, e agora qual será o nosso próximo passo?

    “É… ela está bem diferente, essa confiança toda não é característica dela.”

    — Podemos treinar mais um pouco antes de desfazermos a dimensão.

    Ela suspirou, assoprando uma mecha de cabelo frente ao rosto.

    — Treinar? Já estamos nisso há bastante tempo. — Ela abriu um sorriso sedutor. — Quer tomar banho comigo?

    Foi a vez de ele suspirar.

    — Vamos voltar.

    — O que foi? — ela provocou. — Sou sua agora, esqueceu? Fizemos um pacto. Vai ficar com a consciência pesada agora só porque não sou sua esposa? Aposto que já viu outras mulheres nuas que não fossem suas esposas.

    — Falaremos disso quando você voltar ao normal.

    Ela deu de ombros. — Você quem sabe. A propósito, é uma bela dimensão simulada. Vovô sempre disse que só usuários de magia com um excelente controle de mana conseguem criar, meus parabéns.

    A dimensão começou a queimar, desfazendo-se em cinzas. Em instantes, eles estavam de volta ao quarto.

    Morwyna se abraçou, esfregando os braços.

    — Merda! — exclamou. — Esse frio é de roer os ossos, como pode estar normal debaixo desse gelo?

    — Não sinto tanto frio nem tanto calor.

    — É, eu estou vendo. Vem, vamos logo para as fontes termais ou algo assim.

    Ele estreitou os olhos.

    — O quê? Prometo que não vou tentar nada — ela deu uma piscadela.

    Colin coçou a nuca. — Tá…


    A água quente brotava das pedras, criando uma atmosfera relaxante e convidativa. O vapor subia em espirais, envoltos em uma névoa suave que embaçava tudo.

    Morwyna imediatamente entrou na água, soltando um suspiro de alívio enquanto o calor a envolvia. Ela nadou até o centro da piscina natural, os cabelos molhados grudando em seu rosto. Colin, mais cauteloso, entrou na água lentamente, deixando o calor penetrar em seus músculos cansados.

    — Isso é muito melhor — disse Morwyna, fechando os olhos e relaxando. Depois de um momento, ela abriu os olhos e olhou para Colin. — Sabe, já pensei nos nomes dos nossos filhos.

    Colin arqueou uma sobrancelha, surpreso pela declaração.

    “Tsc… Ela ficará assim até quando?”

    — É mesmo? E quais seriam?

    — Bem — ela começou, nadando até ficar mais perto dele, — Se for um menino, pensei em Dregvic. E se for uma menina, que tal Renilla?

    Ele sorriu, sacudindo a cabeça. — Você já está planejando isso?

    — Claro — disse ela com um sorriso travesso. — Eu sempre planejo com antecedência.

    Morwyna nadou de um lado para o outro na fonte termal, suas mãos criando pequenas ondulações na água. Ela parecia estar se divertindo.

    — Então, me diga — ela continuou. — Sou mais bonita que suas esposas?

    — Quer tornar isso uma competição?

    — Ah, claro que não — disse ela, revirando os olhos. — Mas eu só estou curiosa. Você tem que admitir, sou pelo menos mais interessante, não?

    Ele suspirou.

    — Elas são diferentes, e eu prefiro assim.

    Ela sorriu, satisfeita com a resposta, mas continuou a provocá-lo.

    — E você acha que nossa magia é compatível? Quero dizer, seus raios e meu fogo, água e terra. Podemos criar algo incrível juntos.

    — Talvez — respondeu sucintamente.

    Morwyna nadou até ele, ficando perigosamente perto. — Você sempre é tão sério, Colin. Relaxe um pouco. Aproveite o momento.

    — Eu tento, mas você não facilita.

    — Ah, é? — ela sorriu, inclinando-se para mais perto. — Talvez eu precise tentar mais.

    Antes que ele pudesse responder, ela se afastou de repente, nadando para o outro lado da fonte termal.

    — Mas falando sério — disse ela, mais calma agora. — O que você realmente quer, Colin?

    Ele ficou em silêncio, contemplando a pergunta. — Encontrar um equilíbrio, eu acho… talvez me sentir satisfeito.

    Ela estreitou a vista.

    — É por isso que é um conquistador?

    — Não. Essas pessoas precisam de mim, assim como os Elfos do mar. Já conheci muita gente forte, Morwyna, elas costumam se preocupar com elas mesmas, e essa vida não é minha.

    Ela arqueou uma sobrancelha.

    — Não é sua?

    — Era para eu estar morto. A mulher que me deu à luz… se condenou para me salvar, e minha mãe era doce, gentil… só faço o que acho que ela faria, mas do meu jeito.

    — Entendi… você ainda é alguém que não consigo entender por completo, e isso é bom. — Ela abriu um sorriso sedutor. — Acho que nunca vou me cansar de você.


    Colin estava sentado na beira da cama, os olhos fixos no medalhão aberto em sua mão. Do lado esquerdo estava a foto das crianças junto com os falecidos Potter e Deb.

    Do outro lado estava a foto de sua família atual, junto a suas esposas e filhos. Ele já estava longe de casa fazia bastante tempo.

    Diferente do plano astral onde suas necessidades fisiológicas haviam parado no tempo, ali, no subterrâneo, ele já sentiu fome, frio, dor. Era um ambiente que tudo passava rápido, até mesmo as emoções.

    O que prevalecia era a saudade, um sentimento que Colin nunca sentiu com frequência.

    Saudade das gargalhadas das crianças, de ficar horas tentando fazer os pequenos dormir, das provocações de Jane, até mesmo do caos de uma mesa de jantar com todos eles reunidos.

    Ele resolveu fazer um desvio do Norte até Rontes do Sul, mas seus planos deram incrivelmente errado. Ele queria que levasse alguns dias, mas já faziam semanas e sem previsão concreta de volta.

    Morwyna dormia ao seu lado, os cabelos negros espalhados sobre o travesseiro. Ele encarou seu rosto, suas pernas expostas, seu corpo.

    “Preciso sair daqui.”

    Ele se ergueu, sentindo os músculos rígidos.

    O tempo no subterrâneo era uma confusão; não havia janelas, e a escuridão constante impossibilitava distinguir entre noite e dia.

    Com um suspiro, ele saiu da choupana, a luz fraca filtrando-se pelas frestas.

    O Elfo do Mar, líder da equipe que o trouxe ao vilarejo, caminhou em direção a Colin, seus passos silenciosos como os de assassino.

    Em suas mãos, ele segurava uma bússola antiga, cuja agulha dançava inquieta sob o vidro rachado.

    — Não esperava encontrá-lo aqui fora — disse ele, estendendo o objeto para Colin.

    Colin aceitou a bússola, seus dedos roçando brevemente os do Elfo. — É que tô sem sono.

    — Sei… senhor, o que vocês farão quando chegarem a Gheskou?

    — Quero voltar pra casa — confessou Colin. — Sinto falta do sol aquecendo minha pele, do calor da minha família.

    O Elfo estudou Colin por um instante, seus olhos refletindo uma surpresa ponderada.

    — Você é diferente do que imaginei. Sua estatura, sua força… pensei que fosse um bárbaro selvagem quando te vi, mas estou feliz por estar errado.

    Colin coçou a bochecha com o indicador, um sorriso de canto se formando em seus lábios.

    — Obrigado, eu acho… Partirei assim que Morwyna acordar.

    O Elfo assentiu.

    — Tenha cuidado, senhor Colin. Mesmo sendo poderoso, o rei disse que energias poderosas foram despertadas por todo o subterrâneo.

    Colin ergueu a bússola, observando a agulha oscilar. — Agradeço o conselho, mas quem devia se preocupar são vocês.

    — É… mas a gente ainda sabe se cuidar, não se preocupe.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (4 votos)

    Nota