Capítulo 225: O Coro Celestial [3]
“…..”
A sala estava em silêncio, quase nenhum som podia ser ouvido além da respiração sutil, mas tensa, das pessoas no recinto.
Eu sentei em meu canto, encarando a cena com um olhar vazio.
Meus pensamentos estavam uma bagunça, e quando baixei a cabeça, meu olhar caiu no pequeno frasco preso ao meu braço.
Estava três quartos cheio.
Um pensamento passou pela minha mente ao me lembrar da cena anterior.
‘Três vidas.’
Cada quarto do frasco significava uma vida.
Já que eu tinha três quartos, significava que só tinha três vidas.
Lambi meus lábios ressecados.
Por algum motivo, senti que isso estaria longe de ser suficiente.
Morte…
Eu já tinha morrido uma vez, e ainda assim, tinha a sensação de que experimentaria isso de novo.
Mais de uma vez, aliás.
“Levará um tempo para aqueles que o sangue batizou despertarem novamente. Nós, do Coro Celestial, podemos esperar. Enquanto isso…”
O homem vestido de branco reuniu a atenção de todos os presentes enquanto olhava ao redor, seus olhos brancos varrendo cada canto da sala.
“….Isso foi suficiente para a demonstração. Vocês podem voltar para suas próprias câmaras. Chamarei cada um individualmente para o julgamento das mentes esquecidas.”
‘Julgamento das mentes esquecidas…?’
Franzi a testa com as palavras que saíram de sua boca, mas não consegui entender melhor o que significavam antes que ele se virasse e saísse do local.
Após o desaparecimento do homem, várias pessoas vestidas de branco entraram na sala, arrastando os que haviam caído no chão e levando-os para fora.
Eu só pude sentar e observar enquanto eram arrastados para fora.
Pensei em perguntar o que estava acontecendo, ou pedir alguma explicação, mas permaneci quieto. Apenas observando tudo de lado.
Ainda havia muitas coisas que eu não sabia.
Como o homem de branco havia matado aquelas pessoas, ou o que estava acontecendo.
Mas se havia uma coisa que eu entendia, era que precisava obedecer.
Pelo menos até descobrir o que estava rolando.
“…..”
Um homem parou na minha frente.
Olhando para cima, meus olhos encontraram os dele. Havia um olhar perdido, vazio em seus olhos escurecidos, como se não estivesse totalmente consciente.
O vazio neles me fez tremer, aumentando o pavor crescente no meu estômago.
Mas tive que reprimir esse sentimento.
Sabia que não podia deixar o medo dominar minha mente. Pelo menos, ainda não.
Não até ter alguma resposta sobre a situação.
O homem se virou e saiu da sala. Pelos seus movimentos, parecia querer que eu o seguisse.
“…..”
Só pude obedecer em silêncio.
Saindo da sala, olhei ao redor.
As tochas tremeluzentes projetavam sombras assustadoras nas paredes ásperas, deixando claro que estávamos no fundo de um sistema de cavernas.
‘Haa… haa…’
Cada respiração ecoava alto na minha mente, ampliando o silêncio opressivo.
Alinhadas nas paredes estavam portas rochosas imponentes, suas superfícies marcadas com símbolos brilhantes que pulsavam com uma luz estranha.
Encanei nos símbolos, sentindo uma crescente confusão ao perceber que não conseguia entendê-los.
‘É como um idioma completamente diferente.’
“Hm.”
Na verdade, parando por um instante, tive uma súbita realização.
A língua que eu estava falando…
Que diabos eu estava falando?
Pisquei os olhos enquanto minha mente ficava em branco com a percepção.
‘O quê…?’
Comecei a pensar dentro da minha mente, e meu coração congelou ao perceber que o idioma que eu usava para falar comigo mesmo não era minha língua nativa, inglês.
Não, na verdade…
“Ahh…”
Cobri minha boca em choque.
‘Como?’
Como isso era possível?
Eu estar falando um idioma completamente diferente do que estava acostumado?
‘Será que implantaram memórias na minha mente durante os experimentos?’
Era a única explicação para a situação repentina. Olhando para o homem à minha frente, tive vontade de falar com ele. Perguntar sobre minha situação, mas novamente… me contive.
Sabia que não era sábio falar.
Eles provavelmente não me responderiam mesmo.
“….”
Não sei por quanto tempo continuamos andando. O sistema de cavernas era bem grande, e minhas pernas já estavam doendo quando finalmente chegamos ao destino.
Assim como antes, símbolos estranhos apareceram na porta rochosa à minha frente.
Quando o homem pressionou sua mão grande contra a porta, os símbolos brilharam, e a porta começou a tremer.
Estrondo! Estrondo…!
Observei enquanto a porta se erguia, revelando um quarto vazio atrás.
O processo continuou por alguns segundos antes de finalmente parar. Foi quando o homem olhou para mim, e eu entrei no quarto.
“…..”
Ao entrar, olhei ao redor antes de me virar para olhar o homem.
Seus olhos vazios me encararam. Ele não tinha expressão no rosto, permanecendo firme no lugar. Era como se fosse um fantoche sem mente.
Mas se havia algo que me chamou a atenção, era o emblema dourado em sua camisa.
Mostrava um grande olho no topo de um triângulo dourado.
‘A empresa responsável por isso?’
Estrondo!
Meus pensamentos foram interrompidos por outro tremor. Olhando para cima, vi as portas lentamente se fechando.
Achei que as coisas terminariam ali quando, de repente, os olhos do homem começaram a tremer.
O jeito que ele me olhava também mudou, e senti uma mudança perceptível no clima ao meu redor.
“Uh… ah… akh…”
Barulhos estranhos começaram a sair de sua boca de repente.
“O quê? O quê? Você está tentando dizer algo? O que…?”
….Eu não entendia nada do que ele estava dizendo, ou tentando dizer. Mesmo assim, dava para perceber que ele tentava falar comigo.
Por isso, me aproximei para tentar entender melhor.
“Não consigo te ouvir. O que é?”
“Hgk… ahh… ukh!”
Ele continuou a falar, e eu me aproximei mais.
Só parei bem na frente da porta. Não ousei sair.
Estrondo…!
O barulho das portas dificultava entender o que ele tentava dizer.
“O quê? O que você está tentando dizer…?”
Seu corpo começou a tremer de repente.
Por algum motivo, a visão fez meu coração gelar, um nó frio se formando na minha garganta.
Estava prestes a falar de novo quando notei algo brilhar no canto de seus olhos.
Era… preto.
Uma lágrima preta?
“Uh…?”
A visão me abalou, deixando-me enraizado no lugar.
…A situação estranha não parou aí. Após a lágrima preta, seus olhos começaram a se transformar. Era como se um pincel de tinta tivesse sido pressionado diretamente em suas pupilas, espalhando uma escuridão que nublava sua visão.
Seu corpo convulsionou violentamente, cada tremor mais intenso que o último, enquanto a escuridão consumia seus olhos.
Ba… Baque!
Senti o som do meu próprio coração ecoando alto na mente enquanto todos os meus músculos se tensionavam.
‘O q-que está acontecendo?!’
Dei um passo para trás.
“Ukh…! Ahk!!”
Os barulhos saindo de sua boca ficaram mais altos, e eu prendi a respiração.
Estrondo! Estrondo…!
Agora, meus olhos estavam nas portas que estavam se fechando.
Se antes eu queria que ficassem abertas para escapar, meus pensamentos haviam mudado completamente.
…Eu queria que elas se fechassem.
A visão diante de mim era arrepiante demais.
Era…
“Fuja…!”
Uma palavra.
Finalmente, consegui distinguir uma palavra enquanto o corpo do homem tremia completamente.
Engoli minha saliva enquanto o encarava.
Ele me olhava agora, seu corpo estranhamente imóvel.
A única diferença era que ambos os olhos agora estavam completamente pretos, poças de escuridão que pareciam engolir a luz.
“….F-fuja.”
Essas foram as últimas palavras que ouvi dele antes que as portas se fechassem completamente.
Clank!
“….”
O que se seguiu foi silêncio.
Um silêncio quebrado por dois sons.
“Haa.. haa…”
O som da minha respiração.
Ba… Baque!
E o som do meu próprio coração.
Fiquei parado, incapaz de me mover enquanto o medo dominava minha mente.
“Eu…”
Mal conseguia falar ou pensar direito.
Era como se estivesse em uma cena de filme de terror.
….E como se as coisas não pudessem piorar.
“Ahhh…!!”
O terror tomou conta do meu coração enquanto eu gritava.
“O q-quê…!?”
A alguns metros de mim, um par de olhos vermelhos me encarava. Eles me olhavam com uma intensidade que fez meu sangue gelar.
Mas conforme minha mente processava a situação, percebi algo.
“Uma coruja?”
Sim, uma coruja.
“….”
Pisquei várias vezes, encarando-a sem compreender sua aparição.
Ela só ficou ali com seus olhos vermelhos penetrantes, e quando olhei para eles, vi meu próprio reflexo.
“Mas o que…?”
“….Que estado lastimável.”
“…!”
Eu dei um pulo novamente.
“Quem?”
Olhei ao redor procurando a fonte da voz, mas não encontrei ninguém.
“Um alto-falante?”
Procurei por câmeras ou alto-falantes nos cantos, mas não achei nada.
“Quem falou?”
Continuei procurando, mas não encontrei nada.
Quando estava prestes a falar de novo, uma figura pairou diante de mim, e meu coração quase saltou do peito pela segunda vez.
“Como esperado. Você é diferente.”
Era a coruja, e me vi piscando várias vezes.
‘…Estou ficando louco?’
Uma coruja falando?
“Um robô?”
“….O que é isso?”
“Eu…”
“Parece que alguém o substituiu.”
Outra voz ecoou na sala, e minha cabeça virou para onde um gato havia aparecido. Dessa vez, não fiquei tão chocado quanto com a coruja.
Basicamente desisti de achar que estava são.
O gato me olhou diretamente.
“Qual é o seu nome?”
“….”
Não respondi de imediato. Estava lutando para entender a situação, mas, estranhamente, ao encontrar o olhar do gato, minha boca se abriu sozinha.
“….Emmet.”
Respondi, cobrindo minha boca rapidamente.
“Emmet Rowe.”
“…..”
O gato me olhou por um breve momento antes de virar para a coruja. As próximas palavras que saíram de sua boca me abalaram.
“…..Você está certo. Ele é uma farsa.”
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