Índice de Capítulo

    O corpo nojento da criança estava se transformando em algo desumano. Pandora ficou horrorizada. Nunca tinha visto algo tão monstruoso. Ela vomitou.

    Masha manteve o olhar fixo no monstro que se formava, agora assumindo uma postura quase quadrúpede. O garoto desapareceu.

    A mulher negra olhou para os lados e não viu nada. Olhou para trás, para cima e… O ataque teria arrancado sua cabeça, se o ar não tivesse impedido a mão deformada de perfurá-la.

    No próprio ar formado por Masha, a criança alta pulou e desapareceu. Masha viu silhuetas se aproximando com uma velocidade desumana, ilógica. Era um verdadeiro monstro.

    Com a única mão que ainda podia usar, Masha gerava chamas e tentava acertar o corpo da criatura. Mas ele era rápido demais. Ela não conseguia acertá-lo. A criança também não conseguia atingir a mulher de púrpura, que se esquivava sempre no último instante.

    A luta se intensificava, e o sangue fresco na mão de Masha doía. O garoto, inexpressivo, tentava cada vez mais matá-la. O embate, enfim, teve início.

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    — Cuidado, Kizimu, não deixe que eles cheguem até você.

    — Eu sei. Eu sei. Tô fora de forma, mas não vou ser mordido nem uma vez.

    Kim e Kizimu corriam. Muitos lobos circulavam ao redor deles. Os corredores começavam a incomodar. Por que não havia janelas? A sensação era de que o lugar era muito maior que qualquer residência, uma sequência infinita de corredores onde os lobos continuavam a persegui-los.

    Eles precisavam encontrar uma porta para se esconder. Os lobos se aproximavam cada vez mais. Isso não seria um problema para Kim, mas eram muitos. Ele não podia enfrentar toda a matilha e deixar Kizimu se machucar.

    A falta de habilidade de combate deixava Kizimu irritado. Mesmo podendo prever os movimentos dos inimigos, milhares de ataques não poderiam ser evitados apenas com inteligência.

    O garoto loiro correu e entrou por um dos corredores à esquerda — e algo horrível aconteceu. Era uma parede. Haviam chegado a um local sem saída.

    — Droga, o que faremos, Kim?

    — Eu… não sei.

    Os lobos cercaram os garotos, que, sem opção, sacaram suas armas. Kim empunhou sua espada, e Kizimu uma bela faca de caça, com lâmina curvada.

    Com um avanço ágil, Kim esquivou-se das presas que tentavam rasgar sua carne, arrancou a cabeça de vários lobos, cortou patas, olhos — uma chacina, tentando eliminar o maior número possível.

    Kizimu não teve tanta sorte. Uma mordida veio pela frente — ele conseguiu se esquivar indo para a direita, perfurou o pescoço do canídeo, mas uma grande mandíbula que foi evitada abriu espaço para outro lobo derrubá-lo e mordê-lo.

    Não teve seu membro decepado porque Kim o salvou antes que o lobo cravasse os dentes em seu braço fino. O garoto loiro arrancou a cabeça do lobo, que permaneceu agarrado ao braço de Kizimu. Seu corpo não era adequado para combate — ele precisava lutar contra essa fraqueza.

    — Kim, use sua maldição.

     — Não posso. Se eu usar, você vai ser afetado. Não posso ativar a maldição com você por perto.

    A Maldição da Peste matava toda vida ao redor de Kim. Era uma dor que ele carregava, e que Kizimu ainda não compreendia. Não podia simplesmente dizer “use” ou “não se importe comigo”.

    Kizimu olhava para o garoto loiro, que triturava a carne dos inimigos com raiva — e aquilo era tudo que podia fazer. Os lobos, que deveriam diminuir, pareciam aumentar. Era uma quantidade incansável de criaturas cinzentas. Sem opção, Kizimu retirou o selo. Precisava da ajuda de Kuzimu, independentemente das consequências.

    Retirou o talismã de seu braço e ouviu:

    “Avise ao Kim que a peste não vai te afetar agora. Confie em mim.”

    Por que eu deveria?

    “Você sabe que pode confiar, mesmo que não queira.”

    Ele estava certo. Kuzimu nunca falhou. Mas por que estava ajudando? Não seria benéfico para ele. A vida de Kizimu não estava vinculada à maldição — ele tinha essa sensação. Então, por que ajudar? Não havia tempo para pensar.

    — Kim. Confie em mim. Não serei afetado pela maldição. Libere-a.

    Kim arregalou os olhos. Segurou sua espada com força. Olhou para as bestas que enfrentava com tudo que tinha — e a liberação foi feita. Silenciosamente, nada pareceu mudar.

    Então, um grunhido de dor ecoou por todos os lados — lobos cinzentos uivavam.

    Todos, sem exceção, começaram a apodrecer. Kim, furioso, continuava a matar aqueles que, mesmo definhando, não caíam. Alguns lobos atacavam de forma lunática; outros apenas apodreciam e caíam, agonizando. Os corpos se decompunham de forma repulsiva. Era uma violação à vida. Uma maldição tão repugnante, capaz de roubar a existência de forma tão inescrupulosa, estava nas mãos daquele que era mais cuidadoso e pacífico.

    Os lobos caíam um após o outro, com a carne apodrecida. A dor estampada nos rostos das feras deixava Kizimu, mesmo vendo-os como inimigos, com tristeza. Era uma maldição odiosa — mas necessária.

    — Terminei. Desculpa por essa visão deplorável.

    — Não se preocupe. Era necessário.

    Um homem careca surgiu no fim do corredor. Usava roupas militares. Sua expressão era triste, mas sem emoção. Um rosto vazio.

    Sem dizer nada, lobos começaram a sair de suas costas — uma quantidade absurda, como se essa fosse sua maldição. Lobos cinzentos emergindo de si. Kizimu não conseguia formular uma teoria para aquilo.

    Um grupo avançou contra seu pescoço, mas ele usou sua agilidade para desviar e matar pelo menos um. Kim, por sua vez, eliminou a maior parte da matilha com uma precisão absurda. Estava mais rápido — ainda dentro do limite humano. O garoto começava a aprender o padrão de movimento das feras.

    — Todos esses lobos compartilham uma consciência. Lutam da mesma maneira.

    — Certo… e isso quer dizer o quê? Kim, eu não consigo me mover igual a você.

    Kim avançava, cortando os lobos com qualidade impressionante. A lâmina fria não parava — de um lobo a outro, e então, com um salto, tentou atingir o homem careca. Este se defendeu com luvas reforçadas por lâminas. A espada bateu, mas não penetrou. A sequência de ataques foi toda defendida.

    Mais e mais lobos atacaram Kim, que, de forma heroica, esquivava dos socos do homem e das mordidas, revidando diretamente aos ataques e exterminando a manada sem fim. Kizimu só conseguia esquivar dos lobos e eliminar os que deixavam brechas.

    Kim usou sua lâmina para cortar três lobos em sequência e, num movimento belíssimo, tentou atingir o homem careca, esquivando-se com inteligência impressionante. O homem, com postura de militar experiente, estava preparado para o combate corpo a corpo.

    Como já havia usado toda a maldição que guardava, Kim precisava de tempo para usar novamente. Mas não se abalava. Arrancava cabeças, cortava patas, perfurava corações. Um braço tentou atingi-lo por trás — ele o arrancou.

    Kizimu comemorou. Kim, após arrancar o braço do oponente, manteve-se firme. O homem não demonstrava emoções, mas Kim não recuava — seguiu com uma sequência de ataques tão precisa que o impediu de manter-se em pé, finalizando com um corte profundo no pescoço. Não decepou a cabeça, mas a lâmina penetrou fundo, jorrando sangue.

    O ar se turvou. Como se fosse uma miragem se dissipando, a realidade voltou. O corpo do homem estava no chão. Apenas um lobo ao seu lado, morto com um corte no peito — o último.

    — Finalmente, vencemos.

    — Kim, eu adoraria descansar… mas temos que achar Aisha e os outros.

    — Certo. Vamos.

    Kim e Kizimu correram para fora da sala em que estavam.

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