A taverna ainda estava movimentada quando Fred e Frida decidiram se levantar e sair. O cheiro de álcool e madeira envelhecida impregnava o ambiente, e o burburinho das conversas preenchia o salão. Fred esticou os braços e soltou um longo bocejo, satisfeito com a bebida.

    — Ahh… essa cerveja era diferente, mas até que caiu bem. — Ele olhou para Frida, que mantinha sua expressão neutra. — E aí, o que achou?

    — Nada mal. — respondeu ela, sem muita emoção.

    Fred riu.

    — Isso foi quase um elogio vindo de você.

    Ela não respondeu, apenas caminhou na frente, saindo da taverna sem se despedir de ninguém. Fred deu de ombros e a seguiu, deixando o bar para trás.

    Enquanto isso, Davidson observava a garota se afastar. Ele estava recostado em sua cadeira, com um sorriso intrigado nos lábios.

    — Você está sorrindo feito um idiota. — comentou Xiao Mijin, sem levantar os olhos da bebida.

    Davidson riu baixinho.

    — E desde quando eu não sorrio assim?

    Xiao Mijin bufou.

    — Desde que alguma mulher te ignorou completamente.

    Os outros do grupo riram, mas Davidson apenas cruzou os braços, ainda olhando na direção da saída.

    — Frida, hein…? Essa mulher é um enigma.

    — Ou só não gosta de você. — retrucou Xiao Mijin, bebendo mais um gole.

    Davidson soltou um suspiro exagerado.

    — O tempo dirá.

    Ele sabia que estava fascinado. Não era apenas pelo fato de Frida ser bonita—ele já havia conhecido muitas mulheres assim. Era sua frieza, sua indiferença absoluta.

    Davidson sempre esteve no centro das atenções, sempre teve pessoas correndo atrás dele. Mas Frida? Ela o tratou como se ele fosse insignificante.

    E aquilo… aquilo o fazia querer ainda mais sua atenção.

    No Castelo

    Longe da movimentação da cidade, no coração do imponente castelo de Estier, Xavier caminhava pelos corredores de pedra com passos firmes. As tochas presas às paredes lançavam sombras longas pelo chão, iluminando o caminho com uma luz bruxuleante.

    Ele entrou em uma sala de reuniões, onde um soldado veterano o aguardava de pé. O homem era alto, com um semblante endurecido pelo tempo e pela guerra. Ele levou a mão ao peito em sinal de respeito quando Xavier se aproximou.

    — Comandante.

    — Relatório. — pediu Xavier, direto ao ponto.

    O soldado assentiu e começou a falar:

    — Os novos recrutas foram divididos em grupos e receberam alojamentos. Até agora, não houve incidentes graves, mas a maioria deles ainda está desorientada com o novo mundo.

    Xavier cruzou os braços, pensativo.

    — Isso era esperado. Eles foram arrancados de suas realidades sem aviso. Alguns levarão mais tempo para se adaptar.

    — Sim, senhor. No entanto, já identificamos aqueles que demonstram maior potencial. Davidson é um deles.

    Xavier assentiu.

    — O “Herói”, certo?

    — Sim. Ele já é forte, tem habilidades de alto nível e se adapta rápido. Mas também é arrogante.

    Xavier sorriu de leve.

    — Heróis costumam ser assim. Mas e os outros?

    O soldado consultou um pergaminho e continuou:

    — Xiao Mijin. Assassina com habilidades excepcionais. Inteligente, calculista e disciplinada. Um perigo no campo de batalha.

    — Isso já era esperado. Mais?

    — Choi Miu. Reservado, mas extremamente observador. Parece ter um entendimento rápido da estrutura do reino e já começou a analisar o sistema econômico por conta própria.

    Xavier ergueu uma sobrancelha.

    — Interessante… continue.

    — Fred. Guerreiro forte, resistente e carismático. Mas talvez precise de disciplina.

    Xavier soltou uma risada curta.

    — Esse tipo de pessoa precisa de treinos mais duros.

    — Star. Maga especializada em cura e pedra. Ainda jovem, mas demonstra um espírito positivo e adaptável.

    — Um bom suporte será essencial.

    — Frida. Lanceira. Silenciosa, mas eficiente. Parece ter um instinto apurado para observação.

    Xavier sorriu de canto.

    — Bom… temos um grupo bem variado.

    O soldado assentiu.

    — O treinamento começa em breve, comandante. Como deseja conduzir isso?

    Xavier ficou em silêncio por alguns instantes, encarando um mapa desenhado na mesa de pedra.

    — Não será fácil. Eles não estão apenas aprendendo a lutar. Estão aprendendo a sobreviver em um mundo completamente novo.

    Ele olhou para o soldado com uma expressão determinada.

    — Não podemos pegar leve.

    — Então o treinamento será rigoroso.

    — Extremamente. Eles não podem se dar ao luxo de serem fracos.

    O soldado assentiu, entendendo a gravidade da situação.

    — O senhor acha que todos vão aguentar?

    Xavier suspirou.

    — Alguns vão falhar. Sempre acontece. Mas os que ficarem… esses serão os verdadeiros guerreiros de Estier.

    O soldado ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras do comandante.

    Então Xavier sorriu, um brilho ansioso nos olhos.

    — Estou curioso para ver até onde esses novos recrutas podem chegar.

    Mais tarde

    A casa estava iluminada por velas e pelo brilho fraco da lareira. O cheiro da madeira queimando se misturava com o aroma suave de um chá que Fred preparava na cozinha. O grupo finalmente estava reunido, sentados ao redor da mesa de madeira maciça da sala. Era a primeira vez que tinham um momento mais tranquilo desde que chegaram ao novo mundo.

    Choi Miu pigarreou e ajeitou os óculos, preparando-se para explicar o que havia descoberto.

    — Bom, antes de mais nada, acho importante entender como funciona o sistema econômico deste reino.

    Ele colocou algumas moedas sobre a mesa: uma dourada, uma prateada, uma bronzeada e outra de tom acinzentado e sem brilho.

    — A moeda principal é o ouro. Como eu suspeitava, vale muito. Para vocês terem uma noção…

    Ele apontou para cada uma das moedas.

    1 ouro = 1000 latões

    1 prata = 50 latões

    1 bronze = 10 latões

    1 latão = 1 latão

    — Basicamente, o latão é a moeda de menor valor. A prata é bastante usada no dia a dia, e o ouro é quase sempre usado para transações maiores ou bens mais valiosos.

    Star pegou uma moeda de latão e a girou entre os dedos, curiosa.

    — Então quer dizer que, se eu quisesse comprar algo como… sei lá, um pão, eu usaria latão ou bronze?

    Choi Miu assentiu.

    — Exato. Um pão custa entre 3 e 5 latões, dependendo da qualidade. Agora, se você quiser algo mais refinado, tipo carne ou uma refeição completa em uma estalagem, aí já precisa de moedas de bronze ou até mesmo de prata.

    Fred bateu as mãos na mesa.

    — Eu sabia que aquele vendedor da taverna estava tentando me enganar! Me cobrou 15 latões por uma cerveja!

    — E você pagou? — perguntou Frida, com um olhar entediado.

    — Lógico, né? Eu queria experimentar!

    Frida suspirou e cruzou os braços.

    — Idiota.

    Fred deu de ombros.

    — Ei, era pelo bem da ciência.

    Kaizhat riu.

    — Pelo bem da ciência ou pela sua sede?

    — Os dois.

    Choi Miu ignorou a conversa paralela e continuou.

    — Além disso, os mercadores mais experientes sabem barganhar muito bem. Aprendi isso na prática.

    — Como assim? — perguntou Star, inclinando-se para frente.

    Choi Miu ajustou os óculos, um sorriso leve no rosto.

    — Digamos que encontrei um velho comerciante que era tão bom de negociação quanto eu. Passamos quase vinte minutos discutindo o preço de um simples saco de arroz.

    Fred riu.

    — E quem ganhou?

    — Chamemos de um empate diplomático.

    — Ou seja, perdeu.

    — Não perdi. Apenas… aceitei um preço ligeiramente mais alto do que o esperado para manter boas relações comerciais.

    Fred bateu na mesa, rindo mais ainda.

    — Perdeu feio!

    Choi Miu suspirou e continuou.

    — Enfim, o mercado é bem estruturado. Há seções específicas para roupas, alimentos, armas, ervas medicinais e até poções mágicas. Os comerciantes mais ricos geralmente vendem itens de qualidade superior, mas cobram preços absurdos. E há, claro, os comerciantes mais humildes, que oferecem produtos mais baratos, mas muitas vezes de menor qualidade.

    Kaizhat apoiou o queixo na mão, pensativo.

    — Então precisamos aprender a negociar e conhecer os melhores lugares antes de sairmos gastando tudo.

    Choi Miu assentiu.

    — Exato.

    Star sorriu.

    — Bom, pelo menos agora sabemos como não falir em dois dias.

    — Depende. — disse Fred. — Se eu encontrar uma cerveja muito boa, talvez o dinheiro desapareça mais rápido.

    Frida olhou para ele com seu habitual olhar frio.

    — Se fizer isso, te quebro.

    Fred levantou as mãos.

    — Ok, ok, sem exageros.

    Choi Miu olhou para Frida.

    — E você? O que aprendeu hoje?

    Ela deu de ombros.

    — Nada demais. Só que as tavernas são cheias de gente do nosso mundo e que alguns têm mais sorte do que outros.

    — Como assim? — perguntou Kaizhat.

    Frida cruzou os braços.

    — Davidson e Xiao Mijin estão no mesmo grupo. Dois dos mais fortes juntos. Enquanto isso, grupos como o nosso são compostos por pessoas de nível semelhante.

    O silêncio tomou conta da sala por alguns segundos. Kaizhat, apesar de já ter pensado nisso antes, sentiu um incômodo estranho ao ouvir aquilo.

    — Então quer dizer que… estamos entre os mais fracos? — perguntou Star, com uma expressão incerta.

    Frida apenas assentiu.

    Fred bufou.

    — Bom, é meio óbvio, né? Se tivéssemos algum talento incrível, já teríamos sido notados.

    Choi Miu respirou fundo.

    — Mas isso não significa que vamos ficar para trás.

    Kaizhat apertou os punhos.

    — Certo. Pode ser que agora estejamos entre os mais fracos, mas isso não quer dizer que vai ser sempre assim.

    Star sorriu.

    — Exatamente! Tudo depende do quanto treinarmos.

    Fred esticou os braços e se recostou na cadeira.

    — Então é isso. Agora que já sabemos mais sobre o mundo, só falta uma coisa.

    — O quê? — perguntou Kaizhat.

    Fred sorriu.

    — Descobrir do que somos realmente capazes.

    O grupo ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre aquelas palavras.

    O treinamento começaria em breve.

    E a partir daquele ponto, não haveria mais volta.

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