Índice de Capítulo

    As nuvens negras cobriam os céus, lançando sombras sobre o campo de batalha devastado. Os corpos dos mortos jaziam espalhados, e o cheiro de sangue e poeira se misturava ao ar como uma oferenda amarga aos deuses da guerra. Mas nenhum deus respondeu. Porque, ali, naquele instante, um novo deus havia sido forjado entre os homens. 

    Baek Jin, envolto em sua aura dourada cintilante, caminhava lentamente entre os escombros. Seus olhos, agora reluzentes como a própria essência do qi celestial, varriam o exército do Clã Yan como uma lâmina invisível. Os mais fracos caiam de joelhos apenas com o olhar. Guerreiros do pico do Nível Guerreiro Marcial desabavam sem que ele movesse um dedo. 

    Foi então que Yan Xian apareceu. 

    O novo Patriarca do Clã Yan, envolto em mantos longos de seda negra com bordados rubros em forma de serpentes devoradoras de estrelas, desceu dos céus com uma aura fria e sombria. Seus cabelos brancos flutuavam, e o cajado ancestral em sua mão tremia com a vibração de energias ocultas. 

    Por um instante, os dois homens se fitaram. 

    — Você… — disse Yan Xian, sua voz carregada de incredulidade. — Isso é impossível… o antigo Baek Jin… não era nada! 

    A aparência de Baek Jin, agora rejuvenescida, causava espanto. Parecia ter pouco mais de trinta anos. Seus músculos eram definidos, a postura ereta, e a presença, como a de uma montanha que jamais caiu. O próprio tempo parecia ter recuado diante de sua ascensão. A verdade era simples: 

    Ele havia renascido. 

    — O antigo Baek Jin está morto, eu deixei de ser “nada” quando todos vocês se tornaram monstros. — disse Baek Jin, sua voz soando como o tilintar de sinos fúnebres. — Você matou seu próprio Patriarca. Corrompeu seus irmãos com o Caminho Demoníaco. E agora, ousa recuar? 

    Yan Xian apertou o punho. 

    — Baek Jin… você não entende. Havia forças maiores em jogo. Eu fiz o que era necessário. 

    — “Necessário”? — Baek Jin deu um passo à frente. — Vocês alimentaram o ódio. Espalharam o caos. E agora… recuam como ratos? Não. Isso termina aqui. 

    Yan Xian arregalou os olhos. 

    — Recuem! — gritou para seus subordinados, o desespero finalmente tingindo sua voz. 

    Mas foi tarde demais. 

    Baek Jin moveu-se. 

    Com um piscar de olhos, ele desapareceu. 

    E então… o massacre começou. 

    Com cada passo, um corpo tombava. Inimigos caíam em silêncio absoluto, seus olhos arregalados sem compreender o que os atingira. Não havia gritos. Não havia honra. Apenas a certeza da morte. 

    “Primeira Forma da Aniquilação Silenciosa: Golpe do Vazio.” 

    Ele não gritava. Não celebrava. Executava. 

    Do menor discípulo do Clã Yan, até os Anciãos que ousaram participar do levante, todos foram erradicados. As palmas de Baek Jin deixavam rastros de qi negro e dourado, que consumiam o inimigo por dentro, desintegrando seus meridianos, suas almas e suas memórias. 

    Yan Xian tentou fugir. 

    Não conseguiu. 

    Foi o penúltimo a cair. 

    O Patriarca do Clã Yan morreu com os olhos arregalados, vendo o mundo girar enquanto sua cabeça rolava pelo solo encharcado de sangue. 

    Restou apenas ela. 

    Yan Mei-Ling. 

    Ela estava ajoelhada, com os olhos abertos, as mãos tremendo, e os meridianos completamente selados pela palma de Baek Jin durante o duelo anterior. A única sobrevivente. A última chama do Clã Yan. A mulher que um dia o treinou em silêncio, e que agora, tornara-se prisioneira do seu próprio passado. 

    Baek Jin parou diante dela. 

    Ela o olhou, olhos cinzentos turvos de dor e ódio contido. 

    — Vai me matar também? — sussurrou ela. — Termine o que começou. 

    Mas ele permaneceu em silêncio. 

    Seu olhar era inquebrável, como se já não houvesse emoção. Apenas decisão. 

    — Você vive… não por clemência. — disse ele, friamente. — Mas porque precisarei de alguém para lembrar o que o Clã Yan fez. O que eu apaguei da face da terra. 

    Mei-Ling apertou os dentes. As lágrimas que escorreram não eram de tristeza… mas de impotência. 

    — Um dia… você também cairá, Baek Jin. Nem mesmo os santos podem escapar do ciclo do destino. 

    Ele se virou lentamente. 

    — Talvez. Mas até lá… você será minha testemunha silenciosa

    A partir daquele dia, Yan Mei-Ling foi mantida viva, seus meridianos selados, seu corpo contido por formações espirituais complexas. Não era mais a Lâmina da Sombra do Clã Yan. 

    Era apenas um fantasma… viva para ver a ruína que ajudou a construir. 

    E Baek Jin, agora o mais poderoso Santo Marcial vivo, não apenas selou uma era… mas a redefiniu

    O mundo murim jamais seria o mesmo. 

    … 

    O silêncio gélido que pairava sobre o campo de batalha foi rasgado por uma presença que não pertencia àquele mundo — uma distorção no próprio ar, como se o tempo hesitasse, e o espaço se curvasse diante de algo que não deveria existir. 

    Uma ondulação negra surgiu no horizonte, como tinta espalhada na água límpida, e dela emergiu uma figura vestida de mantos profundos como a noite sem lua. 

    Wei Long. 

    O Lorde Demônio caminhava como se cada passo condenasse uma era. Seu rosto era oculto por uma máscara feita de ossos, e seus olhos eram chamas vermelhas que dançavam no vazio. O ar ao seu redor estremecia, e os céus tornaram-se de um tom púrpura sombrio, como se os céus estivessem de luto por antecipação. 

    Ao lado dele, com um olhar afiado como uma lâmina cerimonial e cabelos negros caindo sobre o rosto marcado por uma cicatriz que cruzava o olho esquerdo, estava seu braço direito: Wei Donghae, o carrasco que, no passado, ceifara o antigo Baek Jin. 

    Donghae não disse uma palavra. Apenas olhou diretamente para Baek Jin — agora revivido, renascido, absoluto. Um pequeno sorriso de escárnio ergueu-se em seu rosto. 

    Atrás deles, cinco figuras encapuzadas flutuavam em silêncio, seus mantos bordados com o símbolo da lua em queda e um sol ensanguentado. Eram os mestres ocultos da Seita Demoníaca Paraíso-Crepúsculo, cuja mera menção fazia os discípulos mais jovens perderem o sono. 

    O ar tornou-se opressivo. 

    Até mesmo as aves silenciaram no alto. 

    Mas antes que a presença maligna tomasse conta por completo, uma onda dourada de energia espiritual varreu o campo como uma muralha divina, abrindo os céus cobertos de nuvens negras. 

    Com um trovão dourado, uma nova figura apareceu. 

    — Então… o caos novamente deseja florescer. — disse uma voz carregada de retidão e firmeza. 

    Hwan Yeong. 

    O lendário Santo Marcial do Caminho Justo, líder da Aliança dos Céus Claros, surgia vestido com túnicas cerimoniais douradas e brancas, com runas flutuando ao redor de seu corpo. Seus cabelos prateados fluíam como névoa ao vento, e seus olhos eram como espelhos onde nenhuma mentira podia se esconder. 

    Ao lado dele, mestres dos quatro clãs da Aliança estavam reunidos. Havia o velho Mestre Kwon, com sua bengala de jade que selava trovões. A Mestra Lan Qiao, vestida de azul celeste, conhecida como a Donzela dos Mil Encantamentos. E também o Espadachim Vazio, uma figura muda que apenas seguia o Caminho do Silêncio Eterno. 

    A tensão era sufocante. 

    Entre os dois grupos — a Seita Demoníaca e a Aliança dos Céus Claros — estava Baek Jin. Em pé sobre a terra encharcada de sangue, cercado pelos destroços de dois clãs destruídos, com sua aparência rejuvenescida, corpo marcado por leves feridas de batalha e olhos de aço. 

    Wei Long olhou diretamente para ele. 

    — Então… o velho cão agora ruge como um dragão? — disse em tom zombeteiro, sua voz carregada com resquícios do submundo. 

    Wei Donghae avançou um passo. 

    — Eu o matei uma vez, e o matarei de novo. Você é apenas um cadáver que se recusa a aceitar a morte. 

    Baek Jin ergueu os olhos com calma. 

    — Donghae… ainda vive no passado? Eu me lembro de sua espada. E também de como ela tremeu, antes de me cortar. 

    Wei Donghae apertou os punhos. Chamas negras explodiram ao redor de seu corpo. 

    Mas então, a voz de Hwan Yeong ecoou, cortando como um trovão. 

    — Esta não será uma batalha de palavras. O equilíbrio do mundo foi quebrado. Duas potências se erguem diante de cadáveres… Um novo conflito é inevitável. 

    Wei Long riu. Uma risada baixa, quase serpentina. 

    — Inevitável? Não, Santo Yeong… esta guerra foi premeditada

    Ele apontou para os corpos do Clã Yan. 

    — Veja o que o seu “novo herói” fez. Exterminou um clã inteiro. Nem mesmo os inocentes foram poupados. 

    Baek Jin respondeu, sem recuar. 

    — Os “inocentes” que cultuavam o Caminho Demoníaco? Os “inocentes” que conspiravam para destruir meu clã? — Sua voz era fria, sem hesitação. — Eu dei o golpe final, mas foram eles que cavaram a própria sepultura. 

    O Santo Hwan Yeong olhou para Baek Jin com olhos impenetráveis. 

    — Baek Jin… você alcançou o nível dos santos. Mas cada passo que damos neste plano superior deixa cicatrizes no mundo. Você tem certeza de que está disposto a se tornar o flagelo e a lâmina desta nova era? 

    Baek Jin olhou ao redor. 

    Olhou os mortos. 

    O sangue. 

    O caos. 

    E então respondeu: 

    — Já me tornei. E se vocês ousarem me impedir… também tombarão

    Um trovão ecoou ao longe. 

    Wei Long levantou seu cajado envolto em qi demoníaco. 

    Hwan Yeong empunhou sua lança dourada sagrada. 

    O campo de batalha estava prestes a ser banhado em sangue mais uma vez. 

    E Baek Jin, o renascido, entre os dois titãs do mundo… ergueu sua palma com cinco marcas de luz flamejante — o Quinto Portão Interno — pulsando com poder divino. 

    O mundo murim… estava à beira de sua maior guerra. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota