Capítulo 109: Assessora
O primeiro combatente pegou imediatamente uma chave-inglesa assim que chegou ao depósito e correu em direção a um ponto específico.
O outro também correu na mesma direção e, pela imagem projetada, Adam pôde ver que havia um machado de incêndio ali.
Estava claro que ambos os combatentes conheciam bem aquele cenário e queriam disputar aquela arma.
O combatente que não perdeu tempo pegando a chave-inglesa foi o primeiro a chegar, mas, no exato momento em que estava prestes a agarrar o machado, a chave-inglesa voou pelo ar e o acertou em cheio na testa, causando um ferimento horrível que começou a sangrar intensamente.
Ao mesmo tempo, no mundo real, o corpo debilitado do combatente atingido também teve um espasmo violento.
Mesmo assim, o ferido não recuou, lutando contra a dor, agarrou o machado de incêndio e o balançou contra o inimigo.
Este conseguiu desviar do primeiro golpe, mas logo em seguida foi alvo de uma sequência de ataques com o machado.
Enquanto Adam assistia atentamente à luta, Hailey lhe cutucou levemente com o cotovelo.
— E aí, o que achou?
— Como assim?
— O que achou deles? São fortes?
— Nem um pouco — respondeu Adam, balançando a cabeça. Na verdade, os dois poderiam ser descritos como lutadores horríveis.
Antes, ele havia criado um sistema de classificação para suas anomalias: anomalias infantis, anomalias de nível um, nível dois, nível três, etc.
Dentro desse sistema, uma anomalia de nível um era mais ou menos comparável, ou ligeiramente superior, a um adaptador estudante, enquanto uma anomalia de nível dois representava o nível médio de um adaptador maduro.
Aqueles dois combatentes não chegavam nem perto de alguém como o Gancho, e seus corpos psíquicos mal eram mais fortes do que os corpos físicos de um humano comum.
A batalha entre os dois estava intensa, mas não demorou até que o combatente com o machado aproveitasse uma brecha na defesa do oponente e descesse um golpe brutal em seu ombro, causando um ferimento grave.
Mesmo com o adversário claramente em desvantagem, ele não mostrou piedade, golpeou com o machado várias vezes seguidas, causando mais ferimentos e fazendo o oponente desabar no chão.
Naquele ponto, era evidente que um dos combatentes não tinha mais condições de continuar, e só então o apresentador interrompeu a conexão entre os mundos psíquicos. Ainda assim, o combatente gravemente ferido não conseguiu sobreviver.
Após a desconexão, seu corpo físico começou a se contorcer incontrolavelmente. Os ferimentos profundos sofridos no corpo psíquico haviam resultado em danos cerebrais severos e, considerando seu estado físico já deplorável, ele não suportou o trauma e morreu ali mesmo, com os olhos revirando nas órbitas.
— Só isso? Tinha que morrer mesmo, lixo inútil! — O dono da banca ficou claramente irritado ao ver a morte de um dos combatentes. — Que desperdício de dinheiro! Alguém arrasta ele daqui e joga pros cachorros!
Ele gritava ordens para os funcionários, mas sua voz logo foi abafada pela gritaria do público. Os vencedores estavam trocando suas fichas por dinheiro, enquanto os perdedores xingavam alto e jogavam as fichas no chão.
— Aquele combatente era comprado pela banca?
— Tecnicamente, não… mas com certeza tinha assinado um contrato de servidão.
— Então por que não pararam a luta antes que fosse tarde demais? Se quer saber, o desfecho já estava claro depois do primeiro golpe com o machado. — A pergunta de Adam traía completamente sua falta de familiaridade com os costumes e tradições da Cidade das Sombras.
— Como é que eles iam atrair público desse jeito? Cem anos atrás, atores de cinema já diziam que sexo e violência eram os principais motores de venda de ingressos, e o mesmo vale pra essas lutas. Segundo as regras daqui, ninguém pode encerrar uma luta antes de um desfecho absolutamente decisivo. — Apesar da pouca idade, Hailey sempre falava como se fosse bem mais velha.
— Além disso, isso também ajuda a evitar ao máximo as lutas arranjadas.
Adam já havia tido contato com outras garotas da idade de Hailey antes, como Kim Garcia e Chloe, mas elas eram completamente diferentes dela.
Os valores de alguém que cresceu na Cidade das Sombras eram totalmente distintos dos de alguém que cresceu no mundo civilizado.
Adam não aprovava o que via, mas, dada a situação atual, mal tinha espaço para se preocupar com esse tipo de coisa.
— Se eles são tão fracos assim, por que você não sobe lá e tenta?
— Quanto dinheiro eu ganharia? — As lutas no estádio esportivo estavam prestes a começar, e Adam queria entrar para assistir.
— Isso depende de quem for seu oponente. Quanto mais forte o adversário, maior será o cachê. Claro que, como novato, você não vai enfrentar ninguém do topo da lista. — Hailey já havia assumido o papel de assessora enquanto falava. — Vamos, vou te inscrever numa luta.
— Certo. — Adam precisava de dinheiro de qualquer forma, então não tinha muita escolha.
Hailey saltou de alegria e começou a correr pelos arredores, indo de banca em banca de combate. Depois de cerca de quinze minutos, conseguiu arrumar uma luta para Adam.
— Rápido! Achei uma luta boa pra você. Já estava agendada, mas um dos combatentes morreu no caminho, e você vai substituir ele. Só que essa é uma luta de nível mais alto, então o oponente provavelmente vai ser bem forte. Você acha que consegue vencer?
— Vamos até lá ver primeiro — respondeu Adam, antes de seguir Hailey até a banca de combate.
A estrutura daquela banca era de fato mais sofisticada que a anterior. Havia arquibancadas de aço e uma tela de projeção muito maior. Além disso, com as arquibancadas elevadas, os espectadores podiam ver a luta mesmo de longe, o que ajudava a atrair um público maior.
Hailey levou Adam até os fundos da arquibancada, onde encontraram um homem de bigode espesso.
— Esse é o seu lutador? — perguntou o dono da banca, avaliando Adam com o olhar. — Parece saudável. Ele é adaptador?
— Eu já disse que é, mas você não quis acreditar!
— Como é que eu ia acreditar? Ninguém acreditaria ouvindo uma pirralha dessas dizendo que gerencia um adaptador! — retrucou o homem. — Se você for mesmo um adaptador, que tal trabalhar comigo?
— Ei, você não pode roubar meu cliente! — Hailey tentou se impor na hora, mas foi empurrada de lado pelo homem sem que ele sequer olhasse para ela.
Felizmente para ela, Adam não tinha intenção nenhuma de trocar de lado. Ser gerenciado por alguém como Hailey lhe dava muita flexibilidade, e ele poderia sair a qualquer momento, algo que, muito provavelmente, não seria possível caso se juntasse a alguma organização.
— Tá tudo bem, só tô aqui por uma luta.
— Tem certeza que não quer reconsiderar?
— Absoluta.
Enquanto o homem questionava Adam, os espectadores começavam a perder a paciência e gritavam para que os lutadores subissem logo ao palco.
Os espectadores da Cidade das Sombras eram extremamente agressivos, e se a luta não começasse no horário, facilmente podiam explodir em tumulto e destruir toda a arena.
Com isso em mente, o homem desistiu de tentar persuadir Adam e o levou para fora dos fundos da arquibancada.
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