Capítulo 26- Hora de Voltar
Glartak nomeou sua primeira magia com simplicidade e precisão:
< Magia nomeada: Passo no Vácuo >
Nos três dias que se seguiram, ele permaneceu na caverna, mergulhado em silêncio e concentração. A nova forma exigia adaptação. Cada movimento parecia mais fluido, cada sensação mais intensa. Seus sentidos estavam mais aguçados — a audição captava ecos distantes com nitidez absurda, e sua visão noturna ampliada parecia atravessar as sombras.
Durante esse tempo, além de aprimorar o controle sobre Passo no Vácuo, ele buscou extrair mais de sua afinidade mágica.
A habilidade lhe permitia manipular o campo gravitacional ao redor de seu próprio corpo, reduzindo drasticamente seu peso por alguns segundos. Essa redução permitia movimentos mais ágeis, saltos amplificados e menor impacto de quedas.
Mas também havia pontos que ele teria que melhorar no futuro. Por exemplo: a força física durante o efeito da magia era reduzida, impactando ataques corpo a corpo. Ou seja, ele não poderia saltar sobre um inimigo e lançar um golpe com força, pois sua força física também seria reduzida, não causando o efeito desejado. Além disso, durante um salto, ele também notou que estaria vulnerável a ataques, pois mudar de direção depois de saltar no ar era praticamente impossível. Outra fraqueza era que magias de vento e, possivelmente, explosões teriam grande força de impacto sobre seu corpo mais leve.
Glartak observou que o gasto de Pontos Mágicos para cada ativação de Passo no Vácuo era de 2 pontos. Um gasto alto para uma magia simples, considerando que ele só possuía 10 pontos até o momento — mas não havia o que fazer.
Tentou diversas outras abordagens: compactar uma pedra usando força gravitacional, atrair objetos para sua mão, criar um campo de pressão para esmagar algo. Algumas experiências surtiram pequenos efeitos; outras, nenhuma reação.
A frustração veio rápido, mas também a compreensão: criar uma magia era mais do que desejar. Era necessário propósito e intenção clara.
Na madrugada do terceiro dia, enfim, algo novo aconteceu.
Enquanto meditava com as mãos estendidas sobre o solo, Glartak se concentrou em um ponto específico e visualizou o chão pesando toneladas — como se o próprio mundo estivesse tentando esmagar o que estivesse ali. A terra vibrou levemente, e uma fissura surgiu sob seus pés, como se a pressão tivesse ultrapassado um limite invisível.
O sistema se manifestou de imediato:
< Nova magia detectada. Deseja nomeá-la? >
Glartak sorriu. Seus olhos dourados faiscaram à luz tênue da caverna.
— “Campo de Gravidade” — disse, com a voz grave e confiante.
< Magia nomeada: Campo de Gravidade >
A técnica era limitada, mas poderosa: criava uma área de intensa pressão gravitacional em uma pequena região, tornando os movimentos pesados e lentos. Poderia ser usada para imobilizar inimigos, fazer com que seus corpos ficassem pesados ou causar danos físicos por compressão.
O teste mostrou que, por enquanto, ele só conseguia manter a magia por três segundos antes de seus pontos de magia se esgotarem, e num raio de até dois metros ao redor de um ponto focal.
Depois de várias falhas tentando desenvolver outras habilidades — como puxar inimigos para si ou erguer grandes pedras com gravidade reversa — ele compreendeu que seu controle ainda era limitado demais para tanta ambição. A magia era versátil, sim, mas difícil. Exigia paciência, prática e estudo. O sistema lhe oferecia o caminho, mas não a jornada. Se quisesse dominar esse poder, teria que esculpi-lo com esforço, dia após dia. Não havia atalhos.
Suspirando, Glartak finalmente se colocou de pé. Olhou para as mãos, agora tão familiares quanto estranhas, e murmurou para si mesmo:
— Por ora, é suficiente.
Era hora de voltar. Ver o que havia acontecido com seu pequeno domínio. Se Primal já tinha retornado, se os goblins sobreviventes haviam conseguido resistir ou se tinham caído à própria sorte.
Glartak respirou fundo uma última vez e então partiu.
Longe dali, uma batalha havia chegado ao fim. O ar ainda carregava o cheiro ferroso de sangue. Em meio ao campo marcado por corpos, uma goblin fêmea dava ordens com autoridade inquestionável.
Ela tinha cerca de um metro e sessenta, corpo forte e resistente. Usava apenas trapos sujos de sangue e terra na parte inferior, enquanto a parte superior permanecia nua, com seus seios pequenos expostos sem qualquer sinal de vergonha. Seus longos cabelos estavam presos em tranças rústicas, decoradas com pequenos ossos. Os olhos vermelhos, com pupilas verticais, observavam tudo com frieza e inteligência.
Comandava dois goblins menores, fazendo-os empilhar os cadáveres de um homem e uma mulher humanos aos pés de uma rocha, junto aos corpos de três goblins.
Foi quando ela parou. Os olhos se estreitaram e seu corpo ficou tenso.
Alguém se aproximava.
Um goblin, maior que ela, surgiu entre as sombras das árvores. Sua presença era imponente. Tinha a pele cinza, com um brilho metálico sob a luz fraca do fim do dia. Ossos salientes cobriam parte de seu corpo como uma armadura natural, reforçando os ombros e os braços. Garras afiadas como lâminas estavam sempre à mostra, prontas para matar. E os olhos — frios, vermelhos, sem emoção — observavam como se pesassem o valor de cada ser vivo ao redor.
Em seu ombro, ele carregava uma mulher humana desacordada.
Ao vê-la, a goblin fêmea rosnou e partiu na direção da inimiga, disposta a matá-la no mesmo instante. Mas, antes que pudesse se aproximar, sentiu algo gelado e cortante tocar sua garganta.
Ele havia se movido rápido. Muito rápido. Suas garras estavam pressionadas contra a pele do pescoço dela.
— Meu senhor gosta de deixar que um viva para obter informações. — A voz era grave, impassível, como o ranger de uma lâmina sendo desembainhada. Não havia ameaça nela, apenas uma ordem velada. Ele era leal a seu senhor, e aquilo bastava para justificar qualquer ato.
A goblin fêmea recuou. Seus olhos ainda estavam fixos na humana, mas ao ouvir o nome não dito — o “senhor” — um brilho diferente surgiu em seu olhar. Bufou com desgosto por não poder matar a humana e se virou de costas.
— Um humano conseguiu fugir. O senhor não vai gostar.
Se Glartak estivesse ali, saberia exatamente quem era aquele goblin.
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