Índice de Capítulo

    Adam não estava totalmente convencido de que aquelas expressões relaxadas nos rostos das pessoas não passavam de fachadas forçadas, então se afastou do grupo para investigar mais de perto.

    — Aonde você vai?

    — Tem algo que quero verificar.

    — Vou com você.

    Shae o seguiu, afastando-se temporariamente do restante do grupo também.

    Ela não disse nada nem perguntou o que Adam estava fazendo. Apenas o seguiu em silêncio enquanto ele saía da rua principal e entrava num beco estreito, onde avistou um sujeito isolado.

    O homem estava agachado num canto, fumando um cigarro com uma expressão vazia. Ao notar o olhar de Adam, começou a praguejar de imediato, soltando frases clássicas como ‘Que porra você tá olhando?’, ‘Se continuar me encarando, arranco seus olhos!’ e ‘Boa gostosa essa aí do seu lado. É sua puta?’.

    “Insano e agressivo. Como a maioria das pessoas naquela cidade.”

    Adam se aproximou em silêncio, observando a expressão arrogante no rosto tatuado do sujeito, e não conseguia acreditar que alguém assim estivesse realmente livre de distúrbios mentais.

    — Que porra você quer?

    Naquele momento, o homem já sentia que algo estava errado. Como morador da Cidade das Sombras, ele tinha desenvolvido um senso de perigo extremamente aguçado e imediatamente cuspiu o cigarro, levando a mão até a arma presa na cintura. No entanto, antes que conseguisse pegá-la, seu mundo psíquico já havia sido invadido.

    Adam havia ativado seu transmissor neuronal em segredo e invadido o mundo psíquico do homem à distância, reduzindo a saída sináptica eletromecânica do aparelho.

    Pouco depois de entrar naquele mundo psíquico, Adam invocou a Freira e ordenou que ela possuísse o corpo psíquico do alvo.

    Então, o possuído conduziu Adam em uma viagem por seus módulos psíquicos.

    Do nascimento ao desenvolvimento, depois à primeira vez que saiu da Cidade das Sombras em direção à Cidade Sandrise…

    Como Adam suspeitava, aquele homem não tivera uma vida fácil.

    Não sabia quem era seu pai, e sua mãe era uma moradora local da Cidade das Sombras que o criou como se fosse um animal de estimação, movida apenas por instinto materno. Tinha vários irmãos e irmãs com quem vivia brigando por comida e brinquedos, e era comum apanhar dos mais velhos.

    Por volta dos 11 ou 12 anos, já havia aprendido a roubar e assaltar em lugares cheios de gente. Também já fumava e bebia.

    Saiu da Cidade das Sombras pela primeira vez aos 15 anos, e foi também quando sofreu discriminação pela primeira vez.

    Ao seguir o homem até o módulo psíquico que continha esse capítulo de sua vida, Adam viu que seu primeiro destino fora uma vila próxima da Cidade Sandrise, e não a cidade em si.

    Mas aquelas vilas eram extremamente xenofóbicas, especialmente com os moradores da Cidade das Sombras.

    Tinham ouvido histórias demais sobre o lugar e acreditavam que todos dali eram assassinos a sangue-frio, prontos para matar por qualquer motivo, verdadeiros degenerados que haviam sido rejeitados pela sociedade por se recusarem a seguir regras.

    Os moradores da vila não o expulsaram, mas tornaram sua vida um inferno.

    Todos o tratavam com desprezo, viravam o rosto, e até os comerciantes se recusavam a vender pra ele. Depois de suportar a discriminação por um tempo, ele explodiu e atacou um grupo que ouvira falando mal dele pelas costas.

    Mas isso não deu em nada. Ninguém quis enfrentá-lo diretamente, e depois de evitá-lo, chamaram a polícia.

    Mesmo tendo passado a vida toda na Cidade das Sombras, ele sabia muito bem o quão temidos eram os oficiais da Guarda Mecânica, então fugiu da vila imediatamente.

    Depois disso, foi para a Cidade Sandrise. Havia ouvido dizer que nas cidades grandes todos estavam sempre ocupados demais pra se importar com a vida alheia.

    No começo, teve muitos problemas por causa de documentação, mas logo conseguiu um documento falso através de organizações ilegais, o que lhe deu certa liberdade de movimento.

    A cidade era luxuosa, fascinante, limpa e organizada.

    De início, ele se apaixonou por aquele lugar, mas logo mergulhou no desespero.

    Tudo exigia dinheiro, e havia muitos lugares que ele nem podia entrar. Era como se a cidade estivesse dividida por barreiras invisíveis, impossíveis de ultrapassar.

    O mais importante é que as habilidades de furto nas quais ele confiava para sobreviver na Cidade das Sombras não funcionavam mais na Cidade Sandrise. Havia câmeras de vigilância, oficiais da Guarda Mecânica e cidadãos cumpridores da lei por todos os lados, e logo ele se viu afundado em dívidas esmagadoras.

    Estava devendo para agiotas e para as organizações que arranjaram seus documentos falsos, e sentia como se correntes estivessem sendo colocadas lentamente em suas costas, tornando difícil até mesmo respirar. Todos os dias, era como se estivesse atravessando um pântano, preso e controlado a cada passo por uma mão invisível.

    Adam percebeu que foi justamente nesse período que começaram a surgir cada vez mais aberrações nos módulos psíquicos do homem.

    Nas ruas movimentadas, Adam via todo tipo de aberração emocional por toda parte, taxistas, gangues que arranjaram cartões bancários pra ele, os anúncios no céu, os pedestres no chão…

    Muitas pessoas à sua volta começaram a se transformar, e aquele módulo psíquico abrigava bem mais aberrações que qualquer outro em seu mundo psíquico.

    Por fim, ele não suportou a pressão, fugiu da Cidade Sandrise e voltou para a Cidade das Sombras, onde permaneceu desde então.

    Depois do retorno, passou os dias afogado em bebida e arrependimento, e deixou de sonhar com o mundo lá fora. De alguma forma, parecia até mais feliz do que antes. Não havia feito nada de positivo ou construtivo nos últimos anos, mas sua saúde mental estava surpreendentemente boa.

    Praticamente não havia peso emocional em sua mente, muito menos aberrações emocionais ou anomalias.

    Essa constatação foi mais um golpe para Adam, que começou até a cogitar se o diretor do estádio não era mesmo um filósofo, uma ideia que ele antes considerava ridícula.

    Depois de concluir suas observações, Adam retirou silenciosamente a Múmia e deixou o mundo psíquico do homem.

    De volta ao mundo real, viu Shae parada na entrada do beco, olhando em volta. O sujeito inconsciente claramente havia sido arrastado do local original para um canto mais discreto. Ficava claro que ela estava de guarda enquanto Adam explorava aquele mundo.

    Assim que Adam despertou, o homem também começou a recobrar os sentidos. Na Cidade das Sombras, poder era a moeda absoluta, quem tinha o punho maior, mandava. O homem conhecia bem essa regra de ouro e imediatamente saiu correndo do beco assim que recobrou a consciência.

    — O que você está fazendo?

    — Procurando anomalias emocionais.

    — E por quê?

    Adam fez uma breve pausa para formular as palavras, e então revelou uma parte da verdade, mesmo que Nie Yiyi e os outros provavelmente já tivessem deduzido isso.

    — Eu fico mais forte lutando contra anomalias psíquicas.

    — Entendi. — Shae não pareceu surpresa. Já tinha ouvido Adam dizer algo parecido no passado, e presenciou a transformação dele após a batalha contra a anomalia da freira. Não era burra, e perguntou direto: — Suponho que esteja procurando um alvo adequado?

    — Exatamente, mas o mais curioso é que os moradores locais da Cidade das Sombras parecem todos muito saudáveis.

    — Se os locais não servem, então vamos mirar nos forasteiros. Tem muitos fugitivos por aqui. Comparados com foragidos como Oni no Hanzou, que ainda conseguem levar uma vida mais ou menos normal, os que fogem pra cá são os que não têm mais nenhuma opção. Aposto que muitos deles estão cheios de problemas mentais.

    — Certo. Parece uma boa ideia.

    — Quando começamos?

    — Agora.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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