O caminho até o centro de treinamento foi rápido, mas, para Kaizhat, pareceu uma eternidade. Cada passo fazia seu coração bater mais forte. Ele tentava não demonstrar sua ansiedade, mas a tensão em seu corpo era evidente. Seus pensamentos giravam em torno do que Xavier poderia estar preparando para eles.

    Ao chegarem ao enorme pátio de treinamento, viram que todos os outros grupos já estavam reunidos ali. A diversidade de rostos, alturas e expressões era notável, mas o que realmente chamava atenção era o clima pesado que pairava sobre o lugar. Ninguém falava muito. Havia um silêncio carregado de expectativa, como se todos soubessem que o que estava por vir não seria nada fácil.

    Kaizhat sentiu um arrepio subir pela espinha. Ele olhou para os lados, analisando os outros despertados. Entre eles, viu Davidson, sorrindo como se estivesse ansioso para mostrar o quanto era superior. Ao seu lado, Xiao Mijin mantinha a postura firme e séria, como se nada ali fosse novidade para ela.

    Fred se inclinou levemente para Kaizhat e sussurrou:

    — Acho que nunca vi tanta gente prestes a sofrer ao mesmo tempo.

    Antes que Kaizhat pudesse responder, passos firmes ecoaram pelo pátio. Todos imediatamente voltaram sua atenção para a grande entrada do centro de treinamento.

    Xavier havia chegado.

    Vestindo sua imponente armadura negra e um manto vermelho que se movia levemente com o vento, o comandante parecia ainda mais intimidador do que antes. Seu olhar afiado percorreu os novatos, avaliando cada um deles.

    Quando abriu a boca para falar, sua voz soou como um trovão.

    — Bem-vindos ao verdadeiro começo de suas vidas neste mundo.

    Os despertados se entreolharam, sentindo o peso de suas palavras.

    — Vocês foram trazidos aqui por um motivo. Mas saibam disso: apenas aqueles que forem fortes o suficiente terão um lugar neste reino. O restante… — Ele fez uma breve pausa, deixando as palavras afundarem. — Será apenas um peso morto.

    Kaizhat sentiu o estômago revirar.

    — A partir de agora, não há mais descanso. Não há mais tempo para lamentações ou dúvidas. Seus corpos serão forçados ao limite, suas mentes serão postas à prova, e se não conseguirem aguentar… — Xavier cruzou os braços. — Não há lugar para fracos no campo de batalha.

    O silêncio foi absoluto.

    Então, sem dar tempo para qualquer questionamento, Xavier fez um gesto e dezenas de soldados apareceram, formando uma linha à frente dos despertados. Eles usavam armaduras leves e portavam lanças e espadas, mas a coisa mais assustadora neles era a postura: rígida, disciplinada.

    — Seu treinamento começa agora. E começa da maneira mais básica possível.

    Ele apontou para o outro lado do pátio.

    — Corram. Dez voltas completas. Sem magia. Sem descanso.

    Alguns despertados arregalaram os olhos.

    — O quê?! — alguém exclamou.

    — Agora!

    E foi como se um estouro de cavalos tivesse acontecido. Todos começaram a correr, uns mais rápidos, outros já mostrando sinais de dificuldade nos primeiros metros.

    Kaizhat sentiu seus pés se moverem automaticamente. O terreno era duro, irregular, e seus pulmões começaram a queimar já na terceira volta.

    Fred corria ao seu lado, suando como um louco.

    — Isso… é só… o começo?! — resmungou ele, tentando manter o ritmo.

    Frida, por outro lado, parecia bem menos afetada. Seu rosto não mostrava qualquer emoção enquanto ela mantinha um ritmo estável.

    Choi Miu, sempre calculista, respirava de forma controlada, garantindo que sua resistência não se esgotasse cedo demais.

    Star já estava ficando para trás, ofegante.

    — Isso é uma loucura! Eu sou maga! Corro no máximo… para fugir! — reclamou.

    Kaizhat queria rir, mas estava concentrado demais em simplesmente continuar.

    Quando a última volta finalmente terminou, muitos desabaram no chão, respirando pesadamente.

    Mas Xavier não lhes deu nem um minuto de descanso.

    — Levantem-se. Agora, flexões. Cem.

    Houve gemidos e resmungos, mas ninguém ousou desobedecer.

    Os músculos de Kaizhat já estavam tremendo quando ele chegou à contagem de cinquenta. A cada repetição, sentia os braços queimarem, como se fossem se romper a qualquer momento.

    Ao seu lado, Fred já estava suando tanto que parecia ter saído de um banho.

    — Eu… odeio isso…

    Davidson, por outro lado, fazia os exercícios com facilidade, exibindo um sorriso convencido.

    — Só isso? Achei que fosse difícil.

    Kaizhat cerrou os dentes.

    Após as flexões, vieram abdominais, pranchas, agachamentos e mais corrida.

    Quando o sol estava no seu ponto mais alto, os despertados estavam completamente exaustos.

    E Xavier apenas observava, com um olhar impassível.

    Ele então caminhou entre eles e falou com firmeza:

    — Isso foi apenas o aquecimento.

    Os olhos de Kaizhat se arregalaram.

    O treinamento real… ainda nem tinha começado.

    O sol já havia cruzado o céu há muito tempo, e agora apenas um tom alaranjado pintava o horizonte. Mas Xavier não mostrava sinais de cansaço, e muito menos misericórdia.

    A cada nova ordem, os despertados sentiam seus corpos sendo levados ao limite.

    Correr, lutar, carregar pesos, treinar reflexos, rastejar no chão de pedra. Nenhuma parte do corpo escapava da exaustão. Os músculos gritavam, os pulmões queimavam, os joelhos tremiam, mas Xavier simplesmente continuava, indiferente ao sofrimento deles.

    Fred caiu de joelhos após um longo exercício de levantamento de peso, respirando com dificuldade.

    — Eu vou morrer… — gemeu, apoiando-se nos braços trêmulos.

    — Se fosse pra morrer, já teria morrido. — Choi Miu respondeu, ainda tentando controlar a própria respiração. Seu rosto estava coberto de suor, mas seus olhos ainda mostravam concentração.

    Kaizhat estava em um estado pior. Seu corpo parecia uma pedra pesada, cada músculo latejava como se tivesse sido rasgado. Ele mal conseguia levantar os braços. Sua visão embaçava por conta do cansaço extremo, e sua mente já não conseguia raciocinar direito.

    Xavier, por sua vez, andava entre eles com as mãos cruzadas atrás das costas.

    — Vocês pensam que isso é um exagero? — Ele olhou ao redor, vendo os olhares desesperados e corpos tremendo de fadiga. — No campo de batalha, o cansaço mata. A dor mata. A hesitação mata.

    Davidson, mesmo cansado, ainda forçava um sorriso, tentando parecer superior.

    — Isso… isso é fácil. Achei que fosse ser pior.

    Xavier apenas ergueu uma sobrancelha, encarando Davidson por um momento.

    — Fácil? Então faça mais cinquenta flexões.

    O sorriso do loiro desapareceu na hora.

    — O quê?

    — Agora.

    Mesmo Davidson não teve escolha a não ser obedecer.

    O tempo passou e o dia virou noite. A lua já estava alta quando Xavier finalmente deu a última ordem.

    — Por hoje, terminamos.

    As palavras soaram como um presente divino.

    Kaizhat praticamente desabou no chão, sentindo o calor do solo sob seu corpo. Fred caiu ao seu lado, respirando pesadamente.

    — Isso… foi um inferno…

    — Você fala como se já tivesse visto um. — disse Choi Miu, tentando se manter sentado.

    Frida, por outro lado, estava apenas levemente suada, como se o treinamento tivesse sido apenas um exercício comum para ela.

    Kaizhat virou a cabeça e a observou por um momento.

    — Como você… ainda está de pé?

    Ela apenas o encarou com sua expressão fria.

    — Acostume-se.

    Kaizhat suspirou e fechou os olhos por um momento. Ele queria dormir ali mesmo.

    Mas Xavier deu sua última ordem da noite:

    — Voltem para suas casas. Descansem. Amanhã… será pior.

    O grupo caminhava de volta para casa, um silêncio pesado pairando entre eles. O único som era o da respiração pesada e das botas arrastando-se pelo chão.

    Kaizhat sentia cada músculo do seu corpo gritar de dor a cada passo. Fred mancava ao seu lado, apoiando-se levemente em Choi Miu.

    Star, completamente acabada, andava de cabeça baixa.

    — Eu juro… que se sobreviver a isso… nunca mais vou reclamar de ter que carregar livros pesados…

    Fred soltou uma risada fraca.

    — Eu nem sei mais o que é dor e o que é apenas meu corpo desistindo de viver…

    Kaizhat olhou para as mãos. Estavam vermelhas, com algumas pequenas feridas. Seu corpo inteiro tremia de cansaço.

    — Isso foi… só o primeiro dia. — ele murmurou.

    Frida, que andava um pouco mais à frente, falou sem virar o rosto.

    — E se não se acostumar, não vai durar nem uma semana.

    Todos sabiam que ela estava certa.

    Ao chegarem em casa, ninguém teve energia para falar nada.

    Kaizhat abriu a porta e praticamente caiu em uma cadeira. Star se jogou no sofá sem pensar duas vezes.

    Choi Miu, apesar de exausto, ainda se moveu até a cozinha para pegar água para todos.

    Fred desabou no chão mesmo.

    — Boa noite, mundo cruel…

    Frida apenas cruzou os braços, observando o grupo como se estivesse julgando cada um deles.

    — Vocês têm sorte que ainda tem um teto para dormir.

    Kaizhat olhou para ela, tentando entender se aquilo era algum tipo de provocação ou apenas um comentário sincero.

    Mas ele estava cansado demais para questionar.

    Choi Miu voltou com copos de água e distribuiu para todos.

    — Melhor beberem isso. Amanhã será pior.

    E com essa última frase, o grupo foi se arrastando para seus quartos, um por um.

    Kaizhat caiu em sua cama e nem teve tempo de pensar.

    O cansaço o engoliu antes mesmo de seu rosto tocar o travesseiro.

    Ele dormiu profundamente, sabendo que, ao amanhecer, o pesadelo recomeçaria.

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