Há bilhões de anos, quando o universo era apenas um vácuo eterno e silencioso, onde o conceito de infinito se estendia como um manto celestial sobre o nada, três entidades despertaram.

    Não havia tempo. Não havia matéria. Nem mesmo uma razão clara para existirem. Mas ainda assim, estavam ali.

    Confusos e perdidos, os três seres olham em volta, mas tudo o que veem é o vazio absoluto. É um nada tão absoluto que até mesmo a ideia de solidão parece abstrata. Contudo, não estão sozinhos. Uma voz, que não vem de lugar algum e, ao mesmo tempo, de todas as direções, sussurra dentro de suas existências. Aquela presença é avassaladora e, paradoxalmente, serena.

    É o “Criador”. O ser que antecede até mesmo o conceito de começo.

    “Vocês nasceram do meu pensamento… e agora carregam o fardo mais belo de todos: criar.”

    A voz ressoa como uma verdade que não precisa ser explicada. E então, à medida que seus nomes são atribuídos, seus destinos são selados.

    Ordem, o arquétipo da justiça, da esperança e da razão. A balança que impede o colapso do mundo.

    Caos, o arquétipo da destruição, da transgressão e toda a violência. Pois sem a escuridão, jamais haveria a luz.

    Éter, o arquétipo da vida, o fio sutil que liga todas as existências. O início e o fim de tudo o que respira.

    Esses três não são apenas entidades, são fundamentos. E assim, sob o comando do Criador, dão forma ao vácuo. Dimensões surgem. Os seres vivos nascem. Mundos colidem e se moldam.

    E então, como fumaça soprada ao vento, os três desaparecem, sem dor e sem adeus. Apenas deixam de existir.

    Com sua essência fundida no recém-nascido “Pilar do Universo”, o tecido do espaço-tempo e de toda a existência é reescrito. E as dimensões, separadas por véus de energia e leis próprias, se multiplicam, cada uma governada por forças únicas, com suas raças, histórias e regras.

    A mais importante dessas leis era clara:

    “Nenhuma criatura pode atravessar para outra dimensão sem a permissão dos governantes supremos daquele mundo.”

    Esse período torna-se conhecido como o Período da Criação, e os três que deram vida àquele novo Pilar do Universo são lembrados eternamente como os Três Deuses Primordiais.

    Ano 15 do calendário de Akales. A noite desce como um véu escuro sobre a floresta ao norte do Reino de Valmire. Um lugar onde os próprios ventos parecem ter medo de soprar. Os galhos das árvores negras se retorcem apontando para o céu, e o silêncio é quebrado com gritos desesperadores:

    Duas garotas correm sem descanso. A mais alta tem cabelos castanhos, e seu olhar é marcado por coragem e terror. A menor, de cabelos curtos e pretos, com olhos azuis como a aurora, respira com dificuldade, mas mantém o passo o quanto pode.

    — Eles… eles tão alcançando a gente! — grita Maria, a mais velha.

    — Ma-maninha… tô com medo…

    Na escuridão, os olhos negros da morte as observam. Elfos negros — seres cuja existência é banhada em rancor e sombras.

    Com pele cinzenta e fria, cabelos brancos e olhos inteiramente negros como abismos, os elfos perseguem as garotas em meio à floresta amaldiçoada. Seus passos são silenciosos, mas cada presença possui um peso gigantesco.

    “Se eles nos alcançarem… estaremos mortas. Não me importo comigo. Mas eu preciso proteger… a Nina.”

    O coração de Maria bate muito alto, enquanto as duas correm. Maria olha para a irmã com um pesar profundo.

    “Eu prometo que vou proteger Nina, com a minha vida, mesmo que todo mundo esteja contra nós.”

    Mas por um ato infeliz, o destino impede que as duas escapem.

    Nina tropeça.

    Um tronco oculto sob folhas a faz cair. Sua perna sangra, e a dor torna impossível se levantar.

    Os elfos sorriem. É como um jogo para eles.

    — Nina!

    Maria, correndo desesperadamente.

    Enquanto tenta se levantar, Nina vê uma sombra sobre si. Ao olhar para cima, seu corpo paralisa. Um dos elfos está ali, com sua lança erguida.

    O monstro sorri. Sua boca é larga, seus dentes finos e pontudos, e a língua… longa como a de uma serpente.

    Quando a lança desce, Maria se atira à frente, com os braços abertos, o corpo trêmulo, e um olhar assustado no rosto.

    — Pobre garotinha… Mesmo com o corpo tremendo, tenta proteger a irmã. Tão louvável… mas eu não me importo se você é criança ou não. Tudo que quero é te fazer sofrer o máximo possível.

    — Não… vou deixar… você tocar nela…!

    Os outros elfos as alcançam.

    A floresta escura fica ainda mais sombria.

    — Nina, ouça Você precisa fugir agora! — murmura Maria, olhando para trás.

    — Mas, maninha…

    — Você não precisa falar mais nada, tudo que importa agora é que você fique viva, vá corra para o mais longe possível!

    Com lágrimas nos olhos, Nina se levanta e se arrasta para longe. Um dos elfos tenta segui-la, mas Maria o agarra e o morde no ombro, como uma fera desesperada.

    Ela sabe que não vai sobreviver. Mas se puder ganhar segundos… talvez seja o suficiente.

    “Mesmo se meu corpo se quebrar… Se minha alma for despedaçada… Eu não vou deixar você morrer, Nina.”

    A dor pulsa em sua perna, mas Nina corre. Corre como quem foge da morte. Eventualmente, não consegue mais continuar. Senta-se sob uma árvore e chora em silêncio.

    — Por favor… que ela esteja bem…

    Mas a paz não dura.

    Outro elfo aparece diante dela.

    — Então é aqui que você se esconde, garotinha? Acha que pode fugir de nós?

    — O que fizeram com a minha irmã?! Fala logo!

    — Levamos ela para o acampamento, para ser sacrificada. Mas olhando bem… você talvez sirva melhor como um sacrifício.

    — Se vocês fizerem alguma coisa com ela eu não os perdoarei!

    Ele agarra Nina pelo pescoço, erguendo-a e então olha profundamente dentro de sua alma com seus olhos sombrios.

    — Uma só é suficiente pro ritual… Então vou acabar com você agora mesmo.

    Ele lambe seu rosto, enquanto sorri de forma macabra.

    “Eu vou morrer…”

    Nina chora enquanto seu corpo se contorce de medo.

    Mas então um som de estalo pode ser ouvido, sem perceber uma flecha atinge e perfura o olho do elfo. Ele grita e larga Nina enquanto cai no chão sentindo uma dor intensa.

    — Ah… droga. Errei. Eu queria ter acertado a testa.

    Nina se vira e vê um homem com capuz, segurando uma besta. Seu rosto ainda oculto pela sombra.

    — Seu desgraçado Você vai morrer!

    — Droga eu errei, da próxima eu miro melhor.

    — Errou não está vendo que acertou meu olho?! seu bastardo de merda!

    — Nah eu errei mesmo, na verdade eu queria acertar bem no meio da sua testa.

    O elfo corre, com a lança erguida. Dando um pulo alto ele se prepara para atacar. Mas o homem é mais rápido.

    Num único movimento, sua espada corta o ar. A lâmina atravessa o pescoço do elfo como se estivesse cortando papel. A cabeça é lançada ao céu, sangue jorra em todas as direções. O corpo tomba, sua cabeça rola pelo chão pintando-o com sangue que se espalha pelas folhas.

    Após o ataque, o capuz sai da cabeça do homem, e Nina olha de forma surpresa.

    — Es… espera… esse cara é…!

    — Sim. É ele mesmo… — diz um dos elfos que assiste, apavorado.

    Cabelos totalmente pretos que nem a luz da lua reflete seu brilho, olhos vermelhos como sangue, olheiras profundas, Roupas negras, e sua maior característica: a máscara de demônio visivelmente presa à sua roupa com o auxílio de uma corrente.

    Não há dúvidas.

    É o lendário caçador de monstros.

    “É o Caçador Negro!”

    O mesmo olha para os elfos. A visão que eles têm é de um ser totalmente imponente cuja reputação é muito conhecida.

    Empunha a espada com firmeza, e uma aura negra e opressora explode de seu corpo. O clima sombrio da floresta fica ainda mais evidente, deixando os elfos totalmente amedrontados.

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