Capítulo 20 | Degrau para os Gigantes
O silêncio na arena é quase palpável, uma pausa carregada que parece congelar o tempo. O ar ainda carrega o cheiro forte de suor, adrenalina e poeira levantada pelo combate feroz que acabou de acontecer. Tsubasa e Naoya permanecem no centro do ringue, imóveis, o corpo coberto por uma mistura de suor e pequenas marcas das batalhas trocadas. As roupas grudadas na pele, o peito subindo e descendo em respirações pesadas, cada um tentando recuperar o fôlego roubado pela luta intensa.
Os olhares dos dois se cruzam, e, naquele momento, não existe rivalidade, só um entendimento silencioso: eles se deram tudo ali. Não tem espaço para rancor, só respeito pelo esforço do outro. Tsubasa, com o cabelo grudado na testa e os olhos ainda brilhando de fogo, solta um sorriso torto, meio sem fôlego, mas cheio da satisfação daquele que saiu vitorioso na guerra.
Naoya, apesar da derrota, mantém a cabeça erguida. Ele não está quebrado, só marcado — e é justamente isso que traduz o valor do combate. Ele sabe que entregou o melhor que tinha. Eles começam a se afastar, ainda encarando a multidão que, aos poucos, deixa de rugir para recuperar o fôlego e a calma.
Lá nas arquibancadas, a vibração do público vai diminuindo, as conversas voltam a tomar o lugar das explosões de aplausos. A tensão vai cedendo espaço para a expectativa — porque o próximo round está logo ali, e o time de Ryuji sabe que a batalha está longe do fim.
No canto da arena, os membros do time se juntam em um círculo apertado. Cada rosto exibe o peso do que já foi vivido e a ansiedade pelo que ainda está por vir. A luz quente dos refletores escorre por eles, marcando cada gota de suor, cada músculo ainda tenso. É um momento que parece suspenso entre o passado recente e o futuro incerto.
Ryuji, sempre aquele equilíbrio entre calma e fogo, olha para Tsubasa com um sorriso leve, tentando passar energia e confiança. A voz dele sai firme, mas amigável, como um pacto silencioso entre guerreiros.
— Você mandou bem demais, Tsubasa. Preparado pro que vem?
Tsubasa solta um riso abafado, um som misto de cansaço e orgulho. A respiração ainda pesada, ele acena com a cabeça, sentindo o gosto da vitória queimando na garganta.
— Foi uma guerra. Mas eu saí por cima. Agora é contigo, Ryuji. Mostra quem manda aqui.
O olhar de Ryuji se torna mais sério, as sobrancelhas franzidas pela concentração. Ele sente a pressão do momento, mas também a chama do desafio. Aquele instante carrega o peso de todo seu treinamento, toda sua vontade.
— Pode crer. Vou dar tudo de mim.
Eles se encaram por um instante, uma conexão silenciosa que só quem já suou sangue sabe entender. O time se prepara para seguir, cada um carregando um pedaço daquela energia, prontos para a próxima batalha. Porque, naquele ringue, a guerra nunca para — e o melhor ainda está por vir.
O som seco da campainha rasga o ar, cortando o silêncio tenso como uma lâmina afiada. É o sinal que explode o início do próximo round, mas ninguém aqui quer só começar — quer destruir.
Ryuji Arata pisa firme na arena, a energia pulsando em cada passo. A luz dos refletores bate no suor da testa, iluminando o olhar de quem carrega a vontade de mil guerras. Ele não dá um pio, só solta aquele olhar de quem sabe exatamente o que quer — vitória. Sem medo, sem hesitação.
Na frente dele, Kuroki Enra aparece como uma sombra fria que corta a atmosfera quente da arena. O tipo de cara que é calculista demais, sabe de cada movimento antes mesmo de acontecer, o cérebro dele é uma arma tão letal quanto os punhos. O sorriso dele? Um convite aberto para a batalha. Aquele sorriso cruel, cheio da certeza de quem já derrubou muitos como Ryuji.
— Então é você, Ryuji Arata. A lenda em construção. — a voz de Kuroki é baixa, carregada de sarcasmo, como se estivesse falando pra uma criança que tenta brincar de gigante.
Ryuji não recua nem um milímetro, o peito expandido na confiança de quem carrega um fogo interno. Olha direto nos olhos do rival, sem piscar.
— Sou eu mesmo. Vamos ver se é só papo ou se você entrega no ringue. — a voz dele sai firme, cortante, a promessa de uma batalha que vai deixar marcas.
Kuroki dá um passo à frente, avançando com aquela aura de mestre frio e calculista, que não perdoa vacilo.
— Estratégia é tudo, garoto. Você acha que força resolve? Tá na hora de aprender o que é um mestre.
O clima explode num estalo quando os dois se lançam um contra o outro. É uma tempestade de movimentos rápidos, violentos, precisos — Kuroki desferindo golpes que mais parecem um enxame de agulhas, cada soco e chute calculado pra abrir brechas e testar o limite do adversário.
Ryuji não fica atrás, sua resposta é uma dança quase sobrenatural, movendo-se com agilidade e explosão, o poder do Sen fluindo pelas veias. Cada movimento é uma expressão daquele fogo interno, o corpo todo vibrando com energia.
Golpes voam, esquivas rasgam o espaço, o som dos impactos ressoa na arena como trovões. O público prende a respiração, cada lance carregado de tensão crescente.
Kuroki tenta envolver Ryuji numa teia de armadilhas, um passo à frente, dois pra trás, sempre calculando, esperando o momento certo. Mas Ryuji quebra o ritmo, usando a potência do Sen para virar o jogo, acertando um golpe que ecoa pela arena, fazendo o chão tremer.
A batalha não é só de força, é mente contra mente, coração contra coração, o duelo de um guerreiro em construção contra o mestre que quer mostrar seu reinado.
O relógio corre, a adrenalina sobe, a luta ganha vida própria, um espetáculo brutal que não deixa espaço para erro.
Ryuji sente o peso da respiração no peito, o suor escorrendo pela testa, a pulsação martelando em ritmo frenético. O mundo parece desacelerar ao redor dele, só pra ele enxergar a próxima brecha, o próximo movimento do rival. O corpo está ligado no 220, mas a mente permanece afiada, estratégica.
Ele se abaixa rápido, desviando do chute certeiro que vinha como um raio, sentindo o ar cortar próximo da bochecha. O impacto do golpe quase toca a pele, mas não toca. É reflexo, é treino, é o poder do Sen sussurrando na sua alma.
Sem perder tempo, Ryuji explode pra frente, os punhos se transformam numa sequência rápida e feroz de socos — um combo desenhado para furar defesas e pressionar o oponente. A força de cada golpe é uma batida do seu coração em chamas, a velocidade de um trovão que não deixa o adversário respirar.
Mas Kuroki não é qualquer um. Ele recua com precisão, sentindo o ritmo do ataque, a respiração de Ryuji, e responde com contra-ataques frios, calculados, quase como se estivesse jogando uma partida de xadrez onde cada peça é um golpe. Ele não quer só rebater — quer fazer Ryuji errar, quer a brecha perfeita pra dar o golpe fatal.
O corpo de Kuroki se move com uma fluidez quase sobrenatural, esquivando com um passo lateral, girando, e devolvendo uma sequência de golpes que combinam velocidade com técnica refinada, buscando explorar cada fração de segundo em que Ryuji esteja vulnerável.
No meio desse turbilhão, a cabeça de Ryuji processa rápido demais:
Ele é rápido, mas eu acompanho.
Um pensamento frio que impulsiona o próximo movimento.
Com olhos que começam a brilhar, refletindo a energia pulsante do seu Sen despertado, Ryuji sente a chama interna crescendo — a aura em torno dele intensifica, como se o ar em volta se tornasse mais denso, carregado de poder.
Kuroki não perde tempo, a voz dele corta o ar como um estilete:
— Velocidade não é tudo! Se prepara pro inesperado!
É o aviso de quem sabe que tem um truque na manga, que quer fazer Ryuji pensar duas vezes antes do próximo passo.
Mas Ryuji não recua. O fogo no olhar está firme, a vontade gravada na alma:
— Meu Sen vai te derrubar. — fala baixo, quase um sussurro que explode em determinação.
Nesse instante, a luta vira um balé brutal, um jogo de xadrez onde cada movimento é vital, onde defesa e ataque se misturam em passos rápidos, imprevisíveis. Os dois guerreiros giram e saltam, o corpo deles um quadro em movimento — agressividade crua e estratégia afiada em cada instante.
Ryuji esquiva mais um golpe mortal, sentindo o poder do Sen correndo na veia, carregando força, precisão e aquela energia que só quem tem o coração de um lutador sabe controlar.
A arena já não vibra só pela luta física — o ar parece pesar, como se um silêncio denso tivesse caído por trás da explosão de golpes. Kuroki Enra muda de postura, aquela frieza calculista vira algo mais profundo, quase sinistro. Ele para um instante, o olhar atravessa não só Ryuji, mas o espaço além da arena, buscando presenças que só ele parece enxergar.
O rosto que antes carregava apenas confiança agora se veste de uma sombra de segredos sombrios. A voz dele desce uns tons, fica carregada, sombria, quase um sussurro venenoso que penetra como lâmina:
— Você acha que chegou longe? — diz, fixando Ryuji com um olhar que não é só de desafio, mas de aviso de algo maior — Ainda nem viu o que é o verdadeiro poder.
O público sente. O silêncio volta a dominar, pesado como uma pedra no peito. Kuroki se volta para a plateia, o sorriso frio se distorce num ar de respeito e medo junto, como se estivesse pronunciando o nome de uma lenda que assombra o mundo inteiro:
— Senshirou Nok… O “Imortal da França”. — A voz dele parece reverberar, quase ecoando nas paredes da arena — Ele transcende tempo, técnica, corpo… É um monstro que só quem já enfrentou sabe o que é.
Ryuji franze a testa, a mente tentando captar o tamanho do desafio. A palavra “Imbatível” quase sai, mas ele segura, curioso e tenso:
— Imbatível?
Kuroki balança a cabeça, um meio sorriso que parece tanto uma resposta quanto um enigma:
— Talvez. Ou talvez o maior desafio que já existiu.
O clima, agora, não é só tenso — é como se a sombra de um gigante estivesse descendo para esmagar todo mundo ali. Kuroki continua, agora com um tom ainda mais carregado, lançando outro nome na roda da história, uma ameaça ainda mais crua e direta:
— E tem Reiji Kurosawa, o monstro da força bruta. — O olhar dele se torna cortante, carregado de respeito e terror — Sem truques, só destruição pura. Um golpe dele e é fim.
Ryuji, calado, absorve cada palavra. O peso dessa verdade cai sobre ele como um soco no estômago. Aqueles dois nomes… são lendas vivas, monstros que caminham no mundo, não mitos.
Ele pensa, em silêncio, enquanto seu peito se aperta:
Esses dois… são as lendas que vou ter que encarar.
Kuroki solta um sorriso gelado, que é quase um tapa de realidade:
— Eu? Sou só o degrau antes deles.
As palavras pairam no ar, cortantes, ameaçadoras, como se aquela luta, por mais brutal que fosse, fosse apenas o prólogo da verdadeira guerra.
A luta segue, os golpes continuam, mas dentro da cabeça de Ryuji ressoa o eco daquele aviso. A arena, a torcida, tudo parece menor diante do horizonte gigantesco que se abriu à sua frente.
Kuroki lança a última farpa, venenosa, deixando o clima à beira do colapso:
— Até lá, encara a mim. Depois, boa sorte contra os verdadeiros gigantes.
E na mente de Ryuji, aquela voz interior explode em definitivo, firme e pronta para o que der e vier:
A luta real… só começou.
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