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    O ginásio, onde Cyan havia vomitado no dia anterior, agora estava limpo e arrumado. Naturalmente, quem havia limpado tudo fora Nina.

    — O que está fazendo aqui? — perguntou Eugene.

    — Estava esperando você. — Ciel estava em pé no ginásio. Sorriu enquanto acenava para ele e disse — Você veio direto depois de comer, né? Ainda dá pra sentir o cheiro da carne.

    — Mas eu escovei os dentes.

    — De que adianta limpar só a boca? O cheiro vem do corpo todo.

    — E não é cheiro de esterco de vaca?

    — Isso foi o que meu irmão disse. Eu nunca falei que seu corpo cheira a esterco de vaca. E além disso, nem sei qual é o cheiro de esterco de vaca.

    — E qual mais poderia ser? É esterco. Se não sabe, dá uma cheirada no próprio cocô.

    — Que nojo.

    — Então por que estava me esperando aqui?

    Nada havia acontecido ontem, mas será que ela realmente tinha vindo só pra trocar provocações depois de apenas um dia? Eugene estreitou os olhos e encarou Ciel.

    — Vim treinar com você — respondeu Ciel, entre risadinhas. — Até vesti meu uniforme de treino, olha só.

    — Está estiloso — comentou Eugene com indiferença, observando a roupa que Ciel usava.

    O uniforme de treino trazia o brasão dos Lionheart bordado no peito esquerdo, declarando sua descendência da linha direta.

    “E é claro que não tem nenhum leão nas roupas que me deram pra usar”, pensou Eugene, antes de perguntar — Você só deixou seu irmão largado em algum lugar pra vir aqui?

    — Meu irmão está treinando com o Hazard. Sabia que ontem minha mãe ficou furiosa por sua causa? Ela deu mais de dez tapas nele.

    — Ela bateu nele de verdade?

    — Uhum.

    Eugene piscou, surpreso com a notícia. Tinha certeza de que o garoto havia crescido sem saber o que era disciplina rígida.

    — Mas por que ela não tentou me bater também? — perguntou Eugene.

    — Por que minha mãe bateria em você? — Ciel pareceu confusa.

    — Você não disse que ela bateu no seu irmão porque ficou com raiva de mim?

    — Hmmm… Isso mesmo, mas minha mãe ficou com raiva porque meu irmão desafiou você pra um duelo, e aí você acabou vencendo.

    — Mas no fim das contas, foi por minha causa que ela ficou com raiva, não foi?

    — Pode-se dizer que sim.

    Por mais precoce que fosse, uma criança ainda era uma criança, Eugene entendeu isso muito bem naquele momento.

    — …Sua mãe também sabe que você veio aqui? — Eugene mudou de assunto.

    — Sabe. Minha mãe disse que eu devia tentar me aproximar de você — confessou Ciel, sem hesitar.

    “Como é que ela diz uma besteira dessas de ‘se aproximar’ justo de mim, que deixei ela tão furiosa a ponto de dar uns tapas naquele pirralho?”, Eugene quase gritou, mas se conteve.

    Afinal, como uma criança tão nova como Ciel poderia saber o que a Segunda Senhora da casa principal realmente pretendia?

    — …É mesmo — Eugene disse por fim.

    — Você não disse ontem que a gente podia ser amigos já que temos a mesma idade? — Ciel retomou o assunto do dia anterior.

    — Mas seu irmão disse que só ter a mesma idade não faz a gente ser amigo.

    — Isso foi o que meu irmão disse. Eu nunca concordei com ele. Então, você não quer ser meu amigo?

    — …Tá bom, vamos ser amigos. Então, amiga, já que vou treinar, por que não vai brincar ali do lado em vez de me atrapalhar?

    — Vai brincar comigo?

    — Nãooo, eu vou treinar.

    — Então eu também vou treinar.

    “É melhor desistir e ignorar. Devia ter feito isso desde o começo”, pensou Eugene com um clique de língua enquanto se dirigia ao depósito de equipamentos no canto do salão.

    — Ontem você usou uma lança. Vai usar lança de novo hoje?

    — Não.

    — Então o quê? Uma faca?

    — Primeiro, vou suar um pouco.

    Eugene escancarou a porta do depósito. O interior, que estava coberto de poeira até o dia anterior, havia sido completamente limpo durante a noite. Era óbvio quem tinha feito isso. Parecia que Nina passara a noite inteira limpando.

    — Isso sim é o que gosto de ver — murmurou Eugene ao entrar no depósito.

    Não apenas toda a poeira fora varrida, como tudo estava organizado e limpo. Os sacos de areia, especialmente, estavam com a superfície mais lisa e pareciam mais pesados do que antes. Além disso, o couro havia sido polido e até a areia interna parecia ter sido reabastecida.

    “…Mesmo assim, não tem tanta coisa aqui, então nada me chama muito a atenção.”

    Por algum motivo, estava com vontade de trabalhar com machado hoje. Mesmo que não houvesse nenhum machado ali. No fim, Eugene saiu do depósito carregando apenas um monte de sacos de areia.

    — E a arma? — perguntou Ciel.

    — Hoje vou treinar o corpo.

    Eugene sentou-se no chão e começou a amarrar os sacos de areia nos membros. Ciel o observou por um instante antes de ir até o depósito, de onde voltou também com alguns sacos.

    — Quero fazer junto com você — disse Ciel.

    — Por que você ia querer isso?

    — Porque vai ser chato só ficar olhando.

    — Faz o que quiser.

    Eugene se levantou, o corpo coberto por sacos de areia pendurados. Em seguida, começou a correr em volta do ginásio.

    “…É pesado”, pensou Ciel, cambaleando ao tentar ficar de pé.

    A mana que ela gerou no núcleo do corpo começou a circular, fortalecendo-a no processo. Só depois disso ela conseguiu movimentar o corpo da forma que queria.

    “Como ele consegue correr assim só com o corpo?”

    Os olhos incrédulos de Ciel acompanharam Eugene girando pelo salão. Ele mal havia começado a correr e já estava terminando a primeira volta enquanto respirava profundamente. Ciel ficou parada por alguns momentos, esperando Eugene retornar para que pudessem correr juntos.

    — Você realmente não treinou sua mana? — Ciel sentiu que precisava perguntar.

    — Já disse que não treinei. Para de falar comigo.

    — Que incrível… Como consegue correr com tudo isso sem treinar a mana?

    — Para. De. Falar. Comigo — rosnou Eugene, lançando um olhar irritado.

    Diante disso, Ciel apenas mostrou a língua uma vez e, então, permaneceu em silêncio.

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