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    [Escola Secundária 25 – Sala de Reuniões Principal | Um Dia Depois da Derrota]

    O relógio marcava 10h17 da manhã. A luz do sol atravessava os vidros sujos da sala de reuniões, riscando o chão como lanças douradas, enquanto o som do martelo e das ferramentas ecoava do lado de fora. Ainda havia poeira no ar, cheiro de concreto, suor e sangue recente impregnado nas paredes. A escola 25 estava tentando respirar de novo, mesmo com os pulmões perfurados.

    Hayato estava encostado na parede, braços cruzados, o semblante mais sério do que nunca. Em frente a ele, sentado à mesa com vários papéis de estatísticas e mapas abertos, estava Nathan Rayna, um dos estrategistas mais experientes da escola. O homem de terno sempre impecável agora usava uma camisa de manga dobrada, suor no colarinho, rosto cansado.

    — Trinta por cento do nosso efetivo… — disse Nathan, olhando para os dados. — Trinta por cento, Hayato. Isso não foi uma derrota. Foi um golpe no coração.

    Hayato bufou, os olhos mirando o chão.

    — Eu sei. Eu vi tudo. Eu senti a porra da impotência correndo nas veias… — murmurou ele, cerrando os punhos.

    — E você sabe quem causou isso, não é? — Nathan perguntou, encarando-o com firmeza.

    — Danilo… e o maldito Reo. — Hayato desviou o olhar, a mandíbula tensa. — Eles destruíram como se estivessem jogando.

    — E o Yoru?

    Antes que Hayato respondesse, a porta se abriu. A luz invadiu a sala por completo, revelando a figura de Hina, com os olhos levemente vermelhos e a voz embargada.

    — Ele não tá bem…

    Nathan e Hayato se viraram para ela. Hina fechou a porta com cuidado e caminhou até perto da mesa.

    — Desde ontem, ele não falou com ninguém. Dormiu fora da escola. Não atendeu ligações. O Beak tentou ir atrás dele, mas… Yoru não quer ser encontrado.

    — E onde ele tá? — perguntou Hayato.

    Hina respirou fundo.

    — No parque da cidade. No mesmo banco onde ele costumava ir com a mãe dele… Mei Akemi.

    [Parque Central da Cidade | 11h02 da Manhã]

    O parque estava silencioso para um fim de manhã. As árvores balançavam suavemente com o vento primaveril. O céu era azul pálido, e o canto de alguns pássaros ajudava a camuflar a dor que habitava aquele lugar.

    No banco de concreto, com musgo crescendo pelas laterais e pichações apagadas pelo tempo, Yoru estava sentado. Vestia uma camiseta preta simples e uma calça de moletom escura. Seus tênis estavam sujos de terra, e ao lado dele, uma sacola com pão despedaçado. Ele jogava pedaços no chão para um grupo de pombos famintos, os olhos vazios, como se nem estivesse ali.

    Seu rosto estava abatido. Havia escuridão sob seus olhos e uma rigidez incomum em seus ombros. Ele parecia menor. Menor do que o garoto que enfrentou dezenas. Menor do que o líder que inspirava outros. Ele era, ali, apenas um filho. Um garoto que tinha perdido sua mãe, sua escola… e a si mesmo.

    — Sua mãe costumava fazer isso também. — disse uma voz feminina e madura atrás dele.

    Yoru se virou devagar.

    Ela era uma mulher de cabelos pretos lisos, presos em um coque bagunçado. Vestia um sobretudo bege por cima de uma roupa social escura, e trazia nas mãos um copo de café. Seu olhar era calmo, porém profundo. E quando ela sorriu, havia algo de conhecido ali.

    — Quem é você? — perguntou Yoru, confuso.

    — Rukia. Só Rukia. — Ela deu um gole no café. — Uma velha amiga da sua mãe.

    — Você conheceu minha mãe…? — Yoru se endireitou, o coração acelerando.

    — Conheci, treinei com ela, apanhei dela, vivi ao lado dela. Durante muito tempo. Eu e Mei éramos… irmãs de espírito. Geração Zero.

    Yoru arregalou os olhos. Seu corpo se tensionou.

    — Geração Zero…?

    — Sim… os monstros que abriram caminho para todos vocês existirem hoje. Sua mãe foi uma das maiores. Não a mais falada. Mas a mais temida.

    — Isso é mentira. — Yoru abaixou a cabeça. — Minha mãe era… calma. Doce. Gentil.

    — Ela era tudo isso. Mas também era forte. E essa força, Yoru… foi o que a fez sofrer.

    Rukia se sentou ao lado dele, sem pressa.

    — Mei tinha um dom. Ela conseguia ler as pessoas com os olhos. Sabia quando estavam mentindo, sabia quando estavam fracas… e quando iam cair. Ela me disse uma vez que você herdaria isso.

    Yoru olhou para Rukia com olhos marejados.

    — Então por que ela morreu? Por que alguém assim… caiu?

    — Porque ser forte não impede que o mundo te quebre. Só torna mais doloroso quando ele consegue.

    Houve um silêncio entre os dois. Os pombos continuavam bicando o chão. O vento assobiava entre as folhas das árvores.

    — Yoru… — continuou Rukia, virando-se para ele. — Você carrega algo dentro de você que ainda está dormindo. Mas acredite em mim, seu corpo já sente. Seus punhos já sabem. Eles só precisam de um motivo verdadeiro para desabrochar.

    Yoru apertou os olhos, confuso e frustrado.

    — Do que você tá falando…?

    — Tô falando que sua força ainda tá se formando. Que ela vai nascer do seu desespero, da sua dor… mas também da sua vontade de proteger.

    Ela se levantou, ajeitando o sobretudo com um pequeno sorriso.

    — Confie no seu corpo e em seus punhos, Yoru. Uma hora ou outra, eles vão desabrochar. — disse ela com suavidade, como quem plantava uma semente no fundo da alma dele.

    — Espera… Rukia! — ele se levantou. — Quem realmente era a minha mãe? Quem era Mei Akemi?

    Ela parou, mas não se virou.

    — Ela era o tipo de pessoa que poderia ter destruído o mundo… mas escolheu ensinar você a abraçar ele.

    E com isso, Rukia caminhou, seus passos sumindo na curva do parque, deixando Yoru ali, parado, com o coração batendo diferente pela primeira vez desde a derrota.

    Pela primeira vez… havia algo novo ali.

    Silêncio. Mas não o da morte.

    O da mudança.

    A brisa já não era leve. Parecia carregar um peso. O mesmo peso que habitava dentro do peito de Yoru desde o momento que Rukia sumiu entre as árvores, deixando para trás um eco que grudava na alma:

    “Confie no seu corpo e em seus punhos, uma hora ou outra… eles vão desabrochar.”

    Essas palavras pareciam tatuadas por dentro. Mas o que significavam realmente?

    “Minha mãe… era da geração zero…?”

    Ele estava de pé, parado no mesmo ponto. Os pombos já haviam ido embora, e a sacola de pão estava jogada no chão. O olhar de Yoru vagava, perdido. Lembranças distorcidas vinham como relâmpagos: o sorriso da mãe, as mãos firmes que seguravam as dele, os olhos que pareciam ver através de tudo.

    Ela era doce… mas e se ela tivesse escondido sua verdadeira natureza dele por todos esses anos?

    — Mãe… quem era você de verdade…? — murmurou.

    Foi então que ele ouviu passos. Vários. Arrastados, maliciosos. Ele levantou os olhos.

    Cerca de nove delinquentes se aproximavam lentamente, todos usando o uniforme da escola secundária 35. Não eram grandes nomes. Nenhum rosto conhecido. Mas todos com a mesma aura desprezível. Risos maldosos. Postura de quem subestima.

    — Olha só quem é… — disse um deles, com um sorriso torto. — O príncipe caído da escola 25.

    — Que merda você quer aqui sozinho, Yoru? Choramingar na frente dos pombos?

    — O número 1 derrotado, agora nem sombra do que era antes.

    — Deve estar esperando a mamãe voltar do além pra te defender.

    Yoru fechou os olhos. Um pequeno bip ressoou em seu ouvido.


    [Sistema]: Detecção de perigo iminente.


    [ Missão sendo criada…]


    [Nova missão secundária desbloqueada]


    [Recupere sua força e seus homens – Derrote os delinquentes da Escola 35]


    Recompensa: 2 Baús Lendários]

    Yoru abriu os olhos lentamente, e ali estava a diferença.

    A calma.

    A fúria fria.

    Um segundo depois, ele sumiu da vista de todos.

    O primeiro delinquente sequer teve tempo de piscar antes de seu queixo ser atingido com um direto tão preciso que o fez girar no ar antes de cair. Outro tentou avançar pelas costas, mas Yoru girou, agarrou seu braço e o arremessou contra dois outros como se fossem bonecos de pano.

    Cada movimento era limpo. Sem hesitação. Yoru não estava apenas lutando. Ele estava lembrando.

    — Vocês não valem nem meu tempo… — disse, ofegante.

    Três tentaram vir de uma vez. O som das costelas quebrando ecoou pelo parque. Um dos delinquentes caiu tentando fugir, gritando por socorro.

    Yoru se aproximou dele, encarando-o no chão.

    — Vocês não entenderam ainda…? Eu posso cair. Mas eu sempre levanto..

    Yoru limpou o sangue da boca. Seus punhos estavam vermelhos, pulsando. Havia algo diferente neles. Eles ardiam… como se finalmente tivessem sentido propósito.

    Ele se virou para ir embora. E então… uma mão tocou seu ombro.

    O toque era firme. Controlado. Inabalável.

    Yoru virou a cabeça devagar, e o mundo pareceu congelar.

    — Você de novo… — disse ele, reconhecendo a mulher de terno e óculos escuros que o abordara meses atrás, a responsável por sua entrada nesse “novo mundo”. A que lhe deu o cartão de dinheiro ilimitado. A mulher que o observava desde o início.

    — Você está machucado. Mas ainda não está quebrado. — disse ela, a voz serena como sempre.

    — O que você quer agora?

    — Falar da sua escola. Das suas escolhas. Da sua mãe.

    A palavra mãe acendeu o estopim.

    — Cuidado com o que você vai dizer dela… — rosnou Yoru.

    A mulher cruzou os braços.

    — Mei era mais do que você pensa. Ela tinha segredos demais. Alguns deles… colocam você em perigo até hoje.

    Yoru franziu o cenho.

    — Não fala da minha mãe como se você a conhecesse.

    — Eu a conheci, Yoru. E ela cometeu erros. Assim como você está cometendo agora, se afundando em dor, quando deveria se reerguer.

    — Você não sabe NADA de mim!

    Yoru girou o punho, seu sangue fervendo. Ele avançou sem aviso.

    O soco foi certeiro no maxilar da mulher.

    Mas… nada aconteceu.

    Ela não se mexeu. Nem um centímetro.

    Yoru recuou, surpreso. Ele tentou outro golpe. Um chute. Um direto. Nada. Era como bater em um pedaço de aço revestido com concreto.

    — O que… você é…? — perguntou, engolindo em seco.

    Ela apenas ajustou os óculos escuros com dois dedos.

    — Está bravo por eu falar dela? Então me faça calar.

    Yoru rugiu, a dor se misturando com fúria. Avançou com força total. Sequência de golpes, misturando o que aprendeu em campo, com instinto puro. Cada ataque era mais selvagem que o anterior.

    E então — CRAACK!

    Os óculos da mulher quebraram com um gancho violento.

    Pela primeira vez, Yoru viu seus olhos.

    Olhos negros, com íris brancas como a neve. Intimidador. Inumano.

    Ele congelou.

    — Você… — murmurou.

    Antes que pudesse reagir, ela moveu o braço.

    Um único soco.

    O mundo virou de cabeça pra baixo.

    Yoru foi arremessado como um míssil, atravessando o parque, destruindo uma árvore no impacto e abrindo uma cratera no solo de tanto que afundou. Poeira subiu, pássaros voaram assustados. O som da devastação ecoou pelo ar calmo.

    O corpo de Yoru tremia, machucado. Ele tossiu sangue. Tentou se levantar… mas seus braços falharam.

    A mulher caminhou até ele, pisando com calma, olhando para ele de cima.

    — Você quer saber quem eu sou?

    Yoru a encarou com dificuldade, os olhos arregalados.

    — Eu sou Yumi Blaker.

    O nome explodiu na mente de Yoru como um trovão. Sua respiração falhou. Seu peito se apertou.

    — Você… é uma lenda… da Geração Um…?! — ele sussurrou, quase sem voz.

    Ela se ajoelhou ao lado dele, olhando com aqueles olhos que pareciam enxergar além da pele.

    — E esses olhos… — ele murmurou. — O que são…?

    Yumi sorriu de leve.

    — Isso… é um segredo. Mas um dia, você vai entender. Quando estiver pronto.

    Ela se levantou, virou as costas e caminhou lentamente.

    Yoru, ainda no chão, sentiu algo que não sentia desde o começo da jornada.

    Medo.
    Fascínio.
    E uma vontade incontrolável de se tornar mais forte.

    O mundo estava começando a revelar suas peças.
    E Yoru… estava prestes a entender que a verdade por trás da força era muito maior do que ele imaginava.

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