Índice de Capítulo

    Emmet ficou sozinho dentro do mundo branco.  

    Tak, Tak—  

    Seus passos ecoaram suavemente no vazio branco, ondulações se formando a cada passo que dava.  

    Quanto mais caminhava, mais ele perdia a noção de si mesmo.  

    Era como se estivesse afundando lentamente nas profundezas do oceano, a escuridão gradualmente o envolvendo, abraçando cada parte de seu corpo com uma sensação estranha e fria.  

    Ele podia imaginar a expressão do Arcebispo lá fora.  

    ‘Acabou. Você perdeu.’  

    A voz do Arcebispo ecoava baixinho em sua mente repetidamente. Eram como sussurros que o lembravam de sua incompetência.  

    De seu… fracasso.  

    Era injusto.  

    Ele nunca teve tempo para se ajustar adequadamente a este mundo.  

    Ele…  

    Tak—  

    Mais ondulações se formaram quando ele deu outro passo.  

    Ele já havia esquecido há quanto tempo caminhava. O mundo branco parecia infinito, cada passo expandindo o mundo branco à sua frente.  

    O desespero já havia se alojado em seu coração.  

    “…..Por que é sempre assim?”  

    Emmet murmurou para si mesmo enquanto olhava para frente. Ele não olhava para baixo, apenas para frente.  

    Ele não queria olhar para baixo.  

    ….Ele só queria olhar para frente.  

    “Seja agora, ou no passado. Por que sempre me sinto assim?”  

    Lutar uma batalha perdida… Era algo a que ele estava acostumado. Era por isso que continuava a caminhar para frente… olhar para frente.  

    Porque isso era tudo que ele sabia fazer.  

    Lutar sem olhar para trás.  

    “O que você está fazendo? Desista logo!”  

    “Por que você ainda está caminhando?”  

    “Pare sua luta inútil e venha para o meu lado!”  

    O Arcebispo gritava do lado de fora enquanto encarava a projeção diante dele. Ele ria às vezes e gritava em outras.  

    Parecia estar se regozijando com a situação de Emmet.  

    Mas suas palavras eram inúteis.  

    Elas não podiam alcançar Emmet.  

    Tak, Tak—  

    Dentro do mundo branco, ele continuou a caminhar para frente.  

    Como se estivesse em transe, sua visão oscilava entre estar turva e clara.  

    ‘O que ele está fazendo?’  

    ‘….Como ele ainda está indo?’  

    ‘Eu estava errado sobre ele?’  

    Leon e os outros encaravam a cena com a respiração suspensa. Todos eles não entendiam como ele ainda conseguia manter a mente clara.  

    Todos presentes haviam passado pelas provações. Sabiam o quão difícil era.  

    Era uma provação sem saída.  

    “É uma luta inútil! Desista!”  

    O Arcebispo gritou para a projeção, sua expressão se desfazendo de impaciência.  

    “…..O que você está fazendo!? Desista e pare de desperdiçar meu tempo!”  

    Mais uma vez, suas palavras caíram em ouvidos surdos.  

    Emmet continuou em frente, sua expressão firme enquanto seus passos continuavam a formar ondulações sob ele.  

    Quanto mais caminhava, mais sua mente ficava em branco.  

    O Anel do Nada… Estava lentamente começando a afetá-lo.  

    Sua mente… Ele estava perdendo a noção dela.  

    A sensação de desespero só aumentava.  

    Seus passos começaram a desacelerar, e suas memórias começaram a desaparecer.  

    Ele queria continuar, mas seu corpo se recusava a obedecer.  

    Ele estava… perdendo.  

    ‘Certo, essa nunca foi uma luta que eu poderia vencer.’  

    Assim como seu câncer, ele iria perder novamente.  

    Ele lutou, mas o mundo não queria que ele vencesse. Era como se estivesse rindo de seu fracasso.  

    “Finalmente!”  

    O Arcebispo riu da repentina mudança de eventos.  

    “Ninguém pode escapar das Provas das Mentes Esquecidas! É hora de desistir e vir para mim!”  

    Sua voz ecoou por todos os arredores.  

    Olhando para Emmet, os outros sentiram o coração afundar enquanto abaixavam as cabeças.  

    ‘Acabou.’  

    ‘….Ele não conseguiu resistir.’  

    ‘Nós somos os próximos.’  

    Todos começaram a desesperar com sua situação.  

    Ninguém pensou que Emmet seria capaz de continuar.  

    Eles sabiam que eram os próximos.  

    Tak, Tak—  

    Os passos de Emmet desaceleraram a cada passo que dava. Sua mente ficou turva, e ele começou a perder a noção de si mesmo.  

    A sensação de desespero só aumentava, e ele desacelerou ainda mais.  

    Ao mesmo tempo, seus olhos ficaram mais turvos.  

    “Quem sou eu…?”  

    Emmet murmurou para si mesmo.  

    Dentro da turbulência de sua mente, ele olhou para o chão.  

    Tudo que ele podia ver eram ondulações.  

    As ondulações…  

    Elas o impediam de ver seu rosto.  

    Ele queria ver seu rosto.  

    E então, ele parou.  

    ‘Não!’  

    ‘Não faça isso…!’  

    Todos lá fora começaram a desesperar.  

    Se ele parasse agora, significava que havia desistido! Que havia perdido! Eles não queriam que isso acontecesse.  

    Mas já era tarde, pois Emmet parou completamente.  

    ‘É isso.’  

    Alguns suspiraram, enquanto outros abaixaram a cabeça em derrota.  

    ‘Acabou. Eu sou o próximo.’  

    “Hahaha.”  

    O Arcebispo riu em triunfo.  

    As ondulações gradualmente pararam, e Emmet olhou para seu reflexo. Cabelo loiro, olhos azuis… era totalmente irreconhecível.  

    “Quem é ele…?”  

    Emmet murmurou baixinho.  

    Isso não era ele. Ele sabia disso.  

    “Mas quem sou eu?”  

    Ele começou a perder o controle de si mesmo.  

    Erguendo as mãos, ele puxou os lábios para cima.  

    Ele sorriu.  

    Ele chorou.  

    Ele tremeu.  

    Ele xingou.  

    Ele gritou.  

    Ele corou.  

    ‘O que ele está fazendo?’  

    ‘….Ele enlouqueceu?’  

    ‘Por que ele está fazendo isso?’  

    Para quem assistia, parecia que Emmet tinha enlouquecido.  

    “É isso! Venha para mim! Hahaha.”  

    Mas para Emmet?  

    Ele só estava tentando ver se conseguia ver algo naquelas expressões. Não parecia que ajudaria em nada, mas dentro daquelas expressões, Emmet encontrou algo.  

    Seu passado.  

    Memórias ressurgiram em sua mente.  

    Mais uma vez…  

    Ele sorriu.  

    Mas dentro de um sorriso havia algo mais.  

    Eu não sorria porque estava feliz. Eu sorria porque precisava.  

    Ele chorou.  

    Lágrimas caíram no mundo branco, ondulações mais uma vez se formando ao seu redor.  

    Eu não chorava porque estava triste. Eu chorava porque lágrimas eram tudo que eu tinha.  

    Ele tremeu.  

    Eu não tremia porque estava com medo. Eu tremia porque estava doente.  

    Ele xingou.  

    Eu não xingava porque estava com raiva. Eu xingava porque amaldiçoava o mundo.  

    Ele gritou.  

    Eu não gritava porque estava surpreso. Eu gritava porque estava com dor.  

    Ele corou.  

    Eu não corava porque estava apaixonado. Eu corava por causa das febres constantes.  

    “Haa…”  

    Seu peito começou a doer, e ele finalmente se moveu novamente.  

    Tak, Tak—  

    Seus olhos começaram a recuperar a clareza.  

    Ele finalmente começou a lembrar sua identidade.  

    Quem ele era.  

    Mas quanto mais caminhava, mais ele percebia algo.  

    Isso…  

    Não era quem ele realmente era.  

    Era, mas ao mesmo tempo não era.  

    Seus passos desaceleraram mais uma vez.  

    “Se isso não sou eu…? Então quem sou eu?”  

    Emmet refletiu profundamente sobre a pergunta.  

    Sem perceber, algo começou a mudar nele. O cabelo de Emmet começou a escurecer, suas pupilas começaram a mudar, e sua estrutura muscular começou a se transformar.  

    Todo o barulho cessou enquanto todos encaravam a cena em choque.  

    O que estava acontecendo?  

    O que estava acontecendo!  

    A atenção de todos estava focada em Emmet, que parecia perdido em seus próprios pensamentos. A cada passo que dava, mais claro seu olhar se tornava.  

    Ao mesmo tempo, seu cabelo começou a ficar preto.  

    Seus olhos começaram a mudar de cor, assim como a estrutura de seu rosto.  

    Uma identidade estava começando a aparecer diante de todos.  

    ‘Ele parece familiar.’  

    ‘Quem é ele…?’  

    ‘Por que ele parece tão familiar?’  

    Mas as mudanças não eram suficientes para que o reconhecessem.  

    Todos olhavam para a cena em silêncio.  

    O Arcebispo incluso, que se viu incapaz de proferir uma única palavra.  

    Emmet, por outro lado, caminhava em silêncio. Seu olhar estava ficando cada vez mais claro, e à distância, ele conseguia distinguir o vago contorno de uma pessoa.  

    Ele caminhou em direção a essa pessoa.  

    As características da figura estavam desfocadas, e era difícil dizer como ela era, mas Emmet sabia.  

    Ele sabia quem era a figura.  

    “…..Faz tempo.”  

    Emmet cumprimentou, seus passos parando novamente.  

    A figura ficou em silêncio, observando-o.  

    “Emmet Rowe.”  

    A figura falou, chamando-o pelo nome.  

    Emmet ficou parado por um momento antes de balançar a cabeça.  

    “Não, não é quem eu sou.”  

    “…..”  

    A figura ficou inexpressiva enquanto o encarava.  

    “Então quem é você?”  

    “Quem eu sou…?”  

    Emmet olhou para baixo e encarou seu reflexo.  

    Seu rosto estava inexpressivo. Diferente de antes, ele não sorriu. Não se contraiu. Não chorou. Não gritou.  

    Por quê?  

    “Hah.”  

    Ele riu ao perceber o quão diferente sua resposta era de apenas um minuto atrás.  

    Minhas lágrimas… Todas haviam secado.  

    Meu corpo… Era mais duro que aço.  

    Minhas maldições… O mundo não valia elas.  

    Meus gritos… Eu não sentia mais dor.  

    Tudo que lhe restava era um olhar vazio e um rosto que lhe era familiar. Olhando para suas características, ele prestou atenção especial ao olhar vazio em seu rosto.  

    Era reminiscente de uma tela em branco.  

    Sim, uma tela em branco.  

    A representação perfeita de quem ele era.  

    Não era a tela que fazia a pintura, mas o que estava nela que refletia a pintura.  

    Tristeza, Raiva, Felicidade, Amor, Medo e Surpresa.  

    Tinta era o que fazia uma pintura.  

    ….E Emoções eram o que o faziam.  

    Julien olhou para a figura que estava diante dele, uma imagem logo começando a se tornar clara para ele, mas apenas para ele.  

    Aqueles do lado de fora não podiam ver nada.  

    Todos pensaram que Julien havia parado novamente.  

    Mas isso estava longe da verdade. Ele estava olhando para algo.  

    Alguém.  

    Emmet Rowe.  

    Uma versão abstrata de quem ele já foi.  

    Mas o ele atual e o ele do passado eram pessoas diferentes.  

    Ele não havia percebido o quanto havia crescido desde então. Agora, Emmet podia olhar para o que ele se tornou e dizer: ‘Você é incrível.’  

    A razão pela qual ele não gostava tanto de Julien.  

    ….Era porque ele era tudo que ele queria ser.  

    Ele era incrível pelo que havia se tornado. Seus esforços. Não foram desperdiçados. Os resultados, ele os viu através de uma lente diferente.  

    Julien começou a entender isso, e memórias começaram a entrar em sua mente.  

    “Eu entendo. Eu preciso deixar ir.”  

    Ele precisava deixar o passado ir, mas não seu objetivo.  

    Sua motivação precisava ser a mesma, mas não sua identidade.  

    Ele pensou que já havia deixado ir, mas era o que ele havia dito a si mesmo. A realidade era que ele ainda se agarrava ao que já foi.  

    Julien estendeu a mão, lentamente a levando em direção à figura diante dele.  

    Enquanto fazia isso, ele deu uma última olhada para a pessoa que ele já foi.  

    “Quem sou eu?”  

    Emmet perguntou novamente.  

    Julien permaneceu em silêncio.  

    No silêncio, ele pensou na resposta.  

    Havia várias.  

    Emmet Rowe.  

    A Estrela Negra.  

    Irmão.  

    Mas havia apenas uma resposta.  

    “….”  

    A mão se fundiu com a figura.  

    E uma luz brilhante envolveu todo o ambiente.  

    Suas características se tornaram claras para todos presentes. Seu cabelo ficou totalmente preto, seus olhos ficaram avelã, e seus traços se afiaram. Sua aparência se tornou clara, e as expressões daqueles do lado de fora mudaram drasticamente.  

    ‘Isso é…!’  

    ‘Como isso pode ser?’  

    ‘Que tipo de….’  

    A luz ao redor de Julien se intensificou.  

    Ficou brilhante, cobrindo cada centímetro do mundo.  

    Naqueles últimos momentos, ele abriu os olhos para olhar para frente.  

    O mundo era branco, mas ao mesmo tempo, ele conseguia ver um fim para ele.  

    Ele sorriu então.  

    Independente do que eu já fui, agora eu sou — Julien Dacre Evenus.  

    Aquele que caminha pelo caminho das emoções.  

    Este sou eu.  

    Minha identidade.

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