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    Theo, Jeanne e Nora caminhavam no leito de um riacho nas planícies de Kiescrone. Ao longe, no leste, estava a barreira natural formada pelas árvores da floresta das ninfas. O nevoeiro era evidente, mesmo naquela distância e ainda eram 5:57 da manhã — o sol estava começando a nascer.

    Nora pulava entre as pedras musguentas do riacho, enquanto Jeanne e Theo caminhavam lado a lado no leito.

    Desde que saíram do Palácio dos Sete Condes, poucas foram as interações entre eles. Casualmente, apenas Nora e Jeanne conversavam enquanto Theo admirava a paisagem.

    Aquele campo era conhecido no mundo inteiro graças a um único homem: Ethan Caesar, o pai de Theo, que realizou seu primeiro grande feito nos territórios de Nethuns: matar o grande leão rei, uma besta que, em mais de meio milênio, ninguém foi capaz de derrotar.

    Mas Ethan conseguiu sozinho, e graças a isso se tornou o maior candidato a reivindicar o território de Lawrence.

    Theo era apaixonado por essa história que o próprio Duque Lawrence contava, e sonhava em poder visitar aqueles campos um dia. Agora, embora fosse noutro mundo, ele pôde ver o lugar em que seu pai realizou uma de suas maiores lutas.

    — Esse lugar é lindo, não é? — disse Jeanne, tentando iniciar uma conversa.

    — Sim. Eu facilmente moraria aqui. — Theo respondeu.

    Era uma conclusão antiga da deusa, mas que agora foi de fato provada. Theo almejava uma vida simples, embora criado na realeza e sempre buscando reconhecimento. Uma parte dele queria descansar.

    Aquele desejo era de Liam e Theo o herdou desde o nascimento. Após uma vida de guerras, já que não obteve o descanso eterno, quis uma vida descansada.

    Jeanne abriu a boca para comentar, mas desabou em um sorriso alegre e genuíno.

    Posteriormente, a princesa agarrou o braço de Theo e caminhou com ele.

    De longe, vendo aquele gesto, Nora comentou em voz alta: — Meu casal.

    Eles sorriram.

    Portão Ancestral

    06:50

    Quase uma hora depois eles chegaram ao local que Jeanne queria: uma enorme cratera que dava acesso a uma ruína ancestral, conhecida nos dois mundos por ser uma antiga sociedade desviante, os primeiros a manipular os quatro elementos.

    Naquele momento, restavam apenas os esqueletos das construções, erguidas por pedras brancas, e as ruas inundadas por água.

    A ruína estava em um enorme buraco no chão, tal qual serviu para deixá-los escondidos por muitos milênios. Quando foram descobertos, a cratera que Theo estava foi aberta devido ao uso avassalador da ciência elemental. 

    Após o conflito, a maioria das regras que limitam o uso do poder desviante em cidades foram estabelecidas e aceitas mundialmente.

    Todavia, aquele lugar tinha um mistério maior para Jeanne.

    — Theo, um fato curioso sobre os trolls: eles adoram carvão — disse a deusa Vanir.

    — Hum?

    Jeanne retirou uma pedra de carvão da bolsa e o jogou na cratera.

    — Curiosamente, os povos ancestrais que viviam por aqui tinham ligação com os trolls. Por isso a grande afinidade elemental.

    — Nos primórdios, o fogo era chamado de sol — explicou Nora. — A água? De mar. A terra, de natureza. E o vento, de céu. A lua simbolizava a harmonia entre todos os elementos. Então, para cada um, existia uma tribo de Trolls…

    Nora passeou para a cratera, confiante que não cairia no buraco. Theo se preparou para ajudá-la caso necessário, mas, de repente, a general começou a flutuar.

    — Existe harmonia dentre às estrelas, mas preferiram viver sob o luar. Pois o frio que na pele toca, a pele jamais queimará. A vossa força que aqui evoca, capacidade ao qual emana, mostre-nos o seu dever como o guardião antigo; seus dentes devem ranger e seus punhos esmagar.

    Conforme recitava o poema, Nora bailava no ar e os fragmentos da pedra de carvão voavam para cima.

    — Se lembra da espada que te prometi? Acho que nada será mais justo do que isso.

    Um abalo sísmico estremeceu, trazendo um desconforto iminente. Theo desequilibrou-se por um instante, mas Jeanne o abraçou.

    Beijando Theo sem nenhuma hesitação, ela sussurrou: — Agora é sua vez.

    Nora saiu da cratera e puxou Theo pelo braço, o jogando bruscamente no buraco. Porém, Theo caiu em uma barreira invisível.

    Paredes de ar condensada ergueram-se e impediram que Theo pudesse fugir.

    — Não vá abençoá-lo desta vez — disse Nora.

    Jeanne sorriu; até parecia que seu braço direito estava com ciumes.

    Theo rapidamente se recuperou e analisou o ambiente. Estava se tornando escuro, mesmo com o sol dominando o céu.

    A resposta surgiu de maneira gradativa: pilares de pedra se estruturam no limite da cratera, se ligando por arcos ornamentais e um telhado semelhante a uma cúpula.

    Partículas de energia se aglomeraram diante de Theo e, antes do próprio corpo se materializar, uma voz emanou daquele espaço:

    — Bem-vindo, desafiante de Arcádia.

    A voz se espalhou por cada direção.

    Em poucos segundos, um cristal arcano formou-se no centro da cratera com linhas de energia formando uma única e densa cortina de mana e o ligando ao chão invisível.

    Logo após, essa cortina deu vida à principal criatura daquele cristal.

    Ultrapassando os dois metros, estupidamente gigante e robusto. Sua pele parecia um amontoado de pedras e musgos, cheio de rugas e deformações físicas. Resquícios de terra dominavam seus cabelos faciais, com sua própria pele sendo uma armadura.

    Theo se arrepiou apenas com o olhar inexpressivo da criatura.

    — Um troll… — Ele murmurou.

    Com seu espirito competitivo, Nora saltou nas costas de Jeanne e exclamou:

    — Hey, príncipe! Mate essa criatura em cinco minutos e eu aceito que a princesa Jane seja tua.

    Ainda boquiaberto com o monstro, Theo sorriu escancaradamente e retrucou: — Tá falando do quê? Ela já é minha.

    — Ala, todo desaforado. Só por que te beijou uma vez?

    — A primeira vez foi melhor — disse Jeanne, sem um pingo de vergonha.

    — É…

    A ficha da general caiu.

    — Teve outro beijo?!

    A descontração de Nora fez o medo de Theo desaparecer.

    Ele se recompôs e estalou os dedos da mão.

    — Mostre que tem força para entrar em Arcádia.

    Aquela voz era do próprio cristal arcano.

    “Uma consciência superior materializada num cristal? Isso é novo. Mas, criaturas do arcano já se comunicaram comigo antes.”

    O troll bateu no peito e berrou para Theo, com um rugido demoníaco.

    — Quer começar assim?

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