Capítulo 151 - Animais
O som do secador de cabelo era constante, misturado com as risadas de clientes, o barulho da tesoura cortando mechas e a música ambiente baixa. Era o fim do expediente. Hina, com um leve sorriso no rosto e os cabelos presos em um coque improvisado, limpava o balcão de atendimento com um pano levemente úmido. As mãos dela estavam cansadas, mas o coração, inquieto.
Desde que Yoru reapareceu, ela sentia algo diferente. Não apenas preocupação, mas também um orgulho silencioso por ele continuar firme… mesmo quando tudo ao redor parecia ruir.
Quando a porta do salão se abriu e o sininho tilintou, seus olhos encontraram os dele.
Yoru estava com a camisa preta suada, com arranhões nos braços e as mãos ainda levemente inchadas. Mas seu rosto… havia paz ali, mesmo que passageira.
— Yoru…! — Hina sorriu, correndo até ele e abraçando seu pescoço com um impulso que fez os dois rirem.
— Você tá… bem? — ela perguntou, afastando-se um pouco e analisando o rosto dele.
— Estou. — ele respondeu, com um olhar que dizia mais do que qualquer palavra.
Sentaram-se nos fundos do salão, onde Hina sempre deixava um pequeno sofá improvisado. Ela trouxe duas bebidas geladas e um potinho de uvas cortadas.
— Eu senti sua falta, sabia? — disse ela, apoiando a cabeça no ombro dele.
— Eu também senti a sua. — disse ele, com uma voz mais baixa. — Você… é o único lugar onde eu ainda sinto calma.
Ficaram assim por alguns minutos. Apenas sentindo a presença um do outro.
— Você tá mais forte, né? — perguntou ela, sorrindo. — Dá pra ver nos seus olhos.
— Eu tô tentando… — respondeu ele, olhando para o teto. — Mas parece que quanto mais eu luto… mais coisas surgem.
Ela segurou a mão dele. Apertou firme.
— Eu acredito em você. Mesmo quando você duvida de si. Não esquece isso.
Yoru olhou nos olhos dela. Queria dizer tanto. Mas não disse. Apenas encostou a testa na dela e fechou os olhos.
Enquanto isso…
Hiroshi estava sentado numa cadeira de metal enferrujada. O mapa da escola 25 estava aberto sobre a mesa, com anotações por todos os cantos. Linhas vermelhas, marcações de tropas, alertas de flanco.
Mas ele não conseguia se concentrar.
A culpa era um monstro que sussurrava o tempo todo.
— “Eu deixei tudo nas costas dele…”
Seu punho bateu na mesa. Fortemente. A dor percorreu o braço, mas ele não ligou.
Foi quando um dos subordinados entrou correndo.
— Hiroshi! O plano tá de pé. O Hajuki já passou as informações pro inimigo. A armadilha tá armada.
Hiroshi levantou lentamente.
— Perfeito… agora é só esperar.
…
A base era escura. Um lugar cheio de contêineres, madeira velha e fumaça no ar. Hajuki estava ajoelhado na frente de Mikhail, que o observava em silêncio com os olhos semicerrados.
— Você tem certeza que essa área oeste é a mais vulnerável da escola 25? — perguntou Mikhail, calmo.
— Absoluta. Eles moveram todas as defesas pro leste e pro centro… o oeste está com poucos guardas. Fácil de tomar.
Mikhail se levantou lentamente. Vestia uma jaqueta cinza com símbolos vermelhos costurados nas costas. Seus olhos, gélidos.
— Ótimo. Vamos tomar essa área e avançar. E você… bom trabalho.
Hajuki engoliu seco, suando frio. Ele havia traído o próprio líder. O próprio irmão de guerra.
E tudo aquilo… não parecia errado para ele.
— Bunkjae. — chamou Mikhail.
Um homem enorme se levantou das sombras.
Usava botas militares, as mãos cobertas por faixas negras e um sorriso de canto. Um sorriso de louco.
— Você vai sozinho.
— Sozinho? — Hajuki arregalou os olhos.
— Sim. É só uma área com 10 ou 20 delinquentes, não é? — Mikhail virou o rosto. — Bunkjae não precisa de ajuda pra tomar o inferno.
[ Área Oeste da Escola 25]
O local era silencioso. Árvores espaçadas, bancos de concreto e postes de luz que piscavam com defeito. Um terreno “desprotegido” segundo o inimigo.
Mas quando Bunkjae pisou ali, o cheiro de emboscada era nítido.
Ele caminhava sem pressa, com as mãos nos bolsos e os olhos fixos à frente.
E então… ouviu o estalo.
Passos surgiram dos galhos, dos becos, das sombras. E em segundos, mais de 100 delinquentes surgiram, cercando o local. Uma tropa inteira. Pronta.
À frente deles, cinco figuras familiares:
Kaito, Hayato, Beak, Susan e Mac-Donny.
Todos parados, em silêncio. O ar estava carregado. Era ódio. Era vingança.
Kaito deu um passo à frente.
— Bunkjae… lembra de mim?
Bunkjae inclinou a cabeça, os olhos brilhando com prazer.
— Ah… o garotinho dos olhos ardentes. Você ainda tá vivo?
Kaito não respondeu. Apertou os punhos. Seus olhos estavam afiados como lâminas.
— Eu vim te matar. — disse com a voz firme. — Mas não pelo Yoru. Nem pela escola 25. Eu vim por mim.
— Que lindo… — Bunkjae lambeu os lábios. — Tanta emoção. Tanta raiva. Eu vou adorar quebrar vocês um por um.
E o inferno começou.
Os 100 delinquentes avançaram ao mesmo tempo. A luta foi brutal. Barras de ferro contra facas, socos contra cassetetes. O som dos ossos quebrando se misturava aos gritos e ao som metálico do choque entre armas improvisadas.
Beak liderava o flanco direito, usando movimentos rápidos e ganchos baixos. Susan estava cheio de adrenalina ao atacar o Bunkjae , mas sorria como se estivesse dançando. Mac-Donny, com um bastão nas mãos, rodava como um furacão. Hayato se movia com precisão, mirando pontos vitais. Seus socos lembravam um boxeador profissional, mesmo em meio ao caos.
E Kaito?
Kaito só procurava a chance para atacar o Bunkjae sozinho, foi quando ele achou e avançou com toda velocidade que ele tinha
Eles colidiram como dois animais selvagens.
O primeiro soco de Kaito rasgou a boca do adversário.
O primeiro chute de Bunkjae quebrou duas costelas de Kaito.
Mas ele não parou.
— EU NÃO LUTO PELO YORU!
— EU NÃO LUTO POR NINGUÉM!
— EU LUTO PELO MEU ORGULHO!
Bunkjae gargalhava, mesmo sangrando. Seus olhos estavam insanos.
— ENTÃO ME MOSTRA O PESO DESSE ORGULHO!
A troca de golpes foi insana. Cada impacto criava uma explosão de poeira. Kaito estava coberto de sangue, mas continuava sorrindo. Os olhos brilhavam. Ele era um homem com um propósito.
E o propósito dele era matar aquele monstro.
A batalha da área oeste havia começado.
E quando Yoru souber…
O mundo inteiro pode tremer de novo.
O céu estava encoberto por nuvens densas, como se o próprio mundo tivesse decidido cobrir os olhos diante do que se desenrolava ali. O som da luta ecoava pelas ruas, pela terra, pelas almas.
Kaito e Bunkjae estavam no centro do caos.
Dois animais.
Dois monstros.
Dois homens que haviam abandonado qualquer traço de humanidade naquele instante.
A cada soco, a terra estremecia.
A cada chute, o sangue respingava como chuva.
— VEM, MALDITO!!! — gritou Kaito, avançando com um cruzado monstruoso.
Bunkjae riu. Riu como um maníaco.
— ISSO!!! MAIS! MAIS!!! VOCÊ TAMBÉM AMA A MORTE!!!
O soco do psicopata acertou o queixo de Kaito, jogando o garoto para trás como uma boneca de pano. Seu corpo bateu com força numa árvore, rachando o tronco, e ainda assim… ele se levantou.
Seu rosto estava coberto de cortes. O sangue escorria dos lábios, do nariz, da testa. Mas seus olhos… seus olhos eram fogo puro.
— Isso é tudo o que você tem, seu desgraçado? — cuspiu sangue no chão. — Eu ainda tô de pé.
Bunkjae chutou uma pedra contra ele, a velocidade absurda fez o projétil abrir um corte no ombro de Kaito.
— Eu quero ver até onde seu orgulho te leva.
Eles correram um contra o outro.
Os dois gritaram.
Os punhos se cruzaram.
O ar estourou em volta deles com o impacto. Um vento violento afastou poeira e folhas. Alguns dos delinquentes ao redor cambalearam com o choque da troca.
Beak, observando de longe, engoliu seco.
— Eles não são humanos…
Susan respirava ofegante, com o braço esquerdo enfaixado com um pano improvisado.
— Kaito tá… maluco… mas o Bunkjae… ele é um monstro.
Hayato cerrava os dentes.
— Se a gente não entrar agora… ele morre.
Mac-Donny girava seu bastão com força.
— Então vamo acabar com esse desgraçado AGORA!
Enquanto isso, Yoru, no seu esconderijo no lado leste, recebeu uma vibração estranha no corpo. Seu celular emitiu um som agudo. A tela ficou azul. Palavras brilharam em dourado:
[Nova missão disponível
Derrote o Bunkjae — Fase 1
Recompensa: 1 Baú Mítico]
Yoru apertou os olhos, o coração disparado.
— Bunkjae? Kaito… Hayato… eles estão lutando agora…
Ele fechou os punhos. A raiva queimava sua espinha.
— Eu vou… — os olhos brilharam em vermelho — … matar esse maldito.
Mas antes que ele pudesse sair, o sistema travou.
[Condição: fase 1 só será completada se os aliados resistirem ao embate]
Kaito estava de joelhos. O rosto quase irreconhecível. O olho esquerdo inchado, a mandíbula trincada, mas a respiração… firme.
— Eu vou levantar de novo… mesmo que você me quebre.
Bunkjae cuspia sangue, com os dentes sujos e os olhos cheios de prazer.
— Isso é ARTE. ISSO é a beleza do combate. ISSO É VIVER!
Ele ergueu o punho, pronto pra esmagar Kaito.
Mas antes que pudesse acertar…
Beak surgiu do flanco com uma joelhada brutal na costela do monstro.
— AGORA, CARALHO!
Susan correu e enfiou uma barra de ferro na perna esquerda de Bunkjae.
— ISSO É POR CADA PESSOA QUE VOCÊ MACHUCOU, FILHO DA PUTA!
Mac-Donny veio por trás, girando o bastão com força total. Acertou a nuca do inimigo.
Hayato explodiu com um uppercut, usando todo o peso do corpo.
— ISSO É PELO KAITO!
O golpe foi tão forte que Bunkjae voou três metros para trás.
O chão tremeu. A terra se abriu levemente com o impacto.
Kaito se levantou.
A expressão dele agora era diferente. Não havia mais ódio. Apenas…
Fúria pura.
Ele avançou.
Cada passo deixava marcas de sangue no chão.
Ele pegou impulso.
E saltou.
— MORREEEEEEEEEEEE!!!
O soco final de Kaito explodiu no rosto de Bunkjae, afundando sua mandíbula, quebrando dentes, esmagando ossos.
Um silêncio mortal caiu sobre o campo.
O corpo do monstro tombou no chão, inerte. Os olhos abertos. O peito subindo e descendo lentamente.
Ele ainda respirava. Mas estava acabado.
— Conseguimos… — disse Beak, caindo de joelhos.
— Ele caiu… — Susan riu, mesmo chorando. — Nós fizemos cair o maldito.
Hayato caiu sentado, rindo como um louco.
— Kaito… você conseguiu…
Mac-Donny vomitou sangue, mas levantou o punho em silêncio.
Kaito ficou em pé, olhando para o céu.
— Não era pelo Yoru. — ele murmurou. — Não era pela escola.
— Era por mim.
[ Missão concluída – Recompensa desbloqueada.]
[Baú Mítico disponível para Yoru.]
[Próxima fase — Breve.]

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