Capítulo 7 - Dominadores Autorais.
POV: HELENA IVYRA
Comecei a folhear as páginas de A Pena e o Arch num ritmo lento, olhei levemente os títulos de cada tópico e, através de várias páginas, encontrei diversos autores citados.
Nomes tão marcantes para a literatura; cada um deles marcou época, expressou o que queria, moldou o pensamento de uma geração inteira.
Autores como Dostoiévski, Charles Bukowski, William Shakespeare, Machado de Assis, Clarice Lispector, entre muitos outros.
— Todos atuaram com papeis importantes no desenvolvimento cultural e social de milhares de pessoas ao redor do mundo. — refleti mentalmente, e continuei a observar os pontos-chaves do livro.
Eram como tijolos de uma construção, cada qual com sua importância e sua contribuição, todos formando a casa que a literatura representava.
Era até curioso perceber o quão longo podia ser o legado de uma pessoa através das suas palavras. Os nomes atravessavam os séculos como se fossem entidades imortais.
Autores que se tornaram mais do que apenas dominadores da escrita ou da autoria.
Eram estruturas que fundamentavam todos os que vieram após eles. Se hoje podemos enxergar o mundo pela tela de um e-reader, era graças às lentes literárias que esses dominadores haviam criado.
Com suas palavras, não apenas a literatura fora modificada por esses, mas todo o pensamento.
Seus livros, quando foram escritos, não apenas contavam histórias; possuíam mensagens, traziam significado oculto, uma espécie de direcionamento que eles queriam que seus leitores tivessem.
Essas heranças são retratos ótimos de como os livros moldavam os próprios seres humanos. Livros são aqueles que registram nossas memórias, que dão voz às nossas revoluções, que expressam nosso amor, que contemplam nossa existência.
Durante um breve momento em que a solidão não era mais uma inimiga, e sim apenas uma companheira muito bem-vinda em nossa leitura.
Os leitores tornavam-se parte da obra do autor.
“É como se os autores fossem uma espécie de Sasori, e nós, suas marionetes. Porém, ao invés de vazios, somos cheios de vida, conhecimento e experiências próprias”
Mesmo eu já conhecendo um pouco obre isso, decidi mergulhar ainda mais na reflexão sobre os autores.
Outro aspecto interessante era algo que vi logo após as páginas com resumos dos autores terminarem: o começo do capítulo sobre as escolas literárias.
— Imagina você ser tão bom em algo que criam uma escola inteira apenas para estudar o que você fez. Isso que eu chamo de ser foda… Porra! — exclamei, só de imaginar ser tão boa em algo ao ponto de atingir esse nível.
Em várias ocasiões durante a história, as obras foram tão impactantes que se tornaram precursoras de escolas literárias, como para muitos a primeira obra literária da história brasileira: A Carta, de Pero Vaz de Caminha.
Ou até mesmo outras mais famosas, como Iracema, de José de Alencar, uma obra importantíssima para o romantismo brasileiro.
Conforme virei a página, vi um trecho destacado pelo autor que dizia: “Uma sociedade é o reflexo daquilo que lê.”
— Somos reflexos daquilo que lemos? Hmm, talvez isso explique o porquê de eu ser tão confusa. Afinal, leio de tudo: Machado, Webnoveis, livros técnicos… — suspirei — Que confusão mental, hein, Helena? Sou uma espécie de espelho trincado em dezenas de partes diferentes. — conclui.
Ao continuar a leitura, o trecho dizia:
“Se você consome muitos romances, pode começar a ver o mundo com um olhar mais sentimental, talvez tenha fé no amor com maior facilidade. Se ficar cercado por tragédias, pode ser uma pessoa mais preparada para perdas. Claro, ainda há uma linha tênue entre a ficção e a realidade. Mesmo com nossas dádivas, os encantamentos, é necessário traçarmos um limite de até onde somos, como seres reais, e até onde é a ficção que escrevemos.”
— Como traçar esse limite? Se bem que, isso deve ser uma boa pergunta para se ter agora… Né? — perguntei-me.
Os autores possuíam uma mística muito interessante, porém alguns escolhiam, obrigatoriamente, ser abstratos até demais…
— Humpf… Novamente, mais perguntas do que respostas. — suspirei.
Talvez fosse necessário tornar-se autora para entender o que esses indivíduos queriam dizer. Na real, não era uma má ideia.
Sempre tive fascínio por mundos mágicos, com histórias de reinos distantes, criaturas míticas, batalhas lendárias entre luz e escuridão. Pensei em um dia criar algo assim, apesar de que… sentia que, às vezes, os pensamentos ficavam dispersos demais ou as palavras eram comuns demais… Ao ver aqueles autores, ficava sempre me perguntando: tenho o que é capaz?
“Talvez só saberemos se um dia eu escrever algo.”
Pensando bem, acho que levei aquele livro para casa. Pois, acho que era uma boa leitura para complementar os estudos.
Tinha definido, após conferir rapidamente no relógio. Eram 15h47 da tarde.
— Nossa, as horas passam rápido… Melhor dar uma olhada rápida naquele livro que a Rose recomendou. — disse para mim mesma, assim que conclui a primeira checagem do livro.
Fechei os livros, separei A Pena e o Arch e decidi devolver o outro à sua cova deste cemitério de ideias.
Enquanto isso… No andar de baixo.
POV: ROSE, A BIBLIOTECÁRIA.
— Nossa, que dia movimentado hoje… — murmurei, enquanto observava a entrada da biblioteca quase sem piscar.
Era raro ver aquele vai e vem de leitores. E, sinceramente? Me deixa feliz. Havia poucos jovens hoje em dia que eram aficionados por leitura como era antigamente.
Aquela garota, a Helena, era uma dessas raras presenças que me lembravam o porquê de ainda trabalhar ali. Jovens como ela eram exceções preciosas num tempo em que bibliotecas eram mais monumentos nostálgicos do que lugares vivos.
Refleti enquanto terminava de preencher a ficha de um livro e o arquivo. Voltei para minha cadeira, deixando o corpo afundar no estofado antigo que rangia, mas ainda me abraçava como um velho amigo. Virei-me para o computador e vi uma pequena imagem que me chamou atenção.
Uma haste preta com uma cobertura ampla acima. Dividida entre duas cores, faixas azuis e verde-claro. Era daquela famosa marca de medicamentos, a Guarda-Sol.
“Aparentemente, anunciaram um evento que ocorrerá em abril, uma espécie de parceria com…”
Tive o pensamento interrompido quando vi, de canto de olho, um homem jovem, alto, cabelo loiro-claro, que vestia um chapéu clássico marrom e uma camisa social verde, um tanto quanto cômica.
O homem varreu o salão rapidamente com os olhos, até que os pousou em mim, e, por algum motivo, isso me deixou inquieta…
Vi-o se aproximar, até que o cumprimentei:
— Boa tarde, bem-vindo à Biblioteca Provincial! No que posso ajudar? — repeti o cumprimento, como era de praxe.
— Boa tarde, senhora. Tudo bem? Peço que dê uma olhada nisso rapidamente — disse o homem, ao me entregar uma espécie de carteira preta.
Quando a abri, vi um distintivo da Polícia Federal, e o título:
Noah Williams, Agente de Polícia Federal, Especialista Técnico da ABIN (Associação Brasileira de Inteligência)
Li a identificação mais de uma vez. E abaixo, percebi uma nota em letras discretas:
“Preciso que se acalme. Estou à procura de um suspeito e tenho motivos para crer que ele esteja aqui neste momento. Peço que não alarde ninguém e coopere, que tudo ficará bem.”
Senti um arrepio subir pela espinha. Aquilo não era algo comum…
Respirei fundo e perguntei, num sussurro. Apesar da apreensão, tentei me manter cética:
— Como posso ter certeza… de que é real? — questionei.
Ele não hesitou.
— Com o tempo, vou provar. Agora, preciso que confie em mim. E preciso da sua ajuda para duas coisas. Pode fazer isso? — indagou-me Noah, como supostamente era chamado.
Apenas o assisti, sem forças para palavras.
Ele tirou outro papel do bolso, uma foto. E, assim que meus olhos bateram na imagem, o sangue pareceu gelar mais frio do que antes, como se um terror mítico tivesse aparecido em minha frente.
— Este homem está aqui? — perguntou Noah calmamente.
Reconheci na hora. A mancha verde-escura no pescoço era inconfundível.
Apontei levemente com o indicador para a escada do andar de cima, que estava atrás do Noah.
Noah acenou com a cabeça firmemente.
Ele abaixou a cabeça rapidamente, e com um sinal de dedos cruzados em sua mão direita. Escutei uma voz calma e etérica que produzia som, mas que não saía de sua boca.
— Certo. Faremos o seguinte: chame a polícia e diga que o Agente Clover está no local, com o possível suspeito do caso H. E, segundo: evacue o local em silêncio. Tire todos desse andar calmamente. Nada de alarmes. Não use nenhum encantamento. Entendido? — acionou com a cabeça para ver se entendi.
Apenas consenti com a cabeça, apreensiva de que alguém pudesse me ouvir.
— Há quantas pessoas lá em cima? — disse Noah.
Indiquei com as mãos o número seis.
— Incluindo ele — respondi, com a voz baixa, quase sumida.
Noah retirou o chapéu e o colocou sobre a mesa.
Vi seus pulsos brilharem, bem discretamente, com um tom azul-claro. Algum tipo de ativação mágica silenciosa.
Sem dizer mais nada, ele se virou e subiu as escadas com passos precisos e contidos.
Depois de alguns momentos, peguei o telefone com os dedos trêmulos, assim que o vi terminar o primeiro lance de escadas.
— 190… — murmurei. Esperei. Um toque. Dois.
A atendente respondeu: — Olá, como posso ajudar? Aqui é da Polícia Civil.
— Alô? Falo da Biblioteca João Batista. Um indivíduo entrou aqui agora há pouco, afirmou ser um tal de Agente Clover, e orientou-me a ligar para vocês e dizer que ele acredita que o possível suspeito do… do caso H está aqui. Sabe me dizer algo? — disse, numa voz baixa para evitar atenção.
Houve uma pausa. Meu coração batia tão rápido quanto um tambor.
Pensei por um momento que a polícia iria desmentir aquela baboseira toda e que tudo não passava de uma pegadinha de mau gosto daquele senhor, porém esse breve momento acabou quando a policial disse, firmemente:
— Senhora, mantenha a calma. E faça tudo o que o Agente Clover instruir. Estaremos enviando viaturas de apoio agora mesmo. — completou a policial fortemente.
Senti um arrepio na espinha… Como nunca havia sentido antes.
“O que está acontecendo aqui?”
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