Capítulo 438 - As profundezas de Gheskou.
Gheskou afundava no caos. O exército de bestas invocadas por Colin enfrentava as hordas infernais dos príncipes do abismo numa batalha titânica.
Lobos gigantes dilaceravam demônios com suas mandíbulas. Manticoras voavam rasantes, despejando veneno sobre ogros e dragões. Ursos colossais rugiam contra gigantes demoníacos enquanto Terrasques devastavam tudo em seu caminho.
No meio da carnificina, o dragão vermelho, finalmente livre de suas correntes, lançava labaredas destruidoras sobre os inimigos.
Rogdruth observava Colin com olhar predatório. Quando finalmente se preparou para atacar, uma lança luminosa cortou o ar em sua direção.
Clang!
Ela rebateu o projétil com reflexos impressionantes, mas Morwyna já havia se posicionado às suas costas. A elfa bateu palmas e uma redoma de pedra envolveu ambas, arrastando-as para as profundezas da terra.
— Rogdruth! — gritou Ig’drolluuth, preocupado com sua aliada, mas sem tempo para pensar. Uma espada colossal feita de mana voava em sua direção.
Ele girou sua arma serpenteante e a quebrou.
Scrash!
“Isso é um conjurador?”, pensou, confuso.
Um estrondo acima chamou sua atenção. Um enorme cristal despencava do teto. Enquanto se preparava para defender-se, Yllastina conjurou uma espada que, antes de atingi-lo, transformou-se em correntes, prendendo seus braços.
Boom!
O cristal desabou sobre Ig’drolluuth.
Do teto quebrado, Samantha e Yllastina saltaram, lançando-se sobre o príncipe soterrado, em direção ao buraco no chão. Os três desapareceram nas profundezas, deixando Kuz’geg e Colin frente a frente.
Kuz’geg encarou Colin, um sorriso de desprezo nos lábios.
— Esse era seu plano idiota? Nos separar? A melhor chance de vocês era nos enfrentar em conjunto, mas agora, suas chances reduziram a zero.
Colin energizou seu corpo com mana elétrica carmesim.
— Sempre o mesmo papo. Vamos, me mostra o que um príncipe do abismo consegue fazer!
Kuz’geg ergueu seu cetro, emanando uma aura sinistra.
— Vou provar ao senhor Drez’gan que o campeão de Kag’thuzir não é nada! E quando eu conseguir, serei promovido a apóstolo! — Uma esfera de sangue cresceu na ponta do cetro.
Colin avançou numa velocidade quase imperceptível. Desviou da esfera no último segundo e acertou o cetro com um soco poderoso, explodindo-o em fragmentos de sangue.
Cabrum!
“O quê?”
— Quantas vezes preciso repetir? Não sou campeão de ninguém, Brighid é minha esposa! — rosnou, punho ainda brilhando.
Kuz’geg, sem seu cetro, ergueu as mãos e começou a conjurar uma magia antiga. Runas de sangue flutuavam ao seu redor, formando um círculo pulsante. Uma tempestade de sangue surgiu, cada gota transformando-se em lâminas afiadas.
Colin se moveu, desviando e destruindo as que não conseguia evitar.
Num piscar de olhos, investiu contra Kuz’geg.
Bam!
A colisão sacudiu o campo de batalha. Uma troca violenta de golpes começou. Kuz’geg tentava conter os ataques, mas cada soco de Colin ressoava como trovão, rachando sua armadura de sangue.
Com esforço supremo, Kuz’geg lançou uma onda de choque que arremessou Colin para trás. Ele se recuperou no ar, pousando suavemente.
Kuz’geg respirava pesado, fúria nos olhos.
“Ele é só um mortal, então como? Um mortal não deveria ter tanta força!”
— Não pode ser só isso — disse Colin, desapontado. — Queria enfrentar você por ter a maior reserva de mana dos três, então pare de se segurar e me dê a batalha que vim buscar.
“Tch… esse verme, como ele ousa?”
Colin avançou.
Cabrum!
Saltou, desferindo um golpe que Kuz’geg defendeu cruzando os braços. O impacto o lançou em direção à cidade lá embaixo com estrondo ensurdecedor.
“Merda!”
Boom!
Sua queda eliminou dezenas de demônios. Ergueu-se, reforçando os braços trincados pelo ataque.
Colin aterrissou a poucos metros, sorriso zombeteiro nos lábios.
— Tem certeza de que você é um príncipe do abismo?
Veias saltaram na têmpora de Kuz’geg.
— Quem você pensa que é? Seu mortal maldito!
Suas mãos teceram runas carmesim no ar. Com um grito, lançou uma onda de choque que arremessou Colin contra uma fileira de casas.
Boom! Boom! Boom!
Colin atravessou as estruturas como papel antes de cravar-se numa parede, formando uma cratera colossal.
— Você não é nada pra mim, não sou apenas um príncipe, sou uma entidade! — rugiu Kuz’geg, conjurando novo cetro.
Canalizou a energia dos demônios caídos, absorvendo seu sangue. Sua aura pulsava em vermelho intenso, veias brilhando como lava.
Colin saiu da parede, corpo envolto em aura vermelha.
— Hehe! Vai dizer que isso foi seu melhor?
— Seu moleque!
“Entendi…”, pensou Colin. “Essa criatura não é fraca, mas fui eu quem ficou bem mais forte. Esses demônios, os monstros do abismo que matei aqui embaixo… Se esses desgraçados são príncipes dos níveis superiores, então em tese devem ser mais poderosos que Jane. Não… eles não são, porque parte da minha alma também está com ela, isso a fortaleceu. Esses príncipes… são uma piada.”
Colin disparou em direção a Kuz’geg, movimento tão rápido que se tornava um borrão.
Kuz’geg ergueu uma parede de sangue solidificado, mas Colin a atravessou com um soco.
Scrash!
Seus olhares se cruzaram. O príncipe ficou ainda mais furioso ao ver Colin sorrindo.
— Seu–
Cabrum! Cabrum! Cabrum!
Colin desferiu uma série de golpes rápidos. Kuz’geg resistia, sua armadura absorvendo parte da força.
“Tch! Os golpes dele estão mais pesados!”
Kuz’geg revidou, balançando seu cetro e lançando Colin pelos ares. Ele colidiu contra uma torre que desabou, erguendo nuvem densa de poeira.
Antes que a poeira baixasse, Colin já estava de pé, olhos brilhando com sede de sangue capaz de assustar até o príncipe.
“Merda! Nada que uso funciona!”
Kuz’geg canalizou mais sangue, criando tentáculos que serpenteavam destruindo tudo. Avançaram sobre Colin, que os cortou com golpes precisos, mãos envoltas em raios.
Tzzzz!
“As sensações de antes… todas as lutas à beira da morte, os contratos, os pactos, tudo isso me deixou forte o suficiente pra enfrentar criaturas como ele, mas isso… isso não é divertido.”
Lançou-se contra Kuz’geg, acertando-o no peito com um soco que rachou sua armadura.
Cabrum!
“Droga!”, pensou o príncipe. “Ele também ficou mais rápido!”
Kuz’geg rugiu de fúria, cetro brilhando intensamente. Absorveu mais sangue, sua figura crescendo, músculos expandindo.
— Sou um príncipe do abismo! Não vou perder pro campeão de uma traidora! — Lançou uma tempestade de lâminas carmesim.
Colin desviou com agilidade, movendo-se de um lado para outro. Concentrou energia, tatuagens brilhando, e como se desse um peteleco, lançou uma esfera de eletricidade carmesim.
Cabrum!
A esfera explodiu ao contato, arremessando Kuz’geg contra uma alta torre.
O príncipe se levantou lentamente, sangue escorrendo das feridas.
— Você vai pagar por isso! — Ergueu o cetro, formando armadura ainda mais densa.
“Deixei Brighid, Ayla, meus filhos em Runyra porque a vida em família é entediante. Mas o que essa luta é, então? Minha última luta realmente prazerosa foi contra Gorred e Safira, mas… mesmo com todo esse poder, não consegui vencer meu pai e acabei aqui, nesse buraco.”
O apóstolo avançou com velocidade surpreendente, acertando Colin com golpe poderoso que o lançou contra outro grupo de edifícios que desmoronaram.
“É… oponentes ardilosos são mesmo um saco, mas meu pai é o único nisso. O restante eu consigo vencer só usando a força. Saco… minha empolgação tá indo embora. Eu… quero voltar pra casa.”
Colin emergiu dos destroços, roupas rasgadas e corpo coberto de poeira.
— Tch… devia ter lutado contra todos de uma vez. Não importa, depois que terminar, ajudo as meninas.
O rosto do príncipe contorceu-se de raiva. Seu cetro de sangue se desfez.
“Esse verme mestiço! Fui escolhido pelo próprio Drez’gan para comandar uma legião, sou o mais próximo de me tornar um apóstolo, então por que me encara com esses olhos desprezíveis? Isso é INACEITÁVEL!”
— Quatro badaladas vespertinas acordam o que um dia já foi o governante — começou o encantamento, uma esfera de sangue formando-se acima dele. — Quatro nomes tinha o usurpador, e de quatro maneiras ele se foi.
Colin franziu o cenho.
“Conheço esse encantamento, o avô da Morwyna naquelas memórias disse ser um dos quatro encantamentos do caos. Devo impedi-lo? Não… fiquei curioso pra saber o que isso faz. Então me mostra, príncipe do abismo.”
— O primeiro deles era o filho do sol, o segundo o filho da lua, o terceiro o filho do mar e o quarto filho das cinzas. A primeira porta do caos foi aberta, e dela, eu fui liberto. Quando tudo perece, eu ganho vida, quando tudo ganha vida, eu renasço.
Uma mana exageradamente alta emanou do príncipe, levantando poeira e sacudindo tudo. A esfera moveu-se até sua boca e ele a engoliu. Seu corpo ficou denso, pés afundando no chão.
Veias queimavam como lava, chifres grossos cresceram em sua testa, estatura aumentando. Cabelos esvoaçantes, túnica cobrindo a cintura enquanto levitava, olhos de uma brancura brilhante.
Kuz’geg abriu os braços e tudo tremeu violentamente. Conjurou uma redoma de sangue, protegendo-se da rajada de fogo do dragão vermelho que passou lambendo tudo.
— Ainda por aqui, lagartixa?
Com um gesto, criou uma pequena esfera de sangue que zuniu em direção ao dragão.
Clang! Boom!
Com os passos fantasmas, Colin apareceu na frente do dragão, usando Claymore para desviar a esfera.
Ela ricocheteou e explodiu no teto, fazendo destroços desabarem como chuva.
— Garoto, o que tá fazendo? — rugiu o dragão, surpreso.
— Valeu, dragão. Sua dívida comigo tá paga, pode ir.
A criatura observou o príncipe lá embaixo e franziu seu cenho reptiliano.
“Isso é estranho… aquela coisa lá embaixo… isso é anormal, até mesmo pra mim.”
— Ei, dragão, eu disse que sua dívida tá paga — disse Colin de pé em seu círculo mágico.
“Essa criança… um usuário do céu. Isso me traz lembranças.”
— Cuidado, garoto. Ele não é o mesmo de antes. A mana dele multiplicou em dezenas de vezes.
— É, eu sei. Valeu.
O dragão bateu as asas e se lançou em direção ao teto de cristais, perfurando-o enquanto tudo tremia. Gheskou estava em ruínas, desmoronando ao redor deles. O dragão desaparecia, deixando um enorme buraco no teto da caverna e uma chuva de cristais e poeira.
“É… a mana do príncipe… essa sensação nostálgica. Foi por isso que vim até aqui, pra sentir isso de novo! Uma luta visceral que me deixe em pedaços!”
Colin voltou-se para Kuz’geg, expressão ainda mais sedenta.
— Finalmente resolveu levar isso a sério, príncipe!
— …consegue sorrir mesmo comigo nesse estado? Deveria saber seu limite, mestiço.
— Nah… pare de falar esse tipo de coisa antes da nossa luta de verdade começar. Só vou te levar a sério quando eu estiver a beira da morte!
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