Capítulo 13: Peguei (6)
Mas, por trás dessa satisfação, Cale de repente sentiu um arrepio na nuca. Era porque Ron bebeu o chá de limão sem reclamar.
*Claque*
Por que o som da xícara de chá sendo colocada na mesa parecia tão alto? Felizmente, não era só Cale que estava paranoico. Choi Han, que desfrutava seu chá em silêncio, começou a franzir a testa.
— Por que você não toma seu chá um pouco mais tranquilamente?
Ron conteve o riso ao ver Choi Han dar uma espiada em Cale antes de falar com ele num tom mais respeitoso. Hoje, ele havia encontrado uma espada razoavelmente útil para Choi Han. Era uma espada feita pelo mesmo ferreiro que fez a faca de cozinha de Beacrox.
***
— Quer experimentar?
— Não lutarei contra alguém que está tentando cortar outra pessoa com uma faca de cozinha.
Seu filho, Beacrox, insistia para que Choi Han lutasse com aquela espada. Isso porque Beacrox havia descoberto um pouco sobre a força de Choi Han naquela curta luta da última vez e queria descobrir mais. No entanto, Choi Han continuou a rejeitá-lo.
— Ah, que punk engraçado. O quê? Preciso levar uma espada ensanguentada como você?
Choi Han fechou os olhos por um momento antes de abri-los novamente e respondeu a Beacrox como se estivesse confirmando isso para si mesmo.
— E-eu agora serei alguém que protege. Ele disse que até eu conseguiria.
— O que diabos você está dizendo?
Ron observou a graciosa discussão entre seu filho e Choi Han antes de seguir Choi Han para ver Cale. Ele não esperava ouvir algo tão precioso.
***
— Não posso viver como lixo para sempre.
Era nisso que Ron pensava enquanto bebia o chá de limão. Mas parecia que ele estava encarando Choi Han. Cale assistia àquela cena com satisfação.
O relacionamento de Ron e Choi Han em O Nascimento de um Herói era exatamente assim. Eles estavam sempre brigando, mas ainda assim continuaram viajando juntos. Estavam unidos por um contrato, mas ambos sabiam que também podiam contar um com o outro.
Cale pensou que muitas coisas mudaram por causa de suas ações para não ser espancado, mas parecia que o relacionamento deles estava se formando de maneira semelhante.
“É decepcionante que tenha se distorcido um pouco, mas minha vida vem em primeiro lugar. Não posso deixar a novel ditar a minha vida.”
Para Cale, sua vida era a prioridade número um. Depois disso, a prioridade era que todos que viviam em seu território vivessem em paz. O que mais você poderia precisar?
— Os chás doces são realmente os melhores.
Ron estremeceu ao ouvir as palavras que Cale disse alegremente.
O chá da tarde desses três indivíduos terminou no meio do aguaceiro.
— Acho que a próxima vez que te verei será na capital.
Cale balançou a cabeça em direção a Billos, que o cumprimentou enquanto descia do terceiro andar depois do chá.
— Eu virei aqui todos os dias por um tempo.
— É mesmo? Para ler o livro?
— O que eu tiver vontade de fazer.
— Sinta-se à vontade para nos visitar quando quiser. Esta casa de chá está aberta o tempo todo, jovem mestre.
Billos observava Cale, que passava fingindo não ouvir o que ele dizia, com curiosidade. Ron apenas os observava silenciosamente por trás.
O filho bastardo da Guilda Mercante Flynn. O fato de ser extremamente talentoso fez com que os filhos dos oficiais o desprezassem. Foi por isso que Billos teve que vir para esta região remota, porém lucrativa, no território Henituse.
Ele nem sequer podia usar o sobrenome “Flynn”.
Ron observou Cale sendo amigável com o ganancioso Billos e estalou a língua. Foi porque pensou consigo mesmo: “Por que me importa se aquele jovem mestre filhote é próximo do Billos?”
— Tsk. Acho que até a antipatia cria afeição.
— Não quero que minha antipatia por você se transforme em afeição.
Ron soltou um suspiro ao ver que o desavisado Choi Han havia entendido errado.
— Você não, punk.
O olhar de Ron estava em Cale.
Ron planejava ir para a capital de qualquer maneira. Era porque tinha um mau pressentimento. Ele vinha pensando nisso inúmeras vezes desde que Choi Han saiu da Floresta das Trevas e entrou na cidade com aquela densa aura assassina.
A razão pela qual Ron teve que se esconder neste território. A razão pela qual ele teve que escapar do Continente Oriental. Parecia que ele precisava pesquisar os responsáveis por isso mais uma vez.
“Não seria apropriado que eu garantisse que nosso jovem mestre filhote chegasse em segurança à capital e partisse em segurança como meu dever final como seu servo?”
Ele disse aos outros, enquanto ria, que estaria ao lado do jovem mestre porque achava engraçada a expressão assustada de Cale, mas será que um assassino contaria a verdade aos outros?
“Eu deveria dizer ao Beacrox para fazer comida que nosso pequeno cachorrinho mestre goste durante a viagem.”
Cale era alguém por quem ele se importava ainda mais do que com seu próprio filho, Beacrox. Ron sabia muito bem das coisas terríveis que Cale havia feito e da personalidade terrível que ele tinha. No entanto, ele conhecia outra versão dele.
Ron se lembrou de como o jovem Cale consolou o pai quando a mãe morreu. Ele também viu como Cale odiava a madrasta e a família dela, mas nunca causava problemas com eles, mesmo quando estava bêbado.
“Mas ele definitivamente ainda é lixo, tsk.”
18 anos. Ron cuidou de Cale por tempo demais.
***
Cale retornou ao seu quarto imediatamente após retornar à propriedade, apenas para encontrar os dois gatinhos olhando para ele.
— Ah, esqueci de vocês dois.
Ele deveria ter trazido Choi Han, que adora pequenos animais. Choi Han havia retornado para seu quarto depois de dizer que seu coração precisava se fortalecer para ser alguém que protege.
Quando Cale riu e perguntou quem Choi Han iria proteger, Choi Han respondeu que avisaria Cale assim que ficasse mais forte. Essa resposta deu arrepios em Cale. Cale não sabia por que alguém tão forte quanto Choi Han iria querer ficar ainda mais forte.
— Jovem mestre.
Hans se aproximou de Cale enquanto ele olhava para os gatinhos.
— Jovem mestre, o que você acha? Eles não estão ainda mais fofos, adoráveis e bonitos agora? Mas são tão malvados que nem me deixam acariciá-los. Haha!
Hans agachou-se ao lado dos gatinhos e olhou para Cale com satisfação. Sua expressão era tão cheia de admiração que surpreendeu Cale e Ron. Sua expressão não tinha nada a ver com a fofura dos gatinhos.
— Você não concorda?
Este forte candidato a mordomo parece gostar muito de gatos.
— Ah, hum, acho que sim.
Os dois gatinhos, sentados numa almofada de seda vinda sabe-se lá de onde, pareciam definitivamente mais cheios e saudáveis.
“Que tipo de mágica esse mordomo assistente fez naquele curto espaço de tempo?”
No entanto, os dois gatinhos continuaram a evitar o olhar de Hans. Parecia uma relação muito estereotipada entre um mordomo e um gato.
— Então, estou indo agora, jovem mestre. Por favor, me ligue se precisar de alguma coisa para os gatinhos.
— Apenas vá.
Depois de verificar que Ron conseguiu que Hans fosse embora, Cale evitou os olhos brilhantes dos gatinhos ao entrar no banheiro. Naquele momento, as orelhas dos gatinhos caíram.
Mas então…
— Huuuu.
Ron se aproximou dos gatinhos depois de mandar Hans embora. Apenas Ron e os dois gatinhos estavam no quarto.
— Vocês são filhos da Tribo dos Gatos.
Os olhos dourados do gatinho se tornaram penetrantes. No entanto, Ron não pareceu se importar, pois verificou se a porta do banheiro estava fechada antes de se posicionar diante dos gatinhos.
— Bom.
Havia um sorriso estranho no rosto de Ron.
A Tribo dos Gatos era conhecida por sua sensibilidade ao ambiente. Era mais conhecida no Continente Oriental do que no Ocidental, mas não havia como alguém como Ron, envolvido em assassinatos, não saber sobre eles.
Ao contrário da maioria dos homens-fera, que se tornavam violentos quando enlouquecidos, a Tribo dos Gatos tornou-se mais furtiva e perspicaz. Por isso, eram uma tribo assustadora, embora não estivessem no mesmo nível das Tribos do Lobo, do Tigre ou do Leão.
Só havia um pensamento na mente de Ron enquanto observava as duas crianças da Tribo dos Gatos. Foi um pensamento repentino, e eles ainda eram jovens, mas…
— Eu posso ensiná-los.
Ron verificou se a porta do banheiro estava fechada novamente.
A Tribo dos Gatos dava muita importância aos relacionamentos. Se confiassem em alguém uma vez, nunca a trairiam. Eram desconfiados por natureza, mas, assim como a Tribo dos Lobos, valorizavam os relacionamentos interpessoais.
As crianças dessa tribo vieram procurar Cale por conta própria. Ron achou que seria legal dar um presente de despedida ao seu jovem mestre cachorrinho.
Ron se aproximou um pouco mais das crianças da Tribo dos Gatos. Então, estendeu a mão para acariciar a cabeça do gatinho prateado, um pouco maior.
*Tapa*
O gatinho prateado deu um tapa na mão e rapidamente se moveu para o canto da sala junto com o gatinho vermelho.
— Uhuuu.
Os olhos de Ron ficaram curiosos. Essas crianças da Tribo dos Gatos pareciam já tê-lo descoberto. Fazia sentido, já que precisavam reconhecer rapidamente pessoas como ele, pessoas próximas da morte, para viverem por muito tempo. Mesmo que os gatos tenham sete vidas, eles precisavam valorizá-las. A Tribo dos Gatos era conhecida por suas vidas longas, bem como por seus movimentos noturnos furtivos. Nesse aspecto, eles eram mais furtivos do que qualquer outra pessoa. Ron começou a sorrir.
— Uma criança é neblina e a outra é veneno.
O prateado era névoa e o vermelho era sangue, ou veneno. Mesmo que não se tornassem assassinos, tinham a base necessária para se tornarem sombras. O gatinho prateado virou a cabeça quando Ron disse isso, enquanto o gatinho vermelho bufou. Os dois irmãos não tinham a mínima vontade de se tornarem assassinos que exalavam um cheiro tão forte de morte.
Os dois gatinhos zombaram de Ron, como se já soubessem de sua identidade como assassino. Assim que Cale saiu do banheiro, eles ainda estavam muito próximos um do outro enquanto olhavam para Cale.
— Pare de olhar para mim.
Eles pararam de olhar para ele imediatamente quando ele disse isso.
— Ron. Vai buscar minha refeição com o Beacrox.
— Sim, jovem mestre.
Ron saiu e Cale sentou-se no sofá e olhou para os dois gatinhos. Então, ele falou com os dois gatinhos que choravam em um canto distante dele.
— Vocês dois fazem parte da Tribo dos Gatos, não é?
Os dois gatinhos balançaram a cabeça sem fazer contato visual com Cale.
— Vocês estão planejando me seguir?
Não houve respostas para esta pergunta.
Em vez disso, o gatinho vermelho caminhou lentamente e esfregou sua bochecha na perna de Cale, enquanto o gatinho prateado se aproximou de Cale logo depois e começou a bater no pé de Cale com sua pata dianteira.
Cale já tinha um plano para os dois irmãos. Ele assentiu e decidiu sobre os gatinhos.
— Então, façam-se úteis.
Os gatinhos responderam imediatamente.
— Miau.
— Miau!
— Responda em linguagem humana.
As pupilas da gatinha prateada, a irmã mais velha chamada On, começaram a brilhar enquanto ela falava.
— Quero comer carne. Ainda estou com fome.
O gatinho vermelho, o irmão mais novo Hong, bateu na perna de Cale enquanto continuava.
— Eu quero comer bolo.
Cale respondeu a ambos.
— Vou te dar muita carne e bolo, então você sabe o que fazer, certo?
— Seja útil!
— Seja útil!
Os gatinhos responderam imediatamente, e foi assim que os dois irmãos, que foram expulsos da Tribo dos Gatos da Névoa, se tornaram parte da casa do Conde Henituse.
Quatro dias depois, Cale se juntou à família para o café da manhã pela primeira vez em muito tempo. O Conde Deruth olhou para o filho, que vestia roupas extremamente simples, e começou a sorrir.
— Acho que você vai embora hoje.
Hoje era o dia em que Cale deixaria o território Henituse e seguiria em direção à capital.

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