Índice de Capítulo

    Eu corri… corri muito!
    Meu coração tava batendo tão forte que parecia que ia pular pra fora do meu peito.
    Aquele homem… ele era muito estranho! Eu nunca vi ele antes em lugar nenhum! E se ele for um sequestrador? E se ele quiser me pegar? Eu não posso deixar ele me pegar! NÃO POSSO!

    Minhas pernas doíam, mas eu continuei correndo. Eu nem olhava pra trás. Só corria.
    As árvores pareciam cada vez mais juntas, e o chão era cheio de folhas e raízes. Tava difícil correr sem cair.


    — BRUU!!

    — AAAI!! — gritei, quando meu pé bateu em alguma coisa dura e eu voei pro chão!

    Foi uma raiz! Uma raiz enorme e grossa, saindo debaixo da terra! Eu tropecei com tudo!
    Bati com os dois cotovelos no chão e eles começaram a arder muito. Tava ardendo demais! Quase chorei, mas tentei ser forte.

    — Ai… meus braços… — sussurrei, esfregando os cotovelos cheios de arranhão. Eles tavam sangrando um pouquinho, dava pra ver umas manchinhas vermelhas na minha roupa.

    Tentei me levantar… mas senti alguma coisa me puxando. Uma coisa presa no meu pé esquerdo.
    Olhei pra trás com o coração acelerado.


    Tinha uma CORRENTE!
    Bem grossa, escura, e muito fria. Ela tava enrolada no meu tornozelo, apertando forte.
    Eu puxei meu pé com força, tentei soltar… puxei com as mãos, com tudo que eu tinha!

    — Sai! Me solta! — gritei, com raiva e medo.

    Mas ela não saía! Parecia que ela queria ficar presa em mim pra sempre! Era como se… como se ela tivesse vida!

    E então…

    — Fiuuu…

    Um assovio.

    Um assovio comprido, fininho… estranho demais. Ele veio de dentro das árvores.
    Meu corpo inteiro arrepiou. O som parecia cada vez mais perto.

    — T-tem alguém aí?! — gritei, já com lágrimas no olho. — Alguém me ajuda! Eu tô presa! Por favor!

    Silêncio. Só silêncio.
    Nem passarinho cantava mais. Até o vento pareceu parar por um segundo.


    Foi aí que eu vi.

    Os galhos lá na frente começaram a balançar.
    Um barulho estranho apareceu junto com o vento… o som de uma corrente sendo arrastada… e então ela saiu.

    Uma mulher.

    Ela tava toda machucada. Tinha sangue seco grudado no corpo, no rosto, no cabelo. O cabelo era preto e curto, todo bagunçado, com umas partes grudadas na bochecha.
    Ela andava devagarzinho, muito devagar, como se não sentisse dor nenhuma.
    Arrastava uma corrente enorme que fazia barulho no chão — clang… clang… clang…

    Nos pulsos dela tinha algemas… aquelas de ferro velho, bem enferrujadas. Mas ela segurava a corrente como se fosse dela. Como se fosse um brinquedo. Ou pior… uma parte do corpo dela.

    Ela usava uma venda roxa nos olhos. Tava cega! Mas andava certinho, como se enxergasse tudo.
    E a roupa dela… era toda rasgada, mostrando a barriga. Tava usando uma saia… tudo bem indecente! Eu nunca vi uma mulher se vestir assim.
    Parecia uma bruxa, ou um espírito malvado… ou alguma coisa de pesadelo.

    E ela tava vindo direto pra mim.

    Meu corpo congelou. Eu queria correr, gritar, sumir dali… mas minhas pernas não obedeciam.
    A corrente no meu pé ainda me segurava. Eu tava presa.
    E ela tava cada vez mais perto.

    — P-por favor… não me machuca… — sussurrei bem baixinho, com os olhos cheios d’água.

    — Hahaha! Chora um pouquinho pra mim… aí eu penso se não te machuco! AHAHAH! — a mulher ria alto, com um sorriso assustador, os olhos arregalados e brilhando de prazer. Sua voz parecia um trovão debochado dentro da minha cabeça.

    — Q-quem é você?! O que você quer de mim?! — gritei, com o coração batendo tão rápido que doía. Minhas pernas tremiam, minha respiração saía em soluços e eu quase caía de medo.

    — O que eu quero? O que será que eu quero? AHAHAH! — ela inclinou a cabeça como se estivesse brincando comigo, e as correntes ao redor do seu corpo tilintavam sozinhas. — Tá na cara, não tá? Eu vim até aqui por você… uma fugitiva de Crimsônia. Fomos contratados pra encontrar você… e também o desgraçado que matou o filho do nosso chefe.

    Ela fez uma pausa, como se tivesse esquecido algo, e então sorriu com ainda mais crueldade.

    — Ah, e quase esqueci… meu nome é Lillix, a Carrasca. — disse, com um tom cantarolado, como se fosse uma música macabra, antes de rir mais uma vez.


    — M-mas você tá enganada! Eu… eu não sei quem é esse filho aí! Me deixa ir, por favor… por favorzinho… — comecei a chorar. Meu corpo tremia todo, e meus olhos estavam ardendo com tanto medo.

    — Ah, não vem com mentirinha, não… sua! — ela gritou, apontando pra mim. — Seu cabelo… seu cabelo grita que você veio de Crimsônia! E ninguém nesse mundo é idiota o suficiente pra pintar o cabelo dessa cor maldita!

    — T-tá… tá bem… eu vim de lá, mas eu juro, juro de verdade que não sei quem é esse filho do chefe de vocês… por favor… — tentei segurar o choro, mas minha voz falhava toda hora.

    — HA! Você sabe sim, sua escravinha de merda! — ela cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Aquele fedelho te comprou, e alguém foi lá, matou ele… e fugiu com você!

    — N-não! Eu juro que não sei de nada! — implorei com todo meu coração. Meu rosto tava todo molhado de lágrimas, e parecia que eu ia me afogar nelas.


    — Mesmo que você seja a pessoa errada… — ela se aproximou de uma forma doentia. — … você não vai embora! E sabe por quê? Porque eu gosto disso… me dá um tesão enorme ver gente chorando… HAHA! Então se prepara… pra sofrer!

    — P-por fav… — tentei pedir de novo, mas…

    — Cala a boca! — ela gritou. — Eu já falei! Vou contar até três… e vou quebrar sua perna! HAHA! Vamos lá! Um… dois… TRÊS!!


    Foi como se uma mordida de metal pegasse minha perna. As correntes apertaram de repente, como se tivessem vida própria. Eu gritei. Gritei com toda a força que meu corpo pequeno podia. A dor… era como se minha perna estivesse pegando fogo, como se tivessem jogado ela numa fogueira.

    — AAAAAAAA!!! — gritei até minha garganta arranhar.

    A corrente apertava cada vez mais e mais. Senti alguma coisa dentro de mim se quebrando. Um estalo horrível, como um galho seco rachando. E então…

    — AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!!! — minha perna se quebrou inteira! O osso estilhaçou, e a corrente continuava esmagando, apertando até a carne afundar.

    — AHAHAHAAH!! ISSO!! ISSO!! GRITA MAIS! — Lillix gemia, com a língua pra fora, ofegante, as bochechas vermelhas é como se estivesse num transe. Ela levou a mão entre as pernas e se apertou, sorrindo e gemendo enquanto me olhava.


    Kael… Lucas… Aiza… alguém… me ajuda… pensei, quase sem conseguir respirar.

    Meu corpo inteiro doía. Minha perna queimava. Minhas mãos tremiam. E meu peito parecia que ia explodir. Será que eu ia morrer? Será que era assim que acabava tudo? Eu só queria que parasse…

    Só queria que… alguém me salvasse…

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