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    Ao entrar na Sociedade do Teatro — um edifício projetado para reunir todos os especialistas da indústria — vi pessoas aglomerando-se na entrada enquanto se dirigiam para dentro. Parecia que um grande evento estava acontecendo.  

    “Parece que convidaram muitas pessoas.”  

    Aoife falou, encarando a frente com uma leve franzida de sobrancelha.  

    “…..Já que chamaram tanta gente, parece que estão confiantes no que vão apresentar. Estou começando a ficar curiosa.”  

    Aoife se virou e mostrou um pequeno cartão em sua mão. Era um cartão preto com as letras ‘VIP’ gravadas em relevo.  

    “Tenho uma sala boa. Quer vir junto?”  

    “….Claro.”  

    Aoife estava estranhamente amigável, mas não recusei seu convite.  

    A curiosidade falou mais alto e acabei acenando com a cabeça, seguindo-a por trás.  

    A sala em que entramos era bastante espaçosa. Vários sofás vermelhos alinhavam-se nas laterais, e algumas cadeiras estavam posicionadas sobre uma área aberta, proporcionando uma visão clara do palco abaixo.  

    ‘Como esperado de uma princesa… a sala é incrível.’  

    Uma multidão já se formava lá embaixo.  

    Estava lentamente enchendo.  

    “Sente-se aqui. Ninguém deve nos incomodar por enquanto.”  

    “….Certo.”  

    Sentei-me e me acomodei. Enquanto fazia isso, observei o palco abaixo. Várias pessoas estavam presentes, todas ajustando os equipamentos que seriam usados para a apresentação.  

    Eu estava curioso.  

    Que tipo de pessoa eles usaram para me substituir? …e por que não fui avisado?  

    Esfreguei a parte de trás da cabeça.  

    As coisas realmente não faziam sentido, mas já que a situação era essa, só pude recostar na cadeira e observar quietamente o que estava acontecendo.  

    Quanto mais eu pensava, mais minha curiosidade começava a me consumir.  

    Felizmente, não precisei esperar muito.  

    Cli Clak—  

    As luzes do palco se apagaram, mergulhando todo o teatro em silêncio. Todos os olhos se concentraram no palco quando uma única luz brilhou no centro, iluminando uma figura rechonchuda de meia-idade.  

    Parada no centro, eu a reconheci instantaneamente.  

    ‘Roteirista Olga.’  

    De fato, já que ela estava aqui, não era mentira dizer que estava ocupada. Isso eu podia entender.  

    ….Só estava curioso sobre meu substituto.  

    Aoife parecia estar no mesmo barco que eu, fixando o olhar no palco central. Ela parecia muito absorta pelo que estava acontecendo.  

    “Agradeço a todos que estão aqui hoje. A maioria de vocês já deve me conhecer, então não vou me alongar em apresentações, já que não estou aqui para ser a estrela, mas apenas um detalhe no fundo.”  

    Olga começou seu discurso com uma simples saudação.  

    “Todos vocês presentes são convidados ilustres do mundo do teatro, e é um privilégio tê-los aqui antes do evento principal que será exibido no Encontro dos Quatro Impérios.”  

    Ela parecia orgulhosa enquanto falava. Com o queixo erguido e maquiagem fresca, ela parecia completamente diferente da versão exausta que eu estava acostumado a ver.  

    Era uma mudança agradável.  

    “Como muitos de vocês sabem, esta obra que vou apresentar será minha obra-prima e algo que a maioria já deve conhecer.”  

    Olga riu.  

    “Originalmente, eu tinha outro ator em mente para o papel, mas devido a circunstâncias, ele não pode comparecer.”  

    Senti o olhar de Aoife em mim. Ela parecia dizer: ‘Você não avisou ela?’  

    Eu encolhi os ombros.  

    “Como eu aviso se só voltei ontem? Achei que a Academia tivesse dito algo.”  

    “….”  

    Aoife encolheu os ombros, resignada.  

    “Acho que você tem razão.”  

    Ela então se recostou na cadeira enquanto sua atenção voltava para a peça. Eu a encarei brevemente antes de também voltar minha atenção.  

    “Mas não se preocupem.”  

    Olga disse, seu tom soando animado.  

    “Encontrei um substituto! E deixem-me ser sincera com todos vocês…”  

    Ela fez uma pausa, seu sorriso se alargando enquanto olhava para a plateia.  

    “Ele é melhor que o ator anterior. E não estou dizendo só um pouco melhor, mas muito melhor.”  

    Olga prosseguiu rindo de alegria. Olhando para ela e vendo o quão feliz ela estava, me vi franzindo os lábios.  

    Hmm, não sabia por que, mas suas palavras não me caíram bem.  

    ….Era como se ela estivesse me descartando completamente.  

    ‘Acho que ela pode ter ficado realmente brava comigo.’  

    Ou talvez eu estivesse pensando demais.  

    Isso era possível.  

    Como esperado, no momento em que Olga revelou que o ator era “melhor”, a plateia ficou um pouco agitada, todos olhando para o palco com curiosidade aguçada.  

    Eu estava na mesma e voltei minha atenção para o palco. Me vi encarando cada vez mais as cortinas vermelhas que escondiam tudo por trás.  

    Mais uma vez, me vi fazendo a mesma pergunta.  

    Quem, neste mundo, era esse novo ator?  

    “Acho que já tomei tempo suficiente de vocês. Vocês querem ver a atuação?”  

    A pergunta era retórica, mas todos presentes acenaram e gritaram palavras de aprovação.  

    “Então tá…!”  

    Olga se virou para encarar as cortinas.  

    “Que a peça comece!”  

    ***  

    A peça começou exatamente como Aoife lembrava.  

    Swoosh—!  

    As cortinas se abriram, e as luzes do palco cintilaram, revelando o interior de uma padaria.  

    Tok—  

    Um único passo quebrou o silêncio que pairava sobre o teatro. Uma figura vestida com um casaco marrom e cartola entrou, sua presença atraindo os olhos de todos os espectadores.  

    Era Joseph, o protagonista da peça. Interpretado por Darius, a mesma pessoa que estivera presente durante sua peça, ele desempenhava seu papel com maestria.  

    Era quase como se ele fosse o próprio personagem.  

    [Huaam.]  

    Ele começou com um bocejo enquanto olhava ao redor.  

    Sua voz era clara e audível para todos ouvirem.  

    Era a primeira vez que Aoife assistia à peça ao vivo, e ela teve uma sensação completamente diferente da última vez.  

    Ela se viu imersa na peça, seu olhar firme no palco.  

    Dos vocais aos visuais, Aoife podia dizer que a peça havia sido ainda mais refinada do que quando a fizeram.  

    ‘Está boa.’  

    Essa foi sua primeira impressão da peça.  

    A cena continuou.  

    Joseph olhou ao redor do lugar e falou sobre a vítima, Emily. Ele tocou em algumas coisas antes de finalmente se acalmar e sentar em uma cadeira.  

    [Emily Stein]  

    Ele prosseguiu dizendo enquanto se sentava, sua voz soando extremamente grave. Ela ecoou por todo o teatro, alcançando os ouvidos de todos os presentes.  

    As luzes se apagaram, e o palco caiu em silêncio.  

    Cli Clank—  

    [Desapareceu ontem.]  

    A voz de Joseph continuou na escuridão que tomou conta.  

    [Filha do padeiro. Estava procurando equipamentos desaparecidos.]  

    Suas palavras, embora suaves, chegaram gentilmente aos ouvidos de Aoife, envolvendo-a e a imergindo ainda mais na peça.  

    [Que cenário problemático.]  

    Cli Clank—!  

    Aoife prendeu a respiração no momento em que as luzes se acenderam novamente.  

    O mundo inteiro… havia ficado cinza. Um cinza monótono e redundante. Por alguma razão, ela sentiu a boca secar diante daquela visão.  

    Joseph não estava mais na padaria, mas agora no meio de um beco longo.  

    Sentado de costas para a plateia, ele olhava para frente.  

    Tak—  

    Um passo ecoou quando uma figura apareceu.  

    Uma jovem com idade próxima à de Aoife.  

    Encarando-a, Aoife franziu os lábios. O ciúme borbulhou dentro dela, mas, ao mesmo tempo, não podia negar a verdade. Com apenas um olhar, podia dizer que a atriz era melhor que ela.  

    Dos gestos sutis ao tom de voz…  

    Aoife não teve escolha a não ser admitir sua inferioridade.  

    Emily estava se aproximando de um homem de costas para eles.  

    Aoife encarou suas costas com os olhos apertados. Era como se estivesse tentando enxergar através de sua cabeça.  

    Ele tinha cabelos longos e negros, cuidadosamente amarrados atrás, e seu porte alto sugeria um corpo bem definido sob suas roupas.  

    ‘Quem…?’  

    [Ah, com licença! Por acaso sabe se há alguma loja ainda aberta onde eu possa comprar peças para um mixer quebrado?]  

    Aoife parou de respirar no momento em que a atriz falou. A tensão era palpável, e tudo parecia sufocante.  

    [….]  

    A tensão foi ainda mais alimentada pela respiração pesada de alguns membros da plateia enquanto se concentravam na figura central.  

    Cada segundo parecia opressivo. Quase como se alguém estivesse apertando seu coração.  

    [….Está procurando uma peça de reposição?]  

    Aoife agarrou o braço da cadeira, seus nós dos dedos ficando brancos enquanto olhava para Julien. Ele estava encarando o ator, sua expressão impenetrável e calma, não revelando nenhuma da tensão que ela sentia.  

    Era apenas o som de sua voz, e ainda assim, ela sentiu os pelos de seus braços se arrepiarem.  

    Que tipo de…?  

    Aoife massageou o rosto.  

    ‘Ridícula. Estou sendo ridícula.’  

    A peça continuou como Aoife sabia, com Azarias apontando em uma certa direção.  

    Incrivelmente, Aoife sentiu-se tensa o tempo todo e, apesar de não ver seu rosto, só pôde admitir que o substituto de Julien era muito bom.  

    Especialmente durante a última cena.  

    [V-vermelho…]  

    Murmurando em silêncio, o ator olhou levemente para cima.  

    [….Quero vê-lo.]  

    Apenas essas palavras foram suficientes para chocar Aoife, que não pôde evitar comparar a performance atual com a de Julien.  

    ‘Melhor? Igual? Pior…?’  

    Foi então que o fim da primeira parte chegou.  

    A cena voltou para Joseph, que agora entrava na floricultura. Ele estava seguindo as pistas da visão.  

    Tok—  

    Batendo na porta, todo o teatro ficou em silêncio enquanto todos os olhos se concentravam na floricultura.  

    Por alguma razão, quase parecia que todos haviam sido removidos do teatro, pois um silêncio mortal tomou conta do ambiente.  

    Todos os olhos estavam fixos na porta que levava à floricultura.  

    Uma sombra logo apareceu atrás dela, e o aperto de Aoife no braço da cadeira se intensificou.  

    Finalmente… Finalmente ela veria o substituto.  

    Clank!  

    [Posso ajudá-lo?]  

    No momento em que a porta se abriu, a respiração de Aoife ficou presa em sua garganta, e ela instintivamente recuou na cadeira.  

    Seu olhar fixou-se no homem que entrou — uma figura com longos cabelos negros como ébano caindo sobre ombros largos e olhos verdes penetrantes que pareciam rivalizar com os de Julien em intensidade e presença.  

    Era alguém que Aoife nunca tinha visto antes, mas apenas sua aparência foi suficiente para cativar a plateia.  

    Quanto à sua atuação…  

    “Ah… Isso…”  

    Aoife encarou o mundo vermelho apresentado diante dela.  

    Ela não sabia quando, mas o tempo pareceu passar num piscar de olhos. Antes que percebesse, a primeira parte da peça terminou, uma figura deitada no chão enquanto uma pintura vermelha aparecia na parede.  

    O tempo todo, seu olhar permaneceu fixo no homem que estava no centro.  

    Ele era…  

    Aoife engoliu seco, virando a cabeça para encarar Julien.  

    ….Arrebatador.

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