Capítulo 115: A vida Crystalline.
Na aldeia de onde eu nasci, vivíamos dos campos que nós mesmos arávamos, plantava-mos e colhíamos. Era uma aldeia pequena onde todos vivíamos como se fôssemos parentes do mesmo sangue, e como comerciantes não chegavam até nossa aldeia, quase não tínhamos visitantes.
Na época, meu nome era Luzete, que significa pequena luz.
Meus pais também eram camponeses e bem respeitados pela aldeia pela natureza bondosa deles, e eu era considerada como a princesinha da aldeia por causa da minha bela aparência.
Puxei os cabelos caídos e lisos como cadeira de minha mãe de cor castanho, os longos cílios de meus pais e uma aparência que me diziam ter sido uma benção da deusa.
Mas havia algo sobre mim que me diferenciava muito entre todos os moradores da aldeia, que eram meus olhos azuis. Não apenas azuis, mas um azul forte e brilhante como pedras preciosas.
Por causa disso, meus pais temiam que eu fosse mal interpretada pelos moradores, chegando até a ser ignorada e hostilizada. O que felizmente não foi o que aconteceu, por assim como meus pais, passei a ser mimada por todos os moradores da aldeia, o que trouxe grande alívio e felicidade para meus pais.
Quer o que fosse, eu passei a me orgulhar daqueles olhos já que faziam as pessoas gostarem ainda mais de mim.
Até que tudo mudou em uma única noite.
Eu estava dormindo em minha cama quando de repente uma intensa luz vermelha invadiu meu quarto pela pequena janela, despertando-me de meu sono.
Sonolenta, mas ainda curiosa, desci da minha cama, andei na direção da janela e olhei através dela, e foi aí que vi ela.
Flutuando no alto céu, perto do teto da minha casa, estava o que parecia ser uma pedra que emitia um intenso brilho vermelho, iluminando não apenas minha casa, mas toda a aldeia.
“!”
E então de repente aquela pedra brilhante começou a descer na minha direção e pareceu entrar dentro de mim, e tudo que aconteceu a seguir foi um borrão comigo desmaiando ali mesmo.
Quando acordei com minha visão ficando embaçada, pude ver meus pais olhando para mim com clara preocupação e agitação, e estranhamente felizes por me verem acordada.
Também percebi que haviam várias linhas de cor preta espalhadas por todo meu corpo, tudo indo de um desenho que parecia uma lâmina no meu peito direito. Quando meus pais me perguntaram o que havia acontecido comigo, contei-lhes cobre o que havia acontecido naquela noite, o que eles me pediram para manter em segredo.
Pelo que ouvi de meus pais, mais ninguém na aldeia pareceu ter se apercebido desta intensa luz, o que indicava que eu era a única que a viu.
Eu havia ficado dias desacordada, e os moradores vinham visitar para saber o que havia acontecido, e meu pais sempre davam a desculpa de que eu estava doente e que não era nada preocupante, e eu não podia culpá-los.
Mas como não podiam me manter escondida por muito tempo, pediram ajuda ao chefe da aldeia que veio ver minha situação, explicando para ele o que eu havia lhes dito.
“…”
O chefe da aldeia, naquele momento, tinha uma expressão neutra em seu rosto. Apenas me pediu para descansar depois de analisar meu corpo, e foi falar com meus pais antes de finalmente deixar a casa.
Meus pais ainda continuavam trabalhando nos campos enquanto eu ainda continuava confinada na casa. Era entediante, principalmente para uma criança agitada como eu.
Mas as coisas mudaram em uma noite de jantar, uma semana depois da visita do chefe da aldeia..
Estávamos todos sentados ao redor de nossa mesa de jantar, meu pai contava sobre como suas costas doíam de tanto trabalhar, minha mãe falava sobre como estava ansiosa em me ver casar um dia e formar uma família, e eu contradizendo ela.
Parecia que as coisas estavam começando a ficar normais, como se não houvesse problemas na casa, o que me proporcionou um grande alívio e esperança de que as coisas realmente voltariam a ser normais.
*Toc, toc, toc.*
Até que no meio de nossas conversas alguém começou a bater na nossa porta, meu pai, embora confuso, levantou-se para saber quem era naquela. Quando abriu, lá estava o chefe da vila, com uma estranha expressão no rosto que não pude saber o que era.
“Lament-!”
Antes que ele pudesse terminar o que iria falar, foi empurrado de lado por alguém que ficou em frente de meu pai. Ele era enorme e vestia uma armadura reluzente de cor dourada e branco puro, tão grande que cobria toda a entrada da porta da casa.
Com um olhar sombrio, ele olhou pro meu pai e falou em um tom de voz que fez minha espinha arrepiar.
“Onde está sua filha?”
*Bam.*
No mesmo instante, meu pai fechou bruscamente a porta e se virou rapidamente para trás, olhando para nós com um desespero nos olhos.
“C-corram!”
*Brush!*
Mas antes que tivéssemos sequer a chance de fazer qualquer coisa, a porta foi arrebentada em vários pedaços e meu pai saiu voando até o outro lado da sala, colidindo-se com a parede da casa.
No momento seguinte, três outros homens vestindo o mesmo tipo de armadura mas com capacetes que cobriam os rostos entraram, com o homem enorme ficando na entrada.
“Tragam todos para fora.”
Disse ele.
Imediatamente os três homens se aproximaram de nós de maneira assustadora, um deles me agarrou bruscamente pelos braços e me afastou do abraços de minha mãe.
“O que vocês querem com a nossa filha!? Deixem-nos em paz-Kya!!”
Entre os gritos, minha mãe foi puxada bruscamente de mim e jogada contra a parede, antes de ser pega de volta e arrastada para fora da casa junta de meu pai.
“Mãe! Pai! Socorro! Mãe! Pai!”
Eu gritava entre choros tentando chamar pela ajuda de minha mãe e meu pai, enquanto também gritava de preocupação ao vê-los sofrendo pelas mãos destes homens.
Fomos arrastados até o centro da aldeia e me colocaram de joelhos.
“!?”
Pela minha surpresa, todos os aldeões estavam ao redor enquanto me olhavam com olhos chocados, depois meus pais também foram tragos e os colocaram de joelhos na minha frente, a cerca de dez passos de distância um do outro.
Também haviam várias pessoas de armaduras com capacete que cobriam o rosto. Eles estavam ao redor de nós, agindo como se fossem uma cerca para que os aldeões não pudessem se aproximar, de costas para eles, e de frente a nós, como se fosse algum tipo de julgamento.
“O que vocês querem!?”
“Soltem nossa filha!”
Mesmo nesta situação, meus pais gritavam entre lágrimas e puro desespero, não por eles, mas por mim mesmo.
“?…”
Também havia algo que eu havia ignorado durante todo este tempo por causa de toda a confusão. Todas estas pessoas de armadura tinham um pequeno círculo de luz dourada brilhando bem no centro do peito deles, e algumas linhas que se espalharam por todo o corpo, conectados no pequeno círculo.
Não sei porque, mas o homem enorme tinha a bola de luz ainda maior.
“Silêncio!”
Foi então que o enorme homem de armadura chegou e gritou, calando meus pais e os aldeões que murmuravam. Então continuou.
“O motivo de vocês estarem aqui é porque vocês cometeram um ato imperdoável que vai contra todos os sacrifícios da deusa celestial.”
Ele então se virou para meus pais.
“Vocês estão sendo condenados por estarem conspirando com o Culto Demoníaco! E a pena não é outra senão a morte!”
“!”
“!”
A revelação não havia chocado não apenas aos meus pais, como a mim mesma e os próprios aldeões ao redor, que rapidamente começaram a cochichar, surpresos e sem entender realmente o que ele estava dizendo.
“Isto é mentira! Porque dizem que estamos conspirando como culto demoníaco!? Isto é uma bobagem! Onde estão as provas!?”
Gritou meu pai com o rosto contorcido de raiva e ao mesmo tempo desespero.
“Hmph! Provas?”
Bufou o homem em tom zombeteiro, depois se virou para mim, apontando-me com o dedo e gritou.
“E o que é isso!? Vocês fizeram experimentos demoníacos com a vossa própria filha! Estas marcas ao redor de seu corpo e esta energia emanando dela são claramente uma obra de experimentos demoníacos!”
Sua revelação mais uma vez chocou a todos os moradores, que rapidamente começaram a cochichar.
“Então é realmente verdade?…”
“Só pode ser, porque a ordem sagrada viria até aqui apenas para mentir meros moradores de uma vila?”
“Céus…eles sempre pareceram tão bondosos, então era apenas mentira.”
Os começos dos aldeões pareciam maldições que me remoía por dentro. Porque estavam falando daquele jeito sobre meus pais? Eles não sabem que meus pais jamais seriam capazes de fazer aquelas coisas?
“Filha! Não acredite neles!”
“Eles estão mentindo!”
Gritavam meus pais.
Eu sabia que estas pessoas de armadura estavam mentindo. Tudo aconteceu depois daquela noite, quando aquela pedra misteriosa brilhou no céu e entrou dentro de mim.
Eu sabia a verdade, e não podia deixar estas pessoas reescreverem a história. Então, reuni toda a coragem que tinha e gritei entre pulmões.
“Isto não é verdade!”
Minhas palavras ecoaram por todo o espaço, parecendo ter peg todos de surpresa, e continuei.
“Meus pais jamais fariam algo assim comigo! Eles me amam muito! Na verdade, o que aconteceu foi-”
“Coitadinha…”
“?”
Mas foi então que uma voz suave surgiu do nada, interrompendo meu raciocínio e cortando-me bem no meio das palavras. Quando olhei para direita, notei uma bela mulher de longos cabelos dourados e vestindo um vestido branco reluzente se aproximando com passos suaves.
Todos os homens de armadura rapidamente se ajoelharam e levaram a mão direita ao peito assim que ela apareceu.
“Nós saudamos vossa santidade, a Santa!”
“Nós saudamos vossa santidade, a Santa!!”
Gritou o homem enorme, rapidamente sendo seguido pelos outros homens de armadura.
“Santa?…”
“É a santa?…”
Os aldeões, descobrindo que se tratava da santa, rapidamente também começaram a se ajoelhar.
A mulher, proclamada santa, fez um breve aceno com a mão e andou até ficar na minha frente.
“É você? A garota possuída pelo demônio?”
Disse ela, com um tom de voz suave e um olhar gentil que rapidamente me hipnotizou. Naquele momento, um fio de esperança havia surgido dentro de mim.
Santa era aquele que foi escolhido pela deusa Celestie, que havia encarnado como humana e se sacrificado inúmeras vezes para salvar nosso mundo. Com ela lá, os crimes de meus pais seriam rapidamente esclarecidos e voltaríamos a ter nossa vida normal de volta.
Então eu falei.
“Santa, por favor! Meus pais não fizeram nada de errado! Eles-”
“Cala a boca!”
*Tap.*
Mas então o guarda que me segurava gritou furioso e me deu um tapa forte no rosto, me derrubando no chão.
“Luzete!!”
“Filha!”
Meus pais gritaram logo em seguida, claramente transmitindo seu desespero e preocupação em suas vozes.
Depois, o mesmo soldado voltou a pegar-me pelo braço, me levantou e me colocou de volta de joelhos na frente da Santa.
“…”
Um medo ainda maior havia se intensificado dentro de mim. Eu não conseguia nem mais gritar ou sequer levantar a cabeça.
“Então…minha recompensa…”
“?…”
Mas então ouvi a voz familiar do chefe da vila que estava ao lado do homem de armadura.
“…”
O homem da armadura não disse nada, apenas retirou uma sacola de couro e o entregou ao chefe da vila.
“Oh!…Estou realmente agradecido”
Quando o chefe da vila abriu a sacola, seu rosto se iluminou de ampliação enquanto se inclinava em agradecimento.
Naquele momento, o fio de esperança que eu tinha desapareceu como mar em fogo, porque eu entendi o que estava acontecendo. O chefe da vila havia nos vendido para estes homens quando meus pais haviam depositado toda confiança nele.
O chefe da vila, vendo minha reação, preencheu seu rosto de desprezo e falou.
“Desculpe, mas não protegerei alguém que foi possuído por um demônio.”
Cuspiu ele antes de se virar e sair.
“…”
Eu fiquei atônita, sem saber o que fazer.
“Chefe da vila, como te atreves a chamar minha filha de demônio!? Você sabe o que realmente aconteceu! Nós confiamos em você!”
Gritavam meus pais, incrédulos ao descobrirem que haviam sido traídos pelo chefe da vila.
“Calem a boca! A culpa é vossa por terem feito experimentos na própria filha e queriam me juntar nisso! Sempre achei suspeito alguém como ela ter olhos azuis! Sem dúvidas é por causa de algum demônio!”
Gritou de volta o chefe da vila, e os aldeões entraram.
“Sim, como se atrevem a culpar o chefe da vila!?”
“Seus malditos cultistas demoníacos!”
“Morram!!”
“Morram!”
Os aldeões, que antes nos receberam com sorrisos calorosos e olhares gentis, agora olhavam para mim com puro desprezo e nojo, como se tudo que passamos não passasse de mentira.
“Tadinha…”
A Santa na minha frente colocou um rosto preocupado enquanto olhava para mim.
“Você foi vítima de seus próprios pais, então claramente não tem culpa. Não te preocupes, a levaremos connosco e realizaremos uma expurgação sem dor para você.”
“Não toquem na minha filha sua maluca!”
Meu pai, tendo ouvido a palavra expurgação, se soltou das mãos de um dos soldados e começou a correr na minha direção, seu punho cerrado em um soco..
“Larguem minha filha!”
Gritou ele enquanto se aproximava.
*Swin.*
Mas, no momento seguinte, um som de corte fino ecoou e sangue começou a saltar na minha frente enquanto a cabeça de meu pai saltava para fora de seu corpo e caía como um baque no chão.
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