Capítulo 116: A vida Crystalline. (Parte 2)
Meus olhos chocados não conseguiam acreditar no que eu acabara de presenciar.
“… Pai?…”
Meu pai, meu amado pai, que vinha correndo até mim como se fosse enfrentar todo mundo, teve sua cabeça decepada por uma espada sem sequer ter sido capaz de fazer alguma coisa.
Meu pai, que antes sorria para mim e sempre me abraçava calorosamente, havia sido morto bem na minha frente.
Eu estava tão chocada que a única coisa que conseguia fazer era olhar para ele com olhos arregalados.
“Kyaaa! Querido! Querido!”
Minha mãe, que antes estava em choque, gritou de desespero ao ver o pai morto no chão.
“Desgraçados!”
Ela olhou para Santa com olhos furiosos e gritou entre dentes.
“Santa? Você não é uma santa! Você é apenas uma maldita vagabund-”
*Swin.*
Mas então outro soldado se aproximou e cortou sua cabeça, como se tivesse cortado uma folha de árvore.
“Não pronuncie a santa com uma boca tão imunda.”
Disse o soldado.
“… Mãe?…”
Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Não só meu pai, como também minha mãe haviam sido mortos bem na minha frente como se não valessem nada. Lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto, mas ainda não conseguia soltar um grito sequer.
“Socorro…alguém…”
Tentei chamar por ajuda, olhando para os aldeões ao redor.
“!…”
Mas o que recebi em troca foi o olhar julgador dos aldeões e congelei. Eles não queriam me ajudar, na verdade, pareciam até me odiar, como se a morte deles fosse culpa minha.
“Coitadinha, está triste?”
Foi então que a Santa se agachou na minha frente e passou suas mãos sobre meu rosto, seu toque era delicado e seu sorriso gentil, mas por alguma razão isto apenas a tornava ainda mais assustadora.
Sua mão continuou a acariciar meu rosto.
“Seus pais estavam tão desesperados para salvar a sua vida, mas no final, morreram cruelmente na sua frente. Que bando de idiotas.”
“!”
De repente, sua expressão tornou-se fria enquanto ao pronunciar as últimas palavras, também deixou de acariciar gentilmente meu rosto, cravando suas unhas em mim.
“Eles realmente achavam que poderiam fazer alguma coisa para salvar você. É por isso que odeio esses plebeus inúteis. Ao invés de se entregarem facilmente, ficam causando confusão como se fosse mudar alguma coisa. Que monte de patéticos.”
“…”
Ouvir aquelas palavras frias e sem coração fez com que algo se quebrasse dentro de mim. De repente, eu não sentia mais medo dela, e estranhamente nem raiva ou desespero.
Eu sentia nojo.
Era estranho, todas as pessoas ao redor de repente começaram a parecer insignificantes na minha frente. A santa na minha frente parecia nojenta, seu toque em meu rosto, que antes me causava arrepio, agora pareciam vermes que rastejavam em meu rosto, dando-me uma sensação extrema de desconforto e pura repugnância que sacudia meu estômago.
A santa, de repente, inclinou seu rosto em seu ouvido e sussurrou.
“Você quer saber porque a culpa é sua pelos seus pais terem morrido?”
Dizia ela enquanto deslizava a mão de meu rosto até o pulso de minha mão direita, virando-a para olhar a palma de minha mão.
“Tudo isso aconteceu porque você possui este emblema…?”
Mas assim que ela olhou para a palma de minha mão com confiança, seu rosto rapidamente se contorceu em pura descrença, como se não conseguisse acreditar no que acabara de ver.
“Que brincadeira é essa? Porque ela não tem o emblema amaldiçoado?…”
Enquanto ela falava, tudo ao meu redor se tornava escuro e vermelho, e uma sensação estranha começou a me preencher, como um calor que me queimava por dentro.
“Santa! Se afaste!…”
“O que está acontecendo!…”
Fui também lentamente perdendo a audição enquanto ouvia os gritos dos soldados sumirem até que perdi a consciência de vez.
No fim, minha visão apagou, como se eu tivesse perdido a consciência.
“Kyaaaaaaaa!”
“Hyaaaaaaaaaaa!”
“Parem ela!”
“De-demoniooooo!”
“Protegem a santa!-Ghack”
E no meio desta escuridão gritos de horror ecoavam como se fossem pesadelos, inundando toda a minha consciência.
Não sei quanto tempo fiquei nessa situação, mas assim que os gritos não puderam mais ser ouvidos, meus olhos naturalmente começaram a abrir. Minha visão estava um pouco embaçada mas fui lentamente recuperando a visibilidade.
A cena que apareceu diante de mim fez meu estômago se revirar. A mulher loira proclamada de santa, que antes olhava para mim como se eu fosse alguma coisa inferior, agora me encarava com os olhos extremamente arregalados como se não conseguisse acreditar no que acabara de acontecer com sangue escorrendo pela sua boca.
“!”
Quando entendi o porquê, fiquei ainda mais surpresa.
Seu peito havia sido atravessado pelo meu braço, perfurando-a completamente até atravessar do outro lado.
“O que… é você?…”
Perguntou ela com a voz rouca e com dificuldade.
Ao invés de responder ela, olhei ao redor, e vi uma cena que fez meu estômago se revirar. Todos aqueles soldados de armadura que pareciam imponentes, e até mesmo o enorme que parecia ser o mais forte, estavam todos mortos.
Seus corpos estavam esparramados no chão, alguns estavam sem os membros do corpo e outros tinham perfurações profundas, manchando o chão com tanto sangue que parecia criar uma poça.
Não apenas os soldados, também pude reconhecer o chefe da vila entre eles, com o rosto não desfigurado que não podia ser mais reconhecido.
Aquela bola de energia no peito dos soldados ainda estavam lá, mas eu podia notar que elas estavam encolhendo a cada segundo que passava.
“Demônio…”
“?”
Foi então que olhei mais uma vez ao redor, encontrando o olhar dos aldeões que estavam ainda mais longe. Só que agora, ao invés dos olhares de desprezo, nojo ou pena, agora olhavam para mim com puro medo e pavor.
Rapidamente puxei meu braço do peito da mulher que imediatamente começou a cuspir sangue enquanto caía de joelhos no chão.
“Hah…hah…hah…”
Minha respiração estava ficando pesada, ao ponto de mal conseguia respirar.
‘O que aconteceu? O que acabou de acontecer? Eu fiz isso!? Impossível!!’
Apertei minha cabeça com força e balancei violentamente, tentando de alguma forma acordar deste pesadelo horrendo. Tudo que fiz foi fechar os olhos e no momento em que acordei esta cena infernal havia acabado de aparecer diante de meus olhos.
Eu matei eles?
Não conseguia acreditar, nunca antes na minha vida já havia tirado a vida de um ser vivo, sejam animais ou insetos. Mas aqui estou eu, no meio de inúmeros corpos que pareciam ter sido mortos por mim.
Isto só podia ser um pesadelo.
Mas quando levantei a cabeça e voltei a olhar ao redor, eles ainda estavam lá, os corpos mortos dos soldados, a santa que me olhava com incredulidade, os aldeões que tremiam de medo, e, por fim, os corpos mortos de meus pais.
“Wuhaaaaaa!”
Sem saber o que fazer, dei meia volta e comecei a correr a toda velocidade enquanto chorava. Não olhei para trás, apenas continuei a correr sem parar até deixar a aldeia e entrar no mato da floresta.
O chão acidentado coberto de pedras pontudas e galhos de árvores machucavam meus pés descalços, mas o desespero que tomava conta de mim me impedia de raciocinar direito e apenas continuei a correr.
Não sei por quanto tempo continuei a correr, mas apenas continuei até que as solas de meus és começassem a sangrar e começasse a ficar sem fôlego.
“Kyaa!?”
Até que tropecei em uma pedra e comecei a cair em um pequeno desfiladeiro enquanto rolava no chão duro até colidir fortemente contra uma árvore.
“Ugh…”
Parecia que a queda havia quebrado algum de meus ossos, pois uma dor intensa percorria meu corpo.
“Hikk…sniff…papa…mama…isto dói…”
Foi então que comecei a me lembrar de meus pais. Antes, quando alguma coisa me machucava, meus pais rapidamente largavam tudo que estavam fazendo e vinham até mim, me tratando e me confortando.
Mas agora, nesta floresta, escura e assustadora, eu estava sozinha e sem saber o que fazer.
Todo meu corpo doía, não apenas a dor da queda, mas como se meu interior estivesse se contorcendo e sendo esfaqueado por facas, minha cabeça também doía e podia sentir meu corpo bastante quente.
“?…”
Foi então que percebi que minhas lágrimas que começavam a cair como gotas no chão começaram a ganhar um tom avermelhado, quando limpei meus olhos com a mão, percebi que estava sangrando.
“Cof, cof, cof.”
Não só nos olhos, toda vez que tossia sangue também era espirrado. Sem saber o que estava acontecendo, o pânico começava ainda mais a tomar conta de mim.
“Isto dói…por favor…para…”
Sozinha na floresta escura, eu apenas me encolhi enquanto abraçava minhas pernas. Não sabia o que fazer, então tudo que fiz foi ficar ali e esperar que algum milagre pudesse acontecer.
“Menina, você está bem?”
“?”
Foi então que ouvi uma voz feminina perto de mim, fazendo-me rapidamente levantar a cabeça e olhar para cima.
Ao redor de mim, estavam um grupo de quatro pessoas, três homens que estavam atrás e uma mulher que estava a um passo da minha distância, olhando para mim com preocupação nos olhos.
Eu não sabia quem eram, mas pelas roupas simples e esgotadas pareciam ser camponeses, não da nossa aldeia pois nunca os havia visto antes na minha vida.
“Nós vimos você por aqui e então viemos dar uma olhada, você claramente não está bem? Quer vir com a gente? Iremos tratar você.”
Dizia a mulher, estendendo a mão para mim com um olhar preocupado e tom de voz acolhedor.
Naquele momento, um sentimento de esperança me preencheu, achando que finalmente estaria recebendo ajuda.
“?”
Mas então notei uma coisa estranha, em seus peitos também havia uma pequena bola de energia de energia no centro de seus peitos. Mas ao contrário da cor dourada dos soldados, aquele era de cor vermelho ardente, que por alguma razão fez minha espinha arrepiar terrivelmente.
Então, antes que eu pudesse aceitar sua mão, recuei instintivamente. Com cuidado, olhei para ela e perguntei.
“Q-quem são vocês?…”
“…”
Talvez algo em minha expressão tivesse me entregado porque no momento seguinte às minhas palavras e recusa de segurar sua mão, suas expressões mudaram.
Ela, que antes me olhava com preocupação e pena, ficou inesperadamente séria e hostil.
Foi naquele momento que descobri que realmente estava em perigo, e assim como antes, meu instinto gritou pela sobrevivência e uma força misteriosa voltou a explodir dentro de mim.
“Blergh!?”
Só que no momento seguinte me senti terrivelmente fraco e vomitei uma grande poça de sangue, todo meu corpo começou a arder de dor e sem força caí em um no chão em um baque.
“…Parece que ela está sofrendo por sobrecarga de energia.”
Falou a mulher.
“Não é surpresa, afinal, ela é apenas uma criança suportando uma vasta quantidade de energia.”
“É como tentar armazenar água de um lago em um frasco defeituoso, He, claro que ela iria rachar.”
Eles falavam sobre mim como se estivessem falando sobre um objeto, não sobre uma criança que a pouco havia acabado de vomitar uma grande quantidade de sangue bem na frente deles.
‘Eu sabia…eles são perigosos.’
O medo mais uma vez começava a tomar conta de mim, seu eu saber o que poderia fazer a seguir.
“Mas que energia era aquela? Ela foi capaz de derrotar cavaleiros sagrados como se fossem nada. De aparência é semelhante a energia demoníaca, mas não traz o mesmo sentimento.”
Disse a mulher.
“E daí!? O importante é que o sangue dela servirá como um ótimo elixir! Estou ansioso!”
Gritou outro em clara empolgação.
‘Socorro…’
Não sei o que eles planejavam fazer comigo, mas pela forma como falavam era claro que não era nada de bom. Mas o que eu poderia fazer para fugir deles?
“Socorro…”
Tudo que podia fazer era pedir pateticamente por ajuda. Meu corpo tremia de nervosismo e o medo me preenchia.
Porque isto está acontecendo comigo? O que fizemos para merecer isso?
“Ei…alguém está se aproximando.”
Foi então que um deles falou com calma.
Não sei se o que ela disse era verdade ou não, mal conseguia mover meu corpo assim como minha cabeça de tão fraco que estava.
“Não sei quem é, mas devemos matá-lo.”
Disse outro com empolgação.
“Eu irei cortar el-”
*Pow.*
“Ghack!?”
No momento seguinte ouvi um forte som de estalo e um vento forte passando sobre mim, seguido por um grito de dor.
“Porr* Matem ele!”
*Pow.*
“Uck!”
“Kack!”
“De-desgraçado! Você se atreve a ir contra o culto demoníaco!? Se você me matar, eles nao te deixarão- Uck!…”
Um por um, todas as quatro vozes antes confiantes começavam a gemer de dor até que suas vozes não podiam mais ser ouvidas.
“Que feio, o fragmento está destruindo seu corpo de dentro para fora. Se não fizermos nada, você morrerá em menos de de alguns minutos.”
Foi então que uma voz misteriosa surgiu, talvez pertencendo a pessoa que havia acabado de enfrentar aquelas pessoas suspeitas.
“!”
De repente fui calmamente virada de barriga para cima, e assim pude finalmente ver a pessoa que havia acabado de salvar minha vida.
Ele usava um manto que cobria todo seu corpo e capuz que cobria seu rosto, não me permitindo saber nem seu sexo. Mas pela sua voz áspera, não havia dúvidas de que era um homem.
“Não vai doer muito.”
Disse ele logo em seguida, levando a palma de sua mão coberta de sangue por cima de meu peito esquerdo.
*Juash.*
E então, um círculo brilhante surgiu flutuando entre a palma de sua mão e meu peito, contendo várias gravuras e palavras estranhas.
“! Kyaaa!?”
De repente um calor me preencheu causando-me um pouco de dor. Mas depois de um tempo, minha visão foi ficando embaçada comigo perdendo a consciência.
“Durma bem.”
Disse ele antes que eu apagasse mais uma vez. Mas, estranhamente, meu corpo se sentia bem mais leve.
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