Capítulo 117: A vida de Crystalline. (Parte 3.)
O sol brilhava no alto céu, iluminando o mundo com a sua magnificência.
Seus raios luminosos perfuraram as folhas das longas árvores de uma floresta, batendo no rosto de uma jovem de cabelos marrons, deitado sobre um pano no chão.
“Hum…”
Sentindo o desconforto batendo em seus olhos, ela abriu os olhos em um gemido ao despertar de seu sono. A criança era Luzete.
“!”
Seus olhos então se arregalaram e rapidamente se levantou do pano.
“Uck!?”
Mas no momento seguinte uma extrema dor percorreu seu corpo, fazendo-a abraçar todo o corpo.
“?…”
Ao ouvir o som dos pássaros cantando e do balançar das folhas das árvores e arbustos, ela olhou ao redor, percebendo que estava deitada em um pano no interior de uma floresta. O lugar era plano e espaçoso e um pouco distante das árvores.
Olhando para seu corpo, percebeu que estava vestido com uma roupa diferente, bem mais bonita e confortável que a sua anterior, e também haviam fitas brancas enroladas pelo corpo, percebendo que havia sido tratada.
“Não te mexes muito, ainda está se recuperando.”
“!”
Foi então que uma voz repentina surgiu fazendo-a se encolher em alerta. Um pouco afastado de onde se encontrava, sentado sobre uma pedra e de frente a uma pequena fogueira, estava um homem vestido com um manto escuro da cabeça aos pés.
Por cima da fogueira e segurada por pequenos galhos de árvores, estava o corpo de um coelho despelado que estava sendo assado.
“Você é…”
Luzete imediatamente se lembrou do homem que a havia resgatado daqueles homens suspeitos, antes de ter perdido a consciência.
“Quem é você?…”
*Crogh…*
Antes que ela pudesse terminar de perguntar sobre a identidade do homem, seu estômago grunhiu tão alto que pareceu ecoar por toda floresta.
“…”
“…”
O silêncio que se seguiu parecia tão embaraçoso que fez a Luzete corar de extrema vergonha, fazendo-a cobrir o rosto.
O homem misterioso não riu, ao invés disso, cortou o coelho que estava assando, colocou-a em uma tigela de madeira e a chamou.
“Quer um pouco?”
“…”
Ao invés de responder ou me mexer, apenas ficou parada e quieta no lugar, ainda com suspeita da identidade do homem. Mas o coelho que ele estava assando parecia tão apetitosa junto com um cheiro provocante, fazendo-a repensar sobre suas suspeitas sobre ele.
Então, antes que ela se apercebesse, já estava sentada em um pequeno tronco de árvore do lado oposto ao homem misterioso, comendo o coelho que ele havia entregue.
E assim como ela havia pensado, o sabor do coelho era realmente gostoso, como se tivesse causando uma explosão de sabores em sua boca. Embora já tivesse comido alguns coelhos na vida, aquela tinha um sabor diferente, diferente daqueles que comia em casa.
“Casa…”
Foi então que Luzete começou a se lembrar de sua casa e de todos os acontecimentos horríveis daquela noite, parando a carne de coelho no meio do caminho para a boca.
“Meus pais… eles… nunca fariam…”
Inconscientemente as palavras saíram de sua boca em um gaguejo.
Ela se lembrou das acusações criminais que fizeram contra seus pais, e que por causa disso haviam sido mortos. Ela não queria acreditar, era impossível que seus próprios pais tivessem feito experiências em seu corpo e lhe dado aquele poder estranho.
Mas como todo mundo dizia que eles eram pessoas ruins, até ela estava tendo dificuldade em acreditar na própria verdade.
“Não te preocupes. Seus pais eram inocentes.”
“?”
Mas então as palavras do homem misterioso chegaram de repente, pegando Luzete de surpresa, e continuou.
“Aquelas pessoas que acusaram seus pais são a ordem sagrada, eles queriam algo que acreditavam estar com você, e por isso os acusaram injustamente para que pudessem levá-la sem manchar a própria reputação, e as pessoas que atacaram você na floresta são membros do culto demoníaco, que também querem o poder dentro de você.”
Naquele momento suas palavras de alguma forma fizeram um alívio cair sobre Luzete. Porque assim como ele havia dito, ela sabia que seus pais eram inocentes, mas era um alívio ouvir isso da boca de outra pessoa.
Então, o homem misterioso parou de comer, levantou a cabeça e pareceu olhar para ela.
“Lamento não ter chegado a tempo de salvar seus pais, mas prometo que a partir de agora não deixarei que nenhum deles volte a te fazer mal.”
Desde a morte de seus pais ela pensou que estaria sozinha, sentindo-se desamparada e patética diante de tantas adversidades.
Mas agora, com a promessa repentina do homem misterioso de que a protegeria, um peso que parecia inexistente pareceu ter sido retirado de seus ombros, fazendo um alívio se instalar sobre ela.
Além do mais, se ela estiver segura, não precisaria mais preocupar seus pais que agora a observavam do paraíso.
Ela podia sentir seus olhos ficarem pesados e sua boca parecia tremer descontroladamente.
“Você passou por muita coisa. Não precisas te segurar.”
Após as suas gentis palavras, Luzete não conseguiu mais segurar seus sentimentos que pareciam ter sido bloqueados por uma represa e começou a chorar cachoeiras de lágrimas com fortes soluços.
Toda dor, todo luto, tristeza, medo, anseio, saíram de uma única vez enquanto tentava parar as lágrimas de caírem como uma enchente.
“…”
O homem misterioso apenas ficou em silêncio, deixando que ela mesma despejasse toda a dor que havia se acumulado dentro dela.
Depois de ter passado vários minutos chorando descontroladamente, Luzete havia mais uma vez caído no sono, então o homem a segurou pelos braços e calmamente a colocou de volta para dormir no pano.
No dia seguinte, ao acordarem e comerem, arrumaram as coisas e partiram caminhando pela floresta. Eles continuaram andando por horas como se não tivesse um destino próprio até que o sol caiu e tiveram que montar o acampamento.
“Para onde vamos?”
Perguntou Luzete que agora parecia mais calma, embora ainda estivesse de luto.
O homem misterioso, que sentava na frente dela com uma fogueira entre eles, respondeu.
“Neste momento toda a ordem sagrada e o culto demoníaco devem estar a sua procura. Não sei quanto ao culto demoníaco, mas se quisermos escapar do domínio da ordem sagrada devemos deixar essas terras e ir mais para o norte, um lugar onde eles não têm jurisdição.”
Nesta época as nações que existiam eram pequenas em comparação de poder, e grandes nações estavam se formando e ocupando mais terras.
Naquela mesma noite, enquanto o homem misterioso preparava o jantar, Luzete perguntou.
“O que são aquelas energias?”
“Energia?”
Perguntou ele.
“Sim…todas estas pessoas fortes tinham uma estranha energia no centro do peito deles que pareciam torná-los fortes. O que eram?”
“Estou vendo, você deve realmente ser uma remanescente da raça dos olhos de mana. O que você viu é chamado de mana.”
“Mana?”
Naquela hora, o homem misterioso contou para Luzete sobre a mana e como as pessoas conseguiam armazená-la dentro do corpo deles, o que são chamados de núcleos de mana, dando-lhes assim uma força tremenda.
“E-eu também posso criar um núcleo de mana?”
Perguntou Luzete, fascinada.
“Ainda não.”
“Porque não!?”
“Porque você ainda é uma criança. Tens por volta de quantos anos, dez?”
“…Tereze.”
Respondeu de volta Luzete em um beicinho.
“… De qualquer forma, te lembras do que aconteceu com seu corpo quando ativamos aquele poder misterioso?”
“…”
Diante das palavras do homem misterioso, Luzete se lembrou do momento depois de ter usado aquele estranho poder, seu corpo começou a se contorcer em uma dor ardente e começou a sangrar, sentindo que poderia morrer.
“Por sorte eu havia chegado a tempo e selado aquele poder antes que destruísse completamente seu corpo, e o mesmo pode acontecer com a mana. Ela é uma energia destrutiva, para poder suportá-lo, é necessário ter um corpo desenvolvido e fortalecido. Você deve ter no mínimo quinze anos, e até lá, você deve passar por um treinamento rigoroso para ajudar no fortalecimento.”
“…Entendo…”
Embora parecendo insatisfeita, Luzete percebeu que não tinha escolha a não ser esperar mais dois anos para que pudesse completar os quinze. Na medida em que os dias foram passando, Luzete foi passando por um regime de treinamento administrado pelo próprio homem misterioso, preparando-a até que completasse os quinze anos.
Este treinamento vinha de exercícios físicos e lutas contra monstros em que alguém de seu nível pudesse enfrentar, enquanto continuavam a andar pela floresta, evitando estradas conhecidas para evitarem se depararem com qualquer pessoa.
Semanas e meses já haviam se passado, e Luzete já se sentia confiante suficiente para enfrentar monstros sem precisar da supervisão do homem misterioso, ela também ficou sabendo de pessoas que utilizavam este núcleo de mana para manifestar um poder chamado de aura, ou daqueles que usavam para fazer fenômenos incríveis, como voar e lançar bolas de fogo com as mãos.
Mas, embora o homem misterioso falasse muito sobre o mundo que ela não sabia, quase não falava sobre si mesmo. Por causa disso, ela não sabia nem de seu nome, idade, objetivos, nada.
Os meses já haviam se passado e ela se apercebeu de que realmente não sabia de nada sobre ele. Além do mais, ela havia se apercebido de uma coisa ainda mais estranha.
Diferente daquelas pessoas da ordem sagrada ou do culto demoníaco, o homem misterioso não parecia ter um núcleo de mana, pois ela não conseguia enxergar mesmo quando olhava para ele de perto, o que a deixava bastante curiosa.
Então, durante uma noite enquanto sentavam em volta da fogueira, que ela finalmente aprendeu a fazer sozinha, não aguentou a curiosidade e perguntou.
Mas a resposta do homem foi algo que ela nunca esperava.
“Se eu te disser quem sou, terei que te abandonar e te deixar seguir com sua vida sozinha.”
“!”
Aquelas palavras a haviam atingido como um choque, deixando-a quase desesperada. Desde então, ela nunca mais havia perguntado sobre ele, com medo de que ele pudesse deixá-la mais uma vez sozinha.
Quando ela completou quatorze anos, já haviam chegado nas terras do norte, onde ela viu a neve pela primeira vez em toda sua vida, e onde desde que andavam juntos, se abrigaram em uma vila próxima.
Em uma nova terra, eles tiveram que inventar uma nova identidade, o que significa que Luzete teria que trocar seu nome.
Então, ela passou a ser chamada de Crystalline.
Naquela noite, o homem misterioso começou a explicar para Crystalline sobre a técnica de respiração para criar um núcleo de mana, que é chamado de ‘respiração de mana’.
“Existem três tipos de mana, as manas de atributo, sem atributos e também a mana proibida pela sociedade, que é a mana corrompida. A forma de criar um núcleo com estes tipos diferentes de mana depende do tipo de técnica de respiração de mana que será executada e onde será executada.”
Explicava o homem misterioso, que continuou.
“As manas de atributo são manas que contêm os elementos da natureza, como água, terra, vento, fogo, raio, luz e trevas. Normalmente é mais vantasioso para usuários de aura criarem um núcleo de mana com mana de atributos, e magos criam núcleos de mana com mana sem atributo, o que os permite executar vários tipos de magia e ainda conseguir executar outros tipos de atributos, dependendo do talento de cada um.”
Crystalline absorvia com interesse cada palavra dita pelo homem misterioso, ansiosa por finalmente estar perto de criar seu próprio núcleo de mana.
“Usuários de aura criam o núcleo no centro do peito, enquanto os magos no coração.”
E então o homem misterioso colocou dez livros por cima da mesa, separando quatro do lado direito e quatro do lado esquerdo.
“Do lado direito temos as técnica de respiração para usuários de aura com quatro tipos de atributo exceto luz e trevas, e um livro sem atributo. Do lado direito é a mesma coisa, mas para magos.”
E então, ele levantou a cabeça e olhou para ela.
“A partir de agora você irá decidir qual caminho irás querer seguir, se quiseres ser uma usuária de aura ou um mago, e que tipo de atributo escolher, tudo depende de você. E só para que você saiba, se você quiser um núcleo de mana com atributo, deves encontrar um local onde possas encontrar a mana do atributo escolhido antes de executar a técnica.”
Com isso, Crystalline passou o ano lendo todos os livros de técnica de respiração de mana que o homem misterioso providenciou, tanto para usuários de aura quanto para magos. Ela não apenas lia, entendia minuciosamente cada conteúdo que os livros continham com eficiência.
Mas mesmo depois de ler tudo, ela ainda se sentia indecisa sobre qual caminho seguir. Ela queria ser capaz de manifestar aura já que vinha treinando com espadas ao longo do tempo, mas também estava bastante interessada em magia, então estava presa em um dilema.
Mesmo quando completou quinze anos ainda se encontrava indecisa, e ela se odiava por isso pois sentia que estava decepcionando o homem misterioso, embora ele nunca demonstrasse isso.
Então, em um dia, ela decidiu explorar uma caverna inexplorada que se encontrava bastante afastada da vila.
Quando chegou lá, logo na entrada, ela podia ver um fio de mana bastante denso pairando no ar, que parecia vir da parte mais profunda da caverna.
Curiosa e sentido algum tipo de hipnose por ela, Crystalline seguiu o fio de mana adentrando ainda mais pela caverna. Por sorte, os monstros que ali continham não eram muitos, então ela conseguiu explorar sem problemas.
“!”
Depois de ter se espremido em uma passagem estreita, ela encontrou um lugar que a deixou perplexa. Um lugar espaçoso na caverna onde as paredes estavam repletas de cristais que brilhavam reluzentemente pelo interior, e o espaço estava repleto de uma mana tão densa que ela nunca havia visto na vida.
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