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Capítulo 7: O sonho.
Chegando em casa, minha mente estava a milhão, esgotada pelo trabalho e, principalmente, pela estranha aparição daquele gato.
— Chegou, amor?! — Era a voz de Natasha, ressoando pelos meus ouvidos.
Eu tinha acabado de fechar o portão, prendido aos pensamentos, com a cabeça um pouco para baixo e abatido; então, nem cheguei a olhar para ela direito.
— Oi, amor, eu… — Quando lhe pus os olhos, minha fala esvaziou-se ao perceber quem ela carregava.
— Sophia! — Empolguei e corri até ela de braços abertos.
Natasha logo a cedeu aos meus braços.
— Oi, oi, pequena… senti sua falta! — Meus olhos brilhavam a encará-la.
— Grahh! — Ela parecia me responder com um sorriso fofo. Aquilo fez meu coração se encher de alegria.
— Ahhh… como pode ser tão fofa? — Esbocei um sorriso largo.
Depois daquele show de fofura, entramos para dentro.
— Oh! Nossa, Will! Cê não tá cheirando bem não, ein? — reclamou Natasha atrás de mim quando chegamos à sala.
— Sério? É, deve ser mesmo. A correria me fez suar um pouco.
— Erg! Não só isso… mais parece xixi de gato, algo assim.
A hipótese me paralisou.
— Xixi… de gato…? — Quando me virei para ela, transpareci minha cara assustada.
— Bem, não tenho certeza — falara com um pouco de estranheza.
Chegou mais perto de mim, encarando-me de baixo com um certo ceticismo.
— O que te fez ficar tão surpreso?
Não ouve uma única fala nos poucos segundos posteriores; contudo, respondi em seguida, suspirando um riso.
— Nada não. Só percebi o quão bonita você fica de perto.
Sua cara ficou desconsertada, voltando a postura de antes, na tentativa de disfarçar. Mas a tentativa fracassou, já que me foi claro o rubor tomando conta daquele rosto tímido.
— Seu besta. — Colocou um sorriso.
Não me cansava de ver essa sua expressão, sempre brinquei com ela assim. A feminidade que transparecia me deixava ainda mais encantado.
— Agora vai logo tomar um banho. Ou quer dormir no sofá hoje? — Brincava enquanto pedia posse da nossa filha.
Ao entregá-la, também entrei na esportiva:
— Oh, nossa! Calma, calma, senhorita. Não precisa ser tão radical! — Gesticulei um cessar com as duas mãos, rindo. Ela retribuiu com outro riso discreto.
E assim, parti com calma até o banheiro. Enquanto passava entre moveis comum, no corredor branco e curto, me via apanhado novamente por pensamentos; aquilo presumido por Natasha não saia da minha cabeça.
Eu só estava vendo coisas? Esse gato existe mesmo? Algo interno me dizia que sim, os fatores físicos contribuíam por isso. Mas, se ele existe, porque os outros não o veem? Eu não compreendia!
Queria acreditar estar delirando, apenas. Mas ao mesmo tempo, não queria saber o resultado da minha curiosidade. Aquele vulto horripilante ainda me assombrava.
De qualquer forma, eu só buscava, naquele momento, tomar meu precioso banho depois de um dia de trabalho. E ali estava o banheiro: bem no final do corredor, com uma porta amadeirada.
Assim que entrei, ver o brilho da luz refletindo em cada canto me deixou ansioso. O banheiro era simples, com o único diferencial o box. Mas saber que ali as energias ruins iriam por água abaixo, me contagiava.
Enfim, tirei o terno com cuidado, para não manchar; por ser branco, então… tirei todo o resto e fui direto pro chuveiro.
Depois do banho, na sala, resolvi passar um tempo com minha filha, enquanto Natasha preparava o jantar.
— Achoou! — Brincava com ela; o clássico tampar os olhos com as mãos.
Ela não esboçou reação, apenas me olhava com aquela fofura hipnótica.
— Hm… deixa eu ver o que posso fazer… — ponderava alto com as mãos no queixo.
Talvez fazer cócegas funcione, minha mãe fazia isso… ou talvez seja mal para uma recém-nascida.
Quanto mais eu pensava, menos opções vinham. Realmente não levava jeito para divertir uma criança. Sem mais opções, escolhi qualquer uma que me aparecesse.
— Buu! — Tentara dar um susto de leve, assim como meu pai fazia. Na minha cabeça, talvez aquilo a animasse…
Foi a pior escolha que fiz!
Sua expressão mudou para um choro iminente. Aquilo me deixou desesperado; se ela chorasse, tinha certeza de que Natasha ficaria uma fera comigo.
Corria contra o tempo, na tentativa de achar algo para impedi-la de chorar. Tudo que encontrei, fora um chocalho ao lado: o apanhei e comecei a balançar para ela.
Para minha felicidade, funcionou!
Vendo o brinquedo ruidoso, ergueu os braços o cobiçando. Realizei seu desejo de imediato. Ver a felicidade estampada em seu rosto adorável, não tinha preço.
— Chocalho, minha filha, é um chocalho — falei, mesmo sabendo que não haveria resposta. Ela continuava absorta com o brinquedo.
Minutos se passaram e agora, sobre o sofá, no meu colo, estava ela, cochilando profundamente.
— Amor, o jantar está pronto. — Natasha chegara, se surpreendendo com o que via:
— Oh, nossa… você conseguiu colocá-la para dormir?
— Hum! É resultado de um pai ardiloso em ação. — Ergui o pescoço com orgulhoso.
Natasha gargalhou baixo, priorizando o sono de Sophia.
— Pelo que eu saiba, fui eu quem comprou o chocalho. Hahaha! — pontuou, fazendo-me cessar todo o orgulho.
Sem jeito, retruquei:
— O mais importante é a execução, não a obtenção — argumentava com risos.
— Ata! — Natasha queria rir mais, mas deixou a brincadeira de lado — Bem, me dê ela, vou colocá-la no berço.
Obedeci sem hesitar. Ao pegá-la, partiu em direção ao corredor. Já eu, resolvi ir para a sala de jantar.
Lá estava a maravilhosa vista! Os clássicos arroz e feijão em cumbucas, salada de tomate e alface, frango e até um pudim para a sobremesa. A mesa estava farta, e meu estômago, suplicando para ser preenchido.
Puxei uma cadeira, sentando-se. Contudo, não iniciei a refeição, não com minha esposa ausente. Era uma questão idealizada por mim mesmo quando nos casamos.
Porém, não demorou muito para que a própria voltasse.
— Bem, vamos jantar, né? — propôs ela.
— Claro — pleiteei com os olhos cheios.
A servidão partiu de Natasha, preparando meu prato como eu gostava, sem se importar com quantidades.
Tudo se saiu muito bem saboroso. A comida dela era, sem dúvidas, a melhor; óbvio, aprendera com minha mãe, afinal.
Depois do jantar, fomos para cozinha, e logo começamos a recolher a louça e guardar as sobras na geladeira. Quando terminei de pôr tudo na geladeira, fiz uma pausa para tomar uma água, então tirei uma jarra de vidro da geladeira e pus sobre a bancada americana. Feito isso, depois de puxar um banquinho e sentar-se, encaminhara meus olhos àquela bela moça em ação.
— Amor… — chamei. Ela voltou-se a mim.
— O que foi? — questionara com serenidade.
— Eu te amo.
Inevitável fora ela ficar toda sem jeito. Mas logo retrucou sorrindo:
— Se me ama tanto, então venha me ajudar a lavar a louça.
— Hum! — Soltei o ar através de um riso, enquanto ia ao seu encontro.
Louça lavada e cozinha aos trincos, chegara a hora de dormir, intensificado pelas horas marcadas no relógio de ponteiro acima da entrada da cozinha: exatas 21:30.
E assim fizermos: apagamos todas as luzes antes de ir pro quarto; a primeira porta no começo do corredor, também amadeirada.
— Boa noite, Natasha — falara, já na cama com ela.
— Boa noite. — Se ajeitava na cama.
— Boa noite, Sophia — murmurei alto o bastante para apenas Natasha ouvir.
— Sim, boa noite, minha filha. — Olhávamos para o berço a poucos metros de nós.
Ela estava dormindo, e agora chegara nossa hora. E diante do apagar do abajur, o silêncio e o véu da noite nos envolveu.
Como estava muito cansado, cair no sono não foi difícil. Entretanto, o que viera depois disso, me intrigou desmedidamente…
Parecia um sonho; eu estava nos confins do espaço infinito, flutuando, leve como uma pena.
— Olá, William… — Uma voz grossa e vibrante ecoara na minha mente.
Olhei para os lados, confuso, a procurar quem saudava. Entretanto, nada se via além do espaço vazio, com apenas um brilho longínquo, a qual podia ser associado a uma estrela.
— Oi? Tem alguém aqui?
— Sim. E esse alguém deseja se alimentar.
— Hã?
Se alimentar? Quem está falando? Meus pensamentos não paravam.
Era um sonho, isso é fato… então, por que tudo parecia tão real? O silêncio perpetuado naquele vazio sem vida, eu sentia com plenitude.
— William… diga-me… o que você mais ama?
— Que tipo de conversa é essa…? — A cada fala ficava mais incompreendido. Mas essa pergunta, eu tinha uma resposta direta — É lógico que é minha família.
— Então, William… agora, diga-me… estaria disposto a alimentar este alguém… para o bem de quem tu amas?
Ergui o cenho, cada vez mais confuso, mas ainda respondi:
— Não é óbvio? Eu alimentaria qualquer um para proteger minha família.
— Assim será.
Em diante, um clarão ofuscou completamente minha visão, como se uma luz tivesse acendido na minha cara de repente.
Quando me deparei, já estava acordado. A luz da manhã barrada pela cortina pedia para entrar.
— Que sonho foi esse…? — Pus minha mão sobre a testa, sentindo um estranho desconforto.

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