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    Terça-feira, 17/08/2027.

    Outro dia de trabalho começou. Desta vez, não cheguei atrasado, mas ainda com um cansaço estampado no rosto.

    Não entendia como acordei tão abatido; ao meu ver, dormi até que bem. Mas quando acordei, senti um peso enorme nas costas, como se uma força me segurasse.

    — Bom dia, Will. Você tá bem, cara? — Quando cheguei à mesa, Michael me perguntou, um pouco preocupado.

    — É… — respondia, arrastando a cadeira para me sentar, debilitado — Eu só… estou um pouco cansado mesmo. Acordei com um peso danado nas costas — Suspirei de leve.

    — Até imagino novamente o que deve ser a causa… a bebê, né?

    Com aquela pergunta, pisquei meus olhos de forma súbita e olhei brevemente para o teto, pensativo. Em seguida, olhei para Michael e disse:

    — Dessa vez, nem foi esse o problema. Tá sendo mais tranquilo do que imaginei.

    — Hm… o que deve ter sido então?

    — Vou lá saber. Acordei assim do nada — Suspirei enquanto começava a ligar o computador — De qualquer forma, é melhor eu começar esse trabalho logo. Tenho que entregar ainda hoje.

    — Pera ai, vou pegar um café pra nós — disse Michael, enquanto se levantava com um disposição completamente oposta à minha.

    — Obrigado — respondi. Ele apenas sorriu de canto e foi em direção a cafeteira que ficava ao fundo da sala.

    Assim que partiu, segundos depois, uma voz familiar parecia me chamar vagarosamente.

    — Ei, psiu… William. — Vinha da minha frente. A princípio fiquei curioso, mas antes de eu me dar conta, o indivíduo já se encontrava me encarando acima da divisória de mesas: era Luci.

    — Como vai a sofi, sua filha? — A pergunta inesperada me fez ficar cético por um momento.

    Como assim ela sabia o nome da minha filha? Não me lembrava de ter contado a ela… ah, sim! O Michael deve ter contado. Mas, não me incomodei muito com isso.

    — Ah, sim. Ela está bem, está cheia de vida — respondi com certo ânimo.

    — Isso é bom — ela respondeu com sua animação suave de sempre.

    Depois disso, outra voz familiar invadiu meus ouvidos:

    — Ah, imagino o quão fofa ela deve ser! — Rebecca entrou para a conversa.

    Olhando para cima, pude nota-la nos visando com interesse. Contudo, a respondi:

    — E é! — confirmei. Uma lembrança me veio a mente — Espera aí… eu tenho uma foto dela. — Buscava meu celular pelo bolso da calça.

    Pegando-o, abri a galeria ansioso e lá estava mais e mais fotos de Sophia que tirei enquanto estava no hospital. Então, mostrei para ela.

    Michael, chegando, curioso, inclinara o rosto na tentativa de conseguir ver mais nitidamente.

    — Aí, meu Deus! Que coisa mais fofa! — Luci se exaltou como nunca, surpreendendo-me um tanto.

    — Devo dizer o mesmo, Will. Apesar de eu não ser tão chegado em crianças. — Michael confessara.

    Tamanhas palavras me contentaram. Segundos depois, guardei de volta meu celular.

    — Isso é nostálgico… me lembra quando tive minha filha — disse Rebecca, ponderando com um sorriso leve.

    — O mesmo comigo — falou Luci.

    Depois de sair dos pensamentos nostálgicos, Rebecca então me encarou amigavelmente, soltando algo que fizera meu coração se encher de satisfação:

    — Desejo tudo de bom para você e sua nova família, William.

    Fiquei um tanto quanto emocionado.

    — Digo o mesmo. Ter um filho foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e provavelmente com você não está sendo diferente, né? Toda saúde para vocês. — Com Luci dizendo aquilo, me emocionou ainda mais.

    — Muito obrigado, vocês duas — respondi com um sorriso sereno.

    Eu acordei cansado e me sentindo um pouco descontente, mas perante a estas falas amigáveis, tudo isso se foi e meu dia fora melhorado 100%. É, o âmbito de trabalho podia ser mais acolhedor do que eu imaginava, desde quando os contemplei com a notícia do nascimento de Sophia.

    Depois daquela conversa, o relógio marcara o início do expediente: oito horas da manhã.

    Enfim, nos concentramos ao trabalho, havia um longo dia pela frente; aquela conversa ascendeu minha disposição escondida.

    E assim, o tempo se passou; minutos, horas.

    Quando menos esperava, o expediente finalmente tinha acabado. Agora, já saindo da portaria, Michael e eu caminhávamos calmamente até o ponto de ônibus.

    — Urff! Hoje foi duro — pontuou Michael, ao meu lado.

    — Pois é — concordei, relaxando o pescoço com as mãos.

    — E ai, vai fazer algo hoje? — Michael questionava, mesmo já sabendo a resposta.

    — Vou ficar em casa, com minha esposa e filha.

    — Mas é claro… — Ele compreendia — Mas, vê se não esquece do seu amigão aqui, hein? — Deu uns tapinhas levianos no meu ombro, sorrindo.

    — Vou pensar no seu caso — Dei de ombros, brincando.

    Entrou na esportiva:

    — É foda. Agora o cara só vai ficar com a família… nem vai me dar mais atenção… — O desgraçado fingia um choro.

    — Ah, para! Tá parecendo minha mulher.

    — Hahaha! — gargalhamos juntos.

    Em meio a brincadeiras e risadas, chegamos ao ponto de ônibus.

    Quando sentamos na parada, minha expressão caíra, dando espaço a um receio. Com os olhos absortos, encaminhados para todos os lados constantemente, eu temia algo… o gato.

    Se tornou um padrão ele sempre aparecer quando eu estava ali. Ansioso, parei para pensar melhor no sonho que tive, intrigado.

    Associei aquela voz do sonho ao gato; aquela sensação assombrosa era a mesma que ele transmitia.

    Mas, alimentá-lo? Como assim? É isso que tenho de fazer para ele me deixar em paz? Mas, droga! Não tenho nada de comer aqui.

    Em meios a pensamentos, o que eu tanto temia, aconteceu: entre as plantas da praça, lá estava ele. Logo depois de aparecer, iniciou sua caminhada até mim, fitando-me com aqueles olhos fixos e agoniantes.

    Engoli seco e comecei a ficar um pouco agitado. O mais aceitável, para mim, seria acreditar que o próprio não passava de uma alucinação da minha cabeça, então ele não poderia fazer nada comigo, né?

    A cada passo daquela criatura, aumentava meu medo; o arrepio desconcertante e a respiração se intensificava.

    Esse gato desgraçado não era algo normal! Nada poderia emergir tamanha sensação. Fora como se um turbilhão de tudo que há de ruim estivesse caminhando até mim, me fazendo sentir uma angústia indescritível e tremer sem parar.

    Segundos depois, a alguns metros à frente, desapareceu. Em teoria, eu teria ficado aliviado, porém…

    Resolvi virar o rosto para Michael, enquanto falava:

    — Sabe, Michael, eu… — Quando lhe pus os olhos, foi aí que a bizarrice viera:

    — AHHHHHHHH! — eu gritava, sem parar.

    Por quê? Por quê diabos o Michael estava com o mesmo rosto do gato!? O mesmo rosto sombrio, com um sorriso sádico e transbordando inquietação… era assustador, muito assustador!

    O desespero tomou conta de mim, meus berros insistentes ecoava perante ao borrão do qual minha mente projetava.

    E foi ai que uma voz familiar me despertou na mesma hora:

    — Will! O que porra você tem?! — Quando concentrei meus olhos novamente, pude ver agora o real Michael, me encarando com espanto e com Incredulidade.

    Como pode?! Podia jurar ser a cara do gato… apenas vi coisas?!

    Não importava o que eu pensasse, tudo fora confuso. Pensando melhor, fiquei extremamente envergonhado e estupefato; lógico, tinha gritado feito maluco!

    — Michael…? Não, é que eu… — Não conseguia expressar o que de fato deu em mim, ao mesmo tempo buscando com os olhos uma razão para tudo aquilo.

    Olhei para os lados, mas não via mais o gato. Então, olhei de volta para Michael e com toda aquela cena, suspirei, pondo a mão sobre a testa, dizendo:

    — Eu não sei… eu só… acho que só estou cansado. — Deixei a tensão de lado e fiquei apreensivo.

    Aquilo certamente não foi por um acaso, era aquele gato desgraçado, eu sabia disso! Mas não podia simplesmente falar para ele que vi seu rosto como um gato, dificilmente acreditaria.

    Talvez aquele gato não passasse de algo da minha cabeça… não consigo entender como cheguei a esse ponto; pela primeira vez assustei de verdade Michael.

    — Cara… tu precisa é de um calmante. Tu olhou para mim como se tivesse visto a pior coisa do mundo — Ele tentava brincar, embora podia-se notar uma leve preocupação no rosto e voz.

    — Nem eu sei como fui gritar assim do nada… foi mal — Continuei de cabeça baixa, ainda abalado.

    Por um breve momento, ele ficou em silêncio. Então, me respondera:

    — Tem certeza que você tá bem?

    — Claro — Desta vez ergui a cabeça e olhei para ele, voltando ao normal.

    — Se você diz. Bem, tanto faz, o ônibus tá vindo, vamos embora! — De fato, o ônibus estava vindo e para nossa infelicidade, estava cheio.

    — E lá vamos nós — desapontei-me.

    Ali, eu parecia descontraído, mas por dentro ainda estava amedrontado com o que aconteceu. Antes de entrar no ônibus, me virei para trás, entretanto… ainda não via o gato.

    Um alívio caiu sobre mim.

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