Índice de Capítulo

    Lewis não sabia ao certo em que momento começou a sonhar. Tudo o que ele podia lembrar era que tudo tinha nascido de um sussurro abafado, feito para que o próprio tempo se calasse e o observasse. Encontrava-se em um campo vasto, envolto por uma neblina dourada ao ritmo da memória do calor. O chão sob seus pés era feito de cinzas suaves como seda, e o céu acima dançava com tons de vinho e escarlate.

    No horizonte, como se fosse costurada ao próprio tecido do sonho, surgiu uma silhueta. No início, aquela forma não passava de um vulto vacilante, moldado por labaredas vermelhas que tremeluziam com uma beleza hipnótica, todavia carregavam algo de feroz. As chamas, no entanto, não queimavam. 

    Lewis sentiu os batimentos cardíacos desacelerarem. A figura caminhava em sua direção, banhada por uma luz que não fazia sombra, mas iluminava tudo ao redor ternamente. Com a aproximação da figura, que parou a poucos passos dele, as chamas se recolheram, revelando o contorno delicado de uma mulher.

    Seus olhos eram profundos e escuros, com um brilho que doía e trazia à tona uma tristeza antiga, reprimida por tempo demais.

    — Quem é… você?

    A mulher parou por um instante, sem saber como deveria proceder. O sorriso lhe era contrariado, evidenciando um receio de assustar. Um sorriso que pedia desculpas mais do que oferecia consolo.

    — Eu… não sei bem como te explicar. — Com um olhar, ela procurou um ponto em comum, algo que os conectasse. — Só… me escuta, tudo bem?

    Lewis assentiu, meio perdido, ainda tentando entender por que aquele rosto desconhecido fazia seus pensamentos se confundirem com as emoções que sentia.

    — Eu nunca estive com você. Quero dizer, nunca estive quando você deu os primeiros passos. Nem quando caiu e chorou. Eu não ouvi sua risada e não soube quem você se tornou.

    Desconcertado, Lewis abaixou os olhos. Aquele vazio entre eles era estranho e, ao mesmo tempo, familiar.

    — Eu não lembro de você. Nada.

    — Eu sei. — Sorriu de novo, sem amargura. — Você era pequeno demais. 

    Silêncio. Esse silêncio não era pesado, era preenchedor. Algo apertado e quente se instalou no peito do garoto.

    — A gente se conhece?

    A mulher suspirou antes de responder. Embora não demonstrasse surpresa com a pergunta, demorou um pouco, à procura das palavras certas.

    — De certa forma… sim.

    Com a testa franzida, ele se sentia ainda mais confuso, mas, estranhamente, isso o acalmava.

    — É estranho. Você me parece… familiar. Mas eu não sei por quê.

    Um sorriso leve, de um jeito quase triste, surgiu nos lábios dela.

    — Porque, de alguma forma, eu sempre estive aí dentro. Mesmo que você não soubesse.

    Ele a olhou mais de perto. Os traços não lhe traziam lembranças, senão por um detalhe caloroso que emanava. Um sentimento semelhante ao que se tem ao encontrar um lugar onde se consegue respirar de verdade pela primeira vez.

    — Quem é você?

    — Eu sou sua mãe, Lewis.

    De repente, a respiração ficou leve. O rapaz não sabia o que dizer.

    — Minha mãe?

    — Eu não tive tempo. Fui embora cedo demais. Não vi você crescer. Não ouvi sua voz mudando. Não soube quem você virou. 

    Havia uma infinidade de estímulos e sensações que o inundavam, deixando-o confuso quanto à forma a ser tomada.

    — Eu… sempre quis saber como você era.

    — E eu sempre quis saber quem você se tornaria.

    O garoto olhou ao redor, como se procurasse alguma resposta dentro além de tudo, algo que justificasse o nó apertado que se formava em sua garganta, Lewis imaginou se haveria alguma explicação para aquilo. Quando os levantou novamente, seus olhos estavam mais marejados do que antes, com algo novo além da tristeza. Um tipo de aceitação, ou então uma entrega.

    — Eu pensei que… com o tempo… isso ia desaparecer — disse aquelas palavras em um tom rouco, transmitindo a sensação de que elas foram extraídas do mais profundo e escondido passado. — Achei que esqueceria. Que a ausência ia ocupar todo o espaço até não sobrar nada. Mas às vezes, no meio de um dia qualquer, sem motivo, eu sinto um negócio estranho aqui dentro… 

    Levou a mão ao peito, onde doía. 

    — Sinto um calor que nem é de fora, nem só meu. Isso nunca se apagou, e eu não entendo o porquê.

    Acompanhou tudo em silêncio, sem interromper. Seus olhos, visivelmente úmidos, ameaçavam transbordar. Respirou fundo, assimilando cada palavra do filho que nunca teve a chance de acompanhar crescer.

    — Esse calor… era eu.

    Lewis demorou a reagir. Não se tratava de uma revelação que mudava tudo de forma repentina, mas de uma peça que finalmente se encaixava em um quebra-cabeça do qual sempre tentou montar, mesmo sem ter ideia do resultado final.

    — Você? Mas… por que eu nunca senti raiva? Por que esse calor nunca me machucou? Achava que, se um dia eu te encontrasse… eu ia sentir mágoa. Você não estava. Nunca esteve. E ainda assim, isso aqui… — Tocou o peito outra vez. — … isso aqui não te odeia.

    Enxugou uma das lágrimas com a ponta dos dedos, gestualmente, um pouco distraída, como se não tivesse percebido que estava chorando. Não era vergonha. Aquilo era diferente. O que transbordava devagar, sem estardalhaço, era aquela emoção acumulada.

    — Esse pensamento foi o que mais me incomodou por muito tempo — disse, com a voz ainda pouco embargada. — Saber que eu não estava lá nas pequenas coisas. Que não fiz companhia nos seus primeiros dias, que não segurei sua mão quando você teve medo à noite, que não escutei sua voz tropeçando nas primeiras palavras… isso me doía mais do que tudo. Eu imaginava que isso criaria uma distância entre nós. Um buraco impossível de atravessar. Achei que, se um dia nos víssemos, você só teria perguntas e nenhuma vontade de me escutar.

    Após uma pausa, os olhos dela ainda estavam fixos nele, confirmando que Lewis estava mesmo ali e que cada palavra dita era, de fato, escutada. 

    — Mas agora eu vejo — continuou — que, mesmo sem saber, você também sentiu. De outro jeito, talvez. Mas sentiu. E isso basta. Não importa se você nunca teve uma imagem minha ou uma lembrança concreta… o que ficou foi mais importante. Foi o sentimento. E só isso já é mais do que eu podia sonhar.

    Lewis acenou lentamente, incapaz de responder. Ele estava absorvendo tudo. Todas as frases tocavam uma parte diferente de si. Como se várias camadas suas estivessem sendo remexidas todas ao mesmo tempo. Queria falar, expressar o que aquilo significava, as palavras ainda não vinham. 

    A mãe observa todos os seus jeitos. Isso a fazia sentir como se visse uma parte do passado que nunca teve a chance de se completar.

    — Você… se parece com seu pai.

    Aquilo quebrou um pouco o peso do momento. Surpreso, o garoto levantou as sobrancelhas. Antes mesmo que se desse conta, um pequeno sorriso escapou.

    — Sério?

    — Sério. O jeito que fica quando está pensando em alguma coisa complicada… igual ao dele. E essa mania de observar sem falar nada, de juntar todas as peças antes de falar… também é dele. Mas ele exagerava na hora de fazer isso. Queria parecer sempre no controle de tudo. Sentia como se o mundo estivesse prestes a desabar e seu pai fosse a muralha que impediria tudo.

    Lewis deixou escapar uma risada baixa.

    — Bom, acho que isso não mudou.

    Ela sorriu, dessa vez com os olhos brilhando.

    — Ele tinha essa coisa de tentar ser durão. Sempre muito focado e sério. Achava que precisava estar forte o tempo todo. Mais do que isso, demonstrava aversão a demonstrar carinho, achando que não podia gastar energia com isso. Mas, mesmo com essa postura tão fechada, ele sempre encontrava um jeito de fazer por nós. Mesmo cansado, frustrado e, às vezes, até perdido, estava lá. Fazia o que podia, ou até mesmo o que não podia, só para garantir que a gente tivesse o mínimo de paz.

    Aquilo o afetava. Era estranho, mas também reconfortante.

    — Eu lembro um pouco disso… Meu pai não era exatamente afetuoso, mas conseguia sentir que, de algum jeito, ele se importava. Mesmo quando não falava ou quando parecia distante. Tinha sempre algo… no jeito dele.

    — Exatamente. Assim como um cobertor grosso demais no verão, seu pai é difícil de lidar vez ou outra, mas você acaba se acostumando porque sabe que, quando o frio chegar, vai ser ele que vai mantê-lo aquecido.

    Lewis riu novamente, já mais relaxado. Aquela comparação boba o pegou de surpresa, e justamente por isso lhe pareceu tão real.

    — Parece que você gostava muito dele.

    — Nós nos amávamos muito. A gente teve dias ruins, nossas diferenças… mas, por trás de tudo, restava um carinho impossível de ser apagado pelo tempo. Ele me irritava às vezes, me deixava louca com sua teimosia… mas era meu parceiro. Era meu chão. E, acima de tudo, ele era seu pai. Isso sempre foi o mais importante.

    Com gentileza, tocou em seu rosto e alisou sua pele.

    — Você puxou essa chama dele e a misturou com algo meu. Um tipo de sensibilidade que estava presente, mas que ele tentava esconder, e que, se você olhasse bem, veria. Só que em você isso se mostra mais claramente. Mais limpo.

    Lewis não disse nada, e tentou digerir tudo aquilo. Conhecer um pedaço do próprio passado pela boca de alguém que somente agora ganhava forma diante dele era estranho. Ao mesmo tempo, porém, uma sensação de reorganização interna tomou conta dele. Uma bagunça que, aos poucos, começava a fazer sentido.

    — Nunca imaginei que ouvir alguém falar dele me traria essa calma. — confessou. 

    Ela deslizou os dedos e pousou no centro do seu peito, no mesmo lugar onde antes sentira aquele calor. Seus olhos lhe encaravam docemente, difícil de descrever, vendo algo que nem ao menos Lewis sabia que existia.

    — É porque essa calma sempre esteve aí, filho. Só estava esperando ser reconhecida.

    Este respirou fundo, para dar espaço àquela ideia se acomodar por dentro. Não se entendia algo de uma vez. Era mais como um eco que necessitava de reiteradas ocorrências internas até que se tornasse inteligível.

    — E você… conseguiu encontrar um lugar pra chamar de lar?

    — Sim. É diferente do que eu imaginava, mas… acho que sim.

    — E tem gente boa ao seu redor?

    Lewis sorriu, com um brilho leve no olhar.

    — Tem sim. Algumas pessoas meio malucas, mas… são importantes. Fazem a diferença.

    — Alguém em especial?

    Hesitou. O sorriso sumiu e foi substituído por um leve rubor, do qual tentou esconder com um desvio de olhar. A mãe riu, e dessa vez riu com gosto.

    — Ah, então tem, sabia! — disse, com a voz brincalhona. — Como é o nome dela mesmo? Mandy, né? Bonito. Já gostei dela só pelo nome.

    Lewis passou a mão na nuca, claramente constrangido.

    — Mãe…

    — O quê? Não posso me interessar pela vida do meu filho? — retrucou, rindo. — Além do mais, eu sempre quis ser sogra. E quem sabe… avó. Imagina só, um menininho ou menininha correndo pela casa, puxando os cabelos do pai só porque ele se distraiu por dois segundos.

    A última palavra o fez arregalar os olhos, completamente sem saber onde enfiar o rosto. 

    — Mãe!

    — Ah, me deixa brincar um pouco, vai. Eu perdi tantas coisas… deixa eu ao menos imaginar umas que me fariam feliz.

    Ela riu ainda mais, satisfeita com a própria travessura.

    Lewis balançou a cabeça, resignado, enquanto seus olhos marejados revelavam sua emoção. Ainda assim, sorria. Sentia-se bobo por estar morrendo de vergonha, mas também se sentia acolhido de um jeito inusitado.

    — Você teria sido uma sogra insuportável,

    — E você, um filho dramático. Já estamos quites.

    Que o tempo que faltou entre os dois fosse preenchido não com explicações, mas com pequenos momentos de humanidade. Momentos de cumplicidade, olhares, afeto sem a necessidade de grandes gestos.

    — Ela é legal. Tem um jeito meio irritante, mas… ela entende as coisas sem que eu precise dizer. E isso… bom, isso já é muito.

    — Parece que você escolheu bem. Se ela faz você se sentir visto, já tá valendo.

    Permaneceram em relativo mutismo por um tempo, mas era uma quietude branda.

    — Você tinha todos os motivos pra carregar mágoa de mim, mas mesmo assim… você cresceu. Seguiu em frente. Virou alguém bom, Lewis. De verdade. Dá pra ver no jeito como fala, no jeito como olha pras pessoas. Eu sei que você errou, como todo mundo erra, mas não deixou isso te engolir. Você fez o que pôde com o que teve. E isso… me dá um orgulho que eu nem sei explicar.

    Respirou fundo, tinha que manter a voz firme. Dava para perceber, no entanto, que um brilho nos olhos dela não permitia dissimular.

    — Quando não estamos presentes, às vezes achamos que não temos mais direito de sentir nada. Mas te ver assim, mesmo só agora, me dá paz. Uma paz sincera. Porque eu sei que, de algum modo, você se encontrou. E ainda que sem mim, você foi amado, foi forte, foi além.

    Lewis tentou responder, mas não conseguiu formular palavras. O que sentia era grande demais para ser expresso em voz alta. 

    E mesmo sem dizer nada, sua mãe tinha entendido tudo.

    Tudo mesmo.

    Em seguida, aproximou-se. Com um leve hesitar, Lewis talvez por surpresa ou por um medo bobo de que, se tocasse nela, ela desaparecesse. No entanto, quando sentiu seus braços o envolvendo, suaves, quentes e inteiros, permitiu que seu corpo cedesse, encostasse e aceitasse aquele abraço como se fosse a primeira e última vez.

    Porque, de certa forma, era.

    Envolveu-o intensamente, com calma, cuidando daquela saudade antiga que finalmente se materializava. Por um instante, nada mais existia além daquele momento. O tempo, passado ou futuro, não existia. O que existia era apenas aquele instante suspenso, carregado de tudo o que não pôde ser vivido, e que agora fazia sentido.

    — Você vai viver muita coisa ainda, e eu não vou estar lá pra ver. Mas não se esqueça de que sentir não é fraqueza. Que guardar as coisas dentro de você por medo de se machucar só torna tudo mais pesado. Ser forte… não é calar. É continuar mesmo quando se quer parar.

    O peito apertava de um jeito estranho. Tudo o que ela dizia escorria direto para os lugares onde ele mais precisava. Lugares que ele nem sabia que estavam tão desertos até agora.

    — Às vezes, não temos controle sobre as perdas, mas temos sobre o que fazemos com o que ficou. Cuide de suas memórias. Cuide das pessoas que estão ao seu lado. E, se um dia sentir medo, tristeza ou raiva, lembre-se de mim. Seja como um fantasma, seja como essa chama que nunca se apagou.

    O abraço durou mais um pouco. Nenhum dos dois estava pronto para soltar. Mas, aos poucos, como quem entende o tempo do outro, ela afrouxou os braços suavemente. Lewis ainda estava de olhos fechados, tentando prolongar aquele instante.

    — Eu te amo, Lewis. Isso nunca vai mudar. Vai em frente. Vive. Por mim, por você. Por tudo que ainda pode ser bonito.

    Aos poucos, imperceptivelmente, o calor dela foi mudando. Sem se dissipar, mas transformando-se. A forma da mãe deixava de ser uma presença externa e começava a se dissolver ao seu redor, cobrindo seus ombros, seu peito, cada parte de seu corpo, sem que houvesse uma despedida, mas uma fusão. A luz vermelha outrora delineando sua silhueta espalhou-se, lenta e serenamente, preenchendo os contornos de Lewis consoante a suavidade de um cobertor moldado ao corpo.

    Era um calor intenso. Um calor que vinha de dentro.

    Sentiu as mãos dela escorregarem por suas costas e sumirem no vazio, mas elas continuavam ali, cravadas em sua pele, deixando marcas invisíveis. O abraço perdurou; passou a fazer parte da vida dele dali em diante.

    A firmeza dos pés de Lewis começou a desaparecer, fazendo com que ele sentisse que o chão estava se tornando algo líquido, suave demais para sustentar seu peso. Uma brisa estranha percorreu seu rosto, mas não vinha de fora. Estava se abrindo, respirando fundo pela primeira vez.

    Devagar, o mundo à sua volta se desfazia, as cores se diluíam, o som sumia conforme se fecha um livro cuidadosamente. A última coisa que ele viu foi o sorriso dela, calmo em meio a uma ternura que nenhuma ausência seria capaz de apagar.

    Então, veio o escuro.

    Silêncio.

    Depois… um zumbido, bem baixo.

    O tecido áspero dos lençóis limpos. Um cheiro forte de desinfetante. A luz branca atravessando suas pálpebras era rígida.

    Lewis abriu os olhos devagar, sentindo os músculos pesarem como se não fossem usados há dias. O teto da Sala de Enfermagem foi a primeira coisa que ele reconheceu. Frio, comum, estéril. Uma sensação grudada em seu peito, que lhe dava a impressão de ainda estar sendo abraçado, mesmo sem ninguém por perto.

    Demorou alguns segundos para se acostumar com a claridade. O ruído das máquinas, os bipes compassados, o som de passos ao longe, todos esses sons chegaram aos poucos, feito se o mundo real estivesse esperando por ele.

    Piscou mais uma vez, sentindo a garganta seca, mas o coração estava diferente. 

    Leve. Quente.

    E então percebeu que sua mãe ainda estava ali. Não do lado de fora, mas dentro dele.

    Como presença, não como memória. 

    Como lar.

    — Lewis?

    Uma voz atravessou o quarto.

    — Ah, não. Mentira.

    Se aproximou rápido, meio sem saber se ria ou chorava, com o rosto dividido entre surpresa e alívio.

    — Cacete, Lewis… você tá mesmo acordado? Me pisca de novo se não for miragem. Pisca duas vezes se for um delírio meu.

    Ele piscou, devagar.

    — Ah, caramba. É real.

    Passou a mão no rosto, respirou fundo, depois riu nervosa, aliviada.

    Se sentou ao lado da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, mais calma agora, mas os olhos ainda úmidos.

    — Não tenta falar ainda, tá? Eu já vi esse olhar antes. É tipo: onde é que eu tô, o que que aconteceu, por que a luz tá tão branca e quem é essa maluca falando comigo?

    Riu-se sozinha, baixinho.

    — Relaxa, é só a Nancy mesmo. Fiquei pra cuidar de você enquanto a Raven tá ocupada.

    O som da porta se abrindo, suave, cortou o momento. Nancy não olhou, mas seu sorriso mudou, indicando que já sabia quem era, apenas pela energia que entrava no quarto.

    Raven parou na entrada. Seus olhos bateram direto em Lewis, e seu corpo inteiro congelou por um segundo.

    Não disse nada. Tampouco suspirou. Continuou ali, parada, absorvendo o impossível diante das próprias vistas.

    Em contrapartida, o coração ela conseguiu controlar. O rosto, nem tanto. Um breve tremor nos lábios, bem sutil, denunciou tudo o que vinha tentando engolir nos últimos dias.

    Nancy fitou-a de soslaio, quase com lástima.

    — Falando nela.

    Raven inspirou fundo, depois entrou. Foi preciso que ela colocasse os sentimentos de volta onde ninguém pudesse vê-los.

    — Ele acordou… — disse baixo. Ainda não conseguia acreditar.

    Nancy se levantou devagar, deu dois tapinhas leves na mão de Lewis, e disse:

    — Vou dar um espaço pra vocês dois. Mas, Raven… se você chorar, eu finjo que não vi. 

    Piscou para Lewis e saiu da sala.

    Aproximou-se devagar, temendo assustá-lo, mesmo ciente de que mal podia reagir. Sentou-se na beira da cama, com os olhos fixos nos dele, buscando alguma firmeza naquele olhar que finalmente a encarava de volta.

    — Não que eu vá admitir pra ninguém… mas eu fiquei com medo. De verdade.

    Desviou os olhos, aparentemente incapaz de encarar aquilo, até mesmo para ela.

    Lewis forçou um sorriso fraco, visivelmente cansado, ainda que quisesse mostrar que estava bem.

    Raven soltou um suspiro curto e deu uma risadinha desajeitada, com os olhos brilhando mais do que o normal.

    — Tá. Não faz isso. Você parece péssimo.

    Pela primeira vez, sua voz quebrou um pouco. Não por fraqueza, e sim por tudo que se acumulou. Por tudo que não conseguiu dizer nos dias em que Lewis esteve inconsciente.

    — Mas é bom ver você tentando. Porque… eu precisava disso. Mesmo que não admita em voz alta depois.

    Baixou a cabeça por um instante e murmurou:

    — Eu senti sua falta. Estou feliz que voltou.

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