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    Kael partiu.

    Seus olhos não paravam. Rastejavam pelo campo de batalha com velocidade absurda, observando cada árvore, cada pedra, cada possível ponto de vantagem. Parecia procurar algo, ou talvez prever movimentos futuros. Lillix notou. Sua expressão se deformou numa mistura de zombaria e curiosidade.

    — O que você tá procurando, velho? — perguntou ela, com um sorriso maníaco e o olhar afiado, como uma lâmina prestes a cortar.

    Mas Kael não respondeu.

    Seu rosto era uma máscara de neutralidade, frio, sem emoção. Ele apenas abaixou levemente o tronco, levou a mão lentamente até a cintura. E então…

    BOOM!

    Num clarão de energia, ele desapareceu.

    O solo explodiu sob seus pés com o impacto da arrancada. Num instante, estava diante de Lillix, o braço já estendido, a espada em arco, cortando o ar com um zumbido mortal.

    O golpe foi rápido. Quase imperceptível.


    Lillix arregalou os olhos e, por puro instinto, invocou uma muralha de correntes à sua frente. As correntes se ergueram num segundo, entrelaçadas como escudos vivos. Mas não foi o suficiente.

    O ataque de Kael atravessou a barreira.

    O impacto foi tão brutal que o som ressoou como um trovão oco. Mesmo protegida, a força da explosão passou pelas defesas, atingindo-a em cheio. Lillix gritou ao ser arremessada para trás como uma boneca de pano, o corpo girando no ar antes de cair com violência contra o chão. Uma linha de sangue escorreu de seu lábio.

    Tosse. Dor. Choque.

    Mas antes que pudesse se recuperar…


    Kael já estava ali. Um vulto. Uma sombra com olhos frios.

    Ele surgiu bem à sua frente, a espada já erguida para finalizar. Seu braço se moveu, pronto para decapitá-la com um único golpe.

    — Acabou. — disse em um sussurro gélido.

    Porém Lillix reagiu. Num impulso desesperado, fincou a mão no solo e fez as correntes explodirem do chão como lanças. Elas surgiram por todos os lados, debaixo, dos lados, por trás. Kael saltou para trás, desviando no último segundo, girando no ar como um raio prateado.


    — Tá fugindo, espadachim? Hahahaha! — zombou Lillix, se levantando enquanto o sangue ainda escorria de sua testa.

    Kael não respondeu.

    As correntes agora estavam descontroladas. Lançavam-se contra ele como serpentes famintas, afiadas como espadas. Uma, duas, quatro, oito… Elas se multiplicavam freneticamente, preenchendo o ar com um som metálico ensurdecedor.

    Kael cortava uma a uma. Cada golpe era seco, firme, preciso. Sua espada dançava no ar, girando entre os ataques, fendendo as correntes como se cortasse papel. Mas elas vinham de todos os ângulos.

    Uma se lançou por trás. Ele virou e a destruiu.

    Outra surgiu do chão. Ele saltou, girou, cortou no ar.

    Mais três de ambos os lados. Um golpe circular as partiu no meio.

    Mas era infinito. Como se as correntes tivessem vida própria. Um pesadelo de aço vivo.

    — Eu posso fazer isso o dia todo… — disse Kael, ofegante, mas ainda firme. — Isso não é nada pra mim. De hoje você não sai viva.


    Lillix rangeu os dentes. A raiva e a diversão se misturavam em seu rosto enlouquecido.

    — ENTÃO SEGURA ISSO, VELHO! HAHAHAHAHA!

    Ela cravou ambas as mãos no chão, e uma energia negra e pulsante percorreu as correntes. A principal, presa ao seu pulso, começou a se contorcer, a se duplicar, a se multiplicar. As cópias não se limitavam a chicotes ou lanças — elas começaram a ganhar forma.

    Elas estavam se fundindo.

    Formando corpos.

    Diante de Kael, sombras metálicas se erguiam do solo. Cada uma se moldava até atingir quase três metros de altura. Ombros largos, torsos espessos, braços longos que terminavam em lâminas curvadas. Eram soldados soldados feitos puramente de correntes entrelaçadas.

    Seus olhos eram fendas brilhantes, vermelhas como brasas.

    Trinta deles.

    Todos com a mesma sede de sangue da dona.

    Lillix abriu os braços, gargalhando:

    — Me mostra do que você é feito agora, Kael! Vamos ver se corta todos!

    O chão tremia sob o peso dos monstros. Eles marchavam em sincronia, o som de suas correntes ecoando como um sino fúnebre.

    Kael cerrou os punhos.

    O ar ao seu redor parecia mais pesado.

    — Não importa quantos você jogue em mim… — disse, afundando os pés no chão, preparando a postura. — Eu vou derrubar todos. Um por um.


    Dito isso, Kael firmou sua postura. Seus pés se cravaram no chão como raízes, os ombros relaxaram e a mão direita repousou sobre o cabo da espada. O vento soprou, fazendo seu manto balançar levemente. Então, ele deu o primeiro passo.

    Não correu com pressa. Seus movimentos não tinham a urgência de alguém desesperado, e sim a tranquilidade de quem já sabia o resultado. Era como observar um artista preparando seu pincel. Ele avançava como uma pessoa comum… mas havia algo errado. Algo diferente.

    Cada passo de Kael era milimetricamente calculado. Sua postura estava perfeita, nem tensionada, nem frouxa. Seu olhar permanecia sereno, mas atento. Observava tudo ao redor, medindo distâncias, avaliando trajetórias, como se enxergasse o campo de batalha em múltiplas camadas. Havia uma precisão quase inumana em cada gesto.


    Os soldados de correntes rugiram em resposta, avançando como feras enjauladas libertas após anos de cativeiro. Suas correntes tilintavam e se contorciam como serpentes famintas. Apesar de suas estruturas metálicas e corpos pesados, se moviam com velocidade assustadora. Garras de aço, olhos vazios e uma sede por destruição.

    Kael não parou. Nem hesitou.

    No momento em que o primeiro soldado de correntes se lançou contra ele, Kael se moveu.

    Num giro rápido, ele desembainhou a espada com um único movimento fluido. O som do metal cortando o ar foi breve, mas carregado de intenção. A lâmina atravessou o pescoço da criatura como se cortasse papel. O corpo caiu, e antes que tocasse o chão, Kael já havia eliminado o segundo.

    Era como se estivesse dançando entre os inimigos.

    Sua espada se movia com uma elegância letal. Cada golpe era limpo, sem esforço aparente. Braços, troncos e cabeças de metal e carne encantada voavam pelos ares. Seus pés não erravam nenhum passo. Seu centro de gravidade estava sempre alinhado. Ele não desperdiçava energia. Nem tempo.

    Kael atravessou a multidão de soldados de correntes com a serenidade de um monge e a eficiência de um carrasco.

    Os sons da batalha eram abafados por algo maior: a perfeição absurda de seus movimentos. Era como ver o tempo desacelerar só para ele. Cada corte, cada desvio, cada avanço… tudo era impecável. Um balé sangrento e silencioso.


    Lillix observava da distância, primeiro com curiosidade… depois com surpresa.

    E então, quando os corpos começaram a se levantar novamente, ela soltou uma risada leve e arrogante.

    — Acha mesmo que isso é o suficiente pra vencê-los? — disse ela, sorrindo com escárnio enquanto os soldados de correntes caídos voltavam a se recompor. Correntes se uniam, membros se regeneravam, e os olhos sem vida se reacendiam. Meus soldados são imortais. Eles nunca vão morrer.

    Kael parou, cercado pelos corpos que acabava de destruir… agora se recompondo. Ele não demonstrou frustração, nem espanto. Apenas ergueu o olhar na direção de Lillix.

    — Você está certa em uma coisa: eles são de fato difíceis de lidar… — disse ele com a voz firme, porém calma. — Mas apenas enquanto você estiver viva… ou enquanto tiver mana.

    Ele começou a andar devagar, a ponta da espada roçando o chão.

    — Em outras palavras, se você morrer, eles morrem. Se sua mana acabar, eles também caem. Eu tenho duas opções: esperar sua energia se esgotar, o que provavelmente não vai demorar, considerando a quantidade absurda de soldados de correntes que está controlando… ou matar você antes que eles se regenerem novamente.

    Ele parou, a poucos metros dela. Seu olhar agora era afiado como a lâmina que carregava.

    — De qualquer forma, o resultado é o mesmo: você vai morrer.


    Por um instante, Lillix pareceu perder o controle da expressão. Seus olhos se estreitaram, os lábios se curvaram em irritação. Foi como se tivesse sido desmascarada. Mas então, ela sorriu de novo, um sorriso largo, doentio, cheio de dentes.

    — Não se ache tanto… VELHO! Hahaha! — ela gritou, jogando os cabelos para trás com uma gargalhada insana. — Esses aí? Eles não são minha carta na manga…

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