Capítulo 156 - Ascensão de Hiroshi

O campo de batalha parecia ter parado no tempo. Os corpos desacordados de Ben, Nathan, Rayna, Sora, Mia e Phantom jaziam espalhados como peças quebradas de um tabuleiro de guerra. O Philips, ofegante, ensanguentado, com o rosto inchado e os olhos vidrados de pura fúria, se mantinha em pé. Atrás dele, Haruto sorria com um prazer psicopata, como se tivesse assistido a um espétaculo perfeito.

Hiroshi, ajoelhado, cuspia sangue. Seus olhos fitaram os corpos dos amigos. Sua mente, então, começou a mergulhar no passado.

Ele se lembrava do jardim de infância. Do primeiro dia em que uma criança pegou seu brinquedo favorito e quebrou de propósito. Ele não chorou. Ele nunca chorava. Mas algo nasceu ali: a intolerância à traição. Aos sete anos, sua melhor amiga prometeu guardar um segredo e espalhou para todos. Aos doze, seu primo o entregou por algo que não fez. Aos quinze, a garota que ele amava ficou com seu inimigo.

Foi quando ele conheceu Philips.

Um garoto franzino, calado, que também carregava a dor da traição. Os dois se entenderam com um aperto de mão e uma briga contra dez delinquentes. A irmandade nasceu ali, com sangue, suor e uma promessa: nunca se trairiam.

A memória voltou com um gosto amargo. Hiroshi cerrou os punhos, sentindo o peito queimar de dor e raiva. E então, algo aconteceu.

O corpo de Hiroshi foi tomado por uma aura negra e densa, como se sua raiva tivesse se tornado física. Seus olhos, antes apagados, agora brilhavam em vermelho profundo. Ele se levantou, a cada passo o chão estremecia.

Philips sentiu. O ar ficou pesado. “O que… é isso?”, murmurou, dando um passo para trás.

Hiroshi apareceu em frente a ele em um segundo, desferindo um soco tão forte que rachou o solo embaixo do corpo de Philips, que voou três metros para trás.

O embate começou.

Philips pegou uma barra de ferro, Hiroshi arrancou um pedaço de muro. Os golpes trocados eram de outro mundo. Cada impacto ecoava como trovão, fazendo o próprio ar se distorcer. Philips ainda era um monstro, mas agora Hiroshi crescia a cada segundo, a cada lembrança, a cada traição.

Philips gritou:

— VOCÊ TAMBÉM ME TRAIU! ME FEZ SER UM CÃO DA ESCOLA 25!

Hiroshi respondeu:

— EU NUNCA PEDI QUE VOCÊ SE CURVASSE! FOI VOCÊ QUE ME DEU SUA LEALDADE, E AGORA JOGA ISSO FORA?!

O próximo golpe de Hiroshi quebrou o joelho de Philips. O seguinte, sua costela. Mas mesmo assim, Philips ria, como um louco. Até o último soco vir no centro de seu peito, o jogando contra um muro, fazendo rachaduras subirem como teias por toda a parede.

Hiroshi, suado, sangrando, com os olhos em brasas, caminhou até ele.

— Eu não vou te matar… Sabe por quê?

Philips, sem fôlego, olhou para cima.

— Porque você ainda é meu irmão. E você vai se redimir. Comigo. Pela escola 25.

Philips não respondeu. Apenas abaixou a cabeça.

Haruto, observando tudo de longe, cerrou os punhos.

— Maldito Hiroshi…

E no coração de Hiroshi, a chama da lealdade havia vencido mais uma vez. Mas ele sabia: aquilo era só o começo.

A guerra estava apenas aquecendo.

O sistema notificou Yoru, sua visão clareando com as palavras flutuando no ar, como se o universo confirmasse aquilo que ele sentia no fundo do peito: Philips havia caído. A guerra estava longe de terminar, mas um dos pilares da escola 35 jazia vencido.

Yoru apertou os punhos com um sorriso leve, seus olhos brilhando em azul intenso.

— Isso vai ajudar… e muito. — murmurou, sentindo a energia correr por seu corpo.

Lee estava ao seu lado, com os braços cruzados e o semblante focado.

— Então, vamos logo acabar com isso? Uiji não vai esperar a gente tomar chá.

Yoru assentiu. Eles caminharam pelas ruís devastadas da escola 25, onde as cinzas do caos ainda pairavam no ar como poeira suspensa. O som de sirenes distantes, gritos e trovões criavam uma trilha sonora de guerra.

No centro do campo, em cima de uma pilha de entulho, Uiji os esperava.

Vestia sua tradicional camisa branca, agora manchada de sangue, e calças pretas rasgadas nos joelhos. Suas luvas de couro estavam fechadas, e o olhar penetrava como uma lâmina em direção aos dois.

— Finalmente… — disse ele com a voz calma, mas carregada de intenção assassina. — O protagonista e a dançarina vieram me ver.

Yoru parou a dez metros dele.

— Acabou, Uiji. Philips já era. Sua escola vai cair. Você perdeu.

Uiji riu. Um riso seco, cortante.

— Você acha que isso me abala? Philips era apenas uma peça. Eu sou o rei.

Lee deu um passo à frente, girando o corpo e fazendo um movimento circular com os braços, ativando sua capoeira.

— Então vamos tirar essa coroa.

Uiji nem esperou. Avançou.

O impacto inicial foi como um trovão no meio do campo. Yoru se chocou com Uiji, seus punhos trocando golpes em uma sequência tão rápida que o ar ao redor explodia com estalos.

Yoru ativou sua “Tempestade de Punhos”, desferindo uma chuva de golpes com precisão cirúrgica, enquanto a “Ginga de Socos” aumentava sua mobilidade, fazendo-o desviar e atacar em movimentos fluídos e incontroláveis.

Mas Uiji era um monstro.

Seu estilo misto de Muay Thai e Boxe o fazia uma muralha viva. Seus ganchos de esquerda, especialmente, eram um terror. Em um dos primeiros impactos, ele acertou Yoru na costela com tanta força que o ar escapou do corpo do garoto.

Lee, aproveitando a abertura, girou e desferiu uma rasteira dupla, mas Uiji simplesmente saltou, girando o corpo no ar e acertando-a com um chute lateral que a jogou cinco metros para trás.

— Vocês são bons… mas eu sou um titã.

Yoru cuspiu sangue e sorriu.

— Titãs também sangram.

Ele ativou “Estocada Penetrante”. O soco foi direto ao peito de Uiji, fazendo o chão rachar com a força do impacto. Uiji recuou pela primeira vez, sangue escorrendo de seu lábio.

Lee voltou, agora usando sua capoeira com ritmo acelerado, como uma dança fatal. Cada giro, cada chute, trazia um perigo real. Ela acertou Uiji na tênis com um “Martelo do Vento”, fazendo sua cabeça girar violentamente.

Mas Uiji, mesmo assim, não caía.

Ele levantou os braços, ofegante, com os olhos agora vermelhos de fúria.

— Vocês me irritaram…

E foi ali que ele usou seu golpe mais temido.

O gancho de esquerda.

Yoru tentou bloquear, mas era como segurar uma locomotiva com as mãos nuas. O soco o lançou pelo campo, atravessando dois muros de concreto antes de cair no chão.

Lee correu em sua direção, mas foi impedida por uma sequência de chutes e cotoveladas. Uiji parecia um animal, uma fera em sua última forma.

Yoru se levantou, sangrando, mas com os olhos brilhando. Ele olhou para o sistema.

[Pontos para o Buffet: 50.000]

— Hora de comer… — disse, rindo.

Usou 10.000 pontos para ganhar uma nova habilidade”Bloqueio Absoluto”, um novo reflexo defensivo. Mais 10.000 para “Impacto Resiliente”, que aumentava sua resistência corporal. Outros 20.000 para “Fúria Cinética”, uma habilidade de contra-ataque automático.

O campo tremeu.

Uiji atacou. Yoru bloqueou com um só braço e contra-atacou com uma combinação devastadora: esquerda, direita, cotovelo, joelho, chute giratório, e por fim, uma “Estocada Penetrante” triplicada.

Uiji caiu de joelhos.

Lee pulou e girou no ar com sua perna dobrada, finalizando com o “Corte do Vento Lunar” — um golpe de capoeira especial que ela mesma criou.

Uiji tombou.

A poeira assentou.

Yoru, ofegante, se aproximou.

— Acabou.

Mas mesmo caído, Uiji sorriu.

— Talvez pra você… mas eu ainda vou me levantar…

Yoru não respondeu. Apenas olhou para o céu, onde as nuvens giravam como se o destino estivesse prestes a mudar de novo.

E no fundo… ele sabia. A guerra ainda estava longe do fim.