Capítulo 44 – Ressurgido das Cinzas
Kael… como isso é possível?
Aquele monstro em forma de humano cravou um golpe direto nele. Eu vi! Um impacto brutal, seco. Kael até tentou desviar… mas foi tarde demais.
Seu corpo caiu pesado, sem reação.
Não pode ser… não ele!
Meus olhos ardem, minha respiração está descompassada. Não dá pra ficar parada.
Tenho que fugir!
Me lanço para frente, pulando de galho em galho pelas árvores da floresta. Cada salto é um desespero novo, cada respiração um soluço preso.
— Preciso alcançar o chão! Tenho que sair daqui viva!
— PIRRALHA! — grita uma voz sádica e enlouquecida.
— NÃO ADIANTA FUGIR! EU VOU TE PEGAR A QUALQUER CUSTO!
VAI LOGO, KUROGAMI!! — berra Lillix, sendo carregada nas costas do monstro como uma boneca macabra.
Kurogami dispara na minha direção com velocidade absurda.
É um monstro enorme, com músculos como rochas, mas mesmo assim… rápido. Rápido demais.
O chão estremece com seus passos pesados. Cada passada dele ecoa como trovões sobre a terra molhada.
Ele tá chegando! Ele tá chegando!
Preciso ir mais rápido… mais rápido!
Vejo o chão se aproximando. Me lanço no último salto e rolo entre folhas e barro, os braços ralados, o corpo latejando.
Mas não paro. Me levanto, cambaleando.
— Preciso correr… preciso encontrar alguém que possa me ajudar!
Mas… quem?
Nem mesmo Kael, Kael, que era mais forte do que qualquer um, conseguiu vencer esse monstro.
Então… quem vai conseguir…?
Meus olhos enchem de lágrimas.
— Meu Deus… por favor… me ajuda… me salva…
Dou alguns passos trôpegos adiante… quando uma voz explode pelos céus, poderosa, rasgando o silêncio.
— EU JUREI QUE IA TE PROTEGER… ENTÃO EU VOU CUMPRIR MINHA PROMESSA, LAILA!!!
A floresta inteira parece parar. O vento trava. O som ecoa como uma explosão no céu.
É impossível… mas…
Viro devagar.
Meus olhos mal acreditam no que veem.
Kael está de pé.
Entre os galhos quebrados, no meio do sangue… ele se ergue como uma lenda viva.
Seu corpo ainda treme. Há sangue escorrendo de seus braços e da testa. Mas seus olhos…
Brilham como fogo.
Firme. Inabalável.
Como um campeão que não se deixa vencer por apenas um golpe.
Meu coração bate tão forte que quase me derruba.
Ele voltou… ele voltou!
Lillix arregala os olhos. A expressão de prazer doentio se transforma num riso fascinado.
— Hahahaha…
Esse velho… não é normal… não mesmo!
Ela aperta com mais força os ombros de Kurogami, rindo como uma louca.
— Ele é como eu.
Um demônio que se recusa a partir.
Alguém que queima nas brasas do inferno e ainda assim… volta para assombrar o mundo!
HAHAHAHA! ISSO É INCRÍVEL!
Kael finca a espada no chão. Ela rasga a terra com um som seco, profundo.
Se apoia nela como um pilar, o corpo trêmulo.
Mas seu olhar… é puro instinto.
Feroz. Sedento por sangue.
— Hmph… acho que estou ficando enferrujado.
Ser derrubado com um ataque daqueles…
Mas vou te dizer uma coisa…
Ele ergue o rosto, fitando Lillix com olhos vermelhos como brasas.
— Isso… não vai se repetir.
Kurogami para de correr.
Apenas encara Kael com um ar mais sério, mais… respeitoso.
— É impressionante… você ter sobrevivido a um golpe direto meu.
Você tem minha admiração.
Diga-me… qual é o seu nome?
Kael ergue o queixo, um leve sorriso no canto da boca.
— Olha só… alguém ainda tem modos hoje em dia.
Muito bem…
Ele puxa a espada do chão com um giro rápido e firme, o sangue respingando na terra.
— Meu nome é Kael Varonis.
Kurogami arregala os olhos.
Por um instante… o silêncio domina o campo.
— Você disse… Kael Varonis…?
Ele recua um passo, surpreso — não de medo, mas de respeito absoluto.
— O último da corte real…
O soldado lendário que derrotou exércitos inteiros com a espada Fendora…
A Última Lança do Rei de Frewer…
Entre os três grandes campeões reais… você foi o último a sobreviver…
— E agora… você está mesmo diante de mim?
Kael apenas confirma com um gesto sutil.
— Sim. Sou eu. De carne e osso.
— Então é uma honra…
Uma honra poder matar um dos soldados lendários de Frewer.
Mas me diga…
Onde está Fendora?
Sua espada… lendária.
Kael dá uma risadinha debochada, como quem não se leva mais tão a sério.
— Ah, essa?
Perdi em uma aposta… com um bêbado.
— O quê…?
— É, faz parte da vida.
Mas chega de perguntas. Agora sou eu que quero saber uma coisa…
Os olhos de Kael se estreitam.
— Como diabos você se aproximou de mim sem que eu sentisse sua mana?
Kurogami ergue a cabeça e solta uma gargalhada alta, gutural e sincera.
— AHAHAHAHAHA!
É simples, Kael Varonis…
Eu não tenho mana.
Kael franze a testa, confuso.
— Não… não é possível…
— Em toda a minha vida… nunca despertei a percepção da mana.
Nunca senti, nunca controlei…
Tudo isso é só força bruta.
Força pura… nascida do caos.
Kael arregala os olhos.
— …Impossível.
Tudo isso…
É só o corpo de um monstro.
— Chega de papo!
Mata esse velho desgraçado logo, Kurogami, enquanto eu pego a menina! — rosna Lillix, os olhos brilhando de ódio.
Com um salto alto e felino, ela salta das costas de Kurogami e toca o chão com leveza sinistra. Suas correntes dançam como serpentes, sedentas de sangue, enquanto ela caminha em minha direção.
— Não… não dá tempo de correr!
Meus pés travam. Meu coração quase salta pela boca.
Lillix avança com passos leves, mas firmes. Um, dois, três, quatro… cinco.
O sorriso cruel em seu rosto cresce a cada passo.
Ela já está quase me tocando…
— TINNNGG!
Um som metálico rasga o ar, uma espada passa voando ao lado do rosto de Lillix, cortando um fio de cabelo.
Ela para subitamente, surpresa.
— Não ache que vou deixar você encostar nela tão facilmente. — diz Kael, com a voz firme e gélida, vindo em passos pesados.
Ele está com as mãos nuas, sem espada, mas a postura dele é a de um guerreiro que já venceu dezenas antes mesmo de empunhar uma lâmina.
Kael parte pra cima de Lillix, mas antes que possa alcançá-la, uma muralha de músculos surge no caminho.
Kurogami se move como uma sombra colossal.
— Você vai lutar comigo agora, Kael. — diz ele com a voz grave, cavernosa.
Kael não hesita.
Com um giro rápido, ele fecha o punho direito e acerta um cruzado limpo na mandíbula de Kurogami, o som seco do impacto ecoando como um trovão.
Sem dar tempo para o inimigo revidar, Kael gira o corpo, se abaixa em um movimento fluido, e pula, lançando outro cruzado violento na têmpora do gigante.
Kurogami cambaleia dois passos para trás, os olhos arregalados.
É como se fosse atingido por uma marreta invertida… por um homem com alma de fera.
Kael não para.
Os punhos disparam como martelos em chamas, socando o tórax, o queixo, as costelas, golpe após golpe, como uma metralhadora viva.
Kurogami tenta revidar, mas Kael mantém a pressão, encurralando-o como uma tempestade de fúria e precisão.
Kael vê uma abertura, e desvia, se lançando direto na direção de Lillix.
Ela tenta recuar, surpresa, mas Kael chega antes.
Com um giro brutal, ele acerta um chute poderoso no abdômen dela, fazendo-a voar contra o tronco de uma árvore e cuspir sangue.
Kael então salta, me pega nos braços com delicadeza, como se eu fosse feita de vidro, e arranca sua espada, cravada em uma árvore próxima.
Sem perder tempo… ele começa a correr.
— KAAAAAEEEEEEL!!! — ruge Kurogami, correndo atrás dele como uma avalanche viva.
O monstro avança, derrubando árvores, quebrando raízes, esmagando pedras.
Mas Kael não olha para trás.
Ele corre como se fosse a única coisa que importa no mundo.
Como se me proteger fosse a missão final da vida dele.
Mesmo com o sangue escorrendo por seu corpo, mesmo com a dor gritando em seus músculos…
ele não para.
Me agarro a ele, encolhida, soluçando.
— Kael… me desculpa… por dar tanto trabalho… por fazer você se arriscar desse jeito… por te forçar a me proteger…
Me desculpa… por favor…
Kael aperta o abraço ao meu redor.
Sua voz vem baixa, mas carregada de determinação.
— Está tudo bem.
Não liga pra nada disso.
Eu já disse, não disse…?
Eu vou te proteger. Até o fim.
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